quarta-feira, 12 de abril de 2017

Gl 3.1-14 A Mensagem do Evangelho

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Introdução:

Paulo denuncia de forma dura, o fascínio ao qual foram submetidos os irmãos da Galácia. Paulo os chama de “insensatos” (loucos), característica de quem perdeu o juízo e a capacidade de julgar. Paulo os chama assim duas vezes (3.1,3). O afastamento do evangelho era um ato de loucura. Alguma coisa os fascinou e eles perderam a compreensão do chamado.
Ninguém pode ser perfeitamente justo aos olhos de Deus (3.6-9), nem pode cumprir plenamente a lei (3.10-12). Quando nos arrependemos de nossos pecados e da salvação por méritos (3.10-12), só então, mudamos a fonte de confiança e salvação depositando a confiança em Jesus (3.3). O Evangelho transforma (3.2) e passamos a crescer de forma contínua dentro dos planos de Deus (3.3-5).

O fascínio da Lei
Se a Lei é tão inoperante e frágil, porque ela nos fascina? 3.1
i.      A lei nos fascina porque dá um enorme senso de orgulho pessoal. Não é Deus quem faz: eu faço! Ela fascina porque focaliza no esforço humano. Outra tradução diz que eles foram “enfeitiçados” (JBP). Por detrás destes falsos ensinos existe uma ação maligna. A lei fascina porque satanás quer tirar o foco da cruz. Ele tentou desviar Jesus de sua missão, usando Pedro, seu discípulo e amigo para dissuadi-lo (Mt 16.21-23). A cruz é o lugar em que satanás é despojado, desmascarado e exposto à vergonha (Cl 2.15).
A Lei fundamenta-se naquilo que fazemos, na capacidade humana. O Evangelho, ao contrário nos humilha, retirando o homem do centro e apontando para sua impotência espiritual. O Evangelho centraliza em Deus.

Comentário da Lição. CENTRALIDADE DO EVANGELHO
Tertuliano afirmou que assim como Jesus foi crucificado entre dois ladrões, assim a doutrina da Justificação tem sido crucificada entre dois erros. Estes dois erros são poderosos porque representam a tendência natural de nosso coração e mente. O Evangelho é “revelação de Deus” (Rm.1.17), a mente humana não pode concebê-lo. Estes dois ladrões são:

1.       Moralismo ou legalismo – Moralismo é um sistema de pensamento que exalta os padrões tradicionais e instituições, dando-lhes um valor absoluto. Isto leva as pessoas a encontrar sentido e paz na submissão às tarefas e regras tradicionais tais como a família, grupos religiosos, nações, etc. Muitos chamam isto de conservadorismo.

2.       O ladrão do Hedonismo ou relativismo – É um sistema de pensamento que exalta os padrões individuais e pessoais, dando-lhes um valor absoluto. As pessoas encontram sentido ao serem livres para escolher seus alvos, seus próprios padrões de certo/errado. Isto leva as pessoas a fundamentarem suas vidas sobre a liberdade individual e seu direito de felicidade acima de quaisquer funções sociais, sejam elas no casamento, família, nação e tradição.

Moralismo busca a verdade sem a graça, por isto devemos obedecer a verdade para sermos salvos. Os relativistas/descrentes firmam-se na graça sem a verdade.
Os dois parecem diferentes, mas possuem pontos em comum.

a)- Ambos são pessoas que fundamentam sua justiça na performance – Os moralistas são auto centrados e fundamentam sua salvação no cumprimento das leis; Os relativistas também fundamentam-se em seus pressupostos e acham que estão certos. Ambos tornam-se orgulhosos de sua justiça e julgam os outros que não são assim.  Ambos negam a obra de Jesus na Cruz.

b)- Ambos perderam a real percepção de Deus. Uns vêem a lei e santidade de Deus, outros o amor e a graça de Deus. Ambos são perspectivas parciais e fragmentadas de Deus. A cruz aponta para a santidade de Deus e para o amor de Deus.

c)- Ambos negam seus pecados e perdem a alegria e o poder da graça – Os moralistas pensam que Deus nos ama por causa daquilo que fazemos, graça e ganha. Por outro lado, os hedonistas creem que fomos basicamente bons e capazes de fazer escolhas morais.

