Ray Stedman
afirma que a partir de Atos 13, encontramos “O padrão bíblico para as missões”,
que pode ser aplicado ao testemunho cristão em qualquer tempo e em qualquer
cultura, e se este padrão for seguido teremos os mesmos resultados ainda hoje. Por se tratar de princípios, e não métodos ou estratégias, são eternos e podem ser aplicados a qualquer cultura, em qualquer tempo.
Para ele, o
grande problema nas missões contemporâneas é o abandono destes princípios, que quando
negligenciados redundam em fracasso para a obra missionária. Por isto
precisamos prestar atenção cuidadosa aos princípios encontrados nestes
capítulos. Existem muitas organizações evangélicas zelosas que tem estabelecido
o alvo pregar o evangelho a todo mundo nesta geração, o que é um desejo
legitimo e bíblico, mas elas falham não porque falta zelo, compromisso e
dedicação, mas porque ignoram os princípios bíblicos.
No capítulo 14 de
Atos vemos Paulo e Barnabé ministrando em três diferentes cidades: Icônio,
Listra e Derbe. Em duas delas, em meio a um grande número de conversões, se
seguiram reações violentas de oposição.
“Em Icônio,
Paulo e Barnabé, como de costume, foram à sinagoga judaica. Ali falaram de tal
modo que veio a crer grande multidão de judeus e gentios. Mas os judeus que se
tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra
os irmãos” (At 14.1,2).
Padrões bíblicos de
missões
1. Descobrir os Pontos de Contato - O primeiro aspecto demonstrado é que eles encontraram o ponto de
contato para comunicar o evangelho. “Como de costume, foram à sinagoga
judaica”.
Icônio era uma
cidade pagã, atualmente na Turquia e ali havia uma sinagoga judaica formada por
um número significativo de judeus da diáspora, então os apóstolos ao chegarem
na cidade, se dirigiram para a sinagoga por causa da identificação com a
religião, cultura e língua. Eles procuraram pessoas com as quais os pontos de
contatos para comunicação do evangelho pareciam estar mais presentes e
facilitava a comunicação da mensagem.
Esta é o primeiro
princípio: comece com aquilo que faz o ouvinte identificar-se com a mensagem.
Sempre há pontos no
quais poderemos contatar quando desejamos comunicar a palavra. Deus sempre deixa suas bússolas culturais em todas as tribos pagãs, que facilitam e dinamizam a pregação do Evangelho. Para uma leitura
aprofundada do assunto sugerimos a leitura de “O Fator Melquisedeque”, de
Don Richardson. Precisamos identificar tais aspectos que facilitem a
comunicação da mensagem, mesmo que seja com um povo pagão. Quando Paulo e
Barnabé pregaram, “veio a crer grande multidão de judeus e gentios” (At
14.1). Eles conseguiram encontrar este canal que os identificava e o evangelho
os atingiu com enorme poder. Eles se identificaram com a mensagem e a
entenderam.
Muitos missionários
não fazem aquilo que Ray Bakke denomina “exegese urbana”, e o que os
missiólogos chamam de “semente do verbo” ou “bússola cultural” (Don Richardson)
que possibilita romper as barreiras entre o missionário e seu público. Precisamos
entender a cultura daqueles a quem dirigimos a mensagem. Comunicação, como
corretamente afirmam, não é o que você diz, mas o que o outro entende.
Isto é nítido nos
sermões de Paulo.
Quando ele dirige
sua mensagem aos “varões israelitas” (At 13.16), ele expõe o Antigo
Testamento e fala da história de Israel (At 13.16-41), mas quando prega aos
politeístas atenienses, ele não cita a Bíblia sequer uma vez, mas comunica o
evangelho a partir da perspectiva filosófica daquele povo. Ele faz uma observação empírica daquele que presencia, e a partir das suas conclusões, prega o Evangelho (At 17.16-34). Da
mesma forma, ele emprega este recurso neste texto. Ao invés de citar Moisés,
desconhecido para aquele público pagão, ele começa seu discurso falando da
criação e do Criador.
