sábado, 8 de abril de 2017

1 Co 10.1-13 Não há tentação sobre-humana


Introdução

Este é um texto de memórias:
O apóstolo Paulo escreve esta carta a uma igreja sofrendo graves reveses e lutas.
Ele procura demonstrar como foi a experiência do povo de Deus no passado, e lhes alerta para evitarem o procedimento equivocado de seus pais.

O aprendizado humano acontece por algumas vias.

A.   Reflexão -  Ao olhar a vida, considerar a natureza, ouvir as pessoas, fazer leituras, estudar... assim o ser humano vai coletando informações, pensando nelas, aprendendo a julgar ou a acatar. A reflexão é uma grande fonte de conhecimento e aprendizado.

B.    Imitação ou contraste – Aprendemos vendo como a vida funciona, na base de erros e acertos. Vemos pessoas errando, tomando decisões equivocadas, enveredando por caminhos de morte e destruição, eventualmente na convivência familiar e decidimos fazer o contrário; ou observamos procedimentos de integridade, retidão, pureza e caráter, e decidimos imitar. Aprende-se por imitação, fazendo o mesmo que outras pessoas fazem; ou por contraste, deixando de fazer o que os outros fazem. Imitação ou contraste. Vemos pessoas fazendo as coisas certas e queremos imitá-las, ou vemos pessoas fazendo as coisas erradas e procuramos nos afastar delas.

C.    Experiência – Esta é a pior forma de aprendizado. Ignoramos todos os sinais e advertências, todas as bandeiras vermelhas, e decidimos fazer do nosso jeito. Já viram adolescentes dizendo: “Deixe eu viver a minha vida e errar também”. Isto é burrice, não precisamos sofrer as mesmas consequências desastrosas de outras pessoas, podemos evitar o perigo e o sofrimento.

Às vezes não aprendemos nada, de ninguém. A Bíblia chama tais pessoas de insensatas ou néscias.

Uma lição da história: Belsazar
Este rapaz é um exemplo disto que estamos falando.
Ele é filho de um famoso imperador, Nabucodonozor (Babilônia), que invadiu Jerusalém (587 a.C.). Este conquistador, se tornou arrogante e prepotente, o poder tomou conta de seu coração, e no auge de sua glória teve um surto esquizofrênico que durou 7 anos, vivendo como animal, isolado do palácio e das pessoas.
Belsazar viu seu pai passar por toda esta situação, mas não aprendeu nada... ele não entendeu que aquilo era juízo de Deus contra a arrogância de um homem que achava que tinha o poder nas mãos. Daniel o confronta por não ter aprendido as lições da história: “Tu Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto” (Dn 5.22).
Em outras palavras: viu, mas não aprendeu...
O que Paulo tenta fazer neste texto é evocar algumas lições da história para advertir a igreja a não andar pelo mesmo caminho pecaminoso. Todas estas exortações possuem relação com o livro de números, que registra a conquista de Canaã, a terra prometida.

Algumas exortações:
1.     Não cobicemos as coisas más que eles cobiçaram  - (1 Co 10.6). Em Nm 11.5 vemos como o povo de Deus cobiçou a antigo estilo de vida que tinham quando ainda estavam no Egito. “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos”.

Eles desejavam coisas que não tinham.

O décimo mandamento é a cobiça, e pensamos na cobiça ligada ao adultério, mas a cobiça possui um leque bem mais abrangente.
Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”  (Ex 20.17)
Cobiça é o desejo doentio de ter o que o outro tem. Não só sua mulher, mas suas posses, seus animais, ou qualquer coisa, como sucesso, dinheiro, talento. O problema é que a cobiça é sempre mordaz e voraz – Ela sempre deseja o lugar do outro e o transforma em concorrente.

2.     Não vos façais idólatras – (1 Co 10.7). No livro de números vemos como a idolatria sempre fascina o povo de Deus. Por definição, ídolo é tudo aquilo que ocupa o lugar de Deus: pessoas, posses, riquezas, saúde, filhos.

