sábado, 2 de fevereiro de 2019

At 18.24-28; At 19.1-6 Vivendo a fé pela metade



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Introdução:

Uma das coisas mais comuns é um cristianismo fragmentado, de “meia-boca”, uma fé vivida apenas parcialmente.

Ricardo Gondim certa vez afirmou que existem três níveis de conversão:

a.     Do Deus falso para o Deus verdadeiro. Quando saímos de uma visão teológica na qual servíamos a deuses que não eram deuses. Em Éfeso, as pessoas seguiam a deusa Diana, mas quando se converteram a Cristo, queimaram seus livros de magia em praça pública. É o momento no qual entendemos que o Senhor é o único Deus.

b.    Do domínio do meu EU, para o domínio de Cristo. Mesmo convertidos a Cristo podemos ainda insistir em manter o controle da nossa vida ao invés de nos rendermos a ele. desta forma não nos submetermos a ele e resistimos ao plano que ele deseja para nossa vida. Nossa agenda e nossas prioridades ainda são nossos, não nos entregamos ainda por completo ao seu senhorio.

c.     Do bolso: Entender que nossos recursos são meios de glorificar a Deus, e que devem ser utilizados para sua glória e louvor, nem sempre é algo fácil. Bispo Paulo Aires afirmava que “o bolso é o último a se converter e o primeiro a esfriar”. 

O que vemos no texto?
Nestes dois textos, Atos 18 e 19, são registradas situações nas quais alguns seguidores de Cristo estão vivendo a fé pela metade, tendo uma compreensão parcial das verdades do Evangelho, portanto, vivendo ainda sem experimentar a riqueza do evangelho. Dois casos são aqui registrados: Apolo e os doze discípulos que viviam em Éfeso.

A situação de Apolo
At 18.24-28

Quando Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou um judeu, que havia nascido em Alexandria, e que posteriormente se converteu a Jesus. Não sabemos como foi sua conversão, nem quais foram suas influências religiosas. Como ele nasceu em Alexandria, cidade do Egito, famosa pela sua biblioteca, podemos imaginar que ele era cercado de pessoas intelectuais e de deuses pagãos. Mas de alguma forma, a graça de Cristo o alcançou e ele se converteu ao cristianismo.

Quando Paulo o encontrou em Éfeso, ele já era um pregador. Entusiasmado “eloquente e poderoso nas Escrituras, fervoroso de espírito e que ensinava com precisão a respeito de Jesus”, mas alguns aspectos doutrinários eram distorcidos e precisavam ser reparados. Áquila e Priscila, assumem a mistagogia e mentoria espiritual dele, pois “tomaram-no consigo e com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18.26).

Apolo era um crente?
Claro que sim. Mas seu conhecimento bíblico era limitado.

Alguns dos homens mais apaixonados que conheço sabem muito pouco da Bíblia.
Algum tempo atrás tive acesso a um vídeo que  no youtube chamado “a unção da briba”. Isto mesmo! Não escrevi errado. Trata-se de um evangelista, no interior do país, tentando pregar o evangelho. Ele é ardoroso. Você percebe que ele tem um legitimo desejo de falar do evangelho, contudo, mistura os personagens da Bíblia, vai falando com empolgação, e de repente você já não sabe o que ele quer dizer, e aparentemente, nem ele mesmo.
Apolo só ouvira falar do batismo de João. Ele não tinha maiores conhecimentos da verdade do evangelho, mas ainda assim era ardoroso, embora raso. Era apaixonado, mas superficial na fé.

A situação dos 12 discípulos em Éfeso
At 19.1-7

Este é o segundo cenário que encontramos.
Paulo encontra um grupo de discípulos (At 19.1), eram doze ao todo (At 19.7). Por serem chamados de discípulos, podemos inferir que queriam seguir a Jesus e estavam dispostos a fazê-lo. Entretanto, logo encontramos alguns dilemas.

Dois problemas:
A.    A compreensão do Espírito Santo - Quando Paulo fala acerca do Espírito Santo eles declaram: “nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo” (At 19.2). Como é possível ser um discípulo de Cristo sem a compreensão da obra do Espírito Santo? Estes homens, aqui chamados de discípulos, contudo, nada sabiam e nem haviam experimentado o poder do Espírito Santo em suas vidas.

B.    A questão do Batismo – Quando Paulo pergunta sobre o batismo, fica sabendo que haviam sido batizados apenas no batismo de João. Então Paulo os batiza em nome de Jesus (At 19.5).

Qual a diferença entre o batismo de João Batista e o batismo de Jesus?

O batismo de João era um batismo de arrependimento. Sua mensagem era: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” “Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a circunvizinhança do Jordão” (Lc 3.2,5-6).

