terça-feira, 16 de outubro de 2018

At 14 O padrão bíblico de missão






Ray Stedman afirma que a partir de Atos 13, encontramos “O padrão bíblico para as missões”, que pode ser aplicado ao testemunho cristão em qualquer tempo e em qualquer cultura, e se este padrão for seguido teremos os mesmos resultados ainda hoje. Por se tratar de princípios, e não métodos ou estratégias, são eternos e podem ser aplicados a qualquer cultura, em qualquer tempo. 
Para ele, o grande problema nas missões contemporâneas é o abandono destes princípios, que quando negligenciados redundam em fracasso para a obra missionária. Por isto precisamos prestar atenção cuidadosa aos princípios encontrados nestes capítulos. Existem muitas organizações evangélicas zelosas que tem estabelecido o alvo pregar o evangelho a todo mundo nesta geração, o que é um desejo legitimo e bíblico, mas elas falham não porque falta zelo, compromisso e dedicação, mas porque ignoram os princípios bíblicos.
No capítulo 14 de Atos vemos Paulo e Barnabé ministrando em três diferentes cidades: Icônio, Listra e Derbe. Em duas delas, em meio a um grande número de conversões, se seguiram reações violentas de oposição.
Em Icônio, Paulo e Barnabé, como de costume, foram à sinagoga judaica. Ali falaram de tal modo que veio a crer grande multidão de judeus e gentios. Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” (At 14.1,2).
Padrões bíblicos de missões
1.     Descobrir os Pontos de Contato - O primeiro aspecto demonstrado é que eles encontraram o ponto de contato para comunicar o evangelho. “Como de costume, foram à sinagoga judaica”.
Icônio era uma cidade pagã, atualmente na Turquia e ali havia uma sinagoga judaica formada por um número significativo de judeus da diáspora, então os apóstolos ao chegarem na cidade, se dirigiram para a sinagoga por causa da identificação com a religião, cultura e língua. Eles procuraram pessoas com as quais os pontos de contatos para comunicação do evangelho pareciam estar mais presentes e facilitava a comunicação da mensagem.
Esta é o primeiro princípio: comece com aquilo que faz o ouvinte identificar-se com a mensagem.
Sempre há pontos no quais poderemos contatar quando desejamos comunicar a palavra. Deus sempre deixa suas bússolas culturais em todas as tribos pagãs, que facilitam e dinamizam a pregação do Evangelho. Para uma leitura aprofundada do assunto sugerimos a leitura de “O Fator Melquisedeque”, de Don Richardson. Precisamos identificar tais aspectos que facilitem a comunicação da mensagem, mesmo que seja com um povo pagão. Quando Paulo e Barnabé pregaram, “veio a crer grande multidão de judeus e gentios” (At 14.1). Eles conseguiram encontrar este canal que os identificava e o evangelho os atingiu com enorme poder. Eles se identificaram com a mensagem e a entenderam.
Muitos missionários não fazem aquilo que Ray Bakke denomina “exegese urbana”, e o que os missiólogos chamam de “semente do verbo” ou “bússola cultural” (Don Richardson) que possibilita romper as barreiras entre o missionário e seu público. Precisamos entender a cultura daqueles a quem dirigimos a mensagem. Comunicação, como corretamente afirmam, não é o que você diz, mas o que o outro entende.
Isto é nítido nos sermões de Paulo.
Quando ele dirige sua mensagem aos “varões israelitas” (At 13.16), ele expõe o Antigo Testamento e fala da história de Israel (At 13.16-41), mas quando prega aos politeístas atenienses, ele não cita a Bíblia sequer uma vez, mas comunica o evangelho a partir da perspectiva filosófica daquele povo. Ele faz uma observação empírica daquele que presencia, e a partir das suas conclusões, prega o Evangelho (At 17.16-34). Da mesma forma, ele emprega este recurso neste texto. Ao invés de citar Moisés, desconhecido para aquele público pagão, ele começa seu discurso falando da criação e do Criador.
