Introdução:
Atos 17 relata a chegada do
Evangelho à Tessalônica, hoje conhecida como Salônica, uma cidade portuária que
tinha um dos melhores portos naturais no mar Egeu, no nordeste da Grécia, sendo
uma das portas para o comércio do império romano. A chegada dos apóstolos nesta
cidade se deu em torno do ano 50 d.C., logo após o espancamento e prisão na
cidade de Filipos.
Ao chegarem à cidade, procuraram
a comunidade judaica, indo a uma sinagoga, ponte para a comunicação da mensagem
por causa da cultura, religião e a
língua hebraica, e por três sábados ele se reuniu com membros da sinagoga para
anunciar a mensagem de Jesus.
Como o Evangelho era anunciado?
Neste texto, a Bíblia usa quatro
termos para demonstrar o “como”.
A.
Arrazoar (At 17.2: grego, dielegeto). O termo arrazoar é um
verbo, relativo ao ato de
apresentar razões, argumentos ou justificativas sobre algo à
alguém. O
objeto do estudo era o Antigo Testamento: “arrazoou
com eles acerca das Escrituras”.
Paulo usava todas as possibilidades da
lógica e da razão para que os judeus daquela cidade entendessem como as Leis e
os profetas apontavam para Cristo. Ele abria os rolos e argumentava com o
objetivo de conduzir as pessoas à compreensão das verdades bíblicas.
Pregação precisa usar a razão. Quando
pregamos, devemos envidar todos os esforços para comunicar a verdade de uma
forma que as pessoas entendam e isto faça sentido nas suas mentes.
B.
Expor (At 17.3: grego, dianoigon). Quando Jesus se encontra com os discípulos no
caminho de Emaús, o que ele fez foi expor as Escrituras. “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas,
expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc
24.27).
Pregação bíblica deve ser, antes
de tudo, uma exposição bíblica. Por isto chamamos de “pregação expositiva”. O
objetivo é expor a Palavra e deixar que a Palavra gere efeito no coração do
ouvinte. “Porque a terra
por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e,
por último, o grão cheio na espiga”(Mc 4.28).
C. Demonstrar (At 17.3: grego, parathitemenos). Demonstrar é bem mais que falar, arrazoar e
expor.
No seu estilo de pregação Paulo
afirma: “A minha palavra e a minha
pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em
demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Há uma grande diferença
entre falar sobre algo e demonstrar algo. Talvez seja esta a razão pela qual o
ministério de pregação seja tão ineficaz em nossos dias. Falamos muito mas
demonstramos pouco.
D.
Persuadir (At 17.3: grego: epeistheso). Na pregação da palavra Paulo usava a força da
persuasão e do convencimento. Quem
converte as pessoas é o Espírito Santo, e ele faz isto através da pregação
persuasiva do Evangelho.
Na narrativa do rico e Lázaro,
relatada por Lucas, o rico busca conforto tentando enviar alguém à terra para
falar da vida após a morte, mas Deus se recusa dizendo: “Abraão porém, lhe responde: se não ouvem a Moisés e aos Profetas,
tampouco se deixarão persuadir, ainda que, ressuscite alguém dentre os mortos”
(Lc 16.31).
Precisamos ser “persuadidos” para
seguir a Deus.
A razão pela qual tão poucas
pessoas são fieis é porque, não estão convencidas de que as verdades do
evangelho valem a pena ser vivida. Falta persuasão. Infelizmente, como na
narrativa de Jesus, quando se deixam persuadir é muito tarde.
O conteúdo da Mensagem
O conteúdo pode ser demonstrado
em três aspectos, todos presentes no vs 3: “expondo
e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre
os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio”.
A. A morte de Cristo - ...”e demonstrando ter sido
necessário que o Cristo padecesse”. A morte de Cristo é central na mensagem
cristã. Apesar da cruz de Cristo ser um tema muitas vezes desprezado nas pregações
atuais, o sangue é central nas Escrituras e de forma específica na morte de
Cristo.
Era “necessário que o Cristo padecesse”...
Jesus tentou falar sobre este
assunto aos seus discípulos: “Desde esse
tempo, começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que lhe era
necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos
principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia”
(Mt 16.21).