No batismo de João, nenhuma fórmula é usada no ato do batismo, por outro lado, para o batismo cristão, Jesus ordenou que os novos convertidos deveriam ser ensinados e batizados em “nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). O batismo de João era o de arrependimento, um rito de preparação, confirmando o arrependimento. O seu pilar era o arrependimento. O batismo cristão, embora inclua o arrependimento, possui outros elementos, como a percepção de que, o ato de derramar água sobre a nossa cabeça ou sermos imersos, revela nossa morte para o pecado e purificação pela água, portanto, trata-se de nossa união e identificação com Jesus em sua morte, sepultamento e ressurreição. O batismo cristão é o sinal de uma nova vida.

Como avançar na fé?
Este texto é interessante para que saibamos o que precisamos fazer para não viver a vida pela metade. Como avançar na fé?

No primeiro, precisamos de irmãos mais velhos ensinando as verdades fundamentais da fé aos irmãos mais novos.  Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18.26). Este é o papel da igreja. Por esta razão nossa igreja encoraja tanto o discipulado individual, pequenos grupos de estudos bíblicos e Escola Bíblica Dominical. Precisamos ouvir, com mais exatidão, o caminho de Deus.

Quando nos convertemos, trazemos uma visão sincrética da fé, durante muito tempo ouvimos tantas coisas, e agora, precisamos alinhar nossa compreensão da vida à compreensão da Palavra de Deus. O que a Bíblia diz? O que Jesus ensinou? Como um cristão deve viver? Uma pessoa experiente na Palavra pode nos orientar quanto àquilo que queremos fazer.

Dois textos bíblicos podem nos ajudar:

Mc 8.22-26 – A cura de um cego em Betsaida.
Este texto fala da cura de um cego em Betsaida. Jesus o tomou pela mão, levou-o ara fora da aldeia, aplicou-lhe saliva nos olhos e quando pergunta se ele via alguma coisa, sua resposta foi inusitada: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo andando” (Mc 8.24). alguma coisa estava incompleta.

Não podemos dizer que ele era cego porque já via a luz e movimentos, mas não podemos dizer que via, porque sua visão era obnubilada. Diferente de tudo quanto usualmente fazia, Jesus faz uma cura por etapas. No primeiro momento a cura parece não ser efetiva, já que a percepção do cego revela-se profundamente obscura e só então, Jesus toca novamente no cego e ele passa a ver claramente.

Este texto mostra como pode ser o encontro do homem com Deus. Gente tocada pelas mãos divinas mas com atitudes e visões parciais e obscuras. O encontro inicial e parcial com Deus não é suficiente, é necessário mais; Agostinho (396-430) se converteu a Cristo numa experiência maravilhosa, mas ainda assim as lutas e tentações continuavam. No livro de confissões declara: “Oh amor que arde em chamas, incendeia-me! Tu ordenas a moderação. Concede o que ordenas e ordena o que queres!” Ele sabia que precisava que Deus continuasse operando em sua vida.

Quando vivemos parcialmente a fé o resultado reflete numa ética distorcida, que se manifesta na vida família, nos negócios, na linguagem adotada. “Vejo os homens, como árvores os vejo andando” Não podemos dizer que ele é cego, porque não é, já possui determinada luz e consegue perceber movimentos e interpretar parcialmente as coisas que encontram-se ao redor; não podemos porém, dizer que vê, porque sua visão é completamente fragmentada. Vê com limitações, tem percepções parciais, faz julgamentos errados: “Como árvores os vejo andando”. Esta é uma visão confusa, porque nem árvores andam, nem homens se parecem com árvores. Enxergam a luz, mas tal luz ainda não é suficiente para trazer clareza às suas mentes, ainda o fazem de forma limitada e confusa.

Assim é a compreensão espiritual de muitos, que já não andam nas trevas, mas ainda tropeçam pelo caminho, precisam de um segundo toque de Jesus, de serem novamente surpreendidos por um toque de Deus para verem claramente.

Jo 9 – A cura do cego de nascença

Este é um segundo relato que demonstra como a experiência da fé pode ser vivida de forma parcial. Podemos ter experiência com Jesus e não sabermos quem Jesus realmente é. Podemos até mesmo ser curado por ele e ainda vivermos na ignorância sobre quem ele é, e ainda estarmos nas trevas espirituais. 

Jesus cura a cegueira de um homem, fato que gera muita controvérsia. No final do relato, Jesus se reencontra com aquele que fora cego e lhe pergunta: “Crês tu no Filho do homem?” (Jo 9.35). Ora esta é uma pergunta essencial para um discípulo de Cristo. Sua resposta foi honesta e inusitada: “Quem é, Senhor, pra que eu nele creia?” (Jo 9.37). Ele já havia sido curado por Jesus, e agora conversava com Jesus, mas sua fé era muito intuitiva, primária, precisava de uma compreensão mais ampla. Então Jesus responde: “Já o tens visto, e é o que fala contigo” (Jo 9.37).