Paulo demonstra que a lei é fraca e inoperante:

1.    Ela ignora o que Cristo fez e valoriza o que fazemos - A lei nos faz tirar os olhos de Cristo e sua obra suficiente na cruz – (Gl 3.1). Por que Cristo foi crucificado? Se a Lei pode resolver o problema humano, a cruz não tem sentido algum. A lei retira a eficácia da cruz. Se somos salvos pelas obras, por que Cristo morreu?
O texto afirma que “Cristo nos resgatou da maldição da lei”. (Gl 3.13). Ele tomou nosso lugar.
Paulo emprega a ideia do Cristo crucificado. As pessoas são justificadas diante de Deus por causa da obra expiatória de Cristo. “O Evangelho não é para fazer algo, mas a declaração do que Deus ja fez; não é uma exigência mas uma oferta” (Stott, J. R. W – A mensagem de Gálatas, S. Paulo, ABU Editora, 2ª edição, 1997, pg 66). Acrescentar boas obras à obra de Cristo é uma ofensa à obra que ele consumou. Alei exige obras humanas, o evangelho exige fé na realização de Cristo, a lei faz exigências e nos incita a obedecer; o evangelho. É isto que Paulo afirma: Voces esqueceram do que Cristo fez?

2.    A lei nos leva a esquecer a dinâmica do Evangelho. (Gl 3.2). Paulo argumenta: Como vocês receberam o Espírito? Por que fizeram algo ou porque Deus fez? Por obras da Lei ou pregação da fé? Como os milagres acontecem? Poder do pregador Sua performance), ou graça de Deus? Qual é a base da operação do Espirito Santo em nós? Quem opera milagres? Milagres são frutos do esforço e da santidade do homem ou resultado da ação graciosa de Deus?

3.    A Lei é fraca e inoperante, porque ela é carnal – (Gl 3.3). Nesta carta nos são reveladas duas operações da carne (sarx).
  1. Os pecados grosseiros e evidentes – (Gl 5.19-21).
  2. Os pecados sutis da religiosidade – (Gl 3.3). São atitudes camufladas. A diferença entre a lei e a graça se encontra nos motivos. Na lei, fazemos para adquirir o favor de Deus, mesmo quando o que fazemos é autocentrado. Não fazemos para Deus, mas para nós mesmos, para nossa autoglorificação. Neste caso quem está no controle é a carne. Podemos fazer obras aparentemente espirituais para satisfação da carne. Em Col 2.23 Paulo lista algumas coisas bem espirituais, mas cujo resultado é a incapacidade de nos ajudar a lidar com as paixões.
Por isto precisamos sempre perguntar: Por que fazemos o que fazemos? Qual é nosso objetivo? Auto glorificação ou a glória de Deus. No Evangelho não se conta apenas o que se faz, mas porque se faz o que se faz... Quais são os motivos por detrás do ato.  

Pela sua natureza carnal, a lei nos faz carnais (Gl 3.3). Nosso aperfeiçoamento é “para carne”. A lei nos obriga a confiar na carne e nos torna fariseus e legalistas.
i.      Orgulhosos;
ii.     Auto-justificados;
iii.   Superioridade espiritual
iv.   Sem dependência de Deus.

4.    A lei não apenas é inoperante, mas ela é maldita (Gl 3.10,14). Se retornarmos para a lei, esquecemos a cruz e seus efeitos sobre nós e passamos a confiar novamente em nós mesmos, desta forma, negamos a obra da cruz e voltamos à antiga condição.
Por que a lei é maldita?

