Introdução:
Neste
texto, entre os vs 21-24, a palavra “casa” (oikoumenes)
aparece 3 x (At 16.31,32,34), e uma vez de forma indireta, já que no vs. 33 há
uma referência a “todos os seus”, que está diretamente ligada à família.
A pergunta
do carcereiro a Paulo e Silas é atual, urgente e necessária, porque é a questão
mais importante da vida, com implicações não apenas temporais, mas eternas.
Nenhuma pergunta é mais relevante na vida do que esta: “Senhores, que fazer para que (eu) seja salvo?” (At 16.30). Apesar
da pergunta ser individual e coletiva, a resposta de Paulo é coletiva: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua
casa” (At 16.31) e isto revela uma realidade maravilhosa: A salvação em
Cristo impacta muito mais que sua vida pessoal, mas possui implicações para
toda família. Deus deseja salvar sua casa. Não é esta uma promessa
maravilhosa?
Muitos
estão preocupados com a salvação da família, mas não com sua própria salvação.
Outros estão preocupados com sua salvação, mas se esquecem da salvação da
família. O texto demonstra que tais realidades estão interligadas. Conversão
tem maravilhosas implicações para a vida pessoal e com marcas tremendas nos
filhos.
Portanto,
precisamos considerar a salvação como algo maior. Quando estamos preocupados apenas
com a salvação da família, mas não com nossa própria salvação é porque ainda não
entendemos o quanto precisamos de Jesus e de sua graça de Deus. Provavelmente
nossa justiça própria seja muito acentuada e não compreendemos a necessidade da
salvação. Muitos pais estão preocupados em trazer seus filhos à igreja, mas não
se preocupam em se trazer a Deus.
Lamentavelmente pais trazem seus filhos à igreja e não ficam no templo para
adorar a Deus, preferindo programas alternativos. Você já parou para se
perguntar qual a mensagem que você está mandando para seus filhos? Não seria
esta uma forma de dizer: “religião é importante enquanto você é uma criança,
quando você se tornar um adulto, isto é irrelevante”.
Preste
atenção:
A
obra de Deus deve começar em você.
Ninguém
é salvo por procuração, nem vai para o céu com azeite do outro.
Quando
nos aproximamos de Jesus, abençoamos nossa casa, enquanto o distanciamento e a indiferença
de um pai ou mãe às coisas de Deus, pode trazer graves danos à sua alma e aos
filhos.
A
Bíblia fala que “o Filho do homem veio
buscar e salvar o perdido” (lc 19.10). Será que entendemos nossa
necessidade de arrependimento e de orientação divina? Será que temos
consciência da gravidade espiritual de nosso coração se não for resgatado pelo
sacrifício de Cristo?
Muitas
vezes a compreensão de nosso estado de perdição espiritual se dá em situações
de angústias pessoais como a deste homem, outras vezes em tragédias pessoais,
crises existenciais, ou pressões financeiras e familiares, mas o ponto é, num
determinado momento precisamos entender que precisamos de salvação. Só admite
que precisa de salvação aquele que se reconhece perdido e clama a Deus por
socorro.
Existe
ainda outro aspecto que podemos inferir deste texto.
Podemos
estar preocupados conosco e nos esquecemos da família.
Neste
caso, participamos das conferências de igrejas, lemos livros, oramos, estamos
constantemente participando de cultos, mas nos esquecemos de investir nos
filhos e na proteção espiritual de nossa casa. Não nos esforçamos para que o
Evangelho se torne claro no coração de nossos filhos e se aprofunde em suas
mentes.
O
carcereiro faz uma pergunta individual mas Deus, o que é muito importante, mas
a sua inquietação pessoal desemboca em bençãos muito mais abrangentes. Deus tem
interesse pela sua casa e pelos seus
filhos. Sua casa precisa de salvação!
Que
tipo de salvação nossa família necessita? Salvação psicológica e espiritual.
- Salvação psicológica – Nossos filhos e cônjuges precisam ser tratados
nas suas emoções. Se não houver salvação emocional em nossa casa, estamos
todos perdidos.
