Introdução:
Paulo denuncia de forma dura, o fascínio ao qual foram
submetidos os irmãos da Galácia. Paulo os chama de “insensatos” (loucos),
característica de quem perdeu o juízo e a capacidade de julgar. Paulo os chama
assim duas vezes (3.1,3). O afastamento do evangelho era um ato de loucura.
Alguma coisa os fascinou e eles perderam a compreensão do chamado.
Ninguém pode ser perfeitamente justo aos olhos de Deus
(3.6-9), nem pode cumprir plenamente a lei (3.10-12). Quando nos arrependemos
de nossos pecados e da salvação por méritos (3.10-12), só então, mudamos a
fonte de confiança e salvação depositando a confiança em Jesus (3.3). O Evangelho
transforma (3.2) e passamos a crescer de forma contínua dentro dos planos de Deus
(3.3-5).
O fascínio da Lei
Se a Lei é tão inoperante e frágil, porque ela nos
fascina? 3.1
i.
A lei nos fascina porque dá um enorme senso de orgulho
pessoal. Não é Deus quem faz: eu faço! Ela fascina porque focaliza no esforço
humano. Outra tradução diz que eles foram “enfeitiçados” (JBP). Por detrás
destes falsos ensinos existe uma ação maligna. A lei fascina porque satanás
quer tirar o foco da cruz. Ele tentou desviar Jesus de sua missão, usando
Pedro, seu discípulo e amigo para dissuadi-lo (Mt 16.21-23). A cruz é o lugar
em que satanás é despojado, desmascarado e exposto à vergonha (Cl 2.15).
A Lei fundamenta-se naquilo que fazemos, na capacidade
humana. O Evangelho, ao contrário nos humilha, retirando o homem do centro e
apontando para sua impotência espiritual. O Evangelho centraliza em Deus.
Comentário da Lição. CENTRALIDADE DO EVANGELHO
Tertuliano afirmou que assim como Jesus foi
crucificado entre dois ladrões, assim a doutrina da Justificação tem sido
crucificada entre dois erros. Estes dois erros são poderosos porque representam
a tendência natural de nosso coração e mente. O Evangelho é “revelação de Deus”
(Rm.1.17), a mente humana não pode concebê-lo. Estes dois ladrões são:
1.
Moralismo ou legalismo – Moralismo é um sistema de
pensamento que exalta os padrões tradicionais e instituições, dando-lhes um
valor absoluto. Isto leva as pessoas a encontrar sentido e paz na submissão às
tarefas e regras tradicionais tais como a família, grupos religiosos, nações,
etc. Muitos
chamam isto de conservadorismo.
2. O ladrão
do Hedonismo ou relativismo – É um sistema de pensamento que exalta os padrões
individuais e pessoais, dando-lhes um valor absoluto. As pessoas encontram
sentido ao serem livres para escolher seus alvos, seus próprios padrões de
certo/errado. Isto leva as pessoas a fundamentarem suas vidas sobre a liberdade
individual e seu direito de felicidade acima de quaisquer funções sociais,
sejam elas no casamento, família, nação e tradição.
Moralismo busca a verdade sem a graça, por isto
devemos obedecer a verdade para sermos salvos. Os relativistas/descrentes
firmam-se na graça sem a verdade.
Os dois
parecem diferentes, mas possuem pontos em comum.
a)- Ambos
são pessoas que fundamentam sua justiça na performance – Os moralistas são
auto centrados e fundamentam sua salvação no cumprimento das leis; Os
relativistas também fundamentam-se em seus pressupostos e acham que estão
certos. Ambos tornam-se orgulhosos de sua justiça e julgam os outros que não
são assim. Ambos negam a obra de Jesus
na Cruz.
b)- Ambos
perderam a real percepção de Deus. Uns vêem a lei e santidade de Deus,
outros o amor e a graça de Deus. Ambos são perspectivas parciais e fragmentadas
de Deus. A cruz aponta para a santidade de Deus e para o amor de Deus.
c)- Ambos
negam seus pecados e perdem a alegria e o poder da graça – Os moralistas
pensam que Deus nos ama por causa daquilo que fazemos, graça e ganha. Por outro lado, os hedonistas creem
que fomos basicamente bons e capazes de fazer escolhas morais.
