Introdução:
Um velho pregador escocês, de um pequeno condado no
interior do país, dominicalmente recebia do diácono, um copo de leite quente,
para que pudesse estar mais encorajado durante o sermão. Um dia, como o frio
ainda estava mais intenso, o diácono adicionou um pouco de rum no leite quente.
Quando o velho pastor bebeu aquele leite, olhou para a congregação e disse: Que
vaca!
Robert Clinton no livro on becoming a leader, afirma que 2/3 dos
líderes cristãos da Bíblia terminaram mal.
Esta é uma estatística assustadora. Personagens como Saul, Salomão,
e muitos outros, começaram seus ministérios com muitos acertos e terminaram
suas vidas provocando o Senhor e em grave processo de rebeldia.
Nossa alma corre perigo!
Terríveis sombras circundam
nossas emoções e mente.
Como vimos no estudo anterior,
Saul começou seu reinado com um chamado e unção especial, depois teve
experiências carismáticas profetizando no meio de um grupo de profetas, e isto
pareceu tão estranho entre o povo, porque Saul não era exatamente este “rapaz
espiritual”, que se tornou proverbial em Israel, quando alguma coisa não ia
bem, afirmar o seguinte: “Também Saul entre os profetas?”, um tipo de afirmação
de um provérbio brasileiro que afirma: “macacos me mordam!” ou “cavalo dado não
se olha o dente”.
Apesar de termos uma visão tão
negativa de Saul, pudemos ver no estudo anterior que Deus havia colocado nele,
muitas características extremamentes positivas, que chamamos de luzes. Saul experimentou momentos memoráveis
na relação com Deus, sua experiência de visitação do Espírito Santo, sua
capacidade administrativa, sua sensibilidade com o povo, seu zelo e compaixao,
e tantas outras virtudes.
O problema de Saul, porém, foi a
quantidade de sombras que carregava em sua personalidade. Saul tinha excelentes
qualidades, foi brilhante em alguns momentos de sua carreira, mas não conseguiu
sustentar as coisas nos mesmos níveis em que começou. Um bom líder é bem
sucedido, mas se suas sombras forem grandes demais, quando sua projeção lhe
trouxer visibilidade pública, ele será desmascarado e tudo quanto fez será
destruído. John Maxwell afirma que “Tudo
se levanta e cai pela liderança”.
Saul teve o privilégio de
estruturar Israel em torno da monarquia, criar as estruturas e cargos,
construir palácios, montar um exército, consolidar uma liderança. Infelizmente,
as sombras de sua alma foram devorando sua vida e terminou seus anos de forma
patética, longe de Deus, invocando médiuns e espiritas para sua própria
condenação (1 Sm 28).
Duas questões tem destruído a
vida de muitos líderes?
Uma externa: Paixões do coração.
Muitos líderes sucumbiram nesta
armadilha. Encontraram alguém “interessante”, deixaram seu coração ser levado
por uma aventura amorosa, desprezaram a Palavra de Deus, deram ouvidos ao seu
próprio coração, negaram sua fé, feriram suas famílias, afastaram-se da
comunhão da igreja e geraram escândalos na comunidade, trazendo desonra a Deus.
Esta não é uma cena muito rara. Lamentavelmente.
Outra interna: Frieza Espiritual.
Muitos líderes nunca causaram
escândalo, contudo, seus corações estão frios e apáticos em relação às
realidades espirituais. Sua alma corre sério perigo. Vão sendo consumidos pela
apatia. Como Clarice Lispector afirmou no seu poema "Não sentir": "O hábito tem-lhe
amortecido as quedas, mas sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como
aviso e sintoma. Hoje em dia vive incomparavelmente mais sereno, porém em
grande perigo de vida; pode estar a um passo de estar morrendo, a um passo de já
ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio" (A
descoberta do mundo, Rio, Ed. Rocco, 1999, pg 32).
Certamente trata-se de uma cilada
envolvente:
O acadêmico Jean Restand foi o primeiro a perceber que se colocasse
uma rã numa vasilha com água quente, ela reagia violentamente e pulava para
fora, mas se a água fosse aquecida lentamente, a rã ficaria entorpecida e
morreria queimada. As tentações e reflexos morais também tendem paulatinamente
a perder seu bom funcionamento quando nos acostumamos com o mal, até que a
consciência se torna completamente entorpecida.
O grande desafio não é ser para
fora, mas ser para Deus. Por isto, nossas motivações, intenções e razões do
coração são escrutinadas por Deus.
A história de Saul demonstra até
onde um homem, ao se afastar de Deus, pode se
desviar, e como o coração é capaz de nos trair.
Eis algumas atitudes refletidas
no seu caráter que devem nos levar a considerar o nosso próprio coração:
- Fazer o que dá
conforto e popularidade ao invés de fazer o que Deus manda – (1 Sm 15.11)
O que Deus mandou ele fazer?
Ir à guerra e não trazer qualquer
despojo.
Certamente este é um difícil
pedido. Os soldados quando iam para Guerra tinham como recompense seus trunfos,
arrecadas e jóias de ouro. Neste caso, Deus foi explicito em dizer que não
queria que trouxessem nada, era para destruir tudo.
O que Saul fez?
Ele desobedeceu a Deus naquilo
que ele havia ordenado.
Por que fez isto? Porque o
mandamento de Deus não dava ibope. Como bom político, ele precisava de respaldo
das pessoas e do apoio popular.
Sua desobediência nos aponta para
alguns perigos:
- Ambientes
e circunstâncias podem se tornar mais relevantes que princípios. “Forçado pelas circunstâncias” (1 Sm
13.12).
Isto nos leva a pensar que, se
não houvesse pressão, e se as pessoas não tivessem tais expectativas sobre ele,
sua reação poderia ser diferente. Não é possível que o mesmo se dê conosco?
Um antigo ditado diz que as
pessoas são como saquinhos de chá, nunca se sabe o que tem dentro até que se
derrame água fervendo sobre elas. Saul cedeu à pressão das circunstâncias. “Os
homens são o passatempo preferido das circunstâncias.”
- Pessoas se tornam
mais importantes que Deus. “Pequei...
porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz” (1 Sm 15.24).
A opinião do povo era o que
interessava a Saul. Ele sabia o que Deus queria dele, mas a pressão popular
exercia grande poder sobre sua vida. Quando confrontado pelo seu
pecado, e vendo-se sem defesa, Saul revela qual tinha sido o seu grande
problema. Saul precisava ser valorizado, e isto se tornara idolátrico em seu
coração, e seu desejo de aprovação humana era maior do que o de glorificar a
Deus. “Então, disse Saul a Samuel:
Pequei, pois transgredi o mandamento do Senhor e as tuas palavras; porque temi
o povo e dei ouvidos à sua voz”(1 Sm 15:24).
Antes de julgarmos a Saul, sejamos honestos.
Qual líder nunca se sentiu pressionado para tomar uma
decisão por causa da pressão do grupo e não pela orientação divina? Ninguém
gosta de ser rejeitado, existe um desejo íntimo em nós de sermos populares, aceitos,
recebermos honra, por isto, tomar atitudes impopulares é muito difícil. O
desejo de aceitação e reconhecimento facilmente substitui nossa capacidade de
obedecer fielmente a Deus.
Quantos de nós não fomos
pressionados e tomamos decisões politicamente corretas, por causa das pessoas
que estão ao redor? Tememos a opinião pública, o que vão dizer, o que pensarão
a nosso respeito? Popularidade e aceitação pública é um dos grandes riscos da
alma humana. Precisamos de coragem e firmeza
para colocar Deus em primazia aos desejos e anseios de nossa família, amigos, e
liderados.
Um exemplo pessoal
Um dos casos mais dolorosos no
meu ministério se deu no processo de divórcio de um querido casal da igreja.
Eles não tinham nenhuma razão para a separação exceto a obstinação que os
caracterizava. Quando perguntados porque queriam se separar nos disseram
simplesmente: “Somos muito diferentes”…Apesar
dos insistentes apelos a lutarem juntos para manterem a unidade e a
indissolubilidade do casamento, resolveram se separar, sem briga, sem ameaças,
aliás, se tornaram mais amigos depois de separados que quando estavam casados.
Naquela ocasião fui muito direto com ambos,
mostrei-lhes que a Bíblia tinha instruções claras sobre este assunto, e que Deus
não autorizava tal divórcio. Afirmei-lhes que, dadas as circunstâncias da
separação, e pela dureza de seus corações, caso me procurassem para se casar
com outra pessoa no futuro, eu não poderia, em sã consciência, realizar a
cerimônia.
O divórcio foi consumado e cerca de dois anos depois
um deles veio a mim, dizendo que gostaria de se casar novamente e se eu poderia
realizar a cerimônia de casamento. Ora, eu era amigo daquela pessoa, ela nunca
se afastara da igreja apesar de toda controvérsia, e eu me via agora diante de
uma convicção profunda de que o que ele fizera era contra a Palavra de Deus, e
que eu não poderia efetuar o seu casamento, mas sabendo que, pela sua liderança
e amizade em nossa comunidade eu seria pressionado a realizar a cerimônia.
Tivemos uma conversa pesada. Afirmei-lhe o quanto o
amava, mas que não poderia realizar, em sã consciência, realizar seu casamento.
Ele me pressionou: ”Neste caso, terei que mudar de igreja, porque o meu pastor não quer me dar a benção”.
Declarei-lhe que ele tinha duas opções: largar a igreja por causa de minha
decisão, ou entender que ele deveria ficar na igreja, porque o seu pastor era
tão sério que, mesmo o amando, não quisera realizar a cerimônia de seu
casamento, por questão de consciência.