De acordo com a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) o Brasil possui 15 mil missionários transculturais espalhados no mundo, desde os povos minoritários brasileiros até as nações de mais difícil acesso, com um alto índice de missionários com nível de escolaridade até o ensino médio: 30,2%; Baixo índice em treinamentos linguístico (27,6%) e antropológico (39,4%) oferecidos pelas organizações, e todos estes dados são muito preocupantes.
A preocupação encontra-se no fato de que a maioria dos missionários não se preocupou em refletir sobre as diferenças culturais que poderão se tornar verdadeiros empecilhos na comunicação da mensagem. Tome-se dois exemplos simples:
Paul Long, no seu livro “O Homem do chapéu de couro” (Casa de Cultura Cristã, São Paulo, 1984), narra a difícil situação que enfrentou no Congo, ao manter contato com a tribo dos pigmeus, que quando querem expressar seu apreço e amizade ofereciam sua esposa para dormir com o visitante. Como responder sem ofender a cultura? O chefe da tribo afirmou que se ele recusasse, o seu Deus o mataria. O Rev. Long teve graça de Deus dizendo: “Se eu aceitar, o meu Deus me mata”. E sua resposta, felizmente, foi aceita.   
O que fazer quando você vai pregar o evangelho a um povo, que considera Judas Iscariotes o herói, porque na sua cultura, o traidor é o mais esperto e deve ser admirado? Entre os sawis, uma tribo de canibais caçadores de cabeças, a tradição era mais que uma filosofia de vida. Constituía-se num “ideal que um sem número de gerações passadas haviam concebido, organizado e aprimorado”. “Cevar com amizade”, para depois assassinar a vítima, era para eles a mais elevada forma de traição. Que tipo de impacto poderia o evangelho causar sobre um povo que veneraria Judas como um símbolo de masculinidade e consideraria o beijo da traição como a expressão suprema da deslealdade? (O Totem da Paz, Don Richardson, Venda Nova-MG, Ed. Betânia, 1977).
A comunicação eficaz do evangelho se dá quando é possível descobrir os pontos de contato. Em Listra, Paulo procura comunicar a partir da cosmovisão do povo. Isto é surpreendente!
2.     Se preparar para lidar com oposição. “Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” (At 14.2). o Evangelho, por sua natureza espiritual, sempre gera reações ruidosas de forças malignas.
expressão, “tinham se recusado a crer”, literalmente significa mais do que não crer. Eles literalmente “não se deixavam persuadir”, eles sequer deram uma chance ao evangelho ou consideraram a mensagem. Trata-se da atitude de alguém que não quer ouvir o argumento do outro, por mais razoável e coerente que seja. Quando isto ocorre, existe um “fechamento” e distanciamento em relação à mensagem. Os habitantes daquela cidade não apenas se recusavam a ouvir, como ainda envenenaram a mente das pessoas contra os discípulos de Cristo. O inimigo contra atacava.
A.      Primeira forma de oposição – Rejeição e ameaça. “Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” i(At 14.2).
Quando a obra missionária é feita de forma romântica, o obreiro facilmente se desencanta e desencoraja. As frustrações e a oposição são reais e doloridas. Não é sem razão que João Marcos deixou a obra missionária no meio da jornada e retornou para sua casa (At 13.13). Muitos se atiram na obra missionária pensando que é uma viagem de turismo ou pic-nic. Se você sente chamado para um determinado campo, prepare-se para grandes batalhas espirituais.
Primeira forma de oposição deste texto foi incitar o povo contra os apóstolos e jogaram a cidade contra Paulo e Barnabé. As pessoas maldiziam os apóstolos, acusando-os, mas eles continuaram firmes fazendo o que foram chamados a fazer. O texto não afirma quanto tempo ficaram ali, mas podemos pensar que foram meses e apesar de toda resistência, continuaram anunciando a mensagem da salvação. Não é fácil estar num campo sob ameaça constante e risco de vida. O texto relata que apesar de terem sido usados poderosamente para curar um coxo de nascença, isto não impressionou os moradores do lugar, que não hesitaram em apedrejar Paulo ao ponto de acharem que ele estava morto.