Paulo demonstra que a lei é fraca e inoperante:
1.
Ela
ignora o que Cristo fez e valoriza o que fazemos - A lei
nos faz tirar os olhos de Cristo e sua obra suficiente na cruz – (Gl 3.1). Por
que Cristo foi crucificado? Se a Lei pode resolver o problema humano, a cruz não
tem sentido algum. A lei retira a eficácia da cruz. Se somos salvos pelas
obras, por que Cristo morreu?
O texto afirma que “Cristo
nos resgatou da maldição da lei”. (Gl 3.13). Ele tomou nosso lugar.
Paulo emprega a ideia do Cristo crucificado. As
pessoas são justificadas diante de Deus por causa da obra expiatória de Cristo.
“O Evangelho não é para fazer algo, mas a declaração do que Deus ja fez; não é
uma exigência mas uma oferta” (Stott, J. R. W – A mensagem de Gálatas, S.
Paulo, ABU Editora, 2ª edição, 1997, pg 66). Acrescentar boas obras à obra de Cristo
é uma ofensa à obra que ele consumou. Alei exige obras humanas, o evangelho
exige fé na realização de Cristo, a lei faz exigências e nos incita a obedecer;
o evangelho. É isto que Paulo afirma: Voces esqueceram do que Cristo fez?
2.
A lei nos
leva a esquecer a dinâmica do Evangelho. (Gl 3.2). Paulo argumenta:
Como vocês receberam o Espírito? Por que fizeram algo ou porque Deus fez? Por obras
da Lei ou pregação da fé? Como os milagres acontecem? Poder do pregador Sua
performance), ou graça de Deus? Qual é a base da operação do Espirito Santo em
nós? Quem opera milagres? Milagres são frutos do esforço e da santidade do
homem ou resultado da ação graciosa de Deus?
3.
A Lei é
fraca e inoperante, porque ela é carnal – (Gl 3.3). Nesta carta nos são
reveladas duas operações da carne (sarx).
- Os
pecados grosseiros e evidentes – (Gl 5.19-21).
- Os
pecados sutis da religiosidade – (Gl 3.3). São atitudes camufladas. A diferença
entre a lei e a graça se encontra nos motivos. Na lei, fazemos para
adquirir o favor de Deus, mesmo quando o que fazemos é autocentrado. Não fazemos
para Deus, mas para nós mesmos, para nossa autoglorificação. Neste caso
quem está no controle é a carne. Podemos fazer obras aparentemente
espirituais para satisfação da carne. Em Col 2.23 Paulo lista algumas
coisas bem espirituais, mas cujo resultado é a incapacidade de nos ajudar
a lidar com as paixões.
Por isto precisamos sempre perguntar: Por que fazemos
o que fazemos? Qual é nosso objetivo? Auto glorificação ou a glória de Deus. No
Evangelho não se conta apenas o que se faz, mas porque se faz o que se faz... Quais
são os motivos por detrás do ato.
Pela sua natureza carnal, a lei nos faz carnais (Gl
3.3). Nosso aperfeiçoamento é “para carne”. A lei nos obriga a confiar na carne
e nos torna fariseus e legalistas.
i.
Orgulhosos;
ii.
Auto-justificados;
iii. Superioridade
espiritual
iv. Sem dependência de Deus.
4.
A lei não
apenas é inoperante, mas ela é maldita (Gl 3.10,14). Se retornarmos para a lei, esquecemos a
cruz e seus efeitos sobre nós e passamos a confiar novamente em nós mesmos,
desta forma, negamos a obra da cruz e voltamos à antiga condição.