Eu sabia que minha decisão levantava muitos
questionamentos. Várias pessoas vieram me questionar, e eu sei, que para cada
pessoa que o questiona pessoalmente, dez outras estarão criticando-o por trás. Mas
eu me lembro como o desejo de ser agradável e tomar o caminho mais fácil se
tornou tentador para mim.
Este, naturalmente, é um testemunho de como as coisas
acontecem, mas é um testemunho vitorioso. Contudo, o que dizer de outras
decisões nas quais a gente peca por pressão do povo, faz as coisas com dúvidas
morais, porque tememos o povo?
- As
ambições são maiores que pessoas.
Saul não tinha escrúpulos em usar
as pessoas para conseguir alcançar seus alvos políticos. Ele instrumentalizou
sua filha Mical, entregando-a a Davi para ser esposa, sem perguntar se era isto
que lhe interessava. Posteriormente Mical o enganaria, revelando como a relação
dos dois era complexa. Mais tarde, Saul volta à carga e quando Davi foge do
palácio, para punir o genro, entrega-a a outro homem. Futuramente um incidente
chocante atingiria Israel quando Davi pede de volta a sua esposa.
- Demora
em fazer altares – “Edificou
Saul um altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que lhe edificou”
(1 Sm 14.35)
É curiosa esta observação do
texto. Quanto tempo Saul já era rei em Israel? Comentaristas afirmam que quando
este altar foi construído ele já estava no reinado de seis a sete anos. Saul
ainda não havia feito uma demonstracão espiritual pública para revelar aos seus
subordinados, quem era o Deus que ele seguia. Isto tem a ver com testemunho.
O povo de Israel era facilmente induzido a seguir
deuses falsos. Saul fundou a monarquia, e antes de ter um governo central,
Israel estava sem uma direção clara tanto politica quanto religiosa. As
lideranças que surgiam eram esporádicas, e isto levava o povo a não ter uma
referência religiosa e moral muito clara. A frase central do livro de Juízes é:
“Naquele dia não havia rei em Israel,
cada um fazia o que queria”.
Saul não se preocupa com Deus. Não sente necessidade
de glorificá-lo. Seu coração é muito secularizado para que coisas espirituais
ocupem sua mente.
Muitos eram os desafios políticos, a necessidade de
consolidar seu reinado, as exigências sociais e os compromissos foram engolindo
Saul, que já não era muito propenso às questões espirituais. Saul não tinha
tempo para Deus. Fazer altares é uma forma de trazer Deus de forma comunitária,
de colocar Deus no centro. Abraão e Isaque estavam sempre construindo altares,
mas Saul tinha muitas outras preocupações maiores em sua alma que o desejo de
agradar a Deus. Ele não priorizava Deus.
O primeiro altar não é erguido pelo desejo de comunhão
com Deus, mas pelo medo da punição, quando soube da atitude grotesca e
escandalosa assumida por seus subordinados, então resolve erguer um altar (1 Sm
14 31-35).
Como poderíamos traduzir esta idéia de fazer altares
aos nossos dias?
À semelhança de Saul, vivemos dias que exigem muito de
nosso tempo e de nossa mente. Diante de tanta correria, podemos facilmente construir
um estilo de vida pagão. Mesmo como pastores e líderes. Assim, Deus não é focalizado em nossas atividades
diárias, nem conectamos Deus ao nosso viver cotidiano. Deus fica de forma
periférica na vida. Sabemos de sua existência, entendemos que Ele é real, só
que não nos preocupamos em sua glória, nem o tornamos central em nossa vida.
Não lhe erguemos altares. Afinal, altares custam dinheiro, e não queremos
gastar os nossos recursos para promover a glória de Deus e investir no seu
Reino. Erguer altares consomem tempo, e com a agenda tão cheia de atividades, não
dispomos deste tempo para Deus. Estamos muito ocupados para orar, ler a
Palavra, darmos nossos talentos para o Senhor. Assim, apesar de sermos
cristãos, vivemos como pagãos.
Uma das boas lembranças que trago na vida familiar
foram os altares erguidos por meus pais. Gente simples, de herança italiana,
gostavam de ter amigos ao redor de sua mesa. Muitas vezes recebíamos famílias
inteiras, que chegavam sem aviso e agenda. Algo impensável para nossos dias.
Meu pai, antes do almoço, de forma solene dizia a todos: “Antes de almoçar,
vamos agradecer a Deus o que ele nos tem dado”. E ali, lembrávamos de que Deus
deveria ser glorificado pela fartura de alimento, pela vida, e pelos amigos.
Forma simples de construir altares!
Tenho provocado muito os noivos para que se lembrem do
que pretendem fazer na cerimônia de casamento, Normalmente, gastamos 200 horas
preparando a festa, e cerca de três a quatro horas, preparando-se para viver
casado. Isto, quando existe alguma disposição para tal preparo. Além de exigir
que façam o encontro de Noivos, como condição sine qua non para o casamento, lembro-lhes que seu propósito, na
cerimônia, deve ser o de prestar culto a Deus. É possível erguer um altar
durante uma cerimônia tão carregada de expectativas sociais? A resposta é que
não apenas é possível, mas que deveria
ser um alvo de todo casal cristão. Afinal, mais importante que qualquer pessoa
naquele evento, é a pessoa de Jesus!
Muitas vezes tenho pensado sobre o significado da
palavra de Deus: ‘Encontrei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração; ele fará
tudo o que for da minha vontade’.
(At 13.22). O que significa ser “um
homem segundo o coração de Deus?” Olhando superficialmente a história de
Davi, temos a tentação de achar que Ele teve pecados muito mais graves que os
de Saul. Saul não adulterou, nem mandou matar uma pessoa para acobertar seu
adultério, no entanto, Deus não tinha prazer no coração de Saul. O que os
diferenciava?
Creio que o distintivo de Davi estava na adoracão.
Davi tinha um coração voltado para Deus. Mesmo sendo
pecador, ele estava sempre na presença de Deus. Seu prazer estava em Deus, na comunhão
com o Pai. Deus conhecia seu coração. Davi fazia altares para Deus, e isto
fazia parte do seu estilo de vida. Em Saul, vemos atitude diferente. Levantar
altares era algo que ele estava sempre adiando. Não era algo espontâneo no seu
coração, nem fazia parte de sua agenda.
- Preocupação
com a auto-promoção ao invés da glória de Deus –
Saul, ao contrário de outros homens piedosos da Bíblia, nunca se preocupou
em promover o nome do Senhor no meio de seu povo. O primeiro altar que
levantou para o Senhor, demorou cerca de sete anos (1 Sm 15.12).
Saul, contudo, era muito rápido
em relação a auto-promoção. Ele era um bom marqueteiro, rápido para chamar atenção
sobre si e construir monumentos para perpetuar seu nome, no entanto, demorado
em glorificar a Deus. O texto demonstra que no meio da crise, ele se levanta de
madrugada e faz um monumento para si (1 Sm 14.35).
Surpreende-nos sua facilidade e rapidez em levantar
monumentos para si e a demora em erigir altares para Deus. Saul era
auto-centrado. Procurava demasiadamente a glória para si.
Isto pode revelar atitudes
espirituais com corações carnais.
O que buscamos? A glória de Deus
ou a admiração das pessoas.
Certo pastor muito vaidoso, ouviu
um elogio na porta da igreja por um senhora da comunidade. Ele, tentando ser o
mais seco possível, disse: “Elogios para mim, são como água nas costas de
pato... não penetram...” E a senhora respondeu: “Que não entra é verdade, mas
certamente o pato fica todo alegre com a água”.
Muitos dos nossos ministérios e
trabalhos estão centrados no desejo de auto-promoção e vaidade, e não no prazer
em glorificarmos a Deus. Cultivamos ministérios megalomaníacos porque estamos
profundamente auto-centrados e queremos
reconhecimento público de nossa grande habilidade em fazer coisas, nossa
aptidão e capacidade administrativa.
Como isto é tentador...
- Saul
tenta trapacear Deus. “Respondeu
Saul: De Amaleque os trouxeram, porque o povo poupou o melhor das ovelhas
e dos bois, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus; o resto, porém,
destruímos totalmente”(1 Sm 15.13)
Quando Samuel questiona sua
rebeldia e desobediência, Saul se justifica.
“Trouxe para sacrificar o melhor
do rebanho ao Senhor” (1 Sm 15.13,15).
É a velha tendência do coração de
tentar trazer rosas e presentes à esposa, quando deveríamos pedir perdão e
admitir o erro. Não adianta encher o altar de Deus de ofertas e sacrifícios, se
não houver demonstração de arrependimento. Há um grande risco no ser humano de
tornar-se religioso o suficiente para não ser quebrantado.
Esta estratégia é antiga, mas
nunca funcionou.
Quando Deus procurou Adão, depois
dele ter pecado, ele não apenas se justificou, mas acusou a Deus de estar
invadindo a sua privacidade. Afinal, ele estava nu e se escondeu por esta
razão. Por que Deus não “respeitou” sua individualidade? Deus, porém, não se
deixou enrolar pelos seus discursos filosóficos e psicológicos. Adão precisava
de arrependimento, mas ele quis convencer a Deus de que alguma coisa estava
errada em Deus, e não nele mesmo.
Vendo-se descoberto, Saul articula
uma saída honrosa e espiritualiza seu pecado. Saul tenta fazer negociatas com Deus.