Lares
abrigam muitas disfuncionalidades resultantes de pecados individuais ou de
culturas familiares. Por isto a Palavra de Deus afirma que o sangue de Cristo nos
livra do “fútil procedimento que (nossos)
pais nos legaram” (1 Pe 1.18). Muito da futilidade familiar tem a ver com
condicionamentos herdados e aprendidos. Famílias facilmente perdem a capacidade
de diálogo, e lares se tornam marcados por descontentamento, vaidade, ira e
ressentimento. Famílias precisam encontrar a cura que surge das águas
purificadoras que saem do trono de Deus (Ez 47) e da redenção e restauração do
Espírito Santo.
Muitas
doenças familiares são sistêmicas. Lares marcados pela acusação, ódios
históricos, indiferença e distanciamento e tais enfermidades roubam a alegria e
nos torna reativos. Precisamos de cura. Deus quer salvar nossa família da
frieza e indiferença.
Dois
textos na Bíblia mostram situações de doenças emocionais gravíssimas:
A. A mulher Cananéia – Que se aproxima de Jesus: “Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente
endemoninhada” (Mt 15.22). Sua casa é marcada pela presença do mal, que se
aninhou e dominou a psique de sua filha. Em situações assim, Satanás tem o
controle da casa e as ações do mal direcionam movimentos, atitudes e palavras.
Lares dominados pelo maligno fragmentam as emoções.
B. A parábola da casa vazia – Em Mt 12.43-45,
Jesus narra o cotidiano de uma casa, na qual as coisas, superficialmente estão
organizadas, já que se encontra varrida e ornamentada, e tudo parece estar em
ordem. Entretanto tal casa encontra-se vazia (Mt 12.44). Os afetos e
enternuramento se perderam. A casa está vazia. Ela se esvaziou de ternura, perdão,
apreciação e encorajamento. Esta casa corre sério risco, porque vazia de afetos
prenuncia maldição. Perde a alegria e espontaneidade, perde a graça, celebração
e contentamento. Lares assim precisam de redenção, caso contrário, permitirão o
retorno de espíritos imundos, que retornam com outros sete espíritos. Isto é, o
retorna com força total.
- Salvação Espiritual – A grande salvação, porém, que Jesus traz aos
nossos lares é de natureza espiritual. Lares precisam ser libertos da
condenação eterna. O texto diz: “crê
no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Precisamos
entregar nossa vida de forma incondicional a Jesus para sermos salvos. Sem
Jesus estamos espiritualmente perdidos e mortos em nossos delitos e
pecados (Ef 2.1). Nossos filhos precisam entender o plano da salvação, nós
precisamos ter certeza da vida eterna em Cristo Jesus.
Para
avaliar sua vida de entrega pessoal a Jesus, considere as duas perguntas
clássicas do Evangelismo Explosivo:
Þ Você já chegou ao ponto de sua vida espiritual que
você tem certeza de sua vida eterna?
Þ Se você morresse hoje e Deus lhe perguntasse: “Por que
eu deveria deixar você entrar no meu céu”, o que você responderia?
Tentando
ler este texto por uma outra perspectiva diria: a salvação da família traz
salvação para nossa vida.
O
carcereiro pergunta: que devo fazer para ser salvo? A única forma de você
encontrar salvação plena é experimentando a salvação na sua casa. Nas
Escrituras todos os pactos de Deus envolvem a família. O Deus da Bíblia é um
Deus de alianças e pactos, chamando famílias para um envolvimento profundo.
Existe
uma doutrina teológica muito esquecida nos nossos púlpitos chamada de Solidariedade da raça. Ela afirma que de
uma forma muito direta, estamos todos identificados com a humanidade como um
todo, e com nossos pais, de uma forma particular.
Exemplo
1: Quando Adão caiu, todos caímos. A queda adâmica arrastou consigo toda a
humanidade de forma que, em Adão, todos caímos (Rm 5.12).
Exemplo
2: Quando Deus chamou Abraão, não o fez apenas enquanto indivíduo, mas fez um
pacto geracional, isto é, com sua
geração.
“Guardarás a minha aliança, tu e a tua
descendência, no decurso das gerações” (Gn
17.9). Deus estava incluindo os filhos no pacto. Eles são herdeiros da mesma
graça de vida (1 Co 7.14). As promessas abrâmicas se aplicam ainda hoje a nós,
que somos os legítimos filhos de Abraão (Gl 3.13-14) e o verdadeiro Israel de
Deus (Gl 6.16).
