segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Ex 20.12; Dt 5.15 Honra o teu pai e a tua mãe

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Antes de entrar propriamente no texto, gostaria de compartilhar esta mensagem:

No dia em que Deus criou as mães (e já vinha virando dia e noite há seis dias), um anjo apareceu-lhe e disse:
        - Por que esta criação está lhe deixando tão inquieto senhor?
E o Senhor Deus respondeu-lhe:
        - Você já leu as especificações desta encomenda? Ela tem que ser totalmente lavável, mas não pode ser de plástico. Deve ter 180 partes móveis e substituíveis, funcionar a base de café e sobras de comida. Ter um colo macio que sirva de travesseiro para as crianças. Um beijo que tenha o dom de curar qualquer coisa, desde um ferimento até as dores de uma paixão, e ainda ter seis pares de mãos.
O anjo balançou lentamente a cabeça e disse-lhe:
        - Seis pares de mãos Senhor? Parece impossível!?!
Mas o problema não é esse, falou o Senhor Deus - e os três pares de olhos que essa criatura tem que ter?
O anjo, num sobressalto, perguntou-lhe:
        - E tem isso no modelo padrão?
O Senhor Deus assentiu:
        - Um par de olhos para ver através de portas fechadas, para quando se perguntar o que as crianças estão fazendo lá dentro (embora ela já saiba); outro par na parte posterior da cabeça, para ver o que não deveria, mas precisa saber, e naturalmente os olhos normais, capazes de consolar uma criança em prantos, dizendo-lhe: 'Eu te compreendo e te amo!' - sem dizer uma palavra.
E o anjo mais uma vez comenta-lhe:
        - Senhor...já é hora de dormir. Amanhã é outro dia.
Mas o Senhor Deus explicou-lhe:
        - Não posso, já está quase pronta. Já tenho um modelo que se cura sozinho quando adoece, que consegue alimentar uma família de seis pessoas com meio quilo de carne moída e consegue convencer uma criança de 9 anos a tomar banho...
O anjo rodeou vagarosamente o modelo e falou:
        - É muito delicada Senhor!...
Mas o Senhor Deus disse entusiasmado:
        - Mas é muito resistente! Você não imagina o que esta pessoa pode fazer ou suportar!
O anjo, analisando melhor a criação, observa:
        - Há um vazamento ali Senhor...
        - Não é um simples vazamento, é uma lágrima! E esta serve para expressar alegrias, tristezas, dores, solidão, orgulho e outros sentimentos.
        - Vós sois um gênio, Senhor! - disse o anjo entusiasmado com a criação.
        - Mas isso não fui eu que coloquei. Apareceu assim...

Introdução:

Os quatro primeiros mandamentos estão direcionados à nossa relação com Deus. Este é o primeiro mandamento da lista de nossos deveres para com os outros, e inicia-se com os relacionamentos familiares: Honra o teu pai e a tua mãe!

Mesmo sabendo que os mandamentos contém uma ênfase positiva, o único que vem escrito sem o “não” é o Quinto Mandamento.

Para uma melhor avaliação deste tema, levantamos quatro questões:
  1. O que significa honrar nossos pais?
  2. Por que honrar nossos pais?
  3. Para que honrar nossos pais?
  4. Como honrar nossos pais?

  1. O que significa honrar pai e mãe?

Invariavelmente a resposta que os pais dão a esta pergunta, tem a ver com a dignidade do filho. Pais são honrados quando os filhos possuem dignidade de caráter e de moral. Pais se plenificam nos filhos. O fracasso do filho fere a auto-imagem dos pais, traz culpa, humilhação e vergonha. O filho que honra é aquele que não traz embaraços para seus pais.

Em 1989, o então, o Presidente do Banco Central do Brasil, declara em cadeia nacional, ao ver seu filho envolvido num grave escândalo policial: “Meu filho sempre foi uma vergonha. Ele é desastrado”. Ao afirmar isto, ele não estava com raiva e nem havia ódio, mas profunda tristeza.

Honrar é dignificar. Os pais entram num processo de desestabilização e culpa quando seus filhos são desregrados ou vivem sem dignidade e respeito. Ouvi sobre a confissão de um homem logo após seu primeiro infarto: “Se morrer, saiba que meus filhos me mataram”.  

A Bíblia afirma: “O filho sábio alegra seu pai, mas o insensato é a tristeza de sua mãe” (Pv. 10:1).

  1. Por que honrar nossos pais?

Gostaria de observar pelo menos duas razões para honrarmos nossos pais:

  1. Honrar aos pais traz honra – Se é correto afirmar que pais se sentem honrados quando os filhos são honrados, devemos também entender que filhos que honram os pais também recebem honrarias.