Tenta justificar sua obediência.
Não é assim que muitas vezes
fazemos?
Quando pecamos, ao invés de
olharmos para o nosso próprio mal em confissão e arrependimento, substituímos a
confissão pelo ativismo, o arrependimento por projetos interessantes. “...fazer mais para Deus…”
Não é difícil ser um líder
engajado na igreja, fazer muitas coisas para a igreja e mesmo assim estarmos em
pecado. O difícil é a obediência irrestrita, a submissão a Deus, quando aquilo
que pensamos parece fazer mais sentido do que o que Deus pediu. Cultuar, para
Saul, era uma forma social e política mas Deus não entra no seu discurso
repleto de articulações, mesmo porque, Deus não está tanto interessado em
nossas ofertas quanto está em nossa pessoa. Afinal, “Obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Sm 15.22). O que
interessa para Deus não é o que lhe damos, mas o como lhe damos.
- Relacionamento
“terceirizado” com Deus – O texto é muito claro em
demonstrar como Saul via o Senhor. Ele não fala de Deus como um ser de
relacionamento pessoal, mas refere-se ao Senhor como o Deus de Samuel. O
pronome pessoal aqui mostra claramente seu sentimento. “O Senhor, Teu Deus” (1 Sm
15.15,21,30). Ele estava distanciado de Deus.
Algum tempo atrás visitei uma
missão, cujo pastor tinha um grupo de pessoas, que eram remuneradas para se
dedicar a oração. Achei a ideia interessante. É maravilhoso ter pessoas que
intercedem dia e noite por nós, e aquele grupo era de fato envolvido neste
processo. Todavia, corre-se o risco de deixar que os outros orem, e que
recebamos apenas as bençãos de suas orações, sem que nós mesmos tenhamos maiores
compromissos espirituais com Deus.
Existe ainda o perigo de termos
um relacionamento impessoal, meramente institucionalizado, nos tornarmos
pessoas religiosas, e “igrejadas”.
A vida de Saul era sem intimidade
com Deus. Ele era “parceiro” de Deus no projeto de dirigir a teocracia
israelita, mas se refere a Deus como um desconhecido. Ele fala de Deus de forma
impessoal e distante. O narrador faz questão de demonstrar que Saul não vê a
Deus como o “seu” Deus, mas como o Deus
de Samuel.
- “...Porque o povo poupou o melhor das
ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus, o resto,
porém, destruímos totalmente” (1 Sm 15.15)
- “Mas o povo
tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor de designado à destruição para
oferecer ao Senhor, teu Deus, em Gilgal” (1
Sm.15.21).
- “Então
disse Saul: Pequei, honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do eu povo
e diante de Israel, e volta comigo, para que adore o Senhor, teu Deus” (1
Sm.15.30).
Saul não tem um Deus pessoal,
amigo, companheiro, mas alguém que existe, e é mantido à distância. Não é o seu Deus, mas o Deus de Samuel. Ele até
convida Samuel para adorar a Deus, mas vê Deus como alguém que está relacionado
ao profeta e não à sua vida.
Quando usamos pronomes pessoais
da forma que Saul usou, revelamos nossa intimidade com a pessoa sobre a qual
nos referimos. Normalmente sabemos quão distanciados uma pessoa se encontra do
seu cônjuge, quando ela começa a se referir ao outro, não mais pelo nome, e
muito menos como “meu esposo(a)”, mas como “ele”. Saul não revela intimidade
com Deus, Deus é o Deus do outro, não dele próprio. Deus do profeta, não do
rei.
É possível fazer ministério e a
obra do Senhor sem intimidade?
A resposta é sim!
Entretanto, o que diferencia
nossa vida é a compreensão da relação que temos com o Deus a quem servimos.
Nada é tão importante que a compreensão do amor de Deus e da nossa identidade
vinculada à sua natureza. Nada é mais importante para nossa alma, que
normalmente se sente orfã, que se perceber como filho amado de Deus.
Certa feita os setenta discípulos
voltaram do ministério, trazendo um relatório impressionante dos feitos portentosos
de Deus por meio deles: “voltaram possuídos
de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu
nome! Mas ele lhes disse: Eu via
Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para
pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada,
absolutamnete, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os
espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lc 10.17-20).
Saul tinha ministério, mas não tinha relação com o
dono do ministério. Jesus percebe também que seus discípulos poderiam se
impressionar mais pelos milagres e poderes espirituais em si mesmos, que na
relação e na identidade que poderiam encontrar com o Pai.
Quão desafiador isto é para nosso coração…
Saul possuía uma relação de alguém que, por ser rei num sistema teocrático, exercia uma função burocrática com Deus, ele "trabalhava", mas não conhecia Deus.
- Não
se quebrantar diante da verdade, mas insistir em atitudes externas diante
do Deus que não olha para forma, mas para o coração.
Saul reconhece que pecou
gravemente contra Deus.
O que ele deveria fazer agora?
Esperava-se que se voltasse para
o Senhor em quebrantamento, afinal, “Deus não despreza o coração quebrantado e
compungido”. A coisa mais importante de sua vida agora era a restauração de sua
comunhão com Deus.
Ao lermos o texto, contudo, vemos
uma resposta absurdamente estranha de Saul. O que ele fez?
Ele implora a Samuel que o
acompanhe no culto que seria feito com todo Israel, para que ele não deixasse
de ser honrado perante os anciãos. “Pequei.
Agora, honra-me perante os anciãos” (1 Sm 15.30). Como ele queria ainda honra se ele estava exatamente sendo
corrigido por Deus por causa de seu pecado. Como ele poderia ainda pensar em
buscar honra? Como ser honrado quando desonramos a Deus? Não era hora de Saul
pensar em honra pessoal, mas era hora dele se quebrantar com pano de saco e
cinza e se voltar a Deus.
Esta atitude é muito comum entre
o povo cristão.
Queremos manter a reputação, de
forma idolátrica, quando nossa vida está podre. A verdadeira reputação não é a
que os homens nos dão, mas a que Deus dá. A verdadeira honra vem de Deus... Saul
quer honra, quer viver de aparência, sua face pública o atrai. Ele iria para
aquele encontra de sacrifício a Deus, mas seu coração não era de um verdadeiro
adorador. Isto certamente não é adoração, mas auto-exaltação. Que glória pode
haver quando estamos sendo inquiridos e confrontados pelo próprio Deus?
Vejo esta atitude muitas vezes em
concílios, quando líderes caem em pecado.
Eles querem manter a reputação,
ocultar as provas, não perder o nome. Para isto usam de todas as exceções
jurídicas possíveis, reúnem dados mentirosos, criam um processo de mentira,
para manter as aparências. Eles querem se proteger. De quem? Que nome devo ter
quando estou diante de Deus? Que reputação? Quando pecamos diante de Deus, a
coisa mais séria nós já perdemos: nós ferimos a Deus, nós desonramos seu nome.
Precisamos de perdão e restauração, e não de álibi.“O que confessa e deixa alcança misericórdia, mas o que endurece o seu
coração cairá no mal.”(Pv 29.1)
- Impaciência
e impetuosidade – “Esperou
Saul sete dias, segundo o prazo determinado por Samuel, não vindo, porém,
Samuel a Gilgal, o povo se foi espalhando dali. Então disse Saul: traze-me
aqui o holocausto e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto” (1 Sm
13:8-9).
Na verdade, parece que este foi
seu primeiro e grande tropeço, uma vez que é, a partir dai, que Deus rejeita
Saul. Sua incapacidade de esperar em Deus, lhe trouxe graves e irreparáveis
perdas.
Impaciência tem a ver com a
incapacidade de confiar na provisão de Deus que nos leva a fazer as coisas na
base da pressão das cirscunstâncias. Saul admite isto: “Forçado pelas cirscunstâncias”. Toma decisões pela força das cirscunstâncias,
age na base do emocional. Saul não hesita em substituir a dependência de Deus
pela sua própria força.
Uma das coisas mais assustadoras
nos meios evangélicos é a obsessão para ver as manifestações especiais de Deus
acontecendo e quando isto não se dá pela soberania direção de Deus, alguma
coisa tem que ser feita para dar a impressão de que Deus está agindo. O
resultado é o artificialismo na obra de Deus e a manipulação das profecias.
Deixar de agir por princípios para agir pela pressão é um dos maiores equívocos
de um líder.
Ler a Bíblia com atenção pode nos livrar um pouco da
tentação do urgente.
Entre o início da reconstrução do muro, iniciada por
Zorobabel e seu término, concluído por Neemias, existe um intervalo de 22 anos.
Na primeira seção do livro de Esdras, vemos uma detalhada informação sobre o
tempo que se seguiu ao retorno a Jerusalém dos exilados judeus que estavam na
Babilônia (538 a.C.), trazendo de volta riquezas e os utensílios do templo que
haviam sido levados. No início havia muita alegria, mas logo o desânimo e a
oposição vieram e a obra foi interditada (Ed.4.24), até que veio a palavra
profética de Ageu e Zacarias, os chamados profetas da restauração, e a obra
fôsse novamente iniciada, depois de 22 anos (516 a.C.).
Quando li com mais atenção este texto, fiquei
considerando qual seria minha reação se isto acontecesse comigo. Se Deus
parasse meus projetos por 22 anos. Já tentaram imaginar isto no coração de
Zorobabel e daqueles que saíram, carregados de ideais, para reconstruir os
muros de Jerusalém e que tiveram que esperar tanto tempo até que as questões
burocráticas e diplomáticas fosse resolvidas? Muitos de nós teremos ministérios
apenas com vinte e poucos anos de duração. Como lidaríamos com uma carga tão
grande de frustração e espera?