B.      Segunda forma de oposição: Transformar os obreiros em semi deuses. “Ao ver o que Paulo fizera, a multidão começou a gritar em língua licaônica: Os deuses desceram até nós em forma humana!"  (At 14.11).  Não é uma forma estranha? No Livro de Atos, parece um padrão.

Quando Paulo chega a Filipos, diariamente vinha atrás dos discípulos uma jovem vidente, que dava muito lucro às pessoas, gritando em voz alta: “Estes homens são servos do Altíssimo!” Que propaganda aparentemente oportuna... Paulo deve ter ficado inicialmente feliz com isto, porque a Bíblia afirma que ela fez isto vários dias. Tudo parecia bem, a não ser pelo fato de que aquela jovem estava possessa de um espirito de adivinhação. Era o próprio demônio que fazia isto. Aparentemente promovendo a mensagem, mas quem deseja fazer a obra de Deus tendo o diabo como garoto propaganda?
Quando Filipe chega a Samaria, o líder espiritual mais influente da região, chamado de Simão, o mágico, aderiu à igreja, chegou a ser batizado, até ser desmascarado quando demonstrou seus verdadeiros motivos. Do ponto de vista do marketing, quem poderia ajudar mais a Filipe e seu ministério que a adesão deste homem carregado de uma aura de espiritualidade que todos admiravam? Entretanto, aquele homem esteve na igreja, sem ser da igreja. Quais eram, de fato, seus motivos? Por que Satanás adotara esta estratégia? A única razão me parece causar confusão no rebanho e dispersar o poder do evangelho.
C.      Terceira, perseguição violenta. Apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estivesse morto” (At 14.19). Paulo foi apedrejado em praça pública e dado por morto. Esta é a velha forma do diabo tentar intimidar a igreja de Cristo. Ainda hoje esta tática tem sido usada e muitos cristãos ainda tem morrido por sua fé em Cristo.

Podemos imaginar Barnabé e os discípulos em torno de Paulo, lamentando e chorando. Esta foi a única vez que Paulo foi apedrejado, e mais tarde ele fala que trazia no corpo as marcas de Cristo (Gl 6.17). Comentaristas acreditam que ele estava se referindo a esta experiência, que deixou profundas cicatrizes em seu corpo. Na medida em que as pessoas se acercam de Paulo, atirado fora dos muros da cidade, descobrem que ele ainda está vivo, Paulo foi miraculosamente salvo porque os perseguidores pensaram que ele estava morto. Depois de receber cuidados, vemos que no dia seguinte já estavam seguindo em direção a Derbe. Não era mais seguro permanecer ali.
3.     Necessidade de perseverança – Os apóstolos não desanimavam face à oposição, pelo contrário, se tornavam até mais ousados. “Paulo e Barnabé passaram bastante tempo ali, falando corajosamente do Senhor, que confirmava a mensagem de sua graça realizando sinais e maravilhas pelas mãos deles” (At 14.3).
Esta é a terceira realidade que observamos nas missões apostólicas. Eles perseveravam a despeito das provações.
Este aspecto precisa ser frisado, especialmente para aqueles que se sentem chamado para a obra missionária transcultural. Obreiros facilmente desistem de seus campos, quando o primeiro embate acontece, isto me faz pensar se, ao serem designados eles realmente  faziam ideia dos desafios que iriam encontrar. O ministério é marcado de grandes experiências, mas de fortes oposições e não podemos retroceder no primeiro round.  
Depois de ser apedrejado em Listra, vemos algo surpreendente. Eles retornam às cidades por onde haviam passado, e haviam sofrido rejeição e ameaça! Que tremenda evidência de coragem!
Eles foram expulsos de Antioquia da Pisídia, ameaçados em Icônio, Paulo apedrejado em Listra, mas ainda assim retornam às cidades para fortalecer os discípulos novos convertidos. “Este tipo de coragem vem apenas daqueles que confiam no Deus vivo. Eles sabiam que Deus estava com eles, por isto retornaram com intrepidez destemida” (Ray Stedman).