Por que era necessário ser morto?
Primeiro, a cruz era o cumprimento das
profecias
As Escrituras fala do Antigo
Testamento apontam para este sacrifício. Quando os discípulos creram, a Bíblia
afirma que “Então, lhes abriu o
entendimento para compreenderem as Escrituras: e lhes disse: Assim está escrito
que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc
24.44,45).
O sangue aponta para o servo
sofredor, profetizado por Isaias (Is 53).
O sangue de Cristo aponta para toda
simbologia dos sacrifícios judaicos.
Segundo, a morte era necessária para
expiação de pecados. Jesus cumpria de uma vez por
todas as exigências da lei mosaica.
Todos os sacrifícios eram feitos com
sangue, e em todos os atos de culto prestado ao Deus de Israel, havia
exigências de sacrifício (Hb 9.22). Jesus assume esta dimensão tipológica e
simbólica de todo pensamento bíblico, tornando-se o Cordeiro Pascal, de uma vez
por todas, para que nunca mais houvesse necessidade de qualquer outra forma de
sacrifício. Paulo afirma: “...Pois também
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1 Co 5.7). Era necessário que um sacrifício fosse
substitutivo e expiatório fosse feito a favor dos pecadores. E um animal
deveria ser morto para assumir o lugar do pecador.
Terceiro, a cruz satisfaz a ira
divina
Deus é justo, e o pecado merece a ira
divina, julgamento e punição. O pecado traz condenação e morte. “O salário do pecado é a morte” (Rm
6.23). O mesmo princípio é afirmado em Ezequiel 2 "A alma que
pecar, esta morrerá" (Ez
18.4). “Ao senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar” (Is 53.10). Toda a
ira de Deus contra a transgressão e injúria do pecado humano foi colocado em
Cristo. Na cruz, ele assumiu nossa culpa. Nós deveríamos estar lá, mas
ele tomou sobre si nossas iniquidades.
Lutero afirma: “A lei de Deus foi
satisfeita pela perfeita obediência de Cristo em sua vida, assumindo nossa
culpa”.
B.
A ressurreição de Cristo - ...”e demonstrando ter sido necessário que o Cristo... ressurgisse dentre
os mortos”.
Por que a ressurreição de Cristo
era importante?
Primeiro, a ressurreição revela a identidade de Cristo – Todos os sermões dos apóstolos
apontavam para a ressurreição: Pedro no discurso do templo (At 3.15-16); Pedro
e João perante o Sinédrio (At 3.7-11); Pedro se apresentando pela segunda vez
ao sinédrio (At 5.28-32). Apesar de todos os milagres e prodígios de Jesus,
quando os apóstolos tentam convencer as pessoas da validade de sua mensagem e
messianidade, eles usam o argumento da ressurreição.
Segundo, a ressurreição autentica nossa fé – (1 Co 15.13-14) - O fundamento
de nossa vida cristã está em que a morte não pode manter Jesus preso. Sem
ressurreição só restava aos discípulos o desencanto e a frustração como
percebemos nos caminhos no caminho de Emaús retornando às suas casas, e Pedro e
seus colegas retornando à antiga profissão de pescadores. A ressurreição faz
renascer o chamado à vocação.
Sem a ressurreição, destrói-se o
fundamento do cristianismo. Sem o poder da ressurreição, perde-se a vitalidade
da vida cristã. Esta é a natureza do poder daqueles que estão em Jesus.
Era “necessário que o Cristo...
ressurgisse dentre os mortos”...
C.
Sua messianidade - “expondo e demonstrando (...) que ele é Cristo, Jesus, que eu vos
anuncio”.
A palavra “Cristo” é a tradução
grega para o termo Messias. O povo judeu aguardava a vinda do Messias, prometido
pelos profetas. Apesar de terem uma concepção equivocada da ação deste Messias,
todo judeu piedoso aguardava ansiosamente a vinda do Messias.
O que Paulo tenta fazer na sua
pregação é demonstrar pelas Escrituras, que este Jesus, que ele anuncia, é o Messias,
o esperado do povo judeu.
A mensagem apostólica é
consistente. No Pentecoste Pedro afirmou: “mas
Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas; que
o seu Cristo havia de padecer” (At 2.18). “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou
a pedra angular” (At 4.11).
