Introdução:
Uma das coisas mais comuns é um
cristianismo fragmentado, de “meia-boca”, uma fé vivida apenas parcialmente.
Ricardo Gondim certa vez afirmou
que existem três níveis de conversão:
a. Do Deus falso para o Deus
verdadeiro. Quando saímos de uma visão teológica na qual servíamos a deuses que
não eram deuses. Em Éfeso, as pessoas seguiam a deusa Diana, mas quando se
converteram a Cristo, queimaram seus livros de magia em praça pública. É o
momento no qual entendemos que o Senhor é o único Deus.
b. Do domínio do meu EU, para o
domínio de Cristo. Mesmo convertidos a Cristo podemos ainda insistir em manter o
controle da nossa vida ao invés de nos rendermos a ele. desta forma não nos submetermos a ele e resistimos ao plano que ele deseja para nossa vida. Nossa agenda e nossas
prioridades ainda são nossos, não nos entregamos ainda por completo ao seu senhorio.
c. Do bolso: Entender que nossos recursos são meios de glorificar a Deus, e que devem ser utilizados para sua glória e louvor, nem sempre é algo fácil. Bispo Paulo Aires afirmava que “o bolso é o último a se converter
e o primeiro a esfriar”.
O que vemos no texto?
Nestes dois textos, Atos 18 e 19, são registradas situações nas quais alguns seguidores de Cristo estão vivendo a fé pela metade, tendo uma compreensão parcial das verdades do Evangelho, portanto, vivendo ainda sem experimentar a riqueza do evangelho. Dois casos são aqui registrados: Apolo e os doze discípulos que viviam em Éfeso.
A situação de Apolo
At 18.24-28
Quando Paulo chegou a Éfeso, ele
encontrou um judeu, que havia nascido em Alexandria, e que posteriormente se
converteu a Jesus. Não sabemos como foi sua conversão, nem quais foram
suas influências religiosas. Como ele nasceu em Alexandria,
cidade do Egito, famosa pela sua biblioteca, podemos imaginar que ele era cercado de pessoas intelectuais e de deuses
pagãos. Mas de alguma forma, a graça de Cristo o alcançou e ele se converteu ao cristianismo.
Quando Paulo o encontrou em
Éfeso, ele já era um pregador. Entusiasmado “eloquente e poderoso nas
Escrituras, fervoroso de espírito e que ensinava com precisão a respeito de Jesus”,
mas alguns aspectos doutrinários eram distorcidos e precisavam ser reparados.
Áquila e Priscila, assumem a mistagogia e mentoria espiritual dele, pois “tomaram-no consigo e com mais exatidão, lhe
expuseram o caminho de Deus” (At 18.26).
Apolo era um crente?
Claro que sim. Mas seu
conhecimento bíblico era limitado.
Alguns dos homens mais
apaixonados que conheço sabem muito pouco da Bíblia.
Algum tempo atrás tive acesso a um vídeo que no youtube chamado “a unção da briba”. Isto mesmo! Não escrevi
errado. Trata-se de um evangelista, no interior do país, tentando pregar o
evangelho. Ele é ardoroso. Você percebe que ele tem um legitimo desejo de falar
do evangelho, contudo, mistura os personagens da Bíblia, vai falando com
empolgação, e de repente você já não sabe o que ele quer dizer, e aparentemente, nem ele mesmo.
Apolo só ouvira falar do batismo
de João. Ele não tinha maiores conhecimentos da verdade do evangelho, mas ainda assim era ardoroso, embora raso. Era
apaixonado, mas superficial na fé.
A situação dos 12 discípulos em Éfeso
At 19.1-7
Este é o segundo cenário que encontramos.
Paulo encontra um grupo de
discípulos (At 19.1), eram doze ao todo (At 19.7). Por serem chamados de discípulos, podemos
inferir que queriam seguir a Jesus e estavam dispostos a fazê-lo. Entretanto, logo encontramos alguns dilemas.
Dois problemas:
A. A compreensão do Espírito Santo -
Quando Paulo
fala acerca do Espírito Santo eles declaram: “nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo” (At 19.2). Como é
possível ser um discípulo de Cristo sem a compreensão da obra do Espírito
Santo? Estes homens, aqui chamados de discípulos, contudo, nada sabiam e nem haviam experimentado o poder do Espírito Santo em suas vidas.
B. A questão do Batismo – Quando Paulo pergunta sobre o
batismo, fica sabendo que haviam sido batizados apenas no batismo de João.
Então Paulo os batiza em nome de Jesus (At 19.5).
Qual a diferença entre o batismo
de João Batista e o batismo de Jesus?
O batismo de João era um batismo
de arrependimento. Sua mensagem era: “Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos céus” “Então,
saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a circunvizinhança do
Jordão” (Lc 3.2,5-6).
No batismo de João, nenhuma
fórmula é usada no ato do batismo, por outro lado, para o batismo cristão,
Jesus ordenou que os novos convertidos deveriam ser ensinados e batizados em “nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” (Mt 28.19). O batismo de João era o de arrependimento, um rito de preparação, confirmando o arrependimento. O seu pilar era o
arrependimento. O batismo cristão, embora inclua o arrependimento, possui
outros elementos, como a percepção de que, o ato de derramar água sobre a nossa cabeça ou sermos imersos, revela nossa morte para o pecado e purificação pela água, portanto, trata-se de nossa união e identificação com Jesus em sua morte, sepultamento e ressurreição.
