“E foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; e sua mãe deu-lhe o nome
de Jabez, dizendo: porquanto com dores o dei à luz. Porque Jabez invocou o Deus
de Israel, dizendo: se me abençoares muitíssimo e meus termos ampliares, e a
tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu
o que lhe tinha pedido”.
Introdução:
Esta oração se tornou muito
conhecida por causa de um pequeno livro escrito por Bruce Wilkinson. É um livro
atraente e muito bem escrito, e qualquer um pode lê-lo rapidamente. Embora haja
alguns equívocos na interpretação de Wilkinson, isto não significa que não
possamos pregar e refletir sobre a mensagem deste texto.
O texto começa afirmando que
Jabez se tornou mais ilustre que seus irmãos. No meio de uma grande quantidade
de nomes, ele tem seu nome realçado por causa de uma oração que fez. Enquanto
os nomes de outros são apenas registrados, o de Jabez é colocado em evidência.
Curiosamente, o nome “Jabez”, significa
sofrimento ou tristeza. Sua mãe lhe deu este nome “porque com dores o dei à luz”(1 Cr 4.9). Portanto, ele já nasce com
um tom de desequilíbrio, e recebe um nome nada simpático. Entretanto, este
menino estigmatizado, é transformado através de uma oração simples com quatro
pedidos diretos experimentando uma profunda mudança na sua história de fracasso
e condenação para uma história que mudou sua vida e a de seus descendentes.
Jabez destacou-se entre os demais
apesar de ter uma marca negativa em sua vida. O seu nome, indica uma possível
deficiência física cuja fonte não podemos identificar. Na cultura judaica, o
nome representa uma marca, filiação ou identidade. Jabez já trazia no seu nome
um estigma, já que era chamado de tristeza desde pequeno, mas, ao invés de ser
conhecido pela “dor”, Jabez foi reconhecido como alguém ilustre, distinto,
notável.
Onde está a sua nobreza? Ela está
identificada no seu relacionamento com o Senhor. O fato dele se tornar mais
ilustre que seus irmãos nos ensina que Deus cuida dos desfavorecidos. Por que
Jabez foi mais ilustre do que seus irmãos?
O que o fez sobressair? O que ele fez de diferente? Nada mais nada menos
que uma oração. Sem sua oração ele não seria diferente.
A oração de Jabez é encontrada em
uma nota histórica dentro de uma genealogia: "Foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; sua mãe chamou-lhe Jabez,
dizendo: Porque com dores o dei à luz.”(1 Cr 4.9-10). Pouco se sabe sobre este
homem, exceto que ele era um descendente de Judá, um homem honrado e sua mãe
chamou-lhe "Jabez" (que significa "triste" ou "que
causa dor". Alguns ainda traduzem Jabez por sequidão e deserto, porque o
seu parto tinha sido doloroso. Em sua oração, ele clama a Deus por proteção e
bênção. Para que esse nome lhe fosse dado ele deve ter representado algum tipo de
sofrimento.
1.
A quem Jabez dirige sua oração? “Jabez invocou o Deus de Israel” (1 Cr 4.9).
Jabez entende o que muitas
pessoas ainda hoje não entendem: As orações devem ser direcionadas ao Deus de
Israel. Ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Existem muitas orações, mas para quem
se dirigem as orações? É muito comum vermos pessoas dizendo: “Eu espero que a
mãe natureza nos proteja”. Natureza não tem pessoalidade nem personalidade. Há
apenas um Deus e Ele deve ser o centro de nossas orações. "Confia ao SENHOR as tuas obras, e os teus
desígnios serão estabelecidos". (Pv 16.3). Ele ora especificamente
Àquele que pode protegê-lo do mal e da dor. "Jabez invocou o Deus de Israel".
É muito importante orar, mas mais
importante ainda é orar corretamente. Muitos estão pedindo proteção de ídolos,
de deuses falsos, mas não dirigem suas orações a quem de fato pode protegê-los:
O Deus de Israel.
Usando um jogo de palavras,
Jabez, o "homem de dores", pede a Deus para protegê-lo do sofrimento.
Jabez portanto, consciente de sua insuficiência, orou a Deus por ajuda. Ele
pediu a bênção de Deus: ele pretendia ser preservado de perigos aos quais
estava exposto.
2. O conteúdo de sua oração:
A Oração de Jabez é composta de quatro
partes.
A. Primeiro, Jabez pede que Deus o
abençoe.