Mas Deus é Deus! Ele estabelece e remove reis. Faz a
sua obra de acordo com a sua cronologia, e nenhum de seus planos pode ser
frustrado. No tempo de Deus, na hora de Deus, as coisas vão se encaixar.
Precisamos tomar cuidado para não fazer aquilo que Deus não nos chamou a fazer,
para resolver o que consideramos ser a lentidão de Deus nos processos que ele
mesmo estabelecesse na história.
Muitas vezes, no afâ de vermos a obra de Deus
acontecendo, fazemos o que Deus nunca ordenou que fizéssemos, e, às vezes, até
aquilo que ele claramente disse para não fazermos. Quantos líderes, usam de uma
inapropriada e pecaminosa estratégia para ver a obra de Deus crescer? Dá
revelação que Deus nunca deu, faz sinais artificiais que não sinais divinos,
mas meramente humanos…Esta impaciência foi o princípio da queda de Saul.
Impulsionado por ela, se sentiu compelido a tomar decisões em fatos que ele não
era responsável. Isto parece muito com as decisões conciliares e pastorais que
são feitas sem que haja tempo para que o Senhor diga se quer ou não.
A impaciência leva-nos a tomar decisões em coisas
sobre as quais nao somos responsáveis.Por isto a Bíblia nos ensina: “Aquietai-vos e sabei que eu Sou Deus”.
(Sl 46.10). Em outras palavras Deus está nos pedindo para que possamos dar
espaço para que Ele aja, do seu jeito, na sua hora. Tudo será feito se apenas
sossegarmos e crermos que Ele pode fazer.
A impaciência leva jovens a não esperarem o tempo de
Deus nos seus relacionamentos. Leva lideranças a tomares decisões sem ao menos perguntar
a Deus o que Ele acha. Leva-nos a assumir posições para as quais Deus não nos
chama.
- Palavras
irrefletidas – “Estavam
os homens de Israel angustiados naquele dia, porquanto Saul conjurara o
povo, dizendo: Maldito o homem que comer pao antes de anoitecer, para que
me vingue de meus inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de provar o
pão.” (1 Sm 1424).
O povo de Israel estava no meio
da guerra com os filisteus, e Saul precipitadamente dá uma ordem esdrúxula,
para que o povo de Deus ficasse em jejum durante todo o dia. Certamente há
muitos momentos em que o jejum é aceitável e recomendável, mas certamente no
meio da guerra, não é uma decisão muito sábia.
Saul, entretanto, querendo
parecer um líder forte e impressionar seus líderados, decreta jejum que no
final vai expô-lo ao ridículo dinte de seus liderados. O problema não é o
jejum, mas o jejum fora da hora. Nenhum guerreiro pode jejuar durante a
batalha. Na verdade, precisa se alimentar e alimentar bem…Esta ordem era tão
absurda que seu próprio filho afirma: “Meu
pai turbou a terra” (1 Sm 14.24). E olha que seu filho Jônatas era um forte
aliado, não seu opositor.
O problema de sermos “prontos a falar”, é que quando falamos
precipitdamente, ficamos numa situação em que, ou reconhecemos o erro e pedimos
perdão de forma clara e inequívoca. (E o Evangelho nos estimula a vivermos uma
vida de arrependimento), ou, em casos mais complicados, e infelizmente mais
comuns, mantemos a postura de nossa infalibilidade, e tentamos manter situações
insustentáveis, apenas para não termos que admitir que erramos.
Certa feita um pastor estava presidindo a reunião do
Conselho de Igreja, quando, ao reavaliarem a decisão anterior, chegaram à conclusão
de que a decisão fora equivocada e desproposital. Diante do fato, um presbítero
sugeriu que dissessem a igreja que haviam errado e que pediam perdão pelo equívoco. Todavia,
um dos membros do conselho reagiu: “Mas onde fica nossa autoridade se dissermos
isto?” Ao
que, o outro presbítero respondeu sem vacilar: “Irmão, arrependimento é uma
virtude cristã”.
Por falar irrefletidamente Saul teve
perdas significativas na sua liderança:
(a) - Esvaziamento de sua autoridade – Jônatas,
que não ouviu a mensagem, quebrou sua ordem. Saul, para manter sua autoridade, manda
matar seu filho. Mas todo o exército, ficou contra ele, posicionando-se a favor
de Jônatas.
Líder premeditado, perde o respeito
de seus liderados e a autoridade para liderar. Isto não quer dizer que um líder
não venha a errar, mas quando um líder está constantemente assumindo posições
equivocadas e tomando decisões inconsistentes, ele perde sua liderança. Passa a
ser objeto de zombaria, e as pessoas não o respeitam mais.
(b) - Gera comportamentos estranhos e animalescos
nos liderados –
O texto mostra que, por causa da
decisão de Saul, os soldados ficaram esfaimados, e quando foram liberados para
comer, eles comiam a carne praticamente crua, ainda com sangue, o que, para a
cultura judaica era extremamente agressivo (1 Sm 14.32). Sua
decisão coloca seus soldados em risco espiritual, numa situação desnecessária e
desumana.
Muitos líderes legalistas agem
assim. Impõem cargas pesadas sobre os outros, muitas vezes numa atitude
disfarçada de espiritualidade, como no caso de Saul. Igrejas legalistas,
moralistas, tendem a serem imaturas emocionalmente e a emitirem comportamentos
ingênuos e tolos.
Como dissemos, o jejum não era
algo ruim em si mesmo, mas a imposição de tal jejum, naquele contexto
específico, tornou-se uma ordenança vazia, que, no final, ao invés de trazer
santidade, traz revolta e pecado. O próprio Saul se escandaliza com o que
acontece, e resolve fazer, pela primeira vez na sua vida, levantar um altar ao
Senhor, temendo que algum castigo de Deus pudesse vir sobre seu exército.
(c) - Expõe pessoas a perigos – Saul expõe
seu filho e seu exército ao perigo.
O primeiro foi guerrear sem estar
alimentado. Isto enfraqueceu o exército. O texto afirma que “o povo se achava exausto em extremo” (1
Sm 14.31). Saul expôs seu exército ao limite, de forma desnecessária.
Segundo, levou-os a pecar e
trazer juízo de Deus. Saul leva Jônatas a pecar, e leva seu exército a pecar (1
Sm 14.33). Existem leis e regulamentos que parecem feitos para ser quebrados e
atraírem o juízo de Deus.
- Rebeldia – “A rebelião é como pecado de feitiçaria
e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar” (1 Sm
15.23).
Ao desobedecer a ordem explícita
de Deus, Saul está se rebelando contra Deus. Creio que poucas vezes paramos
para pensar na desobediência de uma forma tão grave como esta. Desobediência é
conspiração e rebeldia contra o Senhor. Talvez este tenha sido, de todos, o
pecado mais grave e sério de Saul: Sua deliberada rebeldia.
Saul quer fazer as coisas a seu
modo, do jeito que ele acha que deve fazer, da forma como entende que deve ser
feito, e no tempo que acha propício. Ele não se importa com o que Deus diz, nem
lhe interessa saber a vontade de Deus, ele faz as coisas a seu bel-prazer. Ele
é “dono do seu nariz”, não quer prestar contas a ninguém, e não lhe interessa
saber o que Deus quer. Na sua rebeldia, vai se afastando de Deus, perdendo a
comunhão com o Pai.
Deus resolve castigar os
amalequitas, pela sua postura cruel e arrogante. Quando o povo de Deus veio do
Egito, eles não aceitaram que atravessasse seus domínios territoriais. Deus
então dá agora uma ordem clara para que Israel não tivesse misericórdia daquele
povo. Talvez Samuel já soubesse da índole de Saul, pois ao lhe dar a ordem,
fala bem claro e diretamente: “Enviou-me
o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; atenta, pois, agora, às
palavras do Senhor”. ((1 Sm 15.1) Em outras palavras, Samuel o relembra do
seu chamado, de sua vocação e diz. “Atenta, pois, agora, às palavras do SENHOR”.
A ordem era clara e dura. “Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e
destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes” (1 Sm 15.3) Nenhuma concessão deveria ser
feita, nem animais poderiam ser trazidos como despojo. Saul, porém, toma alguns
destes animais consigo, dando uma roupagem espiritualizada à sua rebeldia.
Sua desobediência é confrontada
por Samuel. Mas como pecadores que somos, facilmente encontramos boas desculpas
para nossas atitudes. Saul usa artifícios curiosos para justificar o que fez,
ele emprega argumentos espirituais para negar seu pecado. Quando Samuel o
encontra, ele tem um discurso bem religioso para se ocultar: “Bendito sejas tu do SENHOR; executei as
palavras do SENHOR” (1 Sm 15.13). Então Samuel lhe pergunta: Que balidos, pois, de ovelhas é este nos
meus ouvidos e o mugido de bois que ouço? (1 Sm 15.14). Saul,
estrategicamente dá duas explicacões para o caso:
(a)
- “De Amaleque os trouxeram”– (1 Sm 15.15). Saul
tenta dar a ideia de que ele não tem culpa na atitude que o povo tomou. Ele tenta
dividir sua culpa, encontrar bodes expiatórios para se eximir sua
responsabilidade. Transfere sua culpa para os outros.