O batismo cristão é o sinal de uma nova vida.
Como avançar na fé?
Este texto é interessante para
que saibamos o que precisamos fazer para não viver a vida pela metade. Como
avançar na fé?
No primeiro, precisamos de irmãos
mais velhos ensinando as verdades fundamentais da fé aos irmãos mais
novos. “Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais
exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18.26). Este é o papel da igreja. Por esta razão nossa igreja encoraja tanto o
discipulado individual, pequenos grupos de estudos bíblicos e Escola Bíblica
Dominical. Precisamos ouvir, com mais
exatidão, o caminho de Deus.
Quando nos convertemos, trazemos
uma visão sincrética da fé, durante muito tempo ouvimos tantas coisas, e agora,
precisamos alinhar nossa compreensão da vida à compreensão da Palavra de Deus.
O que a Bíblia diz? O que Jesus ensinou? Como um cristão deve viver? Uma pessoa experiente na Palavra pode nos orientar quanto
àquilo que queremos fazer.
Dois textos bíblicos podem nos ajudar:
Mc 8.22-26 – A cura de um cego em
Betsaida.
Este texto fala da cura de um cego em Betsaida. Jesus o tomou pela mão,
levou-o ara fora da aldeia, aplicou-lhe saliva nos olhos e quando pergunta se
ele via alguma coisa, sua resposta foi inusitada: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo andando” (Mc 8.24).
alguma coisa estava incompleta.
Não podemos dizer que ele era
cego porque já via a luz e movimentos, mas não podemos dizer que via, porque
sua visão era obnubilada. Diferente de tudo quanto usualmente fazia, Jesus faz uma cura por etapas. No primeiro momento a cura parece não ser
efetiva, já que a percepção do cego revela-se profundamente obscura e só então,
Jesus toca novamente no cego e ele passa a ver claramente.
Este texto mostra como pode ser o
encontro do homem com Deus. Gente tocada pelas mãos divinas mas com atitudes e
visões parciais e obscuras. O encontro inicial e parcial
com Deus não é suficiente, é necessário mais; Agostinho (396-430) se converteu
a Cristo numa experiência maravilhosa, mas ainda assim as lutas e tentações continuavam.
No livro de confissões declara: “Oh amor
que arde em chamas, incendeia-me! Tu ordenas a moderação. Concede o que ordenas
e ordena o que queres!” Ele sabia que precisava que Deus continuasse
operando em sua vida.
Quando vivemos parcialmente a fé
o resultado reflete numa ética distorcida, que se manifesta na vida família,
nos negócios, na linguagem adotada. “Vejo
os homens, como árvores os vejo andando” Não podemos dizer que ele é cego,
porque não é, já possui determinada luz e consegue perceber movimentos e
interpretar parcialmente as coisas que encontram-se ao redor; não podemos
porém, dizer que vê, porque sua visão é completamente fragmentada. Vê com
limitações, tem percepções parciais, faz julgamentos errados: “Como árvores os
vejo andando”. Esta é uma visão confusa, porque nem árvores andam, nem homens
se parecem com árvores. Enxergam a luz, mas tal luz ainda não é suficiente para
trazer clareza às suas mentes, ainda o fazem de forma limitada e confusa.
Assim é a compreensão espiritual
de muitos, que já não andam nas trevas, mas ainda tropeçam pelo
caminho, precisam de um segundo toque de Jesus, de serem novamente surpreendidos por um toque de Deus para verem claramente.
Jo 9 – A cura do cego de nascença
Este é um segundo relato que
demonstra como a experiência da fé pode ser vivida de forma parcial. Podemos
ter experiência com Jesus e não sabermos quem Jesus realmente é. Podemos até mesmo ser curado por ele e ainda vivermos na ignorância sobre quem ele é, e ainda estarmos nas trevas espirituais.
Jesus cura a cegueira de um
homem, fato que gera muita controvérsia. No final do relato, Jesus se reencontra
com aquele que fora cego e lhe pergunta: “Crês
tu no Filho do homem?” (Jo 9.35). Ora esta é uma pergunta essencial para um
discípulo de Cristo. Sua resposta foi honesta e inusitada: “Quem é, Senhor, pra que eu nele creia?”
(Jo 9.37). Ele já havia sido curado por Jesus, e agora conversava com Jesus,
mas sua fé era muito intuitiva, primária, precisava de uma compreensão mais
ampla. Então Jesus responde: “Já o tens
visto, e é o que fala contigo” (Jo 9.37).
Quando ele compreende que havia
algo maior que a mera cura física, sua reação é profunda. Sua visão muda
completamente. Ele se ajoelha e diz: “Creio,
Senhor, e o adorou” (Jo 9.38).