Esta é a oração mais básica e
essencial da vida. Nós precisamos da benção de Deus!
Muitas vezes a nossa história
pessoal é marcada por desatinos e até mesmo estigmas pesados, sejam estes
lançados sobre nós através das pessoas ou por causa das consequências de nossos
pecados e decisões errôneas.
Estar debaixo da benção de Deus é
fundamental. Mesmo para alguém impuro e profano quanto foi Esaú, entendia isto.
Quando seu pai lhe declarou que a benção de Deus havia sido dada a Jacó, ele
experimentou profunda dor. Precisamos orar pela benção. Uma das coisas mais
fantásticas do evangelho é a benção que Deus promete ao seu povo. O Salmo 67
nos fala sobre isto: “Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe, e faça
resplandecer sobre nós o seu rosto” (Sl 67.1). A benção araônica diz o
seguinte: “O SENHOR te abençoe e te
guarde; O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia
de ti; O SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.”(Nm 6.24-26).
Deus deu diretamente a Arão e a seus descendentes essa oração poética. Ele
deveria proferi-la em seu ministério sacerdotal a fim de abençoar o povo. Seu
uso, certamente não está confinado ao clero. Essas belas palavras tem sido
empregadas em incontáveis ocasiões através dos séculos dos séculos como meio de
pedir a Deus favorecimento a outros. Elas incluem um pedido de proteção e
livramento de preocupação.
Coisa maravilhosa é estar debaixo
da graça de Deus. Não somos amaldiçoados, mas abençoados. Pecadores, mas
lavados pelo sangue do Cordeiro. Injustos declarados justos aos olhos de Deus
por causa da obra expiatória de Cristo. Aos olhos de Deus, por meio de Cristo,
somos perdoados e amados. Que grande benção temos na aceitação incondicional
dada por Deus através de Cristo.
O motivo mais elementar de nossas
orações deve ser a benção de Deus.
B. Segundo, ele pede a Deus que alargue
o seu território.
É curioso orar para que Deus
expanda nossa vida.
Não raramente somos dominados por
ambientes tóxicos e limitantes.
Considere a vida de Jabez. Ele nasceu
sob um estigma profundo. Seu nome era associado à tristeza e à dor que causara
à sua mãe. Sem que sua mãe percebesse ela o nomeou para uma vida aquém de suas
possibilidades.
Benoni ou Benjamin?
Há um relato interessante na vida
de Jacó. Quando Raquel deu à luz a Benjamin, ela não conseguiu sobreviver às
agruras do parto, mas antes de sua morte, pediu a parteira que colocasse o nome
de Benoni no seu filho. Estranhamente, porém, Jacó não atende ao último pedido
de sua esposa. Isto pode parecer uma grande insensibilidade de Jacó, já que
preferiu chamá-lo de Benjamin. Quando, porém, vamos estudar o sentido destes
nomes, entendemos perfeitamente o motivo de Jacó não ter atendido a Raquel (Gn
35.16-18). O nome “Benoni” significa, “filho da minha dor”, ao passo que o nome
Benjamin significa: “O filho do lado direito do peito”. Todas as vezes que
perguntassem o nome daquele menino, ele seria associado a um evento de
tragédia, mas agora, todas as vezes que perguntassem seu nome, ele estaria
associado a alguém especial e querido, como de fato foi.
Ambientes limitantes, pessoas
deprimidas, estigmas familiares, podem diminuir o espaço dos nossos pés e
sonhos. Precisamos orar para que Deus nos ajude a vivermos de forma plena,
abundante, cheio de graça. Não precisamos ser condenados a uma vida de
limitação. Jabez ora para que Deus alargue as suas fronteiras, que seu
horizonte fosse mais amplo e Deus atendeu o que ele tinha pedido.
Jabez ora pela vitória e
prosperidade em todos os seus empreendimentos e que sua vida fosse marcada por
progresso.
C. Terceiro, ele pede para que a presença
de Deus estivesse com ele.
É interessante observar que as
duas primeiras orações são de natureza material, humana: Ele queria
primeiramente a benção de Deus, e em segundo lugar, uma largueza de horizontes,
a capacidade de ir além das suas fronteiras e limites. A terceira oração,
entretanto, é de natureza mais espiritual. Ele não quer apenas a benção de Deus
e prosperidade na vida: Ele quer o próprio Deus.
É muito comum nos atermos as bençãos
de Deus e nos esquecermos do Deus da benção. Muitos estão interessados no que
Deus pode dar, mas se esquecem da maior riqueza da vida, que não é algo que
Deus nos dá, mas é sua presença.
