Falar da
cruz é impopular...
Isto
surpreendeu o Dr. John Stott quando foi convidado para escrever um tratado
sobre a Cruz de Cristo, lançado pela IVP em 1986: “Nenhum livro sobre
este tópico tem sido escrito por um autor evangélico, por quase meio século. É
de impressionar que isto aconteça, principalmente se considerarmos que a cruz é
a mensagem central das Escrituras Sagradas”. O último livro significativo que
fora escrito, é um corajoso trabalho do Dr. Guillebaud’s, cujo título era: “Por
que a cruz?” no qual ele faz três perguntas apologéticas importantes:
1.
A cruz realmente traduz o pensamento cristão? Ela é
compatível com o ensinamento de Jesus e de seus discípulos?
2.
Ela é moralmente correta? Isto é, ela é compatível
com a justiça?
3. Ela tem credibilidade? (Seria
realmente compatível com problemas como a transferência da culpa nossa para
Jesus?)
Recentemente David Nocholas escreveu o livro "O que fizeram da cruz", no qual relata que numa pesquisa independente feita no Sul da Flórida, sobre o conteúdo da pregação dos pastores evangélicos da região, descobriram que apenas 15% deles foram claros na apresentação do conteúdo do evangelho em seus sermões. A mensagem, não era "antibíblica", mas os pregadores não falavam claramente da obra de Cristo, da cruz, arrependimento e evangelho. Lutero afirma que se pregamos um sermão e não chegamos na cruz, traímos o evangelho.
John Stott levanta afirma que existem cinco objeções à cruz:
John Stott levanta afirma que existem cinco objeções à cruz:
1.
Intelectual - Os filósofos de Atenas chamaram
Paulo de tagarela (no grego, a palavra spermologos).
Eles zombaram de Paulo quando ele falou da cruz e da ressurreição. Os judeus
entendiam que era amaldiçoado por Deus todo aquele que fosse pendurado no
madeiro. Ainda hoje, os homens afirmam que a cruz é primitiva, agressiva e
imoral.
2.
Religiosa: Em Corinto, os deuses Apolo e
Afrodite, mão exigiam exclusividade na adoração. Ainda hoje as pessoas céticas
apreciam a ideia do sincretismo.
3.
Pessoal - A cruz mexe com orgulho humano. Afinal, ela
afirma que você não é salvo por você mesmo, mas pela obra de Cristo. Isto
incomoda nosso senso de justiça própria. Por isto, Jesus mexe com o nosso ego
orgulhoso e torna-se a rocha de escândalo e pedra de tropeço. O evangelho diz
que dependemos de Deus, e não de nós mesmos para a nossa salvação.
4.
Moral – A cruz apela ao arrependimento
e a santidade. O verbo korintiazomai, que vem do grego, significa
“praticar imoralidade”. Os sacrifícios à deusa Afrodite incluiam prostitutas
cultuais, que estimulavam seus adoradores a praticarem orgia com os devotos. O
mundo de hoje diz que o cristianismo é inimigo da liberdade pessoal.
5.
Política – A cruz aponta para o senhorio
de Jesus. Na época apostólica, os seguidores de Jesus questionavam a adoração a
César e se recusavam a chamá-lo de Senhor, afinal, “Só Jesus é Senhor” (At
16.21, 17.7) e isto soava como subversão à ordem pública e aos poderes
constituídos. Ameaça a César.
.
Neste
texto vemos como a morte de Cristo perturbou os discípulos.
Quando
Jesus decide falar abertamente sobre sua morte, “É necessário que o Filho do homem morra, e seja entregue as autoridades”
(Mt 16.21), os discípulos reagiram. A ideia da morte contrariava todos os
projetos que haviam construído em torno da pessoa de Cristo, o Messias. Pedro o
chama à parte e veementemente afirma: “Tem compaixão de ti mesmo, isto de modo
algum te acontecerá” (Mt 16.22)
É
interessante a afirmação bíblica. “Era
necessário morrer”. A cruz não era opcional, ou uma das alternativas, mas uma necessidade. A
despeito de Schilebeeckxz afirmar que a cruz nunca foi propósito de Jesus, e
que esta era sua segunda opção e que os discípulos só teriam entendido isto numa
leitura pós-pascal, os Evangelhos sempre demonstram que a cruz era imperativa. Jesus
disse: “Tenho um Batismo…e quanto me angustio até que ele aconteça” (Lc
12.50).