A
salvação possui um aspecto inclusivista para a família. Deus está interessado
em sua família. “crê no Senhor Jesus e
serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Isto quer dizer que podemos e
devemos esperar as bençãos espirituais da redenção para nossa família, como
afirma Paulo: “Doutra sorte vossos filhos
seriam impuros, mas agora são santos” (1 Co 7.14). Recomendo a eitura de
dois textos sobre este assunto: (a)- A graça que vem do lar, de Susan Hunt, Editora
Cultura Cristã e a Família do Pacto de Vn Groniken, também publicado pela mesma
editora.
O
texto de Atos 16 que estamos ainda vai apontar para cinco bençãos resultantes
de uma casa que experimenta salvação:
1. A Palavra de
Deus é experimentada na sua interioridade – “E lhe pregaram a Palavra de Deus
e a todos de sua casa” (At 16.32). Nunca a Palavra de Deus fora exposta
ali, mas daqui em diante seria anunciada, e tornar-se-ia objeto da reflexão da
família.
A
palavra de Deus e suas verdades começam a ser ministradas e recebidas. O lar
torna-se espaço para grupos de estudo, pregação aos vizinhos, louvor a Deus,
comunhão, etc. Este é o sinal pujante de uma casa que recebeu a Salvação.
2. Surge
experiência de misericórdia no meio da família – “Cuidando
deles, lavou-lhes os vergões dos açoites” (At 16.33). Carcereiros eram do
tipo durões, impiedosos. Estavam acostumados a ver a dor sem se comover, a
bater e a ferir sem que isto lhes causassem aborrecimento. Agora, este
carcereiro se transforma num homem bondoso, que ao invés de gerar feridas trata
as feridas abertas, ao invés de machucar, restaura.
Lares
penetrados pela salvação, começam a manifestar graça aos feridos, acolhimento
aos quebrados, socorro aos que sangram. Tornam-se ambientes de cura e redenção,
verdadeiro Tanque de Siloé. Aquele homem sai da situação de espancador para
consolador. Muda sua abordagem em relação ao sofrimento. Transforma seu lar num
centro terapêutico e de restauração para os outros. Misericórdia é uma das
melhores formas de revelar aos nossos filhos a presença de Deus entre nós.
3. Assume
compromissos públicos de sua fé - “A seguir, foi ele batizado e todos os seus”
(At 16.33). Não fica em dúvida sobre a necessidade de
assumir compromissos com as coisas de Deus.
Sua
fé se visibiliza, torna-se pública. Muitas famílias parecem ter medo de
compromisso com a fé cristã. Não se envolvem com sua comunidade, não querem
pagar preço do compromisso e do discipulado. Esquecem ou não sabem que fé que
não custa nada não vale nada!
4. Expressa
koinonia e acolhimento – (At 16.33).
Lares redimidos aprendem a dividir a compartilhar. Não vêem as coisas apenas
como suas, mas abrem sua casa para repartir, sua vida experimenta a benção do
compartilhamento.
São
famílias onde os recursos começam a ser compartilhados com os necessitados, com
a obra de Deus, com os campos missionários. Sua casa torna-se um espaço para acolhimento
e benção.
Sempre
fico impressionado com pessoas que abrem suas casas para acolhimento e
pregação. Uma ovelha preciosa que tenho, todos os anos abria sua casa para um
chá de evangelização, tudo isto feito com muita excelência e qualidade, e ali faz
um culto, fala dos projetos sociais que está envolvida e desafia as mulheres
ricas da cidade a um compromisso de solidariedade. Sua casa foi local de
encontro de senhoras ricas e importantes da cidade. Sempre abriu sua casa para
fazer roupas para crianças pobres, para lancharem
juntas e meditarem na Palavra de Deus.
5. Experimenta
celebração – “Com todos os seus, manifestava grande alegria” (At 16.34). A casa
passa a ser espaço de alegria, e a fonte básica desta celebração é “por terem crido em Deus” (At 16.34).