Muitos vivem neste primeiro nível
da fé. Já viram o poder de Jesus em suas vidas, já viram milagres em sua família, já receberam os benéficos efeitos da graça comum, mas precisam
avançar no discipulado, porque caso contrário não haverá adoração. Só tem o
beneficio físico, material, mas não o maior beneficio que é a vida eterna, a
compreensão da obra de Cristo.
O que aconteceu com Apolo?
O resultado de uma maior clareza
na fé de Apolo, potencializou seu ministério. Em seguida o vemos se disponibilizando
para a obra missionária:
“Querendo ele percorrer a Acaia, animaram-no os irmãos e escreveram aos
discípulos para o receberem. Tendo chegado, auxiliou muito aqueles que,
mediante a graça, haviam crido; porque, com grande poder convencia publicamente
os judeus, provando por meio das Escrituras, que o Cristo (Messias) é Jesus”
(At 18.27-28).
O que aconteceu?
Apolo tinha fogo, paixão, ardor,
empolgação, mas sua superficialidade doutrinária se tornaria num sério problema
no ministério. Ele precisava de discipulado, aprofundamento de sua fé.
Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o
poder de Deus” (Mt 22.29).
Muitos conhecem as Escrituras, sem o poder. Isto se transforma em ortodoxia fria e vazia.
Muitos conhecem o poder de Deus, mas não as Escrituras. Isto se torna em heresia.
Poucas coisas são piores que heresia de gente apaixonada, porque ela consegue inflamar e empolgar os outros, e levá-las ao fanatismo e ao distanciamento da verdade.
Muitos conhecem as Escrituras, sem o poder. Isto se transforma em ortodoxia fria e vazia.
Muitos conhecem o poder de Deus, mas não as Escrituras. Isto se torna em heresia.
Poucas coisas são piores que heresia de gente apaixonada, porque ela consegue inflamar e empolgar os outros, e levá-las ao fanatismo e ao distanciamento da verdade.
A paixão de Apolo, agora aliada
ao conhecimento das Escrituras, lhe deu os elementos capazes de convencer e
provar a relevância de Cristo às pessoas que residiam na Acaia.
No segundo caso, dos doze
discípulos, vimos o que deve ser feito para que assim a fé possa ser vivenciada
plenamente.
Como vimos, Paulo lhes faz duas
perguntas:
já foram batizados em nome de Jesus?
Já receberam a visitação especial do Espírito Santo? As duas respostas foram negativas.
já foram batizados em nome de Jesus?
Já receberam a visitação especial do Espírito Santo? As duas respostas foram negativas.
A pergunta fica em nossa mente: Eles
eram, de fato cristãos?
Aparentemente não, já que sem o
Espírito Santo não há vida cristã, mas em At 19.1, lemos que quando Paulo
chegou a Éfeso, ele encontrou ali, alguns discípulos
(At 19.1). Curiosamente eram doze (At 19.7). Portanto, a Bíblia afirma que eles
eram discípulos.
O que podemos concluir é que eles
viviam na triste estatística e situação daqueles que vivem a fé pela metade. O
cristianismo deles era deficitário.
Duas velhas ilustrações:
Duas antigas ilustrações podem nos ajudar a entender como é possível viver a fé pela metade, sem experimentar toda riqueza do que significa viver em Cristo.
Duas antigas ilustrações podem nos ajudar a entender como é possível viver a fé pela metade, sem experimentar toda riqueza do que significa viver em Cristo.
Certo homem
estava à beira da estrada, indo para sua casa, quando passou seu vizinho no seu
caminhão de transporte e ele pediu carona. O homem mandou ele subir, mas quando
olhou pelo retrovisor, viu que ele estava ainda com o feixe de lenhas nas
costas. Pacientemente parou o carro e perguntou porque ele não havia colocado a
lenha no carro. E ele respondeu: “Meu senhor,
já é uma grande gentileza me levar, não achei justo que levasse também a lenha”.
Outra pessoa
estava viajando de avião pela primeira vez, quando a aeromoça veio oferecendo
comida. Embora estivesse com fome, rejeitou, e quando seu colega de lado
perguntou porque não quis, ele falou: “pensei que era pago!”
Estas duas ilustrações revelam
bem o que fazemos tantas vezes. Vivemos pela metade a riqueza da vida que Deus tem
para nos oferecer.
Aqueles homens eram discípulos,
mas levavam suas vidas, sem o poder e a graça do Espírito Santo.
Viviam a fé pela metade.
Sem o Espírito Santo, a vida
cristã não flui.
Conclusão:
Como temos vivido nossa fé?
Apolo era crente, fervoroso
eloquente, mas compreendia a fé pela metade.
Os doze discípulos em Éfeso,
seguiam a Jesus, mas queriam fazê-lo sem o poder do Espírito. Quando Paulo impôs
sobre eles as mãos, vivenciaram a graça de Deus, o fluir do Espírito e passaram
a falar em línguas e profetizar. Um fato novo havia sido gerado dentro deles,
porque o Espírito Santo realizou um novo momento nas suas histórias.
Que Deus nos ajude a caminhar, a
vivenciar, toda riqueza da glória de sua graça experimentando as bençãos decorrentes
de uma vida cristã plena e profunda.
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