Jesus
surpreende Pedro ao afirmar: “Arreda de
mim Satanás, tu não cogitas das coisas de Deus e sim das dos homens”. Por
que Jesus é tão veemente neste episódio?
Na
verdade, Satanás tenta manipular Pedro, um dos seus melhores amigos, para
desestimulá-lo à cruz. Esta havia sido sua sugestão na tentação do deserto,
quando ele ofereceu a Jesus outros caminhos, como a glória e o reconhecimento
público como substitutos da cruz. É de se imaginar que Pedro tenha levado um
susto enorme quando Jesus fez esta repreensão, mas ele não repreendia a Pedro, antes
a Satanás, que estava colocando na mente de Pedro pensamentos contrários ao
proposito eterno de Deus. Certamente eu não gostaria de estar na pele de Pedro
quando Jesus falou deste forma. Pedro havia sido advertido que Satanás estava
de olho nele, e o havia requerido para peneirá-lo (Lc 22.31), então, quando
Jesus fez tal afirmação, ele deve ter ficado chocado e considerado que as
coisas não estavam fáceis para seu lado. Entretanto, Jesus expulsa Satanás que
tentava manipular Pedro e ficou com Pedro. Na vida da igreja, muitas vezes
quando alguém expressa uma opinião contrária, nós expulsamos a pessoa e ficamos
com Satanás.
Jesus
tenta demonstrar que a cruz era uma necessidade, mas os discípulos não estavam
entendendo os motivos de sua morte.
O
evangelista Lucas afirma que Jesus tenta demonstrar isto aos discípulos
desencorajados no caminho de Emaús: "convinha que o Filho do Homem
fosse entregue às autoridades"
(Lc 24.26,27). João afirma a mesma coisa: “Agora, está angustia a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta
hora? Mas precisamente com este proposito vim para esta hora” (Jo 12.27).
Era
necessário...
Por que
era necessário?
1. A cruz
era o cumprimento das profecias
As
Escrituras fala do Antigo Testamento apontam para este sacrifício. Foi
exatamente isto que Jesus tentou demonstrar aos discípulos, após a sua
ressurreição, ao expor a Palavra: “Ó
néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura,
não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E começando por
Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito
constava em todas as Escrituras”” (Lc. 24:25-27). Quando os discípulos
creram, a Bíblia afirma que “Então, lhes
abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras: e lhes disse: Assim está
escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no
terceiro dia” (Lc 24.44,45).
Os
discípulos não queriam considerar esta verdade. Havia uma estrutura de
pensamento acerca da figura do Messias, que os impedia a ver o propósito real
de Deus na história. Para eles, o Messias seria político, libertador. Haveria
de quebrar o jugo da opressão romana sobre eles, e seriam uma nação livre e
poderosa. Mesmo quando Jesus já está retornando para o Pai, vemos esta
concepção presente: “Será este o tempo em
que restaures o reino a Israel?” (At 1.6). O foco do olhar dos discípulos
se voltava para a história, para uma dimensão política. Não conseguiam apreender
o sentido espiritual de todos os acontecimentos.
2. A morte
foi necessária para expiação de pecados. Jesus
cumpria de uma vez por todas as exigências da lei mosaica.
Todos os
sacrifícios eram feitos com sangue, e em todos os atos de culto prestado ao
Deus de Israel, havia exigências de sacrifício (Hb 9.22). Jesus assume esta
dimensão tipológica e simbólica de todo pensamento bíblico, tornando-se o
Cordeiro Pascal, de uma vez por todas, para que nunca mais houvesse necessidade
de qualquer outra forma de sacrifício. Paulo afirma: “...Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1 Co
5.7). Era necessário que um sacrifício
fosse substitutivo e expiatório fosse feito a favor dos pecadores. E um animal
deveria ser morto para assumir o lugar do pecador.
O que
vemos na Bíblia: Cristo morreu em
nosso lugar. O sacrifício era expiatório, vicário: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito,
ferido de Deus e oprimido” (Is 53.4). Ele assumiu o nosso lugar.
Não há
outra forma de sermos justificados diante do Pai. Nossos atos são
insuficientes, nossa justiça própria é insuficiente. Somente o sangue do
Cordeiro é suficiente para nos apresentar puros diante do Pai. “Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo”
Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram?
Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele então, me disse: São estes os que vem
da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro.
Razão porque se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no
seu santuário” (Ap 7.13-15).
3. A cruz
satisfaz a ira divina
Deus é
justo, e o pecado merece a ira divina, julgamento e punição. O pecado traz
condenação e morte. “O salário do pecado
é a morte” (Rm 6.23). O mesmo princípio é afirmado em Ezequiel 2 "A
alma que pecar, esta morrerá"
(Ez 18.4). “Ao seu agradou moê-lo, fazendo-o enfermar” (Is 53.10). Toda
a ira de Deus contra a transgressão e injúria do pecado humano foi colocado em
Cristo. Por isto, na cruz, Jesus sofre "o desamparo de Deus” “Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt
27.46). O maior sofrimento que ele sentiu não foi físico, mas espiritual. Na
cruz, ele assumiu nossa culpa. Nós deveríamos estar lá, mas ele tomou sobre si
nossas iniquidades.
Portanto,
a cruz tinha o objetivo de satisfazer a justiça divina e a lei de Deus. O Deus justo não poderia deixar de cumprir a
sua palavra, afinal, o pecado merece a morte. A alma que pecar essa morrerá”.
Vemos aí a gravidade do pecado. Lutero afirma: “A lei de Deus foi
satisfeita pela perfeita obediência de Cristo em sua vida, assumindo nossa
culpa”.
Jesus nos
substitui. Assume nosso lugar.ele. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo. Ao invés de jogar sua ira sobre nós, ele a colocou em seu filho. Como lemos: “Aquele
que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos
feitos justiça de Deus” (2 Co
5.21). E ainda: “Deus estava em
Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens a sua
transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19).
Com sua
morte Jesus assume nosso lugar e manifesta sua justiça, julgando nossos
pecados. Na cruz, Jesus "cancela o escrito da dívida que estava
contra nós, despojando principados e potestades". Deus estava demonstrando o profundo
ódio que ele tem pelo pecado, e o profundo amor que devota ao pecador.
Vamos
tentar ilustrar.
Havia
numa cidade um justo juiz. Seu filho, porém, era rebelde e transgressor. Um
dia, o filho foi finalmente apanhado num grave delito, preso e levado a
julgamento. Diante do seu pai recebeu a sentença que constava de uma fiança que
o filho não poderia pagar, e por isto, deveria ir para a cadeia. Nesta hora,
depois de dar a sentença, desceu da tribuna e falou a todos. Ele deve pagar,
porque apesar de ser meu filho, ele é culpado perante a lei. Ele não tem
condições de pagar sua dívida, mas eu a quitarei para que ele tenha liberdade.
Foi isto
que Deus fez por nós. Nossa dívida era impagável. Ele a colocou sobre o seu
filho que a pagou por nós. A expressão, “tudo
está consumado”, significa literalmente: “Tudo está pago!” Ele me absolveu
do meu débito e me declarou livre.
Conclusão:
A cruz
faz parte do grande plano de Deus para a humanidade. No seu discurso no dia do Pentecoste, Pedro
afirma que Jesus morrera determinado conselho e presciência de Deus (At 2.23).
esta era a vontade do Pai. (Jo 18.11). A cruz era uma opção de amor de Deus, não uma
imposição dos homens -Em Mt 26.53 Jesus afirma que poderia ter se
livrado disto, se quisesse. Não foi impotência nem falta de poder de Deus? Se
necessário ele poderia requerer uma legião de anjos (Mt 26.53). Uma legião
romana era composta de 6.000 homens. A Bíblia relata em 2 Rs 19.35, que apenas
um anjo exterminou em uma guerra de 185.000 assírios. Os evangelhos fazem
questão de acentuar que a cruz de Cristo era um fato inegociável. Ele precisava
morrer. Isto pode parecer estranho aos nossos olhos, afinal, o homem mais
perfeito, o melhor Filho que a humanidade produziu, termina seus dias sendo
julgado num processo altamente questionável, e numa morte desumana.
A
história de Jesus, porém, nunca termina na cruz. A cruz é veredito de
contradição: Morte/vida. A cruz é lugar de sofrimento e dor. Jesus nos convida
a ir além. Ir ao túmulo vazio, enxergar a vida plena de Deus.
Na
ressurreição, aqueles que voltaram às redes, redirecionam suas vidas. Aqueles
que voltaram para casa, retornam a Jerusalém. A tristeza desaparece porque este
Cristo morto, ressurgiu dos mortos. Cumpriu sua missão e voltou para o Pai!
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