Quando Deus diz a Moisés que ele
mandaria seu anjo adiante dele, e lhe daria vitória na terra de Canaã, mas que
não seguiria com o povo, Moisés responde: “Se
a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar. Pois como se há
de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é porventura em
andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os
povos da terra?” (Ex 33.15-16).
O que Moisés afirma é que não
basta termos a benção de Deus. Existem muitas famílias abençoadas materialmente
por Deus. Receberam muitas propriedades, bens, riquezas, mas são apenas bênçãos
maeriais, e tais pessoas se esquecem da maior riqueza que podemos ter que é a
companhia de Deus.
Os dez leprosos, receberam a cura
de suas doenças. Tiveram a benção de Deus. Mas apenas um voltou para agradecer.
E este ouviu de Jesus o que nenhum dos outros nove ouviu: “E disse-lhe: levanta-te e vai; a tua fé te salvou” (Lc 17.19).
Todos os demais foram libertos das suas enfermidades, mas só este teve a benção
de Cristo para sua alma. Há um grande risco em nossa vida de não
recebermos a salvação junto com a cura. Jesus assegura ao homem agradecido uma
nova condição. Não só do corpo, mas da alma. Benção completa. “O milagre
faz parte do Evangelho, mas o milagre não é o Evangelho. O milagre pode curar,
mas não salvar”.
Quando apenas a benção e não o
abençoador, nos basta, surge uma distorção. Aqueles homens foram curados. Deus
não lhes tirou a benção de terem novamente um corpo sem manchas, uma vida sem
restrições sociais e familiares, uma caminhada fora do duro estigma que cercava
os leprosos naqueles dias. Eles foram fisicamente curados. Mas a maior benção,
que teria impacto eterno, não veio sobre suas vidas. O Evangelho precisa chegar aos
nossos corações, e não apenas aos nossos corpos.
D. Por último, ele pede que Deus o
proteja do mal para que não lhe sobrevenha aflição.
Que oração precisa, cirúrgica!
Ele pede proteção contra o mal.
Jesus ensinou os Seus discípulos
a orarem: "Pai nosso, que estás nos
céus.... livra-nos do mal" (Mt 6.9, 13). Uma outra tradução tem me
chamado a atenção: “livra-nos do
maligno”. Jesus nos ensina a orar para que estejamos libertos do poder do
mal. O diabo intenta contra nossa alma, ele quer destruir nossa alegria, nossa
comunhão, nossas famílias. Muitas vezes tratamos das questões familiares e
lutas no casamento como se estas coisas fossem meramente psicológicas,
existenciais e humanas. Será que não paramos para pensar um pouquinho sobre o
poder, extensão e eficácia do mal?
Jabez ora para que Deus o proteja do mal para que não lhe
sobrevenha aflição!
O mal gera aflição, tristeza,
desconforto.
O objetivo de Jabez em sua oração era viver livre da tristeza, e Deus ouviu e atendeu a sua oração. A oração devota foi respondida. Jabez orou ao Deus de Israel: e Deus atendeu ao pedido.
Cuidados necessários quando
estudamos a oração de Jabez
1. A oração de Jabez não é barganha. Ele não oferece nada em troca a Deus, até mesmo
porque ele tinha pouco ou quase nada.
Sua vida era marcada por
restrições conforme estudamos. Este menino seria destinado ao fracasso.
Entretanto, Deus o abençoou profundamente. A mãe de Jabez tinha lhe dado um
nome complicado, e sua vida, antes da oração, parecia apontar para mais uma
vida de desastres e limitações.
O que existe em sua oração além
de sua profunda fé em Deus? Nada! Ele orou de forma precisa e direta. Ele exercitou
sua fé e creu em Deus. Como homem de Deus ele orou. Simples assim. Não existe
nada mágico em sua oração, apenas fé. Afinal, a Bíblia diz em Hebreus 11.6 que
Deus “é galardoador daqueles que o buscam”.
Sua vida pode adquirir novo
sentido, sua história pode ter uma orientação diferente, apenas pelo simples
fato de orar. O Deus de Jabez, é o nosso Deus e ele pode nos fazer enxergar novas
oportunidades e ampliar nossas fronteiras se o buscarmos. Jabez “invocou ao Deus de Israel”. Invocar, significa
“recorrer a alguém”. O Deus de Israel havia prometido prosperar o seu povo e
ele apenas recorreu a um princípio que o próprio Deus estabelecera, de que
quando alguém humildemente o buscasse ele ouviria dos céus as suas preces e as
responderia. Jabez fez o que uma pessoa de fé deve fazer: invocar o nome de
Deus.
2.
A oração de Jabez não é um
mantra.
Muitas pessoas quando leem o
livro de Bruce Wilkinson, passam a acreditar que basta repetir estas mesmas
palavras e suas vidas estarão resolvidas. Desta forma, a oração se torna uma
questão de mera repetição, basta imitar a oração a fim de receber grandes
bênçãos e realizar grandes feitos para Deus. Assim, as palavras desta oração
passam a ter um certo elemento mágico: basta recitá-la para receber a benção.
Infelizmente é desta forma que temos
tratado a oração dominical e o credo apostólico. A oração dominical é um modelo
de oração, não é um mantra a ser repetido indefinidamente, de forma impensada e
que pelo simples fato de “recitá-la”, estaremos recebendo a benção. Jesus
estava ensinando os motivos que devem estar presentes numa oração.
O credo apostólico não é sequer
uma oração. É um credo. Portanto, deve ser reafirmado por todos aqueles que
seguem a linha dos apóstolos. Uma das formas para sabermos como a pessoa é
ortodoxa nas suas convicções cristãs, é perguntando se ela realmente crê em
tudo aquilo que o Credo Apostólico sugere.
3.
Precisamos fugir da tentação de
que, se orarmos, nada de ruim vai acontecer.
Esta pode ser uma grande tentação
ao estudarmos esta oração: Se orarmos, seremos vitoriosos.
Eu creio que a presença e a vida
de comunhão com Deus trazem em si mesmas, muitas benção aos nossos corações.
Mas muitas vezes Deus permite que passemos por provações, mesmo tendo uma vida
de oração dedicada. Paulo orou ao Senhor pedindo que ele tirasse dele seu
espinho na carne, mas Deus lhe respondeu dizendo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Deus
não quis atender o pedido de Paulo, porque tinha planos e propósitos para sua
vida através daquele sofrimento que ele experimentava.
Isaias afirma: “Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó
Deus de Israel, ó salvador” (Is 45.15). Isaias faz esta declaração depois
de ter ouvido: “Eu formo a luz e crio as
trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is
45.7). Deus é misterioso, e caminha no meio da tempestade e da tormenta, como
afirma o profeta Naum.
A presença de Deus não elimina a
dor, mas ilumina a dor. A presença do pastor não nos impede de caminhar pelo vale
da sombra da morte, mas ainda ali, “a sua vara e seu cajado me consolam”. O bom
pastor não elimina adversidade, mas prepara uma mesa na presença dos
adversários. No meio da vergonha, da oposição e da acusação, Deus dá honra.
Quando orarmos, precisamos
reconhecer a soberania de Deus, inclusive diante das tentações e provações.
4.
A oração de Jabez nos fala de
algo tremendo: Deus cuida de gente aparentemente destinada ao fracasso.
Jabez seria mais uma pessoa
marcada por uma história de negação, entretanto, Deus o abençoou. Não deveria
esta mesma verdade encher nosso coração de fé e esperança quando nos
aproximamos deste Deus maravilhoso?
Este texto nos fala de um Deus
que pega uma criança, um filho de Israel, filho da dor e da tristeza e muda sua
história, tornando-o “mais ilustre e
notável que seus irmãos”. Ele estava destinado a ser o filho da tristeza, mas
torna-se honrado. O fato dele se tornar mais ilustre que seus irmãos nos ensina
que Deus cuida dos desfavorecidos. Deus cuida de gente desprezada e humilhada.
O centro da oração não é a
fórmula da oração, nem o poder do orante (aquele que faz a oração), mas do
poder do Deus que ouve as orações. Orações não tem a ver com pessoas especiais,
mas com um Deus especial. “Elias era
homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância,
para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
O orou de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tg
5.18). A Bíblia coloca o poder não naquele que ora, mas naquele que ouve as
orações. Afinal, não sabemos orar como convém, mas o Espírito Santo ora por
nós, com gemidos inexprimíveis. Não sabemos sequer, orar corretamente. Graças a
Deus temos o Espírito como intercessor existencial.
O segredo não está na oração de
Jabez, nem no homem magnífico que eel foi, mas no Deus maravilhoso a quem ele
dirigiu suas orações. Ele simplesmente procurou o Deus correto.
Que Deus nos abençoe!
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