(b)
“O povo poupou o
melhor das ovelhas e dos bois, para os
sacrificar ao Senhor, teu Deus”. (1 Sm 15.15). Isto é, espiritualiza
sua atitude. Tenta justificá-la com um argumento espiritual. Encontra um álibi
na adoração. Ao fazer isto é como se ele tentasse dizer que, se Samuel fosse um
pouquinho mais “espiritual”, entenderia sua atitude, afinal, iriam fazer um sacrifício
a Deus.
O mesmo artifício é encontrado nos
fariseus e também seria condenada por Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas
das viúvas e, para justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo
mais severo” (Mt 23.14)
Quais artifícios espirituais
usamos para acobertar a desobediência e motivações rebeldes?
Um conhecido pastor brasileiro,
querendo fazer uma campanha na igreja para um determinado projeto, depois de
uma longa mensagem sobre fidelidade financeira e com profundo ardor
missionário, resolve em meio a lágrimas, dar seu relógio de ouro, para que a
igreja pudesse também responder à urgência do apelo. Naquela semana, outro
pastor que estava participando do culto, vai visitá-lo, e, para sua surpresa, o
vê com o mesmo relógio que ele oferecera como oferta para a obra. Confrontado,
o pastor se defende dizendo: “Ora meu irmão, aquilo era apenas uma
teatralização, uma forma de estimular as pessoas a contribuirem”.
A resposta de Samuel expressa o
coração de Deus:
“Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios
quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que
o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura
de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é
como idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do
Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Sm 15.22-23).
Rebeldia é uma rejeição
deliberada à Palavra de Deus. Não é apenas um escorregão moral, nem um acidente de percurso, mas uma clara decisão de ir contra aquilo que Deus diz.
Um exemplo simples pode nos ajudar a entender isto:
Imagine um filho que, desastradamente, derruba um vaso caro de sua casa e o quebra. Você pode até ficar chateado, e até mesmo brigar com seu filho, mas o que aconteceu foi acidental. Não é resultado de desobediência. Portanto, não se trata de rebeldia. A Bíblia fala dos "pecados de ignorância". Estes pecados acontecem por desatenção, por desconhecimento, e apesar de serem falhas, não se tratam de uma rebelião contra Deus, ainda que seja pecado, porque "a ignorância da lei, não isenta o culpado".
Imagine agora outro quadro: você dá uma ordem para seu filho e ele, entendeu o que você falou, mas decide, declaradamente, não obedecer. Neste caso, é rebeldia. Ele sabe o que você disse, mas ignora e afronta as ordens recebidas. Isto é rebeldia. Uma desobediência deliberada.
Por isto a rebeldia é algo tão sério. É uma atitude intencional de não se submeter. Não é um descuido, nem um "escorregão", ou queda. O apóstolo Pedro fala dos homens que "deliberadamente esquecem" aquilo que é a realidade ou a verdade de Deus (2 Pe 3.15). É, portanto, algo, deliberado.
Fazemos isto quando nos entregamos a paixões carnais e achamos que tais paixões
são mais importantes que a obediência a Deus. Fazemos isto por causa da obstinação, dureza do coração e resistência a
Deus. Mas temos que nos lembrar que rebeldia não é algo sem implicações
espirituais, antes é muito mais sério que imaginamos.
Para Deus, a rebelião, nossa
decisão de irmos contra aquilo que ele diz “é
como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como idolatria e culto a ídolos
do lar”.
Pense sobre o que significa isto.
Quando pecamos deliberadamente, por rebeldia e
obstinação (cabeça dura), isto é como pecado de feitiçaria.
O que é isto?
É como se você estivesse praticando vudú ou indo ao
terreiro de umbanda para consultar um pai de santo, ou estivesse participando
de uma sessão espírita, invocando mortos. O texto nos afirma ainda que “a obstinação é como idolatria e culto a
ídolos do lar”. Como se você tivesse em sua casa uma imagem de um santo, e
se curvasse diante dela.
As comparações são muito sérias... pense nisto por um instante...
- Incapacidade
de lidar com as penumbras de sua própria alma – “Saul ficou muito irritado, com esse
refrão e, aborrecido disse: "Atribuíram a Davi dezenas de milhares,
mas a mim apenas milhares. O que mais lhe falta senão o reino? Daí em
diante Saul olhava com inveja para Davi. No dia seguinte, um espírito
maligno mandado por Deus apoderou-se de Saul e ele entrou em transe
profético em sua casa, enquanto Davi tocava harpa, como costumava fazer.
Saul estava com uma lança na mão” (1 Sm 18.8-10)
Outra sombra muito forte na vida
de Saul, foi sua dificuldade de olhar honestamente para dentro de si mesmo,
enxergar seu mal, assustar-se com ele e ser transformado. Saul prefere a via da
negação, não a do auto confronto e da confissão. Ele não vê, ou faz de conta
que não enxerga, quão doente estava seu coração.
Saul faz exatamente isto, ele não
consegue lidar com a ira Deus recomenda. A ira é uma resposta imediata a uma frustração, e pode se transformar em algo pecaminoso ou não.
Por isto a Palavra de Deus recomenda:
"Irai-vos e não pequeis. Não se ponha o sol sobre a vossa ira". (Ef 4.26).
Portanto, é possível irar-se, sem pecar. Ficar irritado muitas vezes é um comportamento humano natural e impulsivo. O grande desafio, contudo, é não transformar a irritabilidade em uma ira pecaminosa. Como isto acontece? Quando ela se transforma em ressentimento, amargura, ou torna-se explosiva e violenta. Há o risco de nos adoecer, ou de adoecer os outros. Em ambos é pecaminosa.
Preste, portanto, atenção, no que o texto diz logo em seguida:
"Nem deis lugar ao diabo" (Ef 4.27).
Não é interessante ver como vs. 26, está ligado ao vs. 27?
Ira pode se transformar em uma brecha para a ação maligna. Por meio da ira, Satanás tem obtido muitas vitórias sobre a vida das pessoas, no mundo dos negócios, na família e nas igrejas.
Nem é uma conjunção aditiva, isto é, ela complementa o texto anterior com o texto atual. O vs 26 se completa no vs. 27.
Portanto, cuidado com sua ira.
Trate dela de forma confrontativa. Não brinque com sua ira. Ela é um portal imenso para ação maligna na nossa vida.
Saul não entendeu isto e não tratou a ira de forma adequada.
Quando a ira entrava em seu
coração, ele não perguntava: Por que
estou agindo assim? Antes permitia que ela fecundasse em seu íntimo. Num
dia “ele se indignou muito” (1 Sm
18.8), e no dia seguinte, teve uma possessão maligna (1 Sm18.10).
Esta crise de raiva era o
resultado de não saber como lidar com suas profundas sombras, e buscar cura. De
um dia para outro a ira teve tempo de curtir, ao invés de buscar conselhos, já
que sua alma atormentada vivia sempre desconfiando dos outros, e tentar ajuda.
Saul abrigou a ira no seu coração ao invés de confrontá-la.
Muitos de nós corremos o mesmo
risco. Vemos determinados sentimentos hediondos descendo para nossa alma.
Deixamos a amargura penetrar em nossa alma, e ainda a alimentamos. Não nos
ocorre confrontar nossa natureza pecaminosa e atitudes mesquinhas. Não gostamos
de confrontação e nem de auto confrontação. Não queremos admitir a dura
realidade de nossa natureza falida e buscar cura onde podemos encontrá-la.
Negar nossos erros é um grande perigo. Idolatramos a nós mesmos, O coroamento disto é o pecado religioso. As sutilezas de nossos corações, que vai sofisticando a maldade dos nossos pecados, tornando-os mais complicados.Há muito pecado travestido de piedade e consagração. Religião é retroalimentada pelo pecado original- decidir fora de Deus.
Cruz, pecado, arrependimento e
confissão são termos impopulares, evitamos ter que lidar com tais realidades,
além do mais são termos que caíram de uso, a ordem hoje é saquear, reivindicar,
decretar. Todas linguagens de poder, não linguagem de fraqueza.
A única forma de lidar com as sombras é a confissão
sem rodeio, sem desculpas, o choro de uma alma que se vê perturbada mas entende
que a obra de Cristo e o poder do Espírito são capazes de nos transforma, que “a graça nos educa” (Tt 2.14). Confissão
transforma, desfaz a máscara, desmascara os artifícios frágeis e rompe o mito
de Narciso que facilmente nos assedia. A cruz revela o estrago do pecado. Deus
precisa mandar o filho para morrer em nosso lugar. Um ditado americano afirma que "sol é o melhor antisséptico". Portanto, deixe a luz do céu entrar nas suas trevas. Não deixe a vergonha e a culpa controlando e orientando a sua história.
Certo dia, depois de uma
discussão com minha esposa, sai de casa, como sempre o faço pecaminosamente
após tais situações, profundamente amargurado e desgostoso. No caminho, o
Espírito de Deus me fez reviver a cena, e perceber que eu havia errado, que
minha esposa estava certa, que não havia razão para eu estar irado. Como é
difícil olhar para a alma e reconhecer, mesmo num incidente tão corriqueiro que
estamos errados. Mais difícil ainda é voltar e dizer, errei, me perdoe! Minha
ira não tem motivo algum, esta obstinação do meu coração faz parte da minha
natureza pecaminosa e Deus precisa me curar.
A menos que entremos em contacto
com nosso mal, que vejamos nosso ser carnal e decidamos trazê-lo para ser
restaurado por Jesus, nada poderá ser feito. Quando não nos arrependemos de um
pecado, não o confessamos, tendemos a nos tornarmos mais insensíveis, mais
fechados e mais endurecidos.
