sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

1 Cr 4.9,10 A Oração de Jabez




E foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; e sua mãe deu-lhe o nome de Jabez, dizendo: porquanto com dores o dei à luz. Porque Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: se me abençoares muitíssimo e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido”.

Introdução:

Esta oração se tornou muito conhecida por causa de um pequeno livro escrito por Bruce Wilkinson. É um livro atraente e muito bem escrito, e qualquer um pode lê-lo rapidamente. Embora haja alguns equívocos na interpretação de Wilkinson, isto não significa que não possamos pregar e refletir sobre a mensagem deste texto.

O texto começa afirmando que Jabez se tornou mais ilustre que seus irmãos. No meio de uma grande quantidade de nomes, ele tem seu nome realçado por causa de uma oração que fez. Enquanto os nomes de outros são apenas registrados, o de Jabez é colocado em evidência.

Curiosamente, o nome “Jabez”, significa sofrimento ou tristeza. Sua mãe lhe deu este nome “porque com dores o dei à luz”(1 Cr 4.9). Portanto, ele já nasce com um tom de desequilíbrio, e recebe um nome nada simpático. Entretanto, este menino estigmatizado, é transformado através de uma oração simples com quatro pedidos diretos experimentando uma profunda mudança na sua história de fracasso e condenação para uma história que mudou sua vida e a de seus descendentes.

Jabez destacou-se entre os demais apesar de ter uma marca negativa em sua vida. O seu nome, indica uma possível deficiência física cuja fonte não podemos identificar. Na cultura judaica, o nome representa uma marca, filiação ou identidade. Jabez já trazia no seu nome um estigma, já que era chamado de tristeza desde pequeno, mas, ao invés de ser conhecido pela “dor”, Jabez foi reconhecido como alguém ilustre, distinto, notável.

Onde está a sua nobreza? Ela está identificada no seu relacionamento com o Senhor. O fato dele se tornar mais ilustre que seus irmãos nos ensina que Deus cuida dos desfavorecidos. Por que Jabez foi mais ilustre do que seus irmãos?  O que o fez sobressair? O que ele fez de diferente? Nada mais nada menos que uma oração. Sem sua oração ele não seria diferente.

A oração de Jabez é encontrada em uma nota histórica dentro de uma genealogia: "Foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; sua mãe chamou-lhe Jabez, dizendo: Porque com dores o dei à luz.”(1 Cr 4.9-10). Pouco se sabe sobre este homem, exceto que ele era um descendente de Judá, um homem honrado e sua mãe chamou-lhe "Jabez" (que significa "triste" ou "que causa dor". Alguns ainda traduzem Jabez por sequidão e deserto, porque o seu parto tinha sido doloroso. Em sua oração, ele clama a Deus por proteção e bênção. Para que esse nome lhe fosse dado ele deve ter representado algum tipo de sofrimento.

1.     A quem Jabez dirige sua oração?Jabez invocou o Deus de Israel” (1 Cr 4.9).

Jabez entende o que muitas pessoas ainda hoje não entendem: As orações devem ser direcionadas ao Deus de Israel. Ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Existem muitas orações, mas para quem se dirigem as orações? É muito comum vermos pessoas dizendo: “Eu espero que a mãe natureza nos proteja”. Natureza não tem pessoalidade nem personalidade. Há apenas um Deus e Ele deve ser o centro de nossas orações. "Confia ao SENHOR as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos". (Pv 16.3). Ele ora especificamente Àquele que pode protegê-lo do mal e da dor. "Jabez invocou o Deus de Israel".

É muito importante orar, mas mais importante ainda é orar corretamente. Muitos estão pedindo proteção de ídolos, de deuses falsos, mas não dirigem suas orações a quem de fato pode protegê-los: O Deus de Israel.

Usando um jogo de palavras, Jabez, o "homem de dores", pede a Deus para protegê-lo do sofrimento. Jabez portanto, consciente de sua insuficiência, orou a Deus por ajuda. Ele pediu a bênção de Deus: ele pretendia ser preservado de perigos aos quais estava exposto.  

2. O conteúdo de sua oração:

A Oração de Jabez é composta de quatro partes.

A.    Primeiro, Jabez pede que Deus o abençoe.

Esta é a oração mais básica e essencial da vida. Nós precisamos da benção de Deus!