Algum
tempo atrás encontrei na varanda da casa de um casal amigo os seguintes
dizeres: “Que aqui você possa encontrar alegria, paz e risada”. Esta frase me
chamou atenção: Lares precisam encontrar alegria, celebração e prazer, lares
cristãos precisam ser lugar de alegria e contentamento.
Conclusão:
Salvação em nossos lares:
- Como
somos salvos? Apenas pela fé, e
só pela fé na obra de Cristo. Este foi um lema amplamente defendido pela
Reforma Protestante. “Pela fé, e apenas pela fé”. Quando o carcereiro
indaga sobre o que fazer para ser salvo, a resposta é direta e simples: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e
tua casa”. Plena fé na obra
plena de Cristo.
Mais
do que nunca precisamos reafirmar a necessidade de colocarmos nossa dependência
na obra plena de Cristo. Aprender a olhar para a cruz. Equivocadamente queremos
salvar nossa família usando fundamentos humanistas, psicologia secular ou
técnicas modernas de condicionamentos, quando deveríamos recorrer à maravilhosa
obra de Cristo realizada na cruz.
Um
dos homens mais admirados pela sua consagração e escritos é A. W. Tozer. Certa
vez afirmou. “Penso que minha filosofia é esta: Tudo está errado até que Deus
endireite as coisas”.
Sua
casa já experimentou salvação? Precisa de salvação? Está perdida?
Desencontrada? Carente de direção? Cura? Redenção? O texto afirma: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua
casa” (At 16.31).
- A Extensão da Salvação: Salvação tem uma dimensão maior que sua
individualidade, as promessas de Deus envolvem sua família toda! Deus não
está chamando apenas você para a salvação. Sua fé tem implicações e
desdobramentos geracionais, terá efeitos benéficos e duradouros em
gerações que ainda virão. Facilmente nos esquecemos da benção de Deus para
nossa família. Deus está interessado em sua casa.
- Como
trazer salvação a nossa casa?
q Aceitando incondicionalmente a oferta maravilhosa de
Jesus: sua salvação pela fé. “Crê no
Senhor Jesus e serás salvo”. Simples assim. A obra de Deus em nos começa
por atitude interior de reconhecimento da obra de Cristo na cruz. Você entende
o que Cristo fez por você naquela cruz?
q Trazendo sua família ao compromisso do reino – "Foram batizados eles e todos os seus"
(At 16. 33). Muitos pensam em batismo como um mero ritual, desprovido de sentido,
algo apenas ritualístico. Não é! Por que creio que ser importante o batismo?
ü Batismo é um mandamento de Jesus aos seus seguidores –
Mt 28.18-20. “Quem crer e for batizado
será salvo” (Mc 16.16). Estaria Jesus atribuindo poder mágico ao batismo?
Não! Ele estava apenas dizendo que batismo é um compromisso publico, de fé,
assumido por aqueles que, sem reserva, resolvem entregar suas vidas.
ü Rituais na Bíblia não são apenas rituais, mas são
investidos de sacramentalidade – “Sacramento é um sinal visível de uma graça
invisível”. Por meio dele, visibilizamos e experimentamos na forma de um drama
a presença real e espiritual de Jesus. Portanto, trata-se de algo com profundo
sentido.
ü No Antigo e Novo Testamentos, as crianças sempre
participavam do pacto. As crianças eram incluídas: Na circuncisão, ao oitavo
dia (Gn 17.9-12). Deus era visibilizado e glorificado na entrega dos filhos que
eram herdeiros do pacto. “Guardarás a
minha aliança, tu e a tua descendência” (Gn 17.9). Estas promessas eram
extensivas à família.
Ficamos
preocupados com o rito em si, quando no verdade deveríamos focalizar em algo
maior. O rito é pequeno para quem já recebeu o maior. Se a salvação já entrou
em minha casa, o batismo é apenas um símbolo maior desta grande benção, afinal,
o simbolizado nunca pode ser menor que o símbolo.
Jesus
faz toda diferença nas nossas vidas
Jesus
faz toda diferença nas nossas gerações.
Aleluia!!!
Samuel Vieira
Anápolis, setembro 2008
Refeito em Anápolis, Dezembro 2018
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