Quando ele compreende que havia algo maior que a mera cura física, sua reação é profunda. Sua visão muda completamente. Ele se ajoelha e diz: “Creio, Senhor, e o adorou” (Jo 9.38).

Muitos vivem neste primeiro nível da fé. Já viram o poder de Jesus em suas vidas, já viram milagres em sua família, já receberam os benéficos efeitos da graça comum, mas precisam avançar no discipulado, porque caso contrário não haverá adoração. Só tem o beneficio físico, material, mas não o maior beneficio que é a vida eterna, a compreensão da obra de Cristo.

O que aconteceu com Apolo?

O resultado de uma maior clareza na fé de Apolo, potencializou seu ministério. Em seguida o vemos se disponibilizando para a obra missionária:
Querendo ele percorrer a Acaia, animaram-no os irmãos e escreveram aos discípulos para o receberem. Tendo chegado, auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido; porque, com grande poder convencia publicamente os judeus, provando por meio das Escrituras, que o Cristo (Messias) é Jesus” (At 18.27-28).

O que aconteceu?
Apolo tinha fogo, paixão, ardor, empolgação, mas sua superficialidade doutrinária se tornaria num sério problema no ministério. Ele precisava de discipulado, aprofundamento de sua fé.

Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). 
Muitos conhecem as Escrituras, sem o poder. Isto se transforma em ortodoxia fria e vazia. 
Muitos conhecem o poder de Deus, mas não as Escrituras. Isto se torna em heresia. 
Poucas coisas são piores que heresia de gente apaixonada, porque ela consegue inflamar e empolgar os outros, e levá-las ao fanatismo e ao distanciamento da verdade.
A paixão de Apolo, agora aliada ao conhecimento das Escrituras, lhe deu os elementos capazes de convencer e provar a relevância de Cristo às pessoas que residiam na Acaia.

No segundo caso, dos doze discípulos, vimos o que deve ser feito para que assim a fé possa ser vivenciada plenamente.

Como vimos, Paulo lhes faz duas perguntas: 

já foram batizados em nome de Jesus? 

Já receberam a visitação especial do Espírito Santo? As duas respostas foram negativas.

A pergunta fica em nossa mente: Eles eram, de fato cristãos?

Aparentemente não, já que sem o Espírito Santo não há vida cristã, mas em At 19.1, lemos que quando Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou ali, alguns discípulos (At 19.1). Curiosamente eram doze (At 19.7). Portanto, a Bíblia afirma que eles eram discípulos.

O que podemos concluir é que eles viviam na triste estatística e situação daqueles que vivem a fé pela metade. O cristianismo deles era deficitário.

Duas velhas ilustrações:
Duas antigas ilustrações podem nos ajudar a entender como é possível viver a fé pela metade, sem experimentar toda riqueza do que significa viver em Cristo.

Certo homem estava à beira da estrada, indo para sua casa, quando passou seu vizinho no seu caminhão de transporte e ele pediu carona. O homem mandou ele subir, mas quando olhou pelo retrovisor, viu que ele estava ainda com o feixe de lenhas nas costas. Pacientemente parou o carro e perguntou porque ele não havia colocado a lenha no carro. E ele respondeu: “Meu senhor, já é uma grande gentileza me levar, não achei justo que levasse também a lenha”.

Outra pessoa estava viajando de avião pela primeira vez, quando a aeromoça veio oferecendo comida. Embora estivesse com fome, rejeitou, e quando seu colega de lado perguntou porque não quis, ele falou: “pensei que era pago!”

Estas duas ilustrações revelam bem o que fazemos tantas vezes. Vivemos pela metade a riqueza da vida que Deus tem para nos oferecer.
Aqueles homens eram discípulos, mas levavam suas vidas, sem o poder e a graça do Espírito Santo.
Viviam a fé pela metade.
Sem o Espírito Santo, a vida cristã não flui.

Conclusão:
Como temos vivido nossa fé?
Apolo era crente, fervoroso eloquente, mas compreendia a fé pela metade.
Os doze discípulos em Éfeso, seguiam a Jesus, mas queriam fazê-lo sem o poder do Espírito. Quando Paulo impôs sobre eles as mãos, vivenciaram a graça de Deus, o fluir do Espírito e passaram a falar em línguas e profetizar. Um fato novo havia sido gerado dentro deles, porque o Espírito Santo realizou um novo momento nas suas histórias.
Que Deus nos ajude a caminhar, a vivenciar, toda riqueza da glória de sua graça experimentando as bençãos decorrentes de uma vida cristã plena e profunda.   






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