Talvez porque a idolatria seja uma propensão pecaminosa do coração humano, o primeiro mandamento, é “Não terás outros deuses diante de mim”. O que acontece com o ídolo? Você começa a pensar que não pode viver sem ele, achar que nem Deus é tão interessante, mas o objeto de meu desejo, sim. Uma paixão pode se tornar idolátrica, já que dá a impressão de que não se pode viver sem o que se deseja. A Bíblia afirma que “a avareza é idolatria”. Você pensa que não pode viver sem o dinheiro, por isto retém, não doa, não desfruta dele, não é abençoado.
Para você detectar os falsos deuses do seu coração, pergunte a si mesmo: “O que eu amo, desejo, temo, anseio, mas que a Deus?” Este substituto de Deus é ídolo.   

3.     Não pratiquemos imoralidade – (1 Co 10.8). Vivemos dia de moral frouxa e valores em crise. De forma curiosa e diabólica, somos encorajados à infidelidade, estimulados a dar vazão aos desejos carnais e aspirações pecaminosas.

Antes de Caim matar seu irmão Abel, Deus se aproximou dele para tratar do seu coração. Algo estava errado. Caim estava abatido e irado, e isto era perceptível no seu rosto. O que Deus lhe diz é muito significativo: “Por que andas irado, e por que descaiu o seu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o teu pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gn 4.7).

Deus tenta demonstrar para Caim que seu desejo poderia se tornar numa armadilha, como de fato o foi, porque logo em seguida ele chama seu irmão para o campo e o mata. “Seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”. O seu grande e obsessivo desejo de hoje, pode se tornar a sua destruição amanhã. Isto vai desde o desejo por riqueza, taras, paixões, fama, obsessões, etc.
A Bíblia nos desafia a “não praticar imoralidade”, que originalmente vem da palavra “porneia”, que tem uma gama muito grande de abrangência.
Paulo se refere à maldição de Baal Peor. Balaão, famoso macumbeiro da região, não conseguiu sucesso na sua magia contra o povo de Deus, e então deu uma sugestão maligna. Ele contratou prostitutas, filhas dos moabitas, para seduzir os “rapazinhos crentes” do arraial, e estes jovens foram atraídos à imoralidade. Uma praga veio sobre Israel, algo fatal e contagioso, e 24 mil pessoas morreram por causa disto (Nm 25.1-9).

4.     Não ponhamos o Senhor à prova – (1 Co 10.9). Provavelmente uma referência a Nm 20.1-3 e 21.4-7.

Apesar de todas as manifestações e intervenções de Deus na história daquele povo, eles sempre estavam insatisfeitos com Deus e queriam pedir a Deus uma prova de seu cuidado.
Este é um perigo atual.

Achamos que Deus precisa ser testado...
Quando perdemos o controle da situação, ou algo de errado nos acontece, culpamos a Deus e o ameaçamos de “perder a fé”, se ele não fizer como esperamos. Ficamos sempre colocando o Senhor à prova.

Se você é deste tipo, deixe-me ser direto: Deus não precisa provar nada a ninguém. Deus surge na Bíblia sem uma apresentação. Em Gn 1.1 lemos: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Ele não se explica, não diz quem é, nem de onde surgiu, se foi criado ou não, nem apresenta cartão de visitas. Ele simplesmente se manifesta.
Tomemos cuidado para não julgarmos constantemente a Deus. A atitude mais certa é de submissão e de servidão...

5.     Não murmureis – (1 Co 10.10). O povo de Deus vivia num constante problema de murmuração, reclamando daquilo que Deus fazia e contra a liderança de Moisés. O problema da murmuração é que ela sempre expressa desconfiança e descontentamento com Deus e é resultante da falta de fé. Em números o povo de Deus está sempre murmurando:

i.               Murmuração por causa da insegurança no deserto – “Até quando me provocará este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio deles” (Nm 14.11). 

ii.              Murmuração por causa do maná – “Lembramo-nos das peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.5).

iii.            Murmuração contra a liderança de Moisés – “Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo!” (Nm 16.3). Esta murmuração transformou-se na revolta de Coré, Datã e Abirão.

