sábado, 8 de julho de 2017

Ef 5.1 Como filhos amados

Pai com dois filhos — Fotografia de Stock #43898289
Introdução:

A base de nossa segurança espiritual é a identidade que temos.
Um dos grandes problemas espirituais e emocionais que temos é a orfandade. Em ambos os casos, não nos sentimos amados e o resultado é sempre grave. Uma pessoa que se sente órfã se transforma em vítima ou tirana. Aqui vale uma boa ressalva. Existem muitos que foram adotados e amados, construíram sua identidade num ambiente de amor. Existem, porém, muitos que vivem inseguros por serem na sua natureza emocional, órfãos, apesar de terem sido criados por seus pais biológicos. É importante ressalvar que a Palavra de Deus nos afirma que em Cristo fomos “adotados”.
Uma das doutrinas mais grandiosas do Evangelho e também uma das mais facilmente esquecidas é a de nossa relação com Deus. A Bíblia nos diz que "fomos feitos filhos de Deus", mas facilmente nos esquecemos que somos filhos, e desenvolvemos mentalidade de órfão. Uma das razões para este desvio são as experiências nos nossos relacionamentos e na nossa história: Gente que já teve experiência de rejeição, tende a desenvolver sentimento de orfandade, e encontra dificuldade para se sentir amado. Filho rejeitado pode perder o vínculo afetivo. Criança indesejada eventualmente tem dificuldade relacional.
O chamado que recebemos de Deus em Cristo Jesus é para sermos filhos, construindo nossa identidade em Deus. Várias vezes na Bíblia vemos a expressão "Deus nos adotou". A Bíblia diz que embora todos sejamos criaturas de Deus, nem todos são filhos de Deus (Jo 1.12). Ser filho é assumir a condição de uma família, com todos os direitos e deveres que ela tem. Infelizmente nossa alma facilmente desenvolve um luto existencial, de abandono de Deus, de distanciamento do Pai.
Neste texto a Bíblia mostra como é importante esta identidade de amor e de filiação: “Sede imitadores de Deus como filhos amados”(Ef 5.1). O motivo para querermos imitar a Deus é resultante da compreensão de que somos filhos, e como filhos, desejamos ser parecidos com o amado Pai. Quem não se sente filho, desenvolve atitudes de bastardo.

Tentando situar nossa condição
O livro “Coração Selvagem” de John Eldridge, deveria ser lido por todos os homens, especialmente por aqueles que são pais.  Ele afirma que que a maior pergunta no coração de um filho é se ele tem valor para seu pai. As grandes feridas abertas no coração do filho acontecem quando
(a): O filho não recebe nenhuma benção de seu pai, nenhuma afirmação, nenhum reconhecimento de valor;
(b): O filho não vê seu pai quando é pequeno e seu pai é ausente, porque só pensa em prover e trabalhar para a família;
(c): Através do silêncio. Quando os pais estão fisicamente presentes, mas se comportam como ausentes em relação a seus filhos. O silêncio é ensurdecedor. Os pais passivos ou ausentes não respondem a questão da alma masculina do filho: “eu sou um homem, papai?”, ou “tenho alguma valor?”. Os perigos tornam-se óbvios: Compulsividade agressiva ou retraimento depressivo.

Vivendo como órfãos
Como dissemos, pessoas com sentimento de orfandade, tornam-se vítimas ou tiranos.

Vitimas
O sentimento de orfandade pode no levar a um processo de vitimização e assim passamos a culpar todos pelo nosso fracasso: Meus pais me devem, a sociedade me deve, a igreja, e até mesmo Deus. Acusamos as pessoas de não termos oportunidades, os outros são responsáveis. Pessoas assim não crescem. Exigem cada vez mais atenção, a alma não se satisfazem, encontram-se vazias.

Tiranos
Fazem o movimento reverso em relação ao papel de vitima, mas a rotação é a mesma. Giram em torno de si mesmos. Anseiam por valor e significado. Tornam-se autoritários em relação aos outros, insistem para que todos fazem seus desejos, tornam-se mimados e exigentes, cheios de razão.

Em ambos os casos, o coração ainda está vazio.
Falta uma identidade vital com o pai. Falta-nos a compreensão de que somos filhos.