Este é um grande perigo: ver o mal fora de nós mesmos.
Sem tristeza de pecado não há alegria da salvação (Sl 32; Tg. 5.16).
Pecado não admitido, não confessado, gera doença,
endurecimento. Confissão, se não curar doença, pelo menos cura hipocrisia Ela é
sempre positiva, mas como Saul, preferimos negar nossa culpa, transferi-la,
projetá-la. "O que endurece o seu coração jamais prosperará, mas o que confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Pv 28.13,14).
Jaqueline, uma mística da Idade
média, certa vez afirmou: “No julgamento, Deus não precisa proferir juízo, as
pessoas saberão diante de sua glória qual será seu destino. Confessar é antecipar
o encontro e garantir a salvação. Confissão gera absolvição legal”.
Quando confesso o meu pecado, abro caminho para
transformação, cura. Comunhão só é possível quando as máscaras caem. Na
confissão eu me descubro pecador/salvo. O pecado original tenta divinizar o
homem e humanizar Deus, a confissão nos traz de volta ao lugar onde sempre
temos que ficar. Reconhecendo nossos limites bem como a imensurável graça de
Deus.
Uma das leituras obrigatórias
para conselheiros e líderes é um texto de Scott Peck, um psiquiatra cristão.
Ele afirma:
“Uma característica predominante
do comportamento das pessoas malignas é o bode expiatório, porque em seus
corações eles se consideram acima da crítica. Sacrificam outros para preservar
sua auto-imagem de perfeição. Uma vez que sentem-se impecáveis usam o mecanismo
da projeção. Percebem os outros como maus, projetam o seu próprio mal no mundo.
O mal ataca o outro ao invés de defrontar-se com suas próprias falhas...Existem
pessoas que parecem destituídas de consciência ou superego. Os psiquiatras os
denominam de psicopata ou sociopata (…) O mal tem origem não na ausência da
culpa, mas no esforço em escapar dela...os malignos odeiam a luz, a luz da
bondade que os revela, a luz do escrutínio que os expõe, a luz da verdade que
penetra em sua decepção”
Numa palestra sobre confissão Osmar Ludovico afirmou
mais ou menos o seguinte:
“A desculpa é o anti-arrependimento. Assim, uma confissão
mesclada com desculpa é uma confissão podre; e, quem perdoa alguém que apresentou
desculpas, participa de uma farsa. O pedido de perdão é um “sacrifício” em que
eu ofereço e imolo o objeto de minha culpa. Eu o descubro, eu o apresento, em
todos os seus aspectos e ângulos (para minha vergonha) e o mato, na presença
daquela pessoa a quem ele fez mal. Aceito o sacrifício pela pessoa ofendida,
nós a enterramos para sempre!”.
Saul não buscou cura para seu
comportamento repleto de patologias espirituais. A cura para nossos pecados,
para nossa índole demoníaca, para os velhos hábitos tão duros de serem
sepultados, é um reconhecimento profundo e dolorido, uma confissão aberta e
franca. Só seremos restaurados se percebermos quão doente estamos e buscarmos
redenção no sangue do Cordeiro. “No compartilhar de nossas fraquezas,
encontramos graça”. Porque
Saul não entrava em contacto com as sombras terríveis de sua alma, não resolvia
seus conflitos internos e sua alma explodia em raiva, ira e frustração.
Saul não lidou com as brechas da
sua alma. Ele não lida com seus pecados de forma honesta e aberta. Ele sempre
tenta mascarar os problemas que estão por detrás de sua vida. Prefere o
silêncio, a amargura, que a busca de solução para sua alma perturbada. Isto vai
gerando espaços na sua alma para que Satanás possa agir. Conflitos não
resolvidos, pecados não perdoados, culpa não tratada, amargura infeccionada são
quase sempre o pano de fundo para a ação do diabo na vida das pessoas. As
manifestações satânicas que acontecem na vida de Saul sempre se deram depois de
alguma notícia ruim que ficou mal resolvida.
Um destes exemplos é relatado
quando Saul foi rejeitado por Deus por sua desobediência. Naquele dia, Samuel
se afastou de Saul e “Nunca mais viu
Samuel a Saul até ao dia da sua morte” (1 Sm 15.35).
Samuel é enviado à casa de Jessé,
para ungir o futuro rei de Israel. Saul sabe que foi rejeitado por Samuel e
isto certamente gerou no seu coração uma profunda ira contra Samuel, angústias
na alma e certamente noites mal dormidas. Neste contexto de pressão pública,
Saul entra num processo de “tormento espiritual” e o Espírito do Senhor se
afasta dele (1 Sm 16.14). A situação se torna tão grave que sua “enfermidade”
espiritual torna-se conhecida dos servos que sugerem encontrar alguém que saiba
tocar, e chamam Davi para ser o instrumento de Deus para trazer alívio e graça
àquele coração atormentado.
Saul torna-se presa de sua
amargura, escravo de seu ressentimento. Desenvolve uma atitude de raiva contra
a vida e suspeita contra todos. Não retorna ao Senhor para encontrar alento
para seu aflito coração, antes passa a infernizar os outros que viviam ao seu
redor. Saul se torna irreconhecível, literalmente ele está possesso, um
espírito maligno, enviado de Deus, passa a atormentá-lo.
Não é raro permitir que a alma
entre num ciclo de amargura e raiva. A ira, quando não trabalhada é fatal para
nosso equilíbrio interior.
Scott Peck afirma que “Ira é um
elemento crítico em quase todas as desordens psiquiátricas comuns”. Gary
Smilley afirma que “quando sepultamos a ira mal resolvida em nós, quase sempre
a sepultamos viva. Então ela vem e destrói como ferrugem no carro, como fungos em roupas
e livros encaixotados”.
A segunda vez que a Bíblia
descreve Saul possesso, tem a ver com sua inveja mal resolvida.
Parte daquela inveja nasceu por
causa da indiscrição dos seus liderados. Satanás sabe como um comentário sobre
nossa performance pode nos fazer mal, como uma crítica pode nos destruir. O
exército de Israel estava retornando de uma bem sucedida batalha, na qual os
filisteus foram duramente derrotados. “…as
mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando
e dançando, com tambores, com júbilo e com instrumentos de música. As mulheres se alegravam e, cantando alternadamente
diziam: Saul feriu os seus milhares, Mas Davi, os seus dez milhares…” (1 Sm 18.6-7)
Esta indiscrição gera sentimentos
muito ruins em seu coração. “Então, Saul
se indignou muito, pois estas palavras lhe desagradaram em extremo; e disse:
Dez milhares deram elas a Davi, e a mim somente milhares; na verdade, que lhe
falta, senão o reino?” (1 Sm 18.8). A partir daquele dia, desenvolve
uma atitude de inveja e hostilidade contra Davi, e no dia seguinte…”No dia seguinte, um espírito maligno, da
parte de Deus, se apossou de Saul, que teve uma crise de raiva em casa; e davi,
como nos outros dias, dedilhava a harpa; Saul, porém, trazia na mão uma lança
que arrojou dizendo: Encravarei a Davi na parede. Porém Davi se desviou dele por duas vezes” (1 Sm 18.10-11). A música
de Davi, que outrora era terapêutica, restauradora e inspirativa, torna-se
agora uma fonte de raiva.
Satanás age em Saul, pelas
brechas que seu coração vai deixando. Ele entra pela sua amargura, pela sua
inveja, pelas provocações que vai recebendo. Ele não sabe como resolver toda
esta ira enterrada viva no seu peito, como lidar com a perda de prestígio e
reputação, com a “concorrência”, e entra num quadro patológico e destrutivo.
Quais são as brechas que temos
deixado para Satanás em nossas vidas?
Pecados não confessados?
Relacionamentos cheios de
amargura e ressentimentos?
Ira sepultada viva nos destruindo
como ferrugem no carro?
Satanás é um ser de sombras, de
penumbras, que sabe usar bem as brechas que lhe damos para fazer estragos em
nossa alma. Satanás entrou na vida de Saul pela brecha do ódio, da inveja, da
amargura e da culpa.
- Inveja
de quem Deus usa – “as
mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul,
cantando e dançando, com tambores, com júbilo e com instrumentos de
música. As mulheres se alegravam e,
cantando alternadamente diziam: Saul feriu os seus milhares, Mas Davi, os
seus dez milhares…” (1 Sm 18.6-7)
Esta inveja, como mostramos
anteriormente, foi acentuada pela indiscrição de sua comunidade. (1 Sm 18.7,8)
Muitas vezes o povo, ao fazer
comparações, gera profundos danos no grupo de pastores e líderes de uma igreja
local. Quando o líder é tendente à hipocondria e à depressão, como era o caso
de Saul, isto traz conseqüências terríveis. O texto de 1 Sm. 18.12 diz que “Saul temia a Davi porque o Senhor era com
ele”.
Que motivação terrível para um
líder espiritual: Ter inveja do outro porque Deus o usa…
Saul resolve colocar Davi longe de
si, sem entender que quando Deus quer promover e honrar a alguém, tal pessoa
será bem sucedida onde estiver. O ódio de Saul vai aumentando tanto que ele negocia
sua própria filha, instrumentalizando-a (1 Sm18.21). O texto
revela que quanto mais Deus ama Davi, mais Saul o odeia, e Saul, “vendo o
sucesso de Davi”, desenvolve um medo patológico dele (1 Sm 18.15). A sombra de
Davi vai perseguindo Saul, como um fantasma.