De
acordo com a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) o
Brasil possui 15 mil missionários transculturais espalhados no mundo, desde os
povos minoritários brasileiros até as nações de mais difícil acesso, com um
alto índice de missionários com nível de escolaridade até o ensino médio:
30,2%; Baixo índice em treinamentos linguístico (27,6%) e antropológico (39,4%)
oferecidos pelas organizações, e todos estes dados são muito preocupantes.
A
preocupação encontra-se no fato de que a maioria dos missionários não se
preocupou em refletir sobre as diferenças culturais que poderão se tornar
verdadeiros empecilhos na comunicação da mensagem. Tome-se dois exemplos
simples:
Paul
Long, no seu livro “O Homem do chapéu de couro” (Casa de Cultura
Cristã, São Paulo, 1984), narra a difícil situação que enfrentou no Congo, ao
manter contato com a tribo dos pigmeus, que quando querem expressar seu apreço
e amizade ofereciam sua esposa para dormir com o visitante. Como responder sem
ofender a cultura? O chefe da tribo afirmou que se ele recusasse, o seu Deus o
mataria. O Rev. Long teve graça de Deus dizendo: “Se eu aceitar, o meu Deus me
mata”. E sua resposta, felizmente, foi aceita.
O
que fazer quando você vai pregar o evangelho a um povo, que considera Judas
Iscariotes o herói, porque na sua cultura, o traidor é o mais esperto e deve
ser admirado? Entre os sawis, uma tribo de canibais caçadores
de cabeças, a tradição era mais que uma filosofia de vida. Constituía-se num
“ideal que um sem número de gerações passadas haviam concebido, organizado e
aprimorado”. “Cevar com amizade”, para depois assassinar a vítima, era para
eles a mais elevada forma de traição. Que tipo de impacto poderia o evangelho
causar sobre um povo que veneraria Judas como um símbolo de masculinidade e
consideraria o beijo da traição como a expressão suprema da deslealdade? (O Totem
da Paz, Don Richardson, Venda Nova-MG, Ed. Betânia, 1977).
A
comunicação eficaz do evangelho se dá quando é possível descobrir os pontos de
contato. Em Listra, Paulo procura comunicar a partir da cosmovisão do povo.
Isto é surpreendente!
2. Se preparar para lidar com oposição. “Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os
gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” (At 14.2). o
Evangelho, por sua natureza espiritual, sempre gera reações ruidosas de forças
malignas.
A expressão, “tinham se recusado a crer”, literalmente
significa mais do que não crer. Eles literalmente “não se deixavam persuadir”,
eles sequer deram uma chance ao evangelho ou consideraram a mensagem. Trata-se
da atitude de alguém que não quer ouvir o argumento do outro, por mais razoável
e coerente que seja. Quando isto ocorre, existe um “fechamento” e
distanciamento em relação à mensagem. Os habitantes daquela cidade não apenas
se recusavam a ouvir, como ainda envenenaram a mente das pessoas contra os
discípulos de Cristo. O inimigo contra atacava.
A.
Primeira forma de
oposição – Rejeição e ameaça. “Mas os
judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os
ânimos contra os irmãos” i(At 14.2).
Quando a obra
missionária é feita de forma romântica, o obreiro facilmente se desencanta e
desencoraja. As frustrações e a oposição são reais e doloridas. Não é sem razão
que João Marcos deixou a obra missionária no meio da jornada e retornou para
sua casa (At 13.13). Muitos se atiram na obra missionária pensando que é uma
viagem de turismo ou pic-nic. Se você sente chamado para um determinado campo,
prepare-se para grandes batalhas espirituais.
Primeira forma de
oposição deste texto foi incitar o povo contra os apóstolos e jogaram a cidade
contra Paulo e Barnabé. As pessoas maldiziam
os apóstolos, acusando-os, mas eles continuaram firmes fazendo o que foram
chamados a fazer. O texto não afirma quanto tempo ficaram ali, mas podemos
pensar que foram meses e apesar de toda resistência, continuaram anunciando a
mensagem da salvação. Não é fácil estar num campo sob ameaça constante e risco
de vida. O texto relata que apesar de terem sido usados poderosamente para
curar um coxo de nascença, isto não impressionou os moradores do lugar, que não
hesitaram em apedrejar Paulo ao ponto de acharem que ele estava morto.