Eles fizeram o que era fundamental. Reuniram os discípulos e fortaleceram a alma dos novos convertidos, exortando-os a continuarem firmes na fé. Eles demonstraram como homens de Deus no passado viveram pela fé e como Deus os havia fortalecido. Eles entendiam que embora a tribulação fosse real, o Espírito Santo havia equipado sua igreja com dons, por isto elegeram presbíteros nas igrejas por onde passaram. Finalmente, eles oraram juntos e os encomendaram a Deus. Eles sabiam que estavam pisando numa rocha firme e apenas depois de terem todo este cuidado com os novos discípulos, retornaram a igreja de Antioquia que os havia enviado.
4.     A surpreendente e inesperada ação de Deus. Este é o quarto elemento que podemos encontrar no modelo bíblico para as missões. Os discípulos chegam à cidade de Listra, e ali estava um homem paralítico, que era assim desde a nascença. “Paulo, vendo que ele tinha fé para ser curado disse em alta voz: Levanta-te sobre seus pés, e ele imediatamente se levantou e começou a andar” (At 14.8-13).
Esta é uma das marcas mais incríveis na obra missionária são as marcas sobrenaturais, prodígios e sinais que Deus faz para autenticar a mensagem dos seus servos, por isto o obreiro nunca sabe o que pode acontecer amanhã, que experiências o Senhor trará. Quando a oposição se tornou mais acirrada, Deus se moveu entre eles de forma não planejada, autenticando seus ministérios. Quando andamos em Espírito, dependendo de Deus, não sabemos qual será o seu próximo movimento e qual porta Deus abrirá, nem a oportunidade que surgirá, simplesmente não dá para planejar o que Deus fará. Portanto, podemos esperar de Deus um elemento surpresa, como afirma um respeitado presbítero da igreja que pastoreio: “só quero ver como Deus vai sair desta”.
Deus faz coisas que vão além da habilidade dos homens de produzirem. São as evidências sobrenaturais da obra de Deus que tornam o evangelho tão impactante. Isto nem sempre envolve milagres físicos, milagres são sinais, parábolas da liberdade que a obra de Deus faz em nossas vidas. Muitas vezes os milagres são vitórias sobre lutas que enfrentamos por anos com vícios, pensamentos obsessivos, e atitudes que autodestrutivas, problemas na família, e que só conseguimos vencer pela graça e o poder que há em Cristo Jesus. É este surpreendente poder que transforma vidas e não pode ser explicado a partir da personalidade, condicionamento psicológico, educação, lógica humana ou alguma coisa mais, a não ser a intervenção sobrenatural de Cristo.
Aquele homem, conhecido na cidade pela sua limitação física, agora está na boca do povo. Todos falam do que se deu entre eles, e isto abre porta para o testemunho do Evangelho. Quando Paulo e Barnabé entraram naquela cidade, eles não tinham ideia do que aconteceria. O impacto evangelístico não surgiu porque tivessem uma estratégia definida de ação, nem pela eficácia do planejamento. Eles entraram na cidade e Deus conduziu todo o processo. Aquele homem nunca havia andado em sua vida.
Esta obra portentosa de Deus, gerou uma crise no coração da cidade. Eles começaram a tratar os apóstolos como Deuses. “Os deuses desceram até nós!” imediatamente chamaram Barnabé de Júpiter, provavelmente porque tinha uma longa barba, e Paulo de mercúrio, que era o porta voz dos deuses. Certamente este fato poderia mexer com o ego dos apóstolos, que chegam numa cidade pagã e são recebidos como divindades.
Sem dúvida este foi um ataque sutil do diabo. Algumas vezes a popularidade é a arma mais eficaz de satanás para enfraquecer o testemunho do evangelho.