Como vive um filho?
Antes de mais nada, um filho não precisa provar nada.
Quem não é filho, cria uma relação de escravidão. Talvez seja esta a ideia central de Paulo na carta aos Romanos ao afirmar: "porque não recebestes o espírito de escravidão" (Rm 8.15). Paulo tenta trazer à mente do povo de Deus, que sua relação com Deus agora em Cristo, é totalmente diferenciada. Não mais escravos, mas filhos.
Embora vivendo com Deus, nem sempre o vemos como Pai. Muitas vezes Deus se parece mais com alguém punitivo, que exige uma cota diária de tarefas a serem preenchidas, e que pode nos castigar e retirar alguns privilégios se não fizermos exatamente o que ele espera. Esta mentalidade que se fundamenta na funcionalidade, contudo, não é a de um Pai com um filho, mas de um servo com seu senhor.

Em segundo lugar, quem não é filho, vive numa insegurança marcante.  
Em Romanos lemos: "porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes, outra vez, atemorizados" (Rm 8.15). É bom grifar a palavra "atemorizados". Quem já passou por situações de ameaça e medo, sabe do que estou falando. A Bíblia fala que "no amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor" (1 Jo 4.18). Amor e medo, são exclusivos. Se nossa relação com Deus é fundamentada no medo, algo muito grave ronda nossa espiritualidade. O medo produz tormento, e no medo não crescermos em maturidade, já que quem teme não é aperfeiçoado no amor.

O resultado de viver como filho é descanso e paz.
Paulo afirma que recebemos o Espírito de adoção (Rm 8.15), isto é, uma nova mentalidade é colocada em nós, não mais de escravo, mas filho. Este é o espírito de adoção. Podemos encontrar intimidade e aconchego, chamando o Deus Todo Poderoso de "Paizinho" (Abba Pai) (Rm 8.15; Gl 4.6). Por meio da adoção, nos é dado acesso direto à presença do Pai (Gl 4.7) e ainda recebemos herança na família de Deus (Rm 8.17). Além disto, João afirma que "Ainda não se manifestou o que havemos de ser" (1 Jo 3.2). Isto é, o que sabemos já é grandioso, mas existe muita coisa  maravilhosa que ainda não nos é dado conhecer.
Um texto do profeta Isaías veio ao meu coração quando pensava nesta relação de segurança como filho de Deus: “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança a vossa forca, mas não o quisestes. Antes dizeis: Não, sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; sim, ligeiros serão os vossos perseguidores” (Is 30.15-16). Deus está convidando o povo para entender esta relação de um Pai, em quem podem confiar. Filho confia no caráter do seu Pai e ao confiar, encontram segurança, sossego e serenidade.

O tronco da rejeição
O problema básica do ser humano, a raiz do problema é o seu sentimento de orfandade. Ele gera, insegurança, medo, ansiedade, stress e ira. Para compensar todo este abandono existencial, nos entupimos de shopping, sexualidade distorcida, pornografia, droga, desejo de sucesso, trabalho excessivo. A compulsão inicial se torna vício, mas o maior problema não é ainda o vício, mas a fonte do vício. Pior que a ira, é a raiz da ira ou sua fonte. Por que vivemos irados e zangados? Ira é um pecado de superfície, como estudamos anteriormente.

Orfandade e suspeita
O órfão possui um núcleo básico de desconfiança na sua relação com o pai. Ele não conhece sua identidade. Quem sou eu? De onde vim? Sou realmente amado? Por isto as perguntas se tornam muito graves: O que Deus quer comigo? Por que ele permite que estas coisas aconteçam comigo? E estas perguntas vem sempre carregadas de muito medo, ressentimento e raiva.