B. Segunda forma de oposição: Transformar os obreiros em semi deuses.
“Ao ver o que Paulo fizera, a multidão começou a
gritar em língua licaônica: Os deuses desceram até nós em forma
humana!" (At
14.11). Não é
uma forma estranha? No Livro de Atos, parece um padrão.
Quando Paulo
chega a Filipos, diariamente vinha atrás dos discípulos uma jovem vidente, que
dava muito lucro às pessoas, gritando em voz alta: “Estes homens são servos do
Altíssimo!” Que propaganda aparentemente oportuna... Paulo deve ter ficado
inicialmente feliz com isto, porque a Bíblia afirma que ela fez isto vários
dias. Tudo parecia bem, a não ser pelo fato de que aquela jovem estava possessa
de um espirito de adivinhação. Era o próprio demônio que fazia isto. Aparentemente
promovendo a mensagem, mas quem deseja fazer a obra de Deus tendo o diabo como
garoto propaganda?
Quando Filipe
chega a Samaria, o líder espiritual mais influente da região, chamado de Simão,
o mágico, aderiu à igreja, chegou a ser batizado, até ser desmascarado quando
demonstrou seus verdadeiros motivos. Do ponto de vista do marketing, quem
poderia ajudar mais a Filipe e seu ministério que a adesão deste homem
carregado de uma aura de espiritualidade que todos admiravam? Entretanto,
aquele homem esteve na igreja, sem ser da igreja. Quais eram, de fato, seus
motivos? Por que Satanás adotara esta estratégia? A única razão me parece
causar confusão no rebanho e dispersar o poder do evangelho.
C. Terceira, perseguição violenta. “Apedrejaram
Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estivesse morto” (At
14.19). Paulo foi apedrejado em praça pública e dado
por morto. Esta é a velha forma do diabo tentar intimidar a igreja de Cristo.
Ainda hoje esta tática tem sido usada e muitos cristãos ainda tem morrido por
sua fé em Cristo.
Podemos imaginar
Barnabé e os discípulos em torno de Paulo, lamentando e chorando. Esta foi a
única vez que Paulo foi apedrejado, e mais tarde ele fala que trazia no corpo
as marcas de Cristo (Gl 6.17). Comentaristas acreditam que ele estava se
referindo a esta experiência, que deixou profundas cicatrizes em seu corpo. Na
medida em que as pessoas se acercam de Paulo, atirado fora dos muros da cidade,
descobrem que ele ainda está vivo, Paulo foi miraculosamente salvo porque os
perseguidores pensaram que ele estava morto. Depois de receber cuidados, vemos
que no dia seguinte já estavam seguindo em direção a Derbe. Não era mais seguro
permanecer ali.
3. Necessidade de perseverança –
Os apóstolos não desanimavam face à oposição, pelo contrário, se tornavam até
mais ousados. “Paulo e Barnabé passaram bastante tempo ali, falando
corajosamente do Senhor, que confirmava a mensagem de sua graça realizando
sinais e maravilhas pelas mãos deles” (At 14.3).
Esta é a terceira
realidade que observamos nas missões apostólicas. Eles perseveravam a despeito
das provações.
Este aspecto
precisa ser frisado, especialmente para aqueles que se sentem chamado para a
obra missionária transcultural. Obreiros facilmente desistem de seus campos,
quando o primeiro embate acontece, isto me faz pensar se, ao serem designados
eles realmente faziam ideia dos desafios
que iriam encontrar. O ministério é marcado de grandes experiências, mas de
fortes oposições e não podemos retroceder no primeiro round.
Depois de ser
apedrejado em Listra, vemos algo surpreendente. Eles retornam às cidades por
onde haviam passado, e haviam sofrido rejeição e ameaça! Que tremenda evidência de coragem!
Eles foram
expulsos de Antioquia da Pisídia, ameaçados em Icônio, Paulo apedrejado em
Listra, mas ainda assim retornam às cidades para fortalecer os discípulos novos
convertidos. “Este tipo de coragem vem apenas daqueles que confiam no Deus
vivo. Eles sabiam que Deus estava com eles, por isto retornaram com intrepidez
destemida” (Ray Stedman).
