Introdução:
A
carta aos Gálatas foi escrita para redefinir o Evangelho aos irmãos que haviam
recebido a mensagem mas que estavam voltando aos rudimentos, “fascinados” pela
lei (Gl 3.1). A mensagem central é fazê-los entender que tudo começava em Deus
e convergia para Deus. Era preciso voltar à graça de Deus.
A
graça de Deus é quem nos sustenta. Quando movidos pela carne as obras que
possuímos não são nada interessantes (Gl 5.19-23). Viver e andar no Espírito é único
caminho que pode nos sustentar e capacitar-nos a não alimentar, ou satisfazer
as exigências vorazes da carne e dos impulsos pecaminosos que dominam o homem
sem a obra de Deus (Gl 5.16).
“Surpreendidos com o
escândalo”
Apesar das exortações apostólicas ...É inevitável que venham
os escândalos” (Mt 18.7).
Quando
acontecem, enfraquecem o testemunho da igreja para o descrente, enfraquece
espiritualmente a comunidade cristã e desonra a Deus. Infelizmente ninguém está
imune à possibilidade da queda e do fracasso. Apenas a obra de Cristo, e a
crucificação do nosso eu, com suas paixões e concupiscências podem nos livrar
do peso e da força do pecado (Gl 5.24).
Quando
vivemos descuidadamente e de forma negligente, fortalecemos os impulsos da
carne. Quando vivemos no Espírito, buscando o temor de Deus e a santidade,
fortalecemos o nosso espírito interior.
Por
causa de nossa natureza pecaminosa, e da força da velha natureza que conspira
contra a santidade, a queda está sempre a um passo. Por isto a exortação
bíblica é apropriada: “Irmãos, se alguém
for surpreendido nalguma falta” (Gl 6.1). As Escrituras falam da queda como
um elemento surpresa, que pega o crente descuidado, os incautos que estão
vivendo de forma desatenta. A verdade é que a Palavra de Deus nos mostra que crentes
não estão isentos da queda.
Aliás,
geralmente a queda atinge aqueles que acham que isto nunca lhes acontecerá.
Pedro estava cheio de confiança quando afirmou a Jesus: “Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” (Mc 14.29), para, em
seguida negar Jesus sistematicamente (Mc
14.66-72).
Quem está imune à
queda?
Davi
era um homem segundo o coração de Deus... e se envolveu num escândalo de
proporções hollydianas. Moisés foi o grande legislador de Israel, no entanto
sua vaidade espiritual se tornou uma grande cilada e ele vestiu uma capa de
hipocrisia espiritual (2 Co 3.12-13). Pedro, o grande líder da igreja
primitiva, foi repreendido severamente por Paulo, por causa da discriminação
cultural (Gl 2.11).
A
natureza de nosso coração, vaidoso, narcisista, auto centrado e independente de
Deus, leva-nos a grande tragédias. Quem conhece o próprio coração? “Enganoso é o coação, mais do que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá”? (Jr 17.9).
Sempre
existe a possibilidade, de vermos pessoas amadas, se envolverem em escândalos
que parecem mentiras.
O
que fazer?
Neste
texto, as Escrituras nos orientam, enquanto igreja, para lidar com o faltoso.
Primeiro, o pecado precisa de correção
A
expressão “corrigi-o” usada aqui, vem do grego katartizo que significa “colocar o osso fraturado ou deslocado, no
lugar certo”, dando a ideia de que é preciso por em ordem ou restaurar a
condição anterior.
Muitos
de vocês ja devem ter visto a condição de uma pessoa quando quebra o braço, ou
tem fratura exposta. O processo é dolorido e não é nada agradável de se ver.
Quando a pessoa é levada perante um profissional da área da saúde, ele sabe que
o osso não pode ficar naquela condição, mas precisa ser restabelecido para que
a dor e o restabelecimento aconteça. Se há um deslocamento, precisa de
movimentos precisos para colocá-lo no lugar certo.
Quando
o procedimento é aplicado, a saúde da pessoa começa a se recuperar. Ainda que
seja um processo, eventualmente lento, que precisa de fisioterapia, a condição
do paciente volta a se normalizar.
O
problema é quando o paciente se recusa à cura.
Ele
sabe que o procedimento médico será dolorido. Imagine então ele dizendo: “Não
gosto de médico, não quero ajuda de médico, vou ficar assim, quebrado”.
Infelizmente o pecado leva muitas pessoas a permanecerem nesta condição, e isto
trará efeitos danosos pelo resto da vida. O osso não foi restaurado.
Assim
é o processo disciplinar na igreja.
Quando
ele acontece, a cura se inicia. A recusa em tratar pode ser fatal.
Muitos
temem o procedimento, esquecendo que é assim que a cura pode vir.