Jesus e sua identidade de filho amado
Uma das coisas mais subversivas que temos no Evangelho é o conceito de Deus como Pai. Jesus agride seus ouvintes, religiosos formais, ao chamar Deus de “paizinho”. Como ele se atreve a tanto?
A verdade é que o órfão não consegue viver a dimensão de intimidade, ele tem sempre medo do julgamento e da rejeição, mas o filho vivencia intimidade e liberdade.
Paulo afirma que por recebermos o espírito de adoção, podemos afirmar, "Aba, Pai" (Rm 8.15). O termo "Aba" não é hebraico, mas aramaico. Era uma forma carinhosa e íntima de se referir ao pais, mas uma linguagem própria de crianças que estão começando a andar e a falar. É o equivalente ao nosso termo "paizinho". Esta visão de Pai era escandalosa para os judeus ortodoxos. Como é que podem chamar Deus de "paizinho"?
Jesus possui uma identidade clara de filho amado. Por duas vezes Deus Pai declara publicamente sua relação de afeto com ele: “Este é o meu filho amado”. A primeira vez logo após seu batismo no Jordão; a segunda na transfiguração (Mt 4.17; 17.5). Deus reafirma sua relação afetiva, de forma significativa: “Em quem me comprazo”. Uma expressão que mostra que Deus sente prazer nele. Pai e Filho, identificados. Este sentimento de filho amado, sustenta Jesus em todo seu ministério e lhe dá condições de ir para a cruz e morrer pelos nossos pecados.
Não é sem razão que, antes da tentação, Jesus ouve esta declaração do Pai, porque logo depois ele é levado ao deserto, e a primeira coisa que Satanás coloca em cheque é a sua condição de filho amado: “Se és filho de Deus!” Esta insinuação é sutil, mas poderosa. Isto acontece conosco quando nossa identidade não é clara diante. Se você não souber de sua posição diante de Deus, não entender que você é um filho amado, a primeira tentação ou crise, sua fé não sobrevive. O Filho de Deus  está sendo tentado, mas sua identidade de filho não sofre uma crise por causa da angustiante situação. Na cruz a tentação da filiação novamente é colocada em cheque, “Se és Deus, desça desta cruz”. Jesus não se sente pressionado para provar nada. Ele é filho amado, querido, o Pai sente nele prazer e ele se contenta com a intimidade com o Pai

 

Resultado Prático:

Ser filho, também traz responsabilidades


A grande responsabilidade é viver no status de filho. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”. (Ef 5.1). Por isto Jesus afirmou: "Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai" (Mt 5.48). Somos convidados a viver este novo estilo de vida, identidade de filho.
O que nos motiva a querer ser imitador de Deus? Nossa identidade de filho. O desejo de santidade tem a ver com a compreensão de quem é o nosso pai. Meu pai não vai me rejeitar, nem desertar, se eu não corresponder, mas eu quero imitá-lo, porque me sinto amado

Conclusão:
Algum tempo atrás, tive acesso a um material maravilhoso que faz uma relação entre órfãos e filhos, e achei interessantíssimo. Gostaria de compartilhar o mesmo. É interessante que, na medida em que estas coisas são ditas, você faça uma reflexão sobre sua própria vida.

Como vive um órfão?
Sente-se só: Falta uma intimidade vital com Deus; Tem um de sentimento vacuidade. É muito preocupado consigo mesmo. Vive ansioso com necessidades sentidas: amigos, dinheiro, etc; “Eu estou sózinho e ninguém se importa”., Nunca está bem. Tem uma vida baseada no fracasso/sucesso. Quer parecer bom a todo custo, é orientado para a performance. Sente-se condenado, culpado e indigno diante de Deus e dos outros. Tem uma fé frágil, muito medo e nenhuma habilidade para confiar em Deus. “Eu tenho que consertar isto”.                                                          
Trabalha com um forte senso de obrigação, trabalhar duro, e sempre vive esgotado. É rebelde diante de Deus e dos outros, frequentemente é frio e de coração duro. É defensivo, não consegue ouvir, vive debaixo do escudo da justiça própria, virtualmente tentando provar sua capacidade  a todo custo. Precisa estar sempre correto, salvo e seguro, nunca fracassa. É defensivo e incapaz de tolerar críticas, só consegue viver com elogios.
É auto confiante, mas desencorajado, derrotado, e sem o poder do Espírito Santo. Eu vou lhes mostrar!”. “Vejam o estrago que vou fazer”... “Onde os outros falharem…” (O poder da vontade). Murmurador e sem gratidão diante de Deus e dos outros; precisa humilhar os outros, demonstra um espírito amargo e crítico. Um expert em demonstrar o que está errado; sempre insatisfeito com alguma coisa.                                          
Fofoqueiro (gosta de confessar o pecado dos outros); precisa estar sempre criticando alguém para se sentir seguro. Sente-se um competente analista das fraquezas dos outros, ele tem o “dom do discernimento”. Está sempre se comparando. Seus sentimentos variam do orgulho à depressão. (dependendo de quão mau ou bom os outros parecem ser). Não tem poder para derrotar a carne; não obtém vitória num nível profundo, sobre seus “pecados da carne”, embora tenha perdido o sentimento de ser um “grande” pecador”. (Rm. 8:19),                                            
Quase não ora. Oração é seu “último recurso”; quando tudo o mais falha…ora frequentemente em público, raramente na vida privada. As promessas de poder espiritual e alegria contidas na Bíblia zombam dele. “O que aconteceu com toda alegria?” Está sempre orgulhando-se de si mesmo, apontando para suas conquistas com medo de que alguém possa superá-los (Gl. 6:14). Está inconscientemente construindo um “recorde” de boas obras que precisa ser anunciado e defendido. É auto centrado; “Se eles vissem as coisas da  forma como eu vejo!”. Tem uma profunda necessidade de estar no controle de toda situação, sua e dos outros.                   
Busca satisfação em outras coisas além de Jesus. Fundamenta-se nos seus ídolos (posição e posses), e apenas através destas coisas sente-se valorizado, reconhecido e justificado. Tem pouco desejo de compartilhar o evangelho (desde que sua vida cristã é tão miserável); quando o faz, tende a ser motivado por um senso de obrigação ou dever, não amor.                                                                             