Eles fizeram o
que era fundamental. Reuniram os discípulos e fortaleceram a alma dos novos
convertidos, exortando-os a continuarem firmes na fé. Eles demonstraram como
homens de Deus no passado viveram pela fé e como Deus os havia fortalecido.
Eles entendiam que embora a tribulação fosse real, o Espírito Santo havia
equipado sua igreja com dons, por isto elegeram presbíteros nas igrejas por
onde passaram. Finalmente, eles oraram juntos e os encomendaram a Deus. Eles
sabiam que estavam pisando numa rocha firme e apenas depois de terem todo este
cuidado com os novos discípulos, retornaram a igreja de Antioquia que os havia
enviado.
4. A surpreendente e inesperada ação de Deus. Este é o quarto elemento que podemos encontrar no modelo bíblico
para as missões. Os discípulos chegam à cidade de Listra, e ali estava um homem
paralítico, que era assim desde a nascença. “Paulo, vendo que ele tinha fé para ser curado disse em alta voz:
Levanta-te sobre seus pés, e ele imediatamente se levantou e começou a andar”
(At 14.8-13).
Esta é uma das
marcas mais incríveis na obra missionária são as marcas sobrenaturais,
prodígios e sinais que Deus faz para autenticar a mensagem dos seus servos, por
isto o obreiro nunca sabe o que pode acontecer amanhã, que experiências o
Senhor trará. Quando a oposição se tornou mais acirrada, Deus se moveu entre
eles de forma não planejada, autenticando seus ministérios. Quando andamos em
Espírito, dependendo de Deus, não sabemos qual será o seu próximo movimento e
qual porta Deus abrirá, nem a oportunidade que surgirá, simplesmente não dá
para planejar o que Deus fará. Portanto, podemos esperar de Deus um elemento
surpresa, como afirma um respeitado presbítero da igreja que pastoreio: “só
quero ver como Deus vai sair desta”.
Deus faz coisas que
vão além da habilidade dos homens de produzirem. São as evidências
sobrenaturais da obra de Deus que tornam o evangelho tão impactante. Isto nem
sempre envolve milagres físicos, milagres são sinais, parábolas da liberdade
que a obra de Deus faz em nossas vidas. Muitas vezes os milagres são vitórias
sobre lutas que enfrentamos por anos com vícios, pensamentos obsessivos, e
atitudes que autodestrutivas, problemas na família, e que só conseguimos vencer
pela graça e o poder que há em Cristo Jesus. É este surpreendente poder que
transforma vidas e não pode ser explicado a partir da personalidade,
condicionamento psicológico, educação, lógica humana ou alguma coisa mais, a
não ser a intervenção sobrenatural de Cristo.
Aquele homem,
conhecido na cidade pela sua limitação física, agora está na boca do povo.
Todos falam do que se deu entre eles, e isto abre porta para o testemunho do
Evangelho. Quando Paulo e Barnabé entraram naquela cidade, eles não tinham
ideia do que aconteceria. O impacto evangelístico não surgiu porque tivessem
uma estratégia definida de ação, nem pela eficácia do planejamento. Eles
entraram na cidade e Deus conduziu todo o processo. Aquele homem nunca havia
andado em sua vida.
Esta obra
portentosa de Deus, gerou uma crise no coração da cidade. Eles começaram a
tratar os apóstolos como Deuses. “Os deuses desceram até nós!” imediatamente
chamaram Barnabé de Júpiter, provavelmente porque tinha uma longa barba, e
Paulo de mercúrio, que era o porta voz dos deuses. Certamente este fato poderia
mexer com o ego dos apóstolos, que chegam numa cidade pagã e são recebidos como
divindades.
Sem dúvida este foi
um ataque sutil do diabo. Algumas vezes a popularidade é a arma mais eficaz de
satanás para enfraquecer o testemunho do evangelho.
5. Quinto: Identificação do público com a mensagem
Como falamos
acima, o evangelho precisa ser anunciado de forma que os ouvintes possam
identificar-se com a mensagem e compreendê-la. Jesus usava constantemente esta
estratégia. Ele pregava “conforme permitia a capacidade de seus ouvintes” (Mc
4.33). Ele levava em consideração quem o ouvia. Muitos obreiros ignoram,
desconhecem ou não sabem lidar com esta variável.