Inveja, como afirmou certa vez
Roberto Campos, é o mau hálito da alma. Ela penetra na alma da gente, e procura
destruir o outro, que é objeto da inveja. Não deseja apenas possuir o que o
outro tem, substitui-lo, tomar o seu lugar, mas deseja também acabar com o
outro. Não basta estar no lugar do outro, ter o talento do outro, o outro
também precisa ser exterminado. “O invejoso emagrece da gordura do outro”. Dói mais
no invejoso o sucesso do outro, do que o próprio fracasso.
No caso de Saul, os talentos, o potencial de liderança
de Davi não puderam ser usados a seu favor, embora o fossem, ele precisava
destruir Davi, e tentou fazer isto algumas vezes. “De todas as características
comuns à natureza humana, a inveja é a mais lamentável. A pessoa invejosa não
apenas deseja infligir infortúnios aos outros, como também o faz, sempre que
pode agir impunemente, mas ela própria se torna infeliz devido à inveja”.
Obviamente nossa psiquê elabora
meios mais sofisticados para destruir o outro.
Depreciar o que o outro faz,
acentuar seus defeitos, revelar segredos (se o possuímos), trazer à tona coisas
da intimidade, podem ser algumas das malignas estratégias A maledicência e a
fofoca tornam-se meios profundamente sofisticados. Na igreja, assume até uma
forma espiritualizada. Que tal se a gente revelar o pecado e as sombras do
outro de uma forma piedosa numa reunião de oração, com voz impostada e humilde
dizendo: “irmãos, o fulano de tal tem passado por várias dificuldades, não
posso revelá-las naturalmente, mas precisamos orar por ele…” Isto gera grandes
perguntas, açula a imaginação, levanta questionamentos no meio da comunidade. Pela
inveja se destrói reputações, lança-se as sementes de desconfiança sobre o
caráter e semeia-se dúvidas.
Na verdade, a inveja abriga no
íntimo a admiração, ainda que mórbida, pelo outro. Kierkegaard.afirmou que
“Inveja é a admiração oculta”. Ela revela o nosso desejo de ter o que pertence
ao outro. “As qualidades que admiramos nos outros são geralmente as qualidades
que nos faltam”.
Saul várias tentou destruir Davi,
acusando-o, levantando suspeitas, questionando suas atitudes.
No caso dos sacerdotes de Nobe (1
Sm 21), Saul sentindo-se traído, quis mostrar que Davi era um monstro e jogar a
opinião pública contra ele. Várias vezes, tentou atrair a atenção de Jônatas,
seu filho, mostrando-lhe que Davi iria tomar seu lugar, e que ele precisava
romper com aquele relacionamento, colocar-se contra Davi. Formas sutis, mas
igualmente prejudiciais.
O ministério tem sido um campo
propício para a inveja. Pastores são muito avaliados em relação aos resultados
que produzem. Embora sucesso não seja o indicador verdadeiro de aprovação por
parte de Deus, se a igreja não está crescendo, começam a ser duramente
criticados. Ademais, quem já ouviu falar de um pastor de uma igreja
inexpressiva sendo convidado para falar em congressos e grandes conferências? O
resultado disto é que não raramente é fácil desenvolver inveja pelo sucesso do
outro.
Algum tempo atrás ouvi uma
pergunta num debate, que, apesar de ser uma pergunta elementar, me fez pensar
muito: “Quantos de nós oramos por avivamento nas igrejas que nos rodeiam?” Isto me chocou, porque
minha experiência pessoal era que eu orava para que Deus mandasse avivamento e
renovação para a minha igreja local. Na verdade, minha preocupação,
quase sempre, não era o crescimento do reino de Deus, mas da minha comunidade.
O que estava em jogo aqui, não era a glória de Deus, mas minha auto-promoção, o
desejo de ser reconhecido, aprovado, de gozar de boa reputação junto aos nossos
colegas de ministério.
O que fazer quando estamos orando
por avivamento, e ele começa a surgir na comunidade ao lado, e o vento do
Espírito ainda não sopra, com a intensidade que desejamos, em nossa comunidade?
Será que nossa reação realmente vai ser de alegria, ou de preocupação? Ai chega aquele irmãozinho piedoso, amigo seu
no ministério e faz o seguinte comentário, quase inofensivo, mas que gera um
sentimento terrível dentro de sua alma: “Pastor, viu como a igreja tal tem
crescido? Precisamos
trabalhar para que a nossa tamb’em cresça daquele jeito”.
Você sabe, que você tem feito o
melhor, que tem dado de si, mas os resultados simplesmente não chegam da mesma
forma. Aí você começa a comparar e julgar a estratégia de ministério do colega,
a criticá-lo, etc., mas realmente alguma coisa negativa surge em nosso coração:
“O que ele tem que eu não tenho?” ou, “estou fazendo alguma coisa errada?” ou
ainda pior, “será que realmente Deus me quer no ministério?”A inveja pode
penetrar por estes mecanismos e ser devastador para a alma, chegando ao ponto
de você desejar o fracasso da igreja do irmão, afinal, miséria detesta solidão…
“Quem desejar a felicidade humana, deve
aumentar a admiração e diminuir a inveja. A única cura para inveja é a
felicidade, e a dificuldade é que a própria inveja constitui terrível obstáculo à felicidade”. “A inveja é parte da expressão do
sofrimento daqueles que caminham às cegas pela noite, talvez rumo a um melhor
lugar de repouso, talvez apenas ao encontro da morte e da destruição. Para se afastar deste
desespero, o homem deve alargar o coração, como alargou o espírito”.
- Sentimento
persecutório – “E ele lhes disse: "Ouçam, homens de
Benjamim! Será que o filho de Jessé lhes dará a todos vocês terras e
vinhas? Será que ele os fará todos comandantes de mil e comandantes de
cem? É por isso que todos vocês têm conspirado contra mim? Ninguém me
informa quando meu filho faz acordo com o filho de Jessé. Nenhum de vocês
se preocupa comigo nem me avisa que meu filho incitou meu servo a ficar à
minha espreita, como ele hoje faz". (1 Sm 22.7-8).
Outra acentuada sombra na alma de
Saul foi o constante sentimento de que as pessoas o estavam perseguindo. É a
famosa “teoria conspiratória” que leva
a pessoa a crer que alguém está querendo destruí-lo, que existe um inimigo
trabalhando contra.
Líderes que desenvolvem tal
patologia, não conseguem confiar nos seus liderados e vivem constantemente numa
caça às bruxas. Pessoas com tais sentimentos se isolam, porque vivem
desconfiadas do que os outros podem estar fazendo contra elas. O grau pode
variar, mas a essência é a mesma. Vivem fugindo das suas próprias sombras,
encontrando suspeitos em cada esquina, nunca se sentem realmente amados, mas
constantemente ameaçados.
Saul vivia com a sensação de que
existia uma “conspiração” contra ele, que o levava a ver inimigos por toda
parte. Via todos contra si. O resultado disto é que ele foi tomado por
auto-comiseração, que o levou a tomar atitudes drásticas contra seus supostos
inimigos.
Veja o caso de 1 Sm 22.13-16.
Saul recebe, por meio de um
edomita chamado Doegue, a informação de que Nobe, o Deão da casa de profetas,
uma espécie de seminário para treinamento de profetas, estava contra ele,
porque dera objetos de uso particular daquele santuário para Davi, quando este
estava fugindo do rei. Quando Saul ouviu isto, saiu imediatamente para
confrontar o sacerdote. Ora, Nobe não
sabia de nada, nem sequer das brigas internas do palácio. Agiu por boa fé,
quando Davi, o genro do rei pediu para que ele providenciasse comidas e uma
espada por que estava numa missão secreta, Nobe prontamente acreditou nele e o
supriu com aquilo que era necessário, acreditando que estava favorecendo o rei.
Sua
motivação foi extremamente bonita, embora Davi estivesse mentindo.
Quando Saul chega ouve as
explanações de Nobe, dá um show de autocomiseração e de auto-piedade. Se faz de
coitadinho, põe-se como vítima, “Ninguém
há que se doa por mim” (1 Sm 22.8) e acusa seus liderados “não vos compadecestes de mim” (1 Sm 23.21).
A teatralização dele é boçal, Saul caiu vitimado pelo seu narcisismo doentio.
Ele sofria de uma doença que tem sido hoje chamada de “vitimismo”. Ele acreditava que todos os demais estavam contra ele.
Por causa disto Saul toma uma
atitude fria e bárbara. Sentindo-se traído, pede para os seus guerreiros
executem aqueles profetas. A cena é tão patética que, correndo o risco de serem
disciplinados por sua rebelião, os soldados, acostumados a matar friamente, se
recusam a matar aqueles homens de Deus, porque sabiam que aquilo era fruto da
insanidade do rei. Só Doegue, um gentio, sem temor de Deus, conseguiu executar
aquela tarefa tão louca, apesar dos insistentes apelos de Nobe para que Saul
reconsiderasse sua atitude. Tudo em vão. Seu sentimento de que vivia sendo
traído e perseguido foi maior que a capacidade de ter bom senso.
Já vi líderes assim. Ficam
loucos! Isolam-se!
Nem sua igreja nem sua família o
suporta. A insanidade vai aumentando com a passagem do tempo, tornando-se
doentes e sós. Vivem acreditando honestamente que estão todos contra ele, não
conseguem estabecer relacionamentos de intimidade, não conseguem se dar,
sentem-se ameaçados e traidos. Saul vai morrer assim. Sua família vai
percebendo que ele era louco, seus súditos percebem a mesma coisa, e ele vai
morrendo aos poucos, até não suportar mais e dar fim à sua própria vida.