Paulo queria deixar claro que
Cristo era o cumprimento profético de todas as promessas que Deus havia feito a
seu povo, e que, em Jesus, se cumpria agora todo propósito de Deus na história.
Ele era o cumprimento profético. Ele era o Messias.
Oposição ao Evangelho
Outro aspecto a ser considerado é
que, por onde passassem, severa oposição era levantada contra os apóstolos.
Icônio – Tumulto em torno dos
discípulos, que são levados para serem ultrajados e apedrejados (At 14.1-5)
Listra –Paulo apedrejado e dado como
morto (At 14.8-20).
Filipos – Paulo e Silas, presos e
acoitados (At 16.19)
Tessalonica – Alvoroço, tumulto, Jason preso
(At 17.1-9).
Bereia – Paulo tem que sair às pressas
da cidade para fugir da perseguição – At 17.10-15.
Isto nos leva a pensar que quando
o evangelho for pregado corretamente, haverá certa oposição e controvérsia em
torno de sua mensagem.
Quando alguém questiona o que
pregamos, não deveríamos retroagir, mas se sentir mais encorajado a continuar
pregando, afinal “pregamos a Cristo
crucificado. Escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1 Co
1.21).
O Impacto do Evangelho
Paulo afirma que “o evangelho é o poder de Deus para salvação,
primeiro, do judeu e também do grego”(Rm 1.16).
A marca do Evangelho é o poder
que o acompanha. Sua mensagem gera crise, conspiração, transformação. A
mensagem do evangelho tem poder.
Por esta razão, ela gera certo
incomodo: “Estes que tem transtornado o
mundo chegaram também aqui” (At 17.6). As pessoas de Tessalônica que
fizeram este comentário, não estão fazendo qualquer elogio aos discípulos, mas
ao reproduzirem o comentário popular que os acompanhavam por onde passavam,
estão, sem o perceber, demonstrando como o evangelho possui certo poder
subversivo de conspirar contra o status quo, a cultura, a religiosidade pagã.
Os moradores de Filipos fizeram
observação semelhante: “Estes homens,
sendo judeus, perturbam a nossa cidade” (At 16.20).
Quando o evangelho de Cristo alcança
o coração dos homens, sua família e sociedade, o resultado será sempre
transformação e impacto.
Conclusão: A quem o evangelho atinge?
Quero concluir trazendo uma
aplicação desta mensagem aos nossos corações.
O texto afirma que foram
alcançados alguns judeus piedosos e distintas mulheres, bem como numerosa
multidão (At 17.4).
Nunca saberemos aonde o evangelho
pode chegar.
Ele chega em pessoas piedosas e
tementes a Deus, como chegou ao coração de Cornélio e Lidia, mas chega também no
coração de mulheres influentes da cidade, que exercem liderança na comunidade,
mas atinge pessoas anônimas.
O que isto tem a ver conosco?
O Evangelho pode alcançar a
qualquer um de nós, em qualquer circunstância e ambiente.
Pode ser que nosso contato com o
evangelho tenha sido superficial e aparentemente acidental. Um sermão ouvido,
uma mensagem lida, um comentário despretensioso. Mas o evangelho pode nos alcançar,
e como fez a Lídia, “O Senhor pode abrir
nosso coração para dar ouvidos à sua mensagem” (At 16.14), e assim, sermos alcançados
pela sua graça e este evangelho penetrar em nossos corações e nossos lares.
Sua mensagem pode nos alcançar hoje.
Ela pode alcançar o seu coração agora,
quando lê esta mensagem.
O Espírito Santo pode visitar a
sua história, escrever um novo capitulo na sua vida, reorientar seus planos, te
dar salvação eterna.
Não há ninguém que possa estar
distante da graça de Deus e não ser alcançado. Independente de status, condição
financeira, moral. Deus pode revolucionar sua vida.
Você hoje pode ser persuadido por
Deus, como foram alguns judeus, aquelas mulheres e grande número de pessoas na
cidade de Tessalônica. O mesmo Deus que agiu naqueles dias, ainda age hoje.
O Evangelho tem poder para
impactar a história de qualquer pessoa, em qualquer situação.