Algumas
vezes agimos como Caim, que reativo disse a Deus: “Acaso sou eu o tutor de meu irmão?” Biblicamente somos sim. Uma
pessoa quando se torna membro de uma igreja está sujeita à liderança desta
igreja. Uma igreja bíblica e fiel à palavra, não vai simplesmente olhar o osso
fraturado. Ela vai tentar ajudar o processo de cura. “Vós, que sois espirituais, corrigi-o com espirito de brandura”. A disciplina pode ser formativa ou corretiva,
e vai de uma admoestação, afastamento da comunhão, e até exclusão, quando a
pessoa se mostra contumaz no seu pecado, se recusando a abandoná-lo. O
propósito da disciplina deve ser sempre restauradora, visando a recuperação
daquele que caiu, e procurando glorificar a santidade de Deus.
Segundo, a disciplina deve ser feita com firmeza
e brandura
Tem
que haver correção...
Esta
correção deve ser com brandura.
Muitas
vezes a igreja comete os dois erros:
A.
Ausência de correção – Quando não há
correção e tratamento. Não há cura. Por que os pais que amam corrigem seus
filhos? Por que o Deus que nos ama, corrige aqueles que se desviam? A resposta
bíblica mais direta que encontramos está em Hebreus: “Porque o Senhor corrige a quem ama e acoita a todo filho a quem recebe”
(Hb 12.6). Embora a disciplina pareça dura “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de
alegria, mas de tristeza, ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que
tem sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.11).
B.
Desamor na correção – Uma disciplina
sem amor além de não ser bíblica, torna-se ineficaz nos seus resultados, afinal
“a vara da indignação, falhará” (Pv
22.8). Isto se aplica tanto na disciplina aos nossos filhos, quanto à
disciplina de uma igreja. Toda disciplina deve ser feita com amor, visando a
restauração da pessoa, seu arrependimento e sua comunhão com Deus.
Por
isto ela deve ser aplicada com “brandura”.
Lutero
assim comenta este texto: “Vá até teu irmão, estenda-lhe a mão, levanta-o
novamente, console-o com palavras brandas e abrace-o com braços de mãe”.
A
palavra “brandura” vem do grego “praotes”,
traduzida muitas vezes por “mansidão”. Pessoas que são realmente
“espirituais” tratam com misericórdia o irmão caído, e tenta fazê-lo retornar
ao procedimento cristão. Não se trata de apoiar o pecado, nem “acobertar” o
irmão, mas ajudá-lo a vencer suas tentações. “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus
conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas
também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido
feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Tm 2.25-26).
Pessoas em pecado tornam-se cativas de sua paixão e perdem o bom senso,
tornando-se presas do diabo – e passam a viver nesta condição, cumprindo a
vontade de satanás. Não é esta uma afirmação bíblica severa? Para livrá-los
desta condição pecaminosa, é necessário a disciplina para trazê-los ao
arrependimento.
Terceiro, precisamos colocar nossa barba de
molho: “Guarda-te...
Esta
exortação bíblica é um alerta. Não estamos isentos de riscos. O perigo está
sempre à porta. J. B. Philips, numa tradução parafraseada da Bíblia assim
traduziu este texto: “Sem qualquer complexo de superioridade, para vos
salvaguardar contra possíveis tentações”.
O
irmão que caiu não é inferior. O irmão que está em pé, não é superior.
Estamos
no mesmo patamar. Esta é a realidade do homem.
Conta-se
que John Newton, autor do famoso hino “amazing grace”(Graça maravilhosa), viu
certo marginal sendo preso em flagrante na rua, exposto à uma situação de
decadência por causa de seu crime, e teria feito o seguinte comentário: “Ali
vai John Newton, se a graça de Deus não o tivesse alcançado antes”.
Conclusão
Atitude
de julgamento e condenação são muito comuns.
É
fácil condenar, olhar com superioridade espiritual e moral, apontar o dedo,
julgar. O Evangelho, no entanto, não nos autoriza a tratar as coisas neste
prisma.
A
morte de Cristo aponta para a realidade humana. Deus teve que enviar seu filho
para nos substituir numa cruz. Ele morreu a nossa morte, e assumiu nosso lugar
e a desastrosa realidade de pessoas caídas e falhas. Basta olhar sinceramente
para o nosso próprio coração e para vermos quão desesperadora é nossa realidade
e como precisamos de Jesus.
A cruz
de Cristo revela a realidade de uma humanidade caída.
Ele
levou sobre si nossa culpa e condenação. Ele nos resgatou das trevas. Ele nos
enviou seu Espirito Santo para nos orientar e guiar.
Toda
vez que um irmão cair, além do cuidado que precisamos ter com ele, em não julgar,
precisamos ainda de louvar a Deus por causa do grande livramento que ele nos
deu.
Se
estamos em pé é apenas pela maravilhosa graça de Deus.
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