- Envolvimento
com bruxaria e mediunidade – “Então
Saul disse aos seus auxiliares: "Procurem uma mulher que invoca
espíritos, para que eu a consulte". Eles disseram: "Existe uma
em En-Dor". A tradução RA afirma: “Apontai-me
uma mulher que seja médium”. (1 Sm 28.7).
Todas as sombras de Saul vão se
avolumando até chegar nesta situação extrema. Saul vai procurar uma médium para se consultar com ela. Ele tentou os profetas, mas Deus se manteve silencioso. Procurou os sacerdotes através do Urim e Tumim, mas os céus continuavam fechados. Deus queria o arrependimento de Saul, mas ele não veio. A atitude de Saul foi mais ou menos a seguinte: Já que o Senhor não me fala, vou procurar as entidades... Elas me ouvirão! Que desastre!
Satanás é mestre do engano e da
sutileza. Paulatinamente ele vai dilapidando valores existenciais e afastando Saul
da presença de Deus. Saul vai permitindo que Satanás aos poucos entre em sua
vida, até que ele se torna completamente emaranhado. O que se inicia com
conflitos no seu mundo psicológico, torna-se posteriormente as brechas para a
apostasia e satanismo.
Sempre me pergunto como é que
alguém pode se apostatar da fé? Como é que uma pessoa que cresce no Evangelho,
ouvindo a Palavra de Deus, posteriormente se envereda pelos descaminhos de uma
seita satânica e pelo misticismo distanciado de Deus? Saul começa seu
ministério com profundas experiências com Deus, e termina sua vida num centro
espírita, consultando uma médium, tentando falar com mortos.
O texto de 1 Sm. 28 Revela a
apostasia de Saul. Sua alma vai se tornando atemorizada, angustiada, sua
frustração e ira se tornam cada vez mais acentuadas, Satanás vai penetrando na
sua alma e ele não consegue encontrar uma forma de interromper as ações
malignas que se desencadeiam nele. Talvez por que fosse arrogante demais para
buscar socorro e ajuda sinceras.
Saul vai buscar orientação
espiritual, junto à médium de En-Dor. Ele vai atrás da feitiçaria, que ele
mesmo havia expulsado e banido de Israel.
Sua situação foi resolvida ao procurar uma médium? Isto mudou sua vida? Seu desespero e angústia foram resolvidos numa consulta às entidades espirituais? Não! pelo contrário. Três dias depois, ele não suportaria a vida e se suicidaria.
Todos estes processos foram
mortais desembocando na atitude suicida e desesperadora de sua alma no final de
sua vida. São atitudes que o levam a perda da dignidade, de Deus, e até mesmo
do sentido e do valor da vida,
esvaziando sua capacidade de ser humano.
A prática da mediunidade é
descrita aqui neste texto como o último degrau da apostasia de uma pessoa, é o
último estágio da derrocada espiritual de alguém. Quando Saul tenta articular
um encontro com o mundo do além via mediunidade, ele não resolve seu problema,
antes o aprofunda. Sua alma é tomada de pânico pela experiência mística e falsa
da qual participa. Samuel, que supostamente teria vindo, fala corretamente
daquilo que todos já sabiam: Que seu reino havia sido tomado e que Davi
assumiria o trono em seu lugar. Mas as profecias délficas e vagas que Satanás coloca
na boca daquela mulher não se cumprem da forma que foram dita.
A suposta personagem descrita no
texto com aparência de Samuel afirma que Saul estaria com ele no outro dia. “Amanhã, tu e teus filhos estareis comigo”.
A morte de Saul se deu pelo menos três dias depois (1 Sm 31.1).
Em segundo lugar, afirma que
todos os filhos de Saul morreriam com ele, mas nem todos os filhos de Saul
morreram. Pelo menos dois continuaram vivos. Um assumiu o reinado em seu lugar,
o outro, Mefibosete, que tinha um problema nos pés, receberia tratamento
especial de Davi, quando este assumiu o reinado.
Outras questões hermenêuticas
mais sérias vem a tona:
ü Será que
Deus, que não falara com Saul nem por sonhos, nem por profetas, nem por Urim e
Tumim, iria se sentir pressionado por uma sessão espírita a falar com Saul, num
método que ele próprio reprova?
ü Será que
Deus se sentiria pressionado a liberar o seu servo, Samuel, que estava no céu
para vir comunicar com os vivos, por causa de uma poderosa sessão espírita?
ü Será que
Jesus se equivocara ao dizer, na parábola do rico e Lázaro, que nenhum outro
método espiritual nos seria dado além da Lei e dos profetas, e que as pessoas
que não crêem nas Escrituras não se deixaram persuadir “ainda que” viesse alguém depois de morto para lhes falar? (Lc 16)
Além do mais, a sessão mediúnica
não ajudou psicologicamente a Saul, nem lhe trouxe qualquer contribuição
existencial. Aquela experiência esotérica e maligna, trouxe-lhe ainda mais peso
na alma, e ele cai prostrado. Entrou derrotado e saiu ainda pior.
O espiritismo não tem resposta
para o coração cansado. Para aqueles que estão cansados e sobrecarregados
existe um convite claro de Jesus: “Vinde
a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt
11.28)
Aquela visita à médium gera um
resultado catastrófico na vida de Saul, que desiste de lutar e de viver. Não
lhe trouxe arrependimento, nem o encorajou.
A Bíblia demonstra de forma clara
em outros textos, e de forma implícita neste lugar, quão grave é, aos olhos do
Senhor, esta tentação de contactar médiuns. Saul não morre como um herói, mas
como fracassado. Lança-se sobre sua própria espada, depois de ter sido ferido,
tirando a sua própria vida (1 Sm 31.4). A visita àquela sessão espírita foi
letal para a alma de Saul, foi o golpe de morte que ele trouxe sobre si mesmo.
Só mesmo um louco para fazer esta trajetória! Curiosamente isto se dá numa
busca desenfreada por encontrar a Deus.
Ainda hoje, quem procura ver um
sinal de Deus a qualquer preço, perde a Deus e sua própria alma.
Vivemos numa sociedade esotérica,
fascinada pelo mágico e pelo sobrenatural. O grande apelo hoje não é o do
secularismo, mas o misticismo. Religiões que atraem as pessoas hoje são aquelas
que prometem articular o sagrado, fazendo-o visível, tangível. Na verdade esta
é uma forma moderna de feitiçaria. Na feitiçaria, busca-se manipular o sagrado,
colocando o sobrenatural a nosso favor. O shaman
é aquele que consegue colocar as forças do universo para trabalhar debaixo de
suas ordens. É aquele que domina o invisível. Esta obsessão é maligna, quer
venha em forma de cristais, vidências, tarôs, macumbas, vudús, ou travestida de
uma espiritualidade cristã. O grande desejo é de mostrar poder sobre o
sobrenatural. De articular este mundo não perceptível. Ter o poder!
Pregadores carismáticos correm o
mesmo risco.
O que conta não é a dependência,
mas a capacidade de colocar o poder de Deus a nosso favor. Tudo é mágico.
Controlamos as enfermidades, controlamos o diabo, controlamos a natureza.
Venham para ver! Admirem o poder da feitiçaria eristã, da macumba
evangélica. O poder não é de Deus, antes
do pregador poderoso!
Conclusão:
A vida de Saul nos revela que o
que importa não é como você começa, mas sim como você termina. O que conta não é
a velocidade que você imprime à sua liderança no início dela, mas se você vai
chegar no batalhão de frente daqueles que correm. A Bíblia nos diz que “aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Fidelidade só no começo da carreira não
é suficiente. Há muito campo ainda para correr…Não desanimemos…
Nossa alma tem uma propensão para o mal e para o pecado. Não olhe o mal fora de você. Desde o início da civilização vemos Deus nos advertindo, como fez a Caim: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se procederes mal, eis que teu pecado será contra ti, e a ti cumpre dominá-lo (Gn 4.7). A luta contra o pecado é algo constante. Precisamos do Espírito Santo para nos dirigir e nos confrontar. Precisamos do sangue do Cordeiro para nos cobrir, precisamos da graça de Deus para gerar em nós arrependimento.
O coração é inclinado para as trevas, para a rebeldia, para a inveja, para o distanciamento de Deus. Você é bem pior que você imagina (Jr 17.9). Entretanto, a graça de Deus trabalhando em nós, inclina nossa alma, nos transforma, nos faz desejar a luz, a fugir das trevas. A graça de Deus é bem maior que você imagina que seja.
Conclusão
Questões para discussão:
- Por que tão facilmente nossa relação se torna
institucionalizada e não pessoal? Você já passou por situação semelhante?
Gostaria de compartilhar com o grupo?
- Como você lida com a questão da popularidade?
Você já passou (ou passa) por situação na qual você tem dificuldade de
testemunhar sua fé por necessidade de aprovação pública?
- Você já fraquejou na fé por causa das
circunstâncias? Alguém disse que “as pessoas são o passatempo das
circunstâncias”. O que pensa disto?
- Qual é mais fácil: fazer um sacrifício pessoal ou
admitir o erro?
Samuel Vieira - Medford, MA
04/05/98 14:49
Refeito, Anápolis, Outubro 2019
.Rubem Alves, O enigma da
religião, pg. 118
Horácio: Revista unitas, 1947, pg. 393
Russel, Bertrand., A
conquista da felicidade, pg. 80
. Russel, B. Op. Cit. pgs. 81. 89