5.     Quinto: Identificação do público com a mensagem
Como falamos acima, o evangelho precisa ser anunciado de forma que os ouvintes possam identificar-se com a mensagem e compreendê-la. Jesus usava constantemente esta estratégia. Ele pregava “conforme permitia a capacidade de seus ouvintes” (Mc 4.33). Ele levava em consideração quem o ouvia. Muitos obreiros ignoram, desconhecem ou não sabem lidar com esta variável.
Neste texto encontramos o padrão para comunicar a mensagem a pessoas não religiosas. Se você quer comunicar a pessoas que não mostram interesse em coisas espirituais, nem interesse na igreja e nada sabem da Bíblia, você precisa comunicar a partir da natureza. Quando Paulo prega aos judeus ele começa pelas Escrituras, mas quando fala aos gentios, ele começa pela natureza, a verdade de Deus que eles já conhecem e isto estabelece uma linha de diálogo com pessoas secularizadas e não religiosas.
Ray Stedman afirma que podemos encontrar três princípios neste texto para aqueles que desejam comunicar as verdades de Deus a partir da natureza que ele criou.
A.      Ele afirma que detrás da criação há um Deus vivo. “...se voltem para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há” (At 14.15). A criação não é fruto do acaso e de forças cegas, nem resultado da ação de múltiplas divindades, tentando competir uma com as outras como era a visão do panteão greco-romano. Na visão pagã havia um Deus das águas, do sexo, das árvores. Ele tenta mostrar como a natureza é harmônica porque é feita por Deus que sustenta todas as coisas de forma organizada. Ela não se fragmenta nem entra num processo de decadência porque é constantemente renovada. A natureza, portanto, é testemunha do Criador.

B.      Ele ensina que Deus permite que o homem faça escolhas morais e portanto, permite até mesmo o mal. “No passado ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos” (At 14.16).

Um dos maiores problemas filosóficos acerca da divindade para o homem secularizado é a questão do mal. “Por que existe o mal? Por que pessoas inocentes sofrem? Por que existem guerras, injustiças e sofrimento?” Paulo argumenta que Deus, em gerações passadas, permitiu que as nações caminhassem em seus próprios caminhos, Deus lhes deu a liberdade até para praticarem o mal.
Muitos hoje estão perguntando: “Por que Deus não interrompe as guerras?” A resposta é: Se Deus não desse a liberdade aos homens de escolher até mesmo o mal, eles não seriam livres, até mesmo para dizer sim ou não a Deus. Esta é a razão pela qual Deus permite o mal. Deus não quer se relacionar com alguém que só ficaria com ele se ele fosse forçado, assim como não queremos um relacionamento afetivo com alguém que só fica conosco porque “não tem outra opção”.
C.      O terceiro argumento que Paulo usa é que Deus não deixará que o mal vá longe demais. “Contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo” (At 14.17). Deus nunca se afastou da sua criação e por isto não permite que o mal domine. Se isto acontecesse, o mal prevaleceria em pouco tempo. Deus, restringe o poder do mal a despeito da rejeição e rebelião dos homens. Por isto nunca deixou de dar testemunho de si mesmo, enviando chuvas, fazendo com que a terra dê os seus frutos, colheitas abundantes e que houvesse um ciclo harmônico da natureza.
Este é o Deus que Paulo prega! Sua bondade fala de tudo que ele é.
Quando Paulo deseja tornar a mensagem acessível para seus ouvintes, ele fala a partir de sua cosmovisão. A natureza, e não as Sagradas Escrituras, é o ponto de contato que ele encontra para dialogar com aquela cultura pagã. As pessoas precisam ouvir a Palavra, mas a forma como ele dialoga é a partir da compreensão que eles tem do mundo.