Por que a lei é maldita?
i.
A pessoa aferrada à lei perde a capacidade de
relacionar-se de forma imediata e dinâmica com os demais. Não vê o próximo ou Deus,
senão em termos de direitos e deveres. Aos poucos a pessoa se desumaniza
completamente;
ii.
Leva a vida da pessoa à Atomização - É preciso ter uma
prescrição até para os mais ínfimos pormenores. Esta “escrupulosidade” aliena o
homem. Limita-se a cumprir as regras e o faz perder de vista a intenção mais
profunda e humana da lei. Cumpre atos externos, prescritos de fora, sem nenhum
desenho próprio. “Não
sou responsável, apenas cumpro ordens”.
iii.
O objeto de sua ação passa a ser ele mesmo - Ao
atingir escrupulosamente as minúcias legais, alcançou um comportamento
adequado, imaculado, que se justifica a si próprio. A lei permanece a serviço
de uma vida vivida na carne, não o prepara para a maturidade, nem o abre para Deus
e o próximo. A religião torna-se a fortaleza
na qual nos escondemos para proteger-nos dos riscos do amor, da verdadeira
identificação com os demais homens.
iv.
Superioridade moral – A lei nos torna espiritualmente
arrogantes e só percebe o homem em termos de esquema, tornando-o incapaz de
perceber concretamente a problemática do mal.
Ilustração:
Ainda no início do meu ministério, estava
compartilhando o evangelho com uma jovem que vivia baseada na lei. Quando começamos
a ler Gálatas, e ela percebeu a gravidade do legalismo em oposição à graça, ela
começou a chorar, e sem que eu ainda estivesse explicando este texto, ela
disse: “Estou preocupado com a vida de meus pais, pois eles ainda estão vivendo
na força da lei”.
“A lei e o evangelho se opõem de forma profunda. Não são
dois aspectos da mesma coisa ou interpretações do mesmo cristianismo” (Stott,
op cit 67).
O termo maldição e maldito são usados 5 vezes nestes versículos
(Gl 3.10,13).
Qual é a essência da lei?
O vs 12 explica: “Aquele
que observar os seus preceitos, por eles viverá”
Em outras palavras.
Se você conseguir seguir fielmente todas as coisas, você
será aceito por Deus na base de sua performance. O problema é que nenhum homem
foi capaz de fazer isto. Então, pergunte honestamente a si mesmo: “Sua salvação
está baseada na obra de Cristo ou na sua?”
Existe um falso conceito muito popular entre igrejas evangélicas
que afirmam que determinada pessoa “perdeu” ou “ganhou” a salvação. Qual é o
fundamento desta mensagem? O homem, a lei. Mas a Bíblia afirma que na base da
lei estamos todos sob a maldição. Nossa benção não vem por causa das
habilidades espirituais que desenvolvemos, mas por causa da obra de Cristo na
cruz. Se adotarmos o princípio retributivo “eu
faço- ganho”, ou “eu mereço-recebo”, voltamos
para a maldição da lei. A Bíblia afirma: “É
evidente, que pela lei, ninguém é justificado diante de Deus” (Gl 3.11).
O texto é forte:
“Jesus se tornou maldição em nosso lugar” (Gl
3.13). Isto é, ele cumpriu toda a lei e pagou, não só a culpa de meus pecados
mas imputou justiça a nós, como fez
com Abraão (Gl 3.6). Deus atribuiu uma justiça que não tínhamos, retirando toda
condenação. Vir para o evangelho é sacudir o peso de ordenanças, culpa e
preceitos, e confiar apenas na obra expiatória de Jesus.
A questão fundamental da fé cristã é:
Já aprendi a confiar plenamente na obra expiatória de Jesus
para minha vida?
Já me esvaziei da minha justiça própria e confio em Cristo
que assumiu meu lugar de maldição para trazer benção para minha vida?
Anápolis, 21 Jan 2003
Grupo de estudo – Abril 2017
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