Pv. 30.17 faz uma observação muito séria sobre a desconsideração de filhos para os pais.
“Os olhos de quem zomba do pai ou de quem despreza a obediência á sua mãe, corvos do ribeiro os arrancarão e pelos filhotes da águia serão comidos”.

É uma advertência grave porque tem os olhos apontam para a capacidade de visão e interpretação dos fatos, de fazer leituras corretas da vida. Ter os olhos arrancados significa não ser capazes de enxergar e ver a vida com clareza. A perda de visão atinge os afetos, torna as emoções confusas, afeta a espiritualidade. Obviamente esta é uma linguagem simbólica, mas o sentido salta aos olhos do leitor atento. Não honrar os pais, retira de nós a capacidade de enxergar corretamente a vida, afinal, os olhos são a lâmpada da alma...

Talvez seja por isto que este mandamento seja o primeiro mandamento com promessa. “Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor, teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. (Dt 5.15).

Para termos benção do Senhor e alegria na vida precisamos honrar nossos pais.

  1. Precisamos honrar nossos pais por Deus ordenou que assim o fizéssemos - “Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor, teu Deus te ordenou” (Dt 5.15).

Honrar os pais não é convenção social, nem foi articulado por homens, mas pelo próprio Deus. Este é o quinto mandamento, e implica que, na síntese de todos os mandamentos que Deus queria dar ao povo, este foi o primeiro relacionado aos relacionamentos. Deus nos ordenou. Esta é uma ordem da criação. Tem a ver com o design e a gênese humana.

Esta deveria ser uma razão mais que suficiente para que honrássemos os nossos pais. O livro de provérbios é cheio de recomendações sobre este assunto: “Quem maltrata o pai, e expulsa a mãe é filho indigno e infame” (Pc 19.26). Honrar significa considerar com dignidade, atender suas necessidades com respeito. É mais que obediência, embora isto esteja implícito na honra.

  1. Para que honrar nossos pais?

  1. Para que se prolonguem seus dias na terra - Este Mandamento é também curioso, porque é o único mandamento com uma promessa.

Honra o teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias
na terra que o Senhor Deus te dá” (Ex 20.12).

Honra os pais significa qualidade de vida para os filhos.
Não existe filho “abençoado” que não possua uma relação de cuidado, zelo e honra pelos pais, por mais difíceis e complicados que estes sejam. E olha que já pais bem complicadinhos por ai... Gostaria ainda de ressaltar que este mandamento não é uma carta branca para pais levianos, pérfidos e irresponsáveis.

Este texto parece apontar para a longevidade da vida. Filhos que possuem relação positiva com seus pais têm maior capacidade de viver longamente.
Se você deseja ter longos dias na terra, é melhor honrar pai e mãe.

  1. Para que te vá bem na terra - Numa época onde a autoridade é tão relativizada, precisamos lembrar do propósito de Deus ao estabelecer a família.

Este mandamento impõe à comunidade o cuidado com os idosos que já não são mais produtivos. Possui uma dimensão social. Somente a consciência que não foi sensibilizada por Deus enxerga os seres humanos como meros agentes de produção. Por isto, não existe aposentadoria que substitua a responsabilidade de honra dos filhos para com seus pais.

Honrar ao pai e mãe traz qualidade de vida para nós.
Muitas vezes vejo pessoas tão preocupadas em cuidar de sua saúde física, comida naturalista, nada de fritura, carne, coca cola nem pensar, muita academia e malhação para que tenham saúde no final da vida, mas aqui encontramos uma boa recomendação aos fisiculturistas e vegetarianos, que prezam tanto pela qualidade de vida e bem estar: “Honra ao teu pai e tua mãe para que te vá bem!”.

A Bíblia não fala nada sobre o culto ao corpo, mas fala que precisamos cuidar de nossos relacionamentos se quisermos qualidade de vida. Não conheço gente abençoada e plena sem honrar os seus pais.

  1. Como honrar nossos pais?

Esta é a quarta pergunta que fizemos sobre este mandamento. Existem caminhos e atitudes que geram honra e precisamos estar atentos.

  1. A maior honra dos pais é a honra dos filhos – já dissemos isto anteriormente e vale a pena frisar. Pais se realizam nos filhos, por mais que saibamos que cada um precisa viver sua própria vida, mas a reputação dos filhos, em geral, respinga nos pais, algumas vezes de forma até mesmo neurótica e, digamos, injusta.

Alguns anos atrás acompanhei um casal idoso, com seus filhos criados, e um dos filhos se envolveu num escândalo moral. Ao vê-los sofrendo tanto pelo seu filho, que naquela época tinha 43 anos, considerei comigo que aquilo não era justo, afinal, eles não deveriam assumir o fracasso do filho daquela forma, e me perguntei até que ponto pais precisam assumir responsabilidade sobre atitudes de filhos já criados... Continuo ainda fazendo a mesma pergunta, mas se existe uma coisa que dá honra aos pais é ter filhos honrados.

Jonas Neves Rezende certa vez afirmou sobre sua filha, Lídia Brondi, uma artista global: “Ela é o meu melhor curriculum vitae”. Sei que ele estava fazendo um elogio à filha, mas eventualmente brinco com meus filhos dizendo que eles são o meu melhor curriculum vitae.

Nenhuma honra é maior para os pais que a honra dos filhos. Nenhuma desonra é maior para os pais que filhos envergonhados publicamente, desmoralizados, desonrados e acusados. Talvez seja por isto que a Bíblia nos diga: “O filho sábio alegra o seu pai, mas o insensato é a tristeza de sua mãe” (Pv 10.1).

  1. Filhos honram seus pais através de reconhecimento e apreciação  Aliás, apreciação é a linguagem mais forte da vida e a mais esquecida por nós. Muitos tem facilidade para depreciar, mas poucos estão abertos para uma apreciação séria e profunda.

O Salmo 128 descreve o homem bem aventurado como aquele que tem a benção, de, na sua velhice, assentar-se ao redor da mesa com seus filhos, e compartilhar a comida, o vinho, o pão. Nada é mais desastroso para um velho que a solidão de seus próprios familiares, não ter a benção de seus filhos e netos, porque eles simplesmente não se importam com seus pais e avós. Este para mim é o protótipo do homem infeliz e fracassado.
O Salmo 23.8 fala que o bom o pastor há de nos providenciar bondade e misericórdia, todos os dias da nossa vida.

Sei que o texto está nos garantindo a benção de Deus, para aqueles que são guiados pelo pastor, mas me indago também se este texto não pode ser aplicado à nossa capacidade de, quando ainda velhos, sermos capazes de expressar bondade e misericórdia. Existem muitos velhos que se tornam ranzinzas e mau humorados, narcisistas, deprimidos e egoístas, muitas vezes, mesmo sendo homens ricos, mas morrendo avarentos e sem nenhuma alegria em andar ao lados de seus filhos. A Bondade e a misericórdia de Deus deve nos acompanhar todos os dias de nossa vida, até a nossa morte.

Conclusão:

Não posso me furtar a concluir este texto falando sobre a necessidade de aprendermos também a honrar nossos pais, sem idealizá-los.

Nossos pais são pecadores. Falham, se equivocam, tomam atitudes e decisões erradas, e se os amarmos apenas se forem perfeitos, nunca conseguiremos de fato honrá-los. Precisamos de honrar sem idealizar: sendo capaz de perceber seus equívocos, sem negar sua humanidade, nem seus fracassos, mas lhe dando honra, mesmo quando percebemos suas imperfeições. O problema de amar de forma idealizada é que queremos amar pessoas que sejam perfeitas.

Um dos textos que me fazem pensar acerca disto é o relato do encontro de Salomão, com sua mãe, Batheseba. Quando ela se aproxima dele, diante do trono real, logo após a sua coroação, ele manda colocar um trono ao seu lado, e a dignifica (1 Rs 2.19).

Quem era sua mãe?
Ela fora a “Mônica Lewinsky” de Davi. Entretanto, Salomão a trata com dignidade, a promove e a reconhece como mãe. Isto para mim é um bom exemplo de amar sem idealizar. Ela era aos olhos da população a mulher que havia gerado um drama sem precedente em Israel, mas ainda assim era a mãe, e este a faz assentar-se no trono, ao seu lado. Tudo mundo sabia do currículo de Batheseba, e ele não era nada bom, mas ainda assim, Salomão a honra fazendo-a assentar-se ao seu lado.

Não é assim que Deus também nos ama?
A Bíblia diz que Jesus morreu por nos, sendo nós ainda pecadores. Ele não nos amou porque éramos justos e bons, mas ainda assim nos deu nome, filiação, identidade. O amor de Deus é assim, maravilhoso.

Deus não nos ama de forma idealizada, mas nos ama apesar de nosso desatino, desencontro e desajuste. Seu amor é perfeito, nós não. Deus nos honra apesar de nossa desonra.

Toda vez que olharmos para a cruz, precisamos entender o paradigma de Deus. Este é o amor que deve nos inspirar. E isto particularmente me desafia. Amar nossos pais que pecam, cometem idiossincracias, se equivocam, comprometem a unidade e a graça da família, geram dívidas e dilapidam heranças financeiras com jogos, amantes ou vícios.

Somente um  amor gracioso, como o que Deus demonstrou na cruz, pode nos libertar das decisões e atitudes que nos comprometem.

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