6. Formação dos discípulos – Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé” (At 14.22). E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e eito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia” (At 14.21)
Fico sempre surpreso ao ver como o processo do discipulado era rápido e eficaz. Os novos convertidos rapidamente entendiam o que era vida cristã e eram batizados. Aparentemente o processo do discipulado não parecia ser longo, mas certamente era intenso. Em Atos 19.8, Paulo frequenta por três meses a sinagoga. Expulsos dali, foram para a Escola de Tirano,uma escola de pensamento livre, onde discorria “diariamente” sobre o Evangelho, e isto num espaço de dois anos. Ninguém duvida que era um intenso discipulado. Além do mais, os discursos eram longos, como podemos ver em At 19.7, quando Paulo prolonga o discurso até à meia noite, e Êutico caiu no sono e caiu da janela.
Fazer discípulos era o alvo, o método e a estratégia. “E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia” (At 14.21). Eles não se contentavam com o anúncio, era necessário e fundamental, fazer discípulos, dando-lhes a capacidade de reproduzir sua fé.
7. Formação de liderança indígena – “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor, em quem haviam crido” (At 14.23).
Uma obra missionária se estabelece num contexto transcultural, quando atinge a população indígena, isto é, quando líderes locais, nativos, surgem na igreja. Enquanto a liderança estiver nas mãos dos “estrangeiros”, não se pode dizer que a semente está verdadeiramente plantada e a igreja estabelecida. Por isto, quanto antes, os missionários tirarem seu dedo, mais facilmente a igreja florescerá.
Os apóstolos rapidamente elegiam os presbíteros nas igrejas por onde passavam. o oficio do presbítero equivale ao ministério pastoral. A clássica divisão que Calvino fez entre presbíteros regentes e docentes, pode esvaziar a função do presbiterato, que era focado na questão da supervisão e do ensino teológico da igreja. Biblicamente, o presbítero é um pastor. Quando Paulo fala aos presbíteros de Éfeso ele afirma: “Atendei por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes, a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28)

Para que não surjam imprevistos nem surpresas, que uma cultura distinta pode trazer, é fundamental que os missionários visitam novamente o campo para “fortalecer a alma dos discípulos e exortá-los a permanecer firmes na fé” como fizeram Paulo e Barnabé (At 14.22). é necessário, informar, formar e supervisionar. Elementos culturais podem implodir a obra missionária. Isto quase aconteceu em Atos 15 quando os fariseus convertidos queriam impor a circuncisão aos novos convertidos.
8.   Prestação de conta na sua igreja de origem. “De Atália navegaram de volta a Antioquia, onde tinham sido recomendados à graça de Deus para a missão que agora haviam completado. Chegando ali, reuniram a igreja e relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles e como abrira a porta da fé aos gentios. E ficaram ali muito tempo com os discípulos”. (At 14.26-28).

Por mais simples que isto possa parecer este é um aspecto crucial na missão. Missionários precisam prestar relatório de suas atividades. Muitos missionários estão, sem supervisão, ninguém sabe o que fazem, e eventualmente nem mesmo eles sabem o que estão fazendo...
Alguns anos atrás cooperávamos com um missionário, mas seus relatórios eram sempre vagos e superficiais. Nenhum projeto substancial estava sendo desenvolvido. Questionado, ele ficou irritado e disse: “Eu imaginei que vocês estavam comprometidos comigo. As pessoas devem se comprometer não com o projeto mas com o missionário”. E a resposta que ouviu foi a de que, estávamos comprometidos com ele, mas que não seriamos mais parceiros se ele não nos convencesse de que seu projeto era exequível.
Por isto gostamos de receber nossos missionários e conversar com eles. Pedimos que eles nos enviem relatórios trimestrais de suas atividades, e quando vem ao Brasil, se for possível, queremos que eles visitem a igreja e tragam uma mensagem e relatório sobre suas atividades. Fico pensando na alegria que a Igreja de Antioquia sentiu ao ver retornando seus missionários, com tantas experiências lindas da obra de Deus, e como Deus os havia libertado da perseguição e oposição que sofreram. 
Conclusão:
Estes oito princípios princípios missiológicos, são alguns dos muitos que podemos encontrar no Livro de Atos. Fazemos bem quando abrimos as Escrituras e aprendemos destes homens que se tornam referência e modelo para a ação missionária em nossos dias. 



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