Muitas vezes a nossa história pessoal é marcada por desatinos e até mesmo estigmas pesados, sejam estes lançados sobre nós através das pessoas ou por causa das consequências de nossos pecados e decisões errôneas.

Estar debaixo da benção de Deus é fundamental. Mesmo para alguém impuro e profano quanto foi Esaú, entendia isto. Quando seu pai lhe declarou que a benção de Deus havia sido dada a Jacó, ele experimentou profunda dor. Precisamos orar pela benção. Uma das coisas mais fantásticas do evangelho é a benção que Deus promete ao seu povo. O Salmo 67 nos fala sobre isto: “Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o seu rosto” (Sl 67.1). A benção araônica diz o seguinte: “O SENHOR te abençoe e te guarde; O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; O SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.”(Nm 6.24-26). Deus deu diretamente a Arão e a seus descendentes essa oração poética. Ele deveria proferi-la em seu ministério sacerdotal a fim de abençoar o povo. Seu uso, certamente não está confinado ao clero. Essas belas palavras tem sido empregadas em incontáveis ocasiões através dos séculos dos séculos como meio de pedir a Deus favorecimento a outros. Elas incluem um pedido de proteção e livramento de preocupação.

Coisa maravilhosa é estar debaixo da graça de Deus. Não somos amaldiçoados, mas abençoados. Pecadores, mas lavados pelo sangue do Cordeiro. Injustos declarados justos aos olhos de Deus por causa da obra expiatória de Cristo. Aos olhos de Deus, por meio de Cristo, somos perdoados e amados. Que grande benção temos na aceitação incondicional dada por Deus através de Cristo.

O motivo mais elementar de nossas orações deve ser a benção de Deus.

B.    Segundo, ele pede a Deus que alargue o seu território.

É curioso orar para que Deus expanda nossa vida.
Não raramente somos dominados por ambientes tóxicos e limitantes.

Considere a vida de Jabez. Ele nasceu sob um estigma profundo. Seu nome era associado à tristeza e à dor que causara à sua mãe. Sem que sua mãe percebesse ela o nomeou para uma vida aquém de suas possibilidades.

Benoni ou Benjamin?
Há um relato interessante na vida de Jacó. Quando Raquel deu à luz a Benjamin, ela não conseguiu sobreviver às agruras do parto, mas antes de sua morte, pediu a parteira que colocasse o nome de Benoni no seu filho. Estranhamente, porém, Jacó não atende ao último pedido de sua esposa. Isto pode parecer uma grande insensibilidade de Jacó, já que preferiu chamá-lo de Benjamin. Quando, porém, vamos estudar o sentido destes nomes, entendemos perfeitamente o motivo de Jacó não ter atendido a Raquel (Gn 35.16-18). O nome “Benoni” significa, “filho da minha dor”, ao passo que o nome Benjamin significa: “O filho do lado direito do peito”. Todas as vezes que perguntassem o nome daquele menino, ele seria associado a um evento de tragédia, mas agora, todas as vezes que perguntassem seu nome, ele estaria associado a alguém especial e querido, como de fato foi.

Ambientes limitantes, pessoas deprimidas, estigmas familiares, podem diminuir o espaço dos nossos pés e sonhos. Precisamos orar para que Deus nos ajude a vivermos de forma plena, abundante, cheio de graça. Não precisamos ser condenados a uma vida de limitação. Jabez ora para que Deus alargue as suas fronteiras, que seu horizonte fosse mais amplo e Deus atendeu o que ele tinha pedido.

Jabez ora pela vitória e prosperidade em todos os seus empreendimentos e que sua vida fosse marcada por progresso.

C.    Terceiro, ele pede para que a presença de Deus estivesse com ele.

É interessante observar que as duas primeiras orações são de natureza material, humana: Ele queria primeiramente a benção de Deus, e em segundo lugar, uma largueza de horizontes, a capacidade de ir além das suas fronteiras e limites. A terceira oração, entretanto, é de natureza mais espiritual. Ele não quer apenas a benção de Deus e prosperidade na vida: Ele quer o próprio Deus.

É muito comum nos atermos as bençãos de Deus e nos esquecermos do Deus da benção. Muitos estão interessados no que Deus pode dar, mas se esquecem da maior riqueza da vida, que não é algo que Deus nos dá, mas é sua presença.

Quando Deus diz a Moisés que ele mandaria seu anjo adiante dele, e lhe daria vitória na terra de Canaã, mas que não seguiria com o povo, Moisés responde: “Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar. Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é porventura em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?” (Ex 33.15-16).

O que Moisés afirma é que não basta termos a benção de Deus. Existem muitas famílias abençoadas materialmente por Deus. Receberam muitas propriedades, bens, riquezas, mas são apenas bênçãos maeriais, e tais pessoas se esquecem da maior riqueza que podemos ter que é a companhia de Deus.

Os dez leprosos, receberam a cura de suas doenças. Tiveram a benção de Deus. Mas apenas um voltou para agradecer. E este ouviu de Jesus o que nenhum dos outros nove ouviu: “E disse-lhe: levanta-te e vai; a tua fé te salvou” (Lc 17.19). Todos os demais foram libertos das suas enfermidades, mas só este teve a benção de Cristo para sua alma. Há um grande risco em nossa vida de não recebermos a salvação junto com a cura. Jesus assegura ao homem agradecido uma nova condição. Não só do corpo, mas da alma. Benção completa.  “O milagre faz parte do Evangelho, mas o milagre não é o Evangelho. O milagre pode curar, mas não salvar”.

Quando apenas a benção e  não o abençoador, nos basta, surge uma distorção. Aqueles homens foram curados. Deus não lhes tirou a benção de terem novamente um corpo sem manchas, uma vida sem restrições sociais e familiares, uma caminhada fora do duro estigma que cercava os leprosos naqueles dias. Eles foram fisicamente curados. Mas a maior benção, que teria impacto eterno, não veio sobre suas vidas. O Evangelho precisa chegar aos nossos corações, e não apenas aos nossos corpos.

D.   Por último, ele pede que Deus o proteja do mal para que não lhe sobrevenha aflição.

Que oração precisa, cirúrgica! Ele pede proteção contra o mal.

Jesus ensinou os Seus discípulos a orarem: "Pai nosso, que estás nos céus.... livra-nos do mal" (Mt 6.9, 13). Uma outra tradução tem me chamado a atenção: “livra-nos do maligno”. Jesus nos ensina a orar para que estejamos libertos do poder do mal. O diabo intenta contra nossa alma, ele quer destruir nossa alegria, nossa comunhão, nossas famílias. Muitas vezes tratamos das questões familiares e lutas no casamento como se estas coisas fossem meramente psicológicas, existenciais e humanas. Será que não paramos para pensar um pouquinho sobre o poder, extensão e eficácia do mal?

Jabez ora para que Deus o proteja do mal para que não lhe sobrevenha aflição!
O mal gera aflição, tristeza, desconforto.

O objetivo de Jabez em sua oração era viver livre da tristeza, e Deus ouviu e atendeu a sua oração. A oração devota foi respondida. Jabez orou ao Deus de Israel: e Deus atendeu ao pedido.

Cuidados necessários quando estudamos a oração de Jabez

1.     A oração de Jabez não é barganha. Ele não oferece nada em troca a Deus, até mesmo porque ele tinha pouco ou quase nada.

Sua vida era marcada por restrições conforme estudamos. Este menino seria destinado ao fracasso. Entretanto, Deus o abençoou profundamente. A mãe de Jabez tinha lhe dado um nome complicado, e sua vida, antes da oração, parecia apontar para mais uma vida de desastres e limitações.

O que existe em sua oração além de sua profunda fé em Deus? Nada! Ele orou de forma precisa e direta. Ele exercitou sua fé e creu em Deus. Como homem de Deus ele orou. Simples assim. Não existe nada mágico em sua oração, apenas fé. Afinal, a Bíblia diz em Hebreus 11.6 que Deus “é galardoador daqueles que o buscam”.

Sua vida pode adquirir novo sentido, sua história pode ter uma orientação diferente, apenas pelo simples fato de orar. O Deus de Jabez, é o nosso Deus e ele pode nos fazer enxergar novas oportunidades e ampliar nossas fronteiras se o buscarmos. Jabez “invocou ao Deus de Israel”. Invocar, significa “recorrer a alguém”. O Deus de Israel havia prometido prosperar o seu povo e ele apenas recorreu a um princípio que o próprio Deus estabelecera, de que quando alguém humildemente o buscasse ele ouviria dos céus as suas preces e as responderia. Jabez fez o que uma pessoa de fé deve fazer: invocar o nome de Deus.