Como vive um fiho?
Tem uma segurança crescente de que “Deus é realmente meu amado Pai celestial.”(1 Jo 4.16). Confia no Pai e tem uma confiança que cresce dia a dia no amor Paterno, vive livre de preocupação. (Mt 6.25ss). Aprende a viver numa consciência diária e que sua vida é uma sociedade com Deus. Não se sente amedrontado. Sente-se amado, perdoado e totalmente aceito porque reconhece que os méritos de Cristo o cobrem realmente.
Confia diariamente no soberano plano de Deus para sua vida, sabendo que este plano é sábio, amoroso e o melhor. Oração é seu primeiro recurso. “Vou perguntar primeiramente ao meu Pai, meu paizinho".  Tem a coragem de ser submisso, tem um coração quebrado e contrito. (Sl.51:17).
É aberto a crítica, uma vez que ele conscientemente está firmado na perfeição de Cristo. Não na sua própria. É aberto para examinar seus motivos mais profundos. É capaz de se arriscar, mesmo fracassar; desde sua justiça está em Cristo, ele não precisa ter uma boa performance para se orgulhar dela, se proteger ou se defender. Está confiado em Cristo e encorajado nEle. Porque o Espírito Santo está trabalhando. Confia cada vez menos em si mesmo e cada vez mais no Espírito Santo (diariamente confia na proteção de Deus).
Confia no Santo Espírito para guiar sua palavra para adoração, edificação, gratidão e encorajamento (Ef 4.29, etc.) Não é cego para o que é errado, mas prefere focalizar no que é bom e amável. (Fp 4.8). É capaz de livremente confessar suas faltas aos outros; não se sente o dono da razão. Não tem sempre que estar certo. Reconhece que está frequentemente errado, tem profundo desejo de crescer. Está firmemente fundamentado em Cristo. sua justiça não está fundamentada em ação humana. (Fp 3.9). Como ele confia em Cristo, está cada vez mais obtendo vitória sobre a carne. Tem consciência de ser um “grande pecador”. Oração é uma parte vital do seu dia, oração não é limitada ao “momento devocional”, tem prazer em falar com o Pai (I Ts 5.16-18).

As promessas de poder e alegria são sempre experimentadas por ele (Rm15.13). Descobre que Jesus é mais e mais o tema de sua conversa. Orgulha-se de sua fraqueza (2 Co12.9,10). A justiça de Cristo é seu “recorde”, ele está completamente firmado em Cristo.  (1 Co 1.28). Tem sido controlado por Cristo; ministra no poder do Espírito Santo - não na força de sua carne. Cristo é sua comida e bebida. Deus realmente satisfaz sua alma! “Não há outro em quem eu me compraza na terra!” (Sl 73.25). Tem um profundo desejo de ver o perdido vindo ao conhecimento de Jesus, reparte o Evangelho aos outros, mesmo quando não é pressionado por um (bom) programa.

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