Neste texto
encontramos o padrão para comunicar a mensagem a pessoas não religiosas. Se
você quer comunicar a pessoas que não mostram interesse em coisas espirituais,
nem interesse na igreja e nada sabem da Bíblia, você precisa comunicar a partir
da natureza. Quando Paulo prega aos judeus ele começa pelas Escrituras, mas
quando fala aos gentios, ele começa pela natureza, a verdade de Deus que eles
já conhecem e isto estabelece uma linha de diálogo com pessoas secularizadas e
não religiosas.
Ray Stedman
afirma que podemos encontrar três princípios neste texto para aqueles que
desejam comunicar as verdades de Deus a partir da natureza que ele criou.
A.
Ele afirma que detrás da criação há um Deus
vivo. “...se voltem para o Deus vivo, que fez o céu, a
terra, o mar e tudo o que neles há” (At 14.15). A criação não é fruto do
acaso e de forças cegas, nem resultado da ação de múltiplas divindades,
tentando competir uma com as outras como era a visão do panteão greco-romano.
Na visão pagã havia um Deus das águas, do sexo, das árvores. Ele tenta mostrar
como a natureza é harmônica porque é feita por Deus que sustenta todas as
coisas de forma organizada. Ela não se fragmenta nem entra num processo de
decadência porque é constantemente renovada. A natureza, portanto, é testemunha
do Criador.
B. Ele ensina que Deus permite que o homem faça escolhas morais e
portanto, permite até mesmo o mal. “No passado
ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos” (At
14.16).
Um dos maiores
problemas filosóficos acerca da divindade para o homem secularizado é a questão
do mal. “Por que existe o mal? Por que pessoas inocentes sofrem? Por que
existem guerras, injustiças e sofrimento?” Paulo argumenta que Deus, em
gerações passadas, permitiu que as nações caminhassem em seus próprios
caminhos, Deus lhes deu a liberdade até para praticarem o mal.
Muitos hoje estão
perguntando: “Por que Deus não interrompe as guerras?” A resposta é: Se Deus
não desse a liberdade aos homens de escolher até mesmo o mal, eles não seriam
livres, até mesmo para dizer sim ou não a Deus. Esta é a razão pela qual Deus
permite o mal. Deus não quer se relacionar com alguém que só ficaria com ele se
ele fosse forçado, assim como não queremos um relacionamento afetivo com alguém
que só fica conosco porque “não tem outra opção”.
C. O terceiro argumento que Paulo usa é que Deus não deixará que o
mal vá longe demais. “Contudo, não se
deixou ficar sem testemunho de si mesmo” (At 14.17). Deus nunca se afastou da
sua criação e por isto não permite que o mal domine. Se isto acontecesse, o mal
prevaleceria em pouco tempo. Deus, restringe o poder do mal a despeito da
rejeição e rebelião dos homens. Por isto nunca deixou de dar testemunho de si
mesmo, enviando chuvas, fazendo com que a terra dê os seus frutos, colheitas
abundantes e que houvesse um ciclo harmônico da natureza.
Este é o Deus que
Paulo prega! Sua bondade fala de tudo que ele é.
Quando Paulo
deseja tornar a mensagem acessível para seus ouvintes, ele fala a partir de sua
cosmovisão. A natureza, e não as Sagradas Escrituras, é o ponto de contato que
ele encontra para dialogar com aquela cultura pagã. As pessoas precisam ouvir a
Palavra, mas a forma como ele dialoga é a partir da compreensão que eles tem do
mundo.
6. Formação dos discípulos – “Fortalecendo a alma dos
discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé” (At 14.22). “E,
tendo anunciado o evangelho naquela cidade e eito muitos discípulos, voltaram
para Listra, e Icônio, e Antioquia” (At 14.21)
Fico sempre
surpreso ao ver como o processo do discipulado era rápido e eficaz. Os novos
convertidos rapidamente entendiam o que era vida cristã e eram batizados.