2.     A oração de Jabez não é um mantra.

Muitas pessoas quando leem o livro de Bruce Wilkinson, passam a acreditar que basta repetir estas mesmas palavras e suas vidas estarão resolvidas. Desta forma, a oração se torna uma questão de mera repetição, basta imitar a oração a fim de receber grandes bênçãos e realizar grandes feitos para Deus. Assim, as palavras desta oração passam a ter um certo elemento mágico: basta recitá-la para receber a benção.

Infelizmente é desta forma que temos tratado a oração dominical e o credo apostólico. A oração dominical é um modelo de oração, não é um mantra a ser repetido indefinidamente, de forma impensada e que pelo simples fato de “recitá-la”, estaremos recebendo a benção. Jesus estava ensinando os motivos que devem estar presentes numa oração.

O credo apostólico não é sequer uma oração. É um credo. Portanto, deve ser reafirmado por todos aqueles que seguem a linha dos apóstolos. Uma das formas para sabermos como a pessoa é ortodoxa nas suas convicções cristãs, é perguntando se ela realmente crê em tudo aquilo que o Credo Apostólico sugere.

3.     Precisamos fugir da tentação de que, se orarmos, nada de ruim vai acontecer.

Esta pode ser uma grande tentação ao estudarmos esta oração: Se orarmos, seremos vitoriosos.

Eu creio que a presença e a vida de comunhão com Deus trazem em si mesmas, muitas benção aos nossos corações. Mas muitas vezes Deus permite que passemos por provações, mesmo tendo uma vida de oração dedicada. Paulo orou ao Senhor pedindo que ele tirasse dele seu espinho na carne, mas Deus lhe respondeu dizendo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Deus não quis atender o pedido de Paulo, porque tinha planos e propósitos para sua vida através daquele sofrimento que ele experimentava.

Isaias afirma: “Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó salvador” (Is 45.15). Isaias faz esta declaração depois de ter ouvido: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.7). Deus é misterioso, e caminha no meio da tempestade e da tormenta, como afirma o profeta Naum.

A presença de Deus não elimina a dor, mas ilumina a dor. A presença do pastor não nos impede de caminhar pelo vale da sombra da morte, mas ainda ali, “a sua vara e seu cajado me consolam”. O bom pastor não elimina adversidade, mas prepara uma mesa na presença dos adversários. No meio da vergonha, da oposição e da acusação, Deus dá honra.

Quando orarmos, precisamos reconhecer a soberania de Deus, inclusive diante das tentações e provações.

4.     A oração de Jabez nos fala de algo tremendo: Deus cuida de gente aparentemente destinada ao fracasso.

Jabez seria mais uma pessoa marcada por uma história de negação, entretanto, Deus o abençoou. Não deveria esta mesma verdade encher nosso coração de fé e esperança quando nos aproximamos deste Deus maravilhoso?

Este texto nos fala de um Deus que pega uma criança, um filho de Israel, filho da dor e da tristeza e muda sua história, tornando-o “mais ilustre e notável que seus irmãos”. Ele estava destinado a ser o filho da tristeza, mas torna-se honrado. O fato dele se tornar mais ilustre que seus irmãos nos ensina que Deus cuida dos desfavorecidos. Deus cuida de gente desprezada e humilhada.

O centro da oração não é a fórmula da oração, nem o poder do orante (aquele que faz a oração), mas do poder do Deus que ouve as orações. Orações não tem a ver com pessoas especiais, mas com um Deus especial. “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. O orou de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tg 5.18). A Bíblia coloca o poder não naquele que ora, mas naquele que ouve as orações. Afinal, não sabemos orar como convém, mas o Espírito Santo ora por nós, com gemidos inexprimíveis. Não sabemos sequer, orar corretamente. Graças a Deus temos o Espírito como intercessor existencial.

O segredo não está na oração de Jabez, nem no homem magnífico que eel foi, mas no Deus maravilhoso a quem ele dirigiu suas orações. Ele simplesmente procurou o Deus correto.

Que Deus nos abençoe!

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