sexta-feira, 21 de abril de 2017

Gal 6.1 Lidando com o irmão caido


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Introdução:

A carta aos Gálatas foi escrita para redefinir o Evangelho aos irmãos que haviam recebido a mensagem mas que estavam voltando aos rudimentos, “fascinados” pela lei (Gl 3.1). A mensagem central é fazê-los entender que tudo começava em Deus e convergia para Deus. Era preciso voltar à graça de Deus.
A graça de Deus é quem nos sustenta. Quando movidos pela carne as obras que possuímos não são nada interessantes (Gl 5.19-23). Viver e andar no Espírito é único caminho que pode nos sustentar e capacitar-nos a não alimentar, ou satisfazer as exigências vorazes da carne e dos impulsos pecaminosos que dominam o homem sem a obra de Deus  (Gl 5.16).

“Surpreendidos com o escândalo”
Apesar das exortações apostólicas ...É inevitável que venham os escândalos” (Mt 18.7).
Quando acontecem, enfraquecem o testemunho da igreja para o descrente, enfraquece espiritualmente a comunidade cristã e desonra a Deus. Infelizmente ninguém está imune à possibilidade da queda e do fracasso. Apenas a obra de Cristo, e a crucificação do nosso eu, com suas paixões e concupiscências podem nos livrar do peso e da força do pecado (Gl 5.24).
Quando vivemos descuidadamente e de forma negligente, fortalecemos os impulsos da carne. Quando vivemos no Espírito, buscando o temor de Deus e a santidade, fortalecemos o nosso espírito interior.
Por causa de nossa natureza pecaminosa, e da força da velha natureza que conspira contra a santidade, a queda está sempre a um passo. Por isto a exortação bíblica é apropriada: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta” (Gl 6.1). As Escrituras falam da queda como um elemento surpresa, que pega o crente descuidado, os incautos que estão vivendo de forma desatenta. A verdade é que a Palavra de Deus nos mostra que crentes não estão isentos da queda.
Aliás, geralmente a queda atinge aqueles que acham que isto nunca lhes acontecerá. Pedro estava cheio de confiança quando afirmou a Jesus: “Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” (Mc 14.29), para, em seguida negar Jesus  sistematicamente (Mc 14.66-72).

Quem está imune à queda?
Davi era um homem segundo o coração de Deus... e se envolveu num escândalo de proporções hollydianas. Moisés foi o grande legislador de Israel, no entanto sua vaidade espiritual se tornou uma grande cilada e ele vestiu uma capa de hipocrisia espiritual (2 Co 3.12-13). Pedro, o grande líder da igreja primitiva, foi repreendido severamente por Paulo, por causa da discriminação cultural (Gl 2.11).
A natureza de nosso coração, vaidoso, narcisista, auto centrado e independente de Deus, leva-nos a grande tragédias. Quem conhece o próprio coração? “Enganoso é o coação, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá”? (Jr 17.9).
Sempre existe a possibilidade, de vermos pessoas amadas, se envolverem em escândalos que parecem mentiras.

O que fazer?
Neste texto, as Escrituras nos orientam, enquanto igreja, para lidar com o faltoso.

Primeiro, o pecado precisa de correção
A expressão “corrigi-o” usada aqui, vem do grego katartizo que significa “colocar o osso fraturado ou deslocado, no lugar certo”, dando a ideia de que é preciso por em ordem ou restaurar a condição anterior.
Muitos de vocês ja devem ter visto a condição de uma pessoa quando quebra o braço, ou tem fratura exposta. O processo é dolorido e não é nada agradável de se ver. Quando a pessoa é levada perante um profissional da área da saúde, ele sabe que o osso não pode ficar naquela condição, mas precisa ser restabelecido para que a dor e o restabelecimento aconteça. Se há um deslocamento, precisa de movimentos precisos para colocá-lo no lugar certo.
Quando o procedimento é aplicado, a saúde da pessoa começa a se recuperar. Ainda que seja um processo, eventualmente lento, que precisa de fisioterapia, a condição do paciente volta a se normalizar.
O problema é quando o paciente se recusa à cura.
Ele sabe que o procedimento médico será dolorido. Imagine então ele dizendo: “Não gosto de médico, não quero ajuda de médico, vou ficar assim, quebrado”. Infelizmente o pecado leva muitas pessoas a permanecerem nesta condição, e isto trará efeitos danosos pelo resto da vida. O osso não foi restaurado.
Assim é o processo disciplinar na igreja.
Quando ele acontece, a cura se inicia. A recusa em tratar pode ser fatal.
Muitos temem o procedimento, esquecendo que é assim que a cura pode vir.

Algumas vezes agimos como Caim, que reativo disse a Deus: “Acaso sou eu o tutor de meu irmão?” Biblicamente somos sim. Uma pessoa quando se torna membro de uma igreja está sujeita à liderança desta igreja. Uma igreja bíblica e fiel à palavra, não vai simplesmente olhar o osso fraturado. Ela vai tentar ajudar o processo de cura. “Vós, que sois espirituais, corrigi-o com espirito de brandura”.  A disciplina pode ser formativa ou corretiva, e vai de uma admoestação, afastamento da comunhão, e até exclusão, quando a pessoa se mostra contumaz no seu pecado, se recusando a abandoná-lo. O propósito da disciplina deve ser sempre restauradora, visando a recuperação daquele que caiu, e procurando glorificar a santidade de Deus.

Segundo, a disciplina deve ser feita com firmeza e brandura
Tem que haver correção...
Esta correção deve ser com brandura.

Muitas vezes a igreja comete os dois erros:

A.     Ausência de correção – Quando não há correção e tratamento. Não há cura. Por que os pais que amam corrigem seus filhos? Por que o Deus que nos ama, corrige aqueles que se desviam? A resposta bíblica mais direta que encontramos está em Hebreus: “Porque o Senhor corrige a quem ama e acoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.6). Embora a disciplina pareça dura “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza, ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que tem sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.11).

B.     Desamor na correção – Uma disciplina sem amor além de não ser bíblica, torna-se ineficaz nos seus resultados, afinal “a vara da indignação, falhará” (Pv 22.8). Isto se aplica tanto na disciplina aos nossos filhos, quanto à disciplina de uma igreja. Toda disciplina deve ser feita com amor, visando a restauração da pessoa, seu arrependimento e sua comunhão com Deus.
Por isto ela deve ser aplicada com “brandura”.
Lutero assim comenta este texto: “Vá até teu irmão, estenda-lhe a mão, levanta-o novamente, console-o com palavras brandas e abrace-o com braços de mãe”.
A palavra “brandura” vem do grego “praotes”, traduzida muitas vezes por “mansidão”. Pessoas que são realmente “espirituais” tratam com misericórdia o irmão caído, e tenta fazê-lo retornar ao procedimento cristão. Não se trata de apoiar o pecado, nem “acobertar” o irmão, mas ajudá-lo a vencer suas tentações. “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Tm 2.25-26). Pessoas em pecado tornam-se cativas de sua paixão e perdem o bom senso, tornando-se presas do diabo – e passam a viver nesta condição, cumprindo a vontade de satanás. Não é esta uma afirmação bíblica severa? Para livrá-los desta condição pecaminosa, é necessário a disciplina para trazê-los ao arrependimento.

Terceiro, precisamos colocar nossa barba de molho: “Guarda-te...
Esta exortação bíblica é um alerta. Não estamos isentos de riscos. O perigo está sempre à porta. J. B. Philips, numa tradução parafraseada da Bíblia assim traduziu este texto: “Sem qualquer complexo de superioridade, para vos salvaguardar contra possíveis tentações”.
O irmão que caiu não é inferior. O irmão que está em pé, não é superior.
Estamos no mesmo patamar. Esta é a realidade do homem.
Conta-se que John Newton, autor do famoso hino “amazing grace”(Graça maravilhosa), viu certo marginal sendo preso em flagrante na rua, exposto à uma situação de decadência por causa de seu crime, e teria feito o seguinte comentário: “Ali vai John Newton, se a graça de Deus não o tivesse alcançado antes”.

Conclusão
Atitude de julgamento e condenação são muito comuns.
É fácil condenar, olhar com superioridade espiritual e moral, apontar o dedo, julgar. O Evangelho, no entanto, não nos autoriza a tratar as coisas neste prisma.
A morte de Cristo aponta para a realidade humana. Deus teve que enviar seu filho para nos substituir numa cruz. Ele morreu a nossa morte, e assumiu nosso lugar e a desastrosa realidade de pessoas caídas e falhas. Basta olhar sinceramente para o nosso próprio coração e para vermos quão desesperadora é nossa realidade e como precisamos de Jesus.
A cruz de Cristo revela a realidade de uma humanidade caída.
Ele levou sobre si nossa culpa e condenação. Ele nos resgatou das trevas. Ele nos enviou seu Espirito Santo para nos orientar e guiar.
Toda vez que um irmão cair, além do cuidado que precisamos ter com ele, em não julgar, precisamos ainda de louvar a Deus por causa do grande livramento que ele nos deu.
Se estamos em pé é apenas pela maravilhosa graça de Deus.  


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