Bonino[1] dá algumas razões pelas quais ela é maldita.
i.      A pessoa aferrada à lei perde a capacidade de relacionar-se de forma imediata e dinâmica com os demais. Não vê o próximo ou Deus, senão em termos de direitos e deveres. Aos poucos a pessoa se desumaniza completamente;

ii.     Leva a vida da pessoa à Atomização - É preciso ter uma prescrição até para os mais ínfimos pormenores. Esta “escrupulosidade” aliena o homem. Limita-se a cumprir as regras e o faz perder de vista a intenção mais profunda e humana da lei. Cumpre atos externos, prescritos de fora, sem nenhum desenho próprio. “Não sou responsável, apenas cumpro ordens”.

iii.   O objeto de sua ação passa a ser ele mesmo - Ao atingir escrupulosamente as minúcias legais, alcançou um comportamento adequado, imaculado, que se justifica a si próprio. A lei permanece a serviço de uma vida vivida na carne, não o prepara para a maturidade, nem o abre para Deus e o próximo.  A religião torna-se a fortaleza na qual nos escondemos para proteger-nos dos riscos do amor, da verdadeira identificação com os demais homens.

iv.   Superioridade moral – A lei nos torna espiritualmente arrogantes e só percebe o homem em termos de esquema, tornando-o incapaz de perceber concretamente a problemática do mal.

Ilustração:
Ainda no início do meu ministério, estava compartilhando o evangelho com uma jovem que vivia baseada na lei. Quando começamos a ler Gálatas, e ela percebeu a gravidade do legalismo em oposição à graça, ela começou a chorar, e sem que eu ainda estivesse explicando este texto, ela disse: “Estou preocupado com a vida de meus pais, pois eles ainda estão vivendo na força da lei”.
“A lei e o evangelho se opõem de forma profunda. Não são dois aspectos da mesma coisa ou interpretações do mesmo cristianismo” (Stott, op cit 67).
O termo maldição e maldito são usados 5 vezes nestes versículos (Gl 3.10,13).

Qual é a essência da lei?
O vs 12 explica: “Aquele que observar os seus preceitos, por eles viverá
Em outras palavras.
Se você conseguir seguir fielmente todas as coisas, você será aceito por Deus na base de sua performance. O problema é que nenhum homem foi capaz de fazer isto. Então, pergunte honestamente a si mesmo: “Sua salvação está baseada na obra de Cristo ou na sua?”
Existe um falso conceito muito popular entre igrejas evangélicas que afirmam que determinada pessoa “perdeu” ou “ganhou” a salvação. Qual é o fundamento desta mensagem? O homem, a lei. Mas a Bíblia afirma que na base da lei estamos todos sob a maldição. Nossa benção não vem por causa das habilidades espirituais que desenvolvemos, mas por causa da obra de Cristo na cruz. Se adotarmos o princípio retributivo “eu faço- ganho”, ou “eu mereço-recebo”, voltamos para a maldição da lei. A Bíblia afirma: “É evidente, que pela lei, ninguém é justificado diante de Deus(Gl 3.11).
O texto é forte:
“Jesus se tornou maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). Isto é, ele cumpriu toda a lei e pagou, não só a culpa de meus pecados mas imputou justiça a nós, como fez com Abraão (Gl 3.6). Deus atribuiu uma justiça que não tínhamos, retirando toda condenação. Vir para o evangelho é sacudir o peso de ordenanças, culpa e preceitos, e confiar apenas na obra expiatória de Jesus.
A questão fundamental da fé cristã é:
Já aprendi a confiar plenamente na obra expiatória de Jesus para minha vida?
Já me esvaziei da minha justiça própria e confio em Cristo que assumiu meu lugar de maldição para trazer benção para minha vida?



Anápolis, 21 Jan 2003
Grupo de estudo – Abril 2017




[1] . Bonino, Jose Miguez - São Paulo, Imprensa Metodista, 1982 pg. 64-70

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