A importância dos exemplos
A própria Bíblia nos ensina porque os exemplos são importantes: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa” (1 Co 10.11). O objetivo era a nossa instrução.

Três advertências precisam ser mencionadas:

Primeira, cuidado com a sensação de segurança – Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia” (1 Co 10.12).

Este alerta é fundamental.
Muitas vezes achamos que os outros fazem, mas nós não. Somos hábeis em criticar as atitudes do povo de Deus no deserto, mas temos considerado a possibilidade de estarmos agindo da mesma forma?
Isto se aplica ainda à facilidade que temos em julgar pessoas que caíram moralmente. A Bíblia adverte: “Aquele que pensa estar em pé, veja que não caia!” O povo de Israel não era pior, as pessoas que escorregam na sua vida espiritual não são piores que nós. Estamos no mesmo nível... cuidado com o julgamento...

Segunda, Resista à tentação, com a graça de Deus

a.     Nenhuma tentação é irresistível - “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana”. A tentação é sempre uma experiência pesada, porque ela atinge os desejos humanos que foram corrompidos pela queda, e tem o poder de despertar o lado mais sombrio e decadente da natureza pecaminosa. Ed René Kivitz afirma que “tentação é o encontro do pior que há em mim com o pior de todos os seres”. Suas sombras e trevas mais sombrias podem desabrochar se a graça de Deus não sustentar.

b.    Deus não permite tentação além de nossas forças - “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além de vossas forças” Diante disto, a pergunta é: “Se não somos tentados além das forças, porque caímos?”. A resposta é: Porque alimentamos a carne, porque fortalecemos o velho homem e a natureza pecaminosa, porque não queremos resistir à tentação. “O seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”.

Isto nos mostra que, em algum nível, a tentação pode ser neutralizada.
O problema é que ao invés de “fugirmos da paixões mundanas”, geralmente a nutrimos. “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às concupiscências (Rm 13.14). Uma outra tradução deste texto diz o seguinte: “Não façais provisão para a carne”.

Ilustração
Sou apaixonado pelos programas que mostram pessoas tentando sobreviver em ambientes hostis, com parcos recursos. Às vezes é frio, chuva, neve, solidão, e eles precisam fazer fogo, entretanto, esta tarefa não é nada fácil. Para isto é necessário que “haja faísca”, é preciso encontrar “material propício para a combustão”, e “precisam de lenha para preservar a chama”.
É exatamente assim que acontece com a paixão, com o desejo, e com a tentação.
Não a alimente...
Não dê faísca...
Não jogue lenha na fogueira...
Não nutra a voracidade de sua carne e sua concupiscência (desejo estragado ou pervertido), se você nutrir, sua tentação o dominará por completo.

c.     Deus provê livramento -  Pelo contrário, juntamente com a tentação vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Co 10.13).

O segredo é correr para Deus, se colocar debaixo de sua cruz, clamar pelo sangue. Admita o pecado do seu coração, reconheça que você corre risco. Lide com a concupiscência como de fato ela é “desejo estragado ou mal direcionado”. Reconheça que algo está cheirando mal, estragou. Pessoas crentes caem quando não percebem o perigo da alma. Só a graça operando vai nos dar o livramento de sorte que possamos suportar o pecado.

A cruz de Cristo tem poder.
O Sangue nos liberta.


Deus pode proteger os pés da queda, livrando-nos do lamaçal, da corrupção do coração, dando horror ao pecado e desejo de santidade. Se você permitir que suas tentações, aliadas à corrupção do seu coração tomem forma, você vai tropeçar, machucar, entregar seus anos a cruéis e ferir a santidade do Deus que habita em você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário