sábado, 15 de fevereiro de 2020

Gal 2.1-21 A ineficácia da Lei e a operosidade do Evangelho



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Introdução:

Historicamente a igreja muito facilmente se desvia do Evangelho. É fácil perder o evangelho e se voltar para a lei. A Igreja da Galácia, fundada por Paulo, trinta anos depois de ser plantada, estava se distanciando frontalmente do Evangelho, por causa de um grupo que surgiu dentro dela. Eles eram enfáticos em suas posições, a ponto de constranger as pessoas (Gl 2.3), mas as regras que eles tentaram impor eram opostas à liberdade do Evangelho.

No estudo anterior observamos que:
  1. O zelo é insuficiente – (Gl 1.14). Apesar do zelo ser uma virtude encorajada na fé cristã (Rm 12.11), ele facilmente se transforma em radicalização. É muito comum ter zelo sem entendimento (Rm 10.-13).

  1. A tradição é inoperante (Gl 1.14) – João Batista denunciou a atitude dos religiosos judaicos que diziam “temos por Pai a Abraão”. Há sempre um grave perigo de achar que a tradição é suficiente e isto pode nos afastar do caminho de Deus e irmos com toda nossa tradição, “tradicionalmente” caminhando para o inferno (Lc 3.8).

Neste texto, outras verdades se tornam evidentes:

  1. Estratégias humanas são falíveis – (Gl 2.2) Paulo, fez alguns planos, estabeleceu algumas metas para a ação pastoral, descobrindo posteriormente, que apesar de todas elas parecerem tão bem estruturadas, elas estavam na direção errrada. Ele achava que a estratégia certa seria estar próximo das pessoas que tinham mais influência (Gl 2.2), mas posteriormente entendeu que “quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido outrora, não me interessa), Deus não aceita a aparência do homem, esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa, nada me acrescentaram) (Gl 2.6).

  1. As opiniões humanas são equivocadas – Paulo sofre neste texto uma pressão de um grupo. Ao chegar em Jerusalém, os cristãos judaizantes pressionaram Tito a circuncidar-se. É fácil sucumbir à pressão de ideias, mas Paulo foca sua visão no Evangelho para não perder a essência da mensagem. A grande tentação dos irmãos da Galácia foi o de acrescentar algum novo elemento ao evangelho.

Quais seriam os elementos que tentariamos acrescentar ao evangelho para dar validade a mensagem em nossos dias?

·       Se voce não falar em linguas, voce ainda nao é batizado no Espírito Santo, e se isco não acontece, você não pode ter certeza de sua conversão...
·       Se voce nao leu a Confissao de Fé de Westminter...
·       Ritos externos: se voce nao cortar o cabelo, nao usar saia determinado tipo de roupa.
·       Se voce não participa do G12...
·       Comportamentos religiosos: lista de coisas por fazer. Deus não pode amar você se não tem estes costumes...

Muitas atitudes são importantes, outras se parecem muito espirituais, mas elas retiram a centralidade do Evangelho (Col 2.20-23). Estes grupos surgem dentro da igreja e passam a constranger as pessoas, dizendo que seu ponto de vista deve prevalecer e você começa a ter a impressão de se não agir como eles você está fazendo algo errado.

A resposta de Paulo:
Não aceitar estas pressões porque elas desviam os olhos do Evangelho e da plena suficiência da cruz. Paulo diz: “aos quais, nem por uma hora nos submetemos, para que a verdade doe evangelho permanecesse entre vós” (Gl 2.5). Porque se você ceder, pelo menos em algum ponto, terá a impressão de que isto é realmente importante para a fé cristã.

As armadilhas da Lei:
A lei possui alguns fascínios. Paulo afirma isto em Gl 3.1. Estes atrativos nos aprisionam. Como Paulo e Tito superaram tal constrangimento? Colocando a fé naquilo que era essencial.

  1. A verdade do Evangelho nos liberta de constrangimento de falsos irmãos (Gl 2.3,4). Se você está firmado no Evangelho, nunca vai ficar inseguro em relação às alegadas pretensões daqueles que tiram os olhos de Cristo e colocam em outras coisas. Estar seguro do evangelho é libertador. Nos liberta da acusação do diabo e das pressões de grupos.

  1. A verdade do Evangelho nos livra das armadilhas do legalismo. Este texto ensina que é mais facil entender a lei de forma mental que de forma prática- (Gl 2.9). 

Veja o exemplo dos apóstolos.
Eles sabiam que a graça havia sido estendida aos gentios e reconheceram isto no Concílio de Jerusalém (At 15.12-19). Este assunto já havia sido discutido, num contexto de muita contenda e grande discussão (At 15.2), portanto, era fato acceito que  gentios e judeus não eram diferentes aos olhos de Deus e que ambos precisavam da graça de Deus. Mas este conhecimento era apenas intelectual. Eles não sabiam quão dificil isto seria na prática teológica e na dinâmica da igreja. Quando tiveram que lidar com a realidade da graça, que acolhia igualmente os gentios, eles recuaram, não conseguiram superar os anos de tradicionalismo e religiosidade judaica. Quando precisaram abraçar os que não eram judeus, esta inclusividade da graça se tornou escandalosa e eles voltaram aos rudimentos religiosos. Os pressupostos arraigados da tradição estavam presentes, no caso, a superioridade moral dos judeus e a incapacidade de dialogar com pessoas diferentes.

Vemos aqui o peso da tradição.
Pedro representa o grupo mais conservador da igreja. Em Atos 10, ele chegou a chamar a atenção de Deus quando este lhe ordenou que matasse e comesse dos animais que estavam no lençol  branco que descia do céu. Era a tradição pesando...

Agora, ao chegar na Galácia, estava até superando seu conservadorismo, conversando animadamente com os gentios, até a chegada da comitiva do Concílio de Jerusalém, que representava a ala mais tradicional da igreja. Nesta hora, Pedro tem uma forte recaida por causa de sua tradição.

Paulo percebe esta discriminação de Pedro.
O que aconteceu?
Quando, porém, vi que não procediam corretamente, segundo a verdade do evangelho”(Gl 2.14). Ao procederem de acordo com a tradição, tornaram-se frios em seus relacionamentos e distantes. Eles se consideraravam superiores espiritualmente e se distanciaram dos irmãos que não eram judeus.

O que acontece quando perdemos o evangelho?

  1. Perdemos o centro e nos preocupamos com o periférico. O que era central? A inserção  dos gentios que agora aceitavam a graça e se tornavam cristãos. O que era periférico? A pressão religiosa que eles sentiram para agradar a comitiva que veio de Jerusalém.

  1. Protegemos a instituição e perdemos o evangelho. O que Pedro estava tentando fazer? Ele sabia como os judeus pensavam, ele era judeu. Agora, com a presença dos irmãos de Jerusalém, ele retrocede no processo de amor e cuidado com os gentios. O que levou Pedro a esta atitude? “...quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão” (Gl 2.12). Ele teve medo. Sua reputação estava em jogo, ele queria a aprovação das pessoas.

O problema de Pedro era reputação.
Ele temia não ser aceito pelos seus líderes.

  1. Perdemos a afetividade e nos tornamos frios, e até mesmo hostis, em nossos relacionamentos. “afastou-se e, por fim, veio a apartar-se”. (Gl 2.11). Um dos resultados mais fantásticos do evangelho é um coração amoroso. Em geral legalistas se preocupam muito com formas, mas pouco com pessoas. Tornam-se acusadores, não acolhedores.

  1. Nos tornamos dissimulados. Perdemos a autenticidade. “a ponto de o próprio Barnabé, ter-se deixado levar pela dissimulação deles” (Gl 2.13). Pedro se tornou dissimulado. Antes interagia com os gentios, mas com a chegada dos membros de Jerusalém, não queria mais assentar-se com os gentios.

  1. Contaminamos outros.a ponto de o próprio Barnabé, ter-se deixado levar”. Aparentemente Barnabé não teria sofrido imediatamente este choque cultural, mas agora com a atitude do grupo de judeus, influenciado por Pedro, Barnabé embarca também nesta trágica atitude de discriminação e desamor.
O texto parece revelar uma grande tristeza de Paulo pela atitude de Barnabé. Uma outra tradução diz: “até Barnabé”. Ele foi o discipulador de Paulo, foi ele quem mostrou a riqueza da graça de forma mais profunda a Paulo, foi ele quem o inseriu na igreja, e agora, o seu mentor, agia desta forma. Paulo está desiludido com tudo.

  1. Nos tornamos repreensíveis. “Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas na presença de todos” (Gl 2.14). Paulo fez sua admoestação a Pedro publicamente. Ele chamou a atenção de Pedro diante de todos e repreendeu a todos.

Qual o centro da repreensão: Porque você se diz judeu mas vive como pagão? (Gl 2.14-15).

Traduzindo: Por que você se diz cristão e trata os outros com tamanha discriminação, frieza e indiferença? Tão zeloso, mas tão frio?

Aqui surgem as perguntas essenciais sobre a operação do evangelho em nossas vidas: Pergunte a si mesmo: Como o Evangelho tem transformado meu coração? Tenho tido sensibilidade para com meus irmãos? Tenho tido um coração aberto para o arrependimento e a aceitação dos outros irmãos ou me julgo superior espiritualmente?

Viver debaixo da lei nos leva à uma vida de aparência e dissimulação. Podemos até sermos zelosos e levantarmos as bandeiras do tradicionalismo, mas isto não muda meu coração em relação aos outros irmãos e me torno frio no tratamento com as pessoas. O resultado espiritual é trágico: hipocrisia e cinismo: A partir daí facilmente, dissimulação.

Mesmo o amoroso Barnabé, grande pastor, o filho da exortação, sucumbiu ao doentio fascínio da lei.. A lei precisa ser questionada constantemente pelo Evangelho. vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho.

Conclusao:
Eu estou vivendo de acordo com o Evangelho.
O que me diz o Evangelho?

Não são apenas os descrentes que rejeitam a graça de Deus, mas o povo de Deus também o faz. O problema: Se eu me esquecer da essência do Evangelho, eu me perco em outros detalhes e coloco meu coração em outros lugares. Não podemos aceitar a pressão da lei. Nem por uma hora. Esteja alerta! A lei vai te pegar novamente.

O cerne do evangelho
Em Gl 2.16, temos uma das melhores sinteses bíblicas sobre o Evangelho.

Paulo começa este texto com a afirmação: “sabemos”.
Ao lermos isto nos perguntamos: será que sabemos mesmo?

  1. O homem não é justificado pela sua moral, ritos religiosos, religião ou curriculo espiritual. Por esta razão, nem o zelo, nem as aparências, nem a tradição, nem a justiça pessoal, nada pode substituir a obra de Cristo na cruz. Portanto, desista de você mesmo e creia no Evangelho. Sua moral não te salva. “o homem não é justificado por obras da lei... por obras da lei, ninguém será justificado”. (Gl 2.16).

  1. Apenas Jesus pode nos tornar justos diante do Pai – Isto é tão límpido, que Paulo escreve duas vezes a mesma coisa, no mesmo versículo (Gl 2.16) como se quisesse nos lembrar. Isto é quase um pleonasmo: “...mediante a fé em Cristo Jesus” e “justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei”. A luta para conseguir a aprovação diante de Deus baseado em nossas obras, caridade, ou espiritualidade não apenas é inútil, mas nos afasta dos méritos de Cristo e nos condena. “Mas, se procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Claro que não!” (Gl 2.17).

O que Paulo está dizendo é que, se Cristo não nos justifica, esta crença nele está nos condenando. Se sua obra na cruz não é suficiente mas ainda assim colocamos falsamente nossa confiança no seu sangue, então Jesus se torna ministro do pecado, e não aquele que nos liberta da morte e da condenação eterna. Entrentanto, Cristo morreu por nós (e nada mais pode ser acrescentado a isto), portanto, não posso ignorar o poder de sua morte (Gl 2.21).

  1. Se a justiça é mediante a Lei, segue-se que Cristo morreu em vão: “Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2.21). A lógica é contundente: Se a morte de Cristo não significa nada, então por que ele morreu na cruz?

  1. O Segredo: O texto Bíblico vai agora estabelecer o cerne da vida cristã. Aqui reside toda compreensão do significado de Cristo na cruz. “Estou crucificado com Cristo” (Gl 2.19). Seguir a Cristo não é uma questão de concordância teológica sobre alguns pressupostos da fé. Precisamos crer em Cristo? Sim! Pois é mediante a fé que somos justificados. Mas a fé cristã é bem mais que mero assentimento intelectual.

O que precisa acontecer?
Precisamos morrer com Cristo!

Alguns anos atrás, estava dirigindo um estudo bíblico para homens em Anápolis. Participava daquele grupo um homem que atualmente é senador da república. Ele era um tanto introspectivo, filosófico, questionador, atento ouvinte. Um dia o assunto foi exatamente sobre a necessidade de seguir a Cristo, se tornar um verdadeiro discípulo de Cristo. Então ele, reflexivamente afirmou: “Pastor, eu acho que estou entendendo isto, creio que não estou muito longe...” E eu, tão amoravelmente quanto podia, respondi olhando nos seus olhos. “A questão é bem mais profunda... precisamos morrer na cruz com Cristo”.

E ele ficou, pensativo, considerando esta verdade.
Não sei se ele assumiu a fé cristã, mas recentemente ouvi um de seus discursos, e ele possuia uma linguagem bem evangélica. Isto pode não dizer nada, mas pode dizer muito...

É necessário morrer com Cristo.
sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruido, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm 6.6).

Morrer com Cristo é o cerne da mensagem cristã
Morrer com Cristo é fundamental para compreensão do Evangelho.
Morrer com Cristo gera identificação profunda com o Filho de Deus.
Estamos nele. Vivemos nele. Andamos nele. Estamos firmados nele

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