Aparentemente o processo do discipulado não parecia ser longo, mas certamente
era intenso. Em Atos 19.8, Paulo frequenta por três meses a sinagoga. Expulsos
dali, foram para a Escola de Tirano,uma escola de pensamento livre, onde discorria
“diariamente” sobre o Evangelho, e isto num espaço de dois anos. Ninguém duvida
que era um intenso discipulado. Além do mais, os discursos eram longos, como
podemos ver em At 19.7, quando Paulo prolonga o discurso até à meia noite, e
Êutico caiu no sono e caiu da janela.
Fazer discípulos
era o alvo, o método e a estratégia. “E,
tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram
para Listra, e Icônio, e Antioquia” (At 14.21). Eles não se contentavam com
o anúncio, era necessário e fundamental, fazer discípulos, dando-lhes a
capacidade de reproduzir sua fé.
7. Formação de liderança indígena – “E,
promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com
jejuns, os encomendaram ao Senhor, em quem haviam crido” (At 14.23).
Uma obra
missionária se estabelece num contexto transcultural, quando atinge a população
indígena, isto é, quando líderes locais, nativos, surgem na igreja. Enquanto a
liderança estiver nas mãos dos “estrangeiros”, não se pode dizer que a semente
está verdadeiramente plantada e a igreja estabelecida. Por isto, quanto antes,
os missionários tirarem seu dedo, mais facilmente a igreja florescerá.
Os apóstolos
rapidamente elegiam os presbíteros nas igrejas por onde passavam. o oficio do presbítero
equivale ao ministério pastoral. A clássica divisão que Calvino fez entre
presbíteros regentes e docentes, pode esvaziar a função do presbiterato, que
era focado na questão da supervisão e do ensino teológico da igreja. Biblicamente,
o presbítero é um pastor. Quando Paulo fala aos presbíteros de Éfeso ele
afirma: “Atendei por vós, e por todo o
rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes, a igreja de Deus, a qual
ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28)
Para que não
surjam imprevistos nem surpresas, que uma cultura distinta pode trazer, é
fundamental que os missionários visitam novamente o campo para “fortalecer a
alma dos discípulos e exortá-los a permanecer firmes na fé” como fizeram Paulo
e Barnabé (At 14.22). é necessário, informar, formar e supervisionar. Elementos
culturais podem implodir a obra missionária. Isto quase aconteceu em Atos 15
quando os fariseus convertidos queriam impor a circuncisão aos novos
convertidos.
8. Prestação de conta na sua igreja de origem. “De Atália
navegaram de volta a Antioquia, onde tinham sido recomendados à graça de Deus
para a missão que agora haviam completado. Chegando ali, reuniram a igreja e
relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles e como abrira a porta da
fé aos gentios. E ficaram ali
muito tempo com os discípulos”. (At 14.26-28).
Por mais simples
que isto possa parecer este é um aspecto crucial na missão. Missionários
precisam prestar relatório de suas atividades. Muitos missionários estão, sem
supervisão, ninguém sabe o que fazem, e eventualmente nem mesmo eles sabem o
que estão fazendo...
Alguns anos atrás
cooperávamos com um missionário, mas seus relatórios eram sempre vagos e
superficiais. Nenhum projeto substancial estava sendo desenvolvido.
Questionado, ele ficou irritado e disse: “Eu imaginei que vocês estavam
comprometidos comigo. As pessoas devem se comprometer não com o projeto mas com
o missionário”. E a resposta que ouviu foi a de que, estávamos comprometidos
com ele, mas que não seriamos mais parceiros se ele não nos convencesse de que
seu projeto era exequível.
Por isto gostamos
de receber nossos missionários e conversar com eles. Pedimos que eles nos
enviem relatórios trimestrais de suas atividades, e quando vem ao Brasil, se
for possível, queremos que eles visitem a igreja e tragam uma mensagem e relatório
sobre suas atividades. Fico pensando na alegria que a Igreja de Antioquia
sentiu ao ver retornando seus missionários, com tantas experiências lindas da
obra de Deus, e como Deus os havia libertado da perseguição e oposição que
sofreram.
Conclusão:
Estes oito princípios princípios missiológicos, são alguns dos muitos que podemos
encontrar no Livro de Atos. Fazemos bem quando abrimos as Escrituras e
aprendemos destes homens que se tornam referência e modelo para a ação
missionária em nossos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário