Introdução:
Só
existem duas formas do homem tentar ser aceito diante de Deus e estas duas
formas diferenciam as religiões do mundo inteiro com o cristianismo bíblico:
A. Baseado na nossa competência
moral e espiritual. Achamos que seremos justificados aos olhos de Deus por causa de
nossa devoção, zelo, boas obras, caridade. Desta maneira cremos que Deus nos
aceita mediante algo que fazemos. Nossa aceitação depende da performance que
diante dEle. Mesmo pessoas que declaram ser cristãs, e até mesmo de igrejas
evangélicas, existem muitos que baseiam sua salvação neste falso pressuposto. É
o falso cristianismo. Milhões ainda vivem pensando assim.
B. Baseado na obra plena e
suficiente de Cristo – São aqueles que entenderam que nenhum homem consegue ser
justificado pelas suas obras, e que o sacrifício de Cristo é quem nos torna
aceitos diante de Deus. Estas pessoas confiam em Cristo, e não em si mesmos
para sua salvação.
Então, dependendo do seu ponto de
vista, sua vida diante de Deus tomará rumos completamente distintos. Em
tecnologia isto é chamado de “sistema operacional”. Em qual sistema funciona
sua vida espiritual?
Eu estou digitando este manuscrito no
computador, que tem um sistema operacional (Windows) e um processador de texto
(word) . É impossível funcionar um programa como Word, sem um sistema
operacional de base. Se o sistema operacional não está ativado, nenhum programa
pode ser colocado no computador. Recentemente eu abri o meu computador e recebi
a seguinte mensagem na tela: “Sistema Operacional não ativado”. Esta mensagem
era um prelúdio de um dia cheio de frustrações. Nenhum programa funcionaria
pois sistema operacional precisava estar ativado, antes que eu pudesse fazer
qualquer progresso. Semelhantemente, podemos dizer que o evangelho é o nosso
sistema operacional e nós o ativamos com a fé. Nós temos que crer e confiar em
Cristo, e arrependermos da nossa incredulidade. Esta é a base do nosso sistema.
Sem isto, nada pode funcionar.
Talvez, haja alguma falha e nós não recebemos
a mensagem de “erro” quando o evangelho parece não estar operando com eficácia,
mas sempre há indicações de que alguma coisa está errada. Entretanto há
indicações de que alguma coisa está errada se não demonstramos arrependimento
ou alegria e nos encontramos no nosso relacionamento com as pessoas, dando
frutos ruins, como fofoca ou pensamentos maus ou até mesmo algumas formas de
luxúria.
O primeiro “modus operandis”, é o que a Bíblia chama da “Lei”. O segundo, “Graça”.
Em qual deles você se encaixa?
Você crê que sua salvação depende
da sua capacidade moral ou espiritual ou depende do que Cristo fez por você?
O que acontece quando tiramos os
olhos da obra de Cristo e colocamos em nós mesmos, para nossa salvação? É isto
que Paulo está tentando mostrar aqui em Gálatas 3. Ele começa fazendo uma
pergunta: “Ó Gálatas insensatos! Quem vos
fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Cristo exposto como crucificado?”
(Gl 3.1). Algo estava seduzindo, atraindo e fascinando os irmãos da Galácia.
Eles não estavam mais impressionados com Cristo, mas havia outra coisa que
estava gerando brilho nos seus olhos. O que era? O que os fascinava tanto?
Paulo deixa claro que era a Lei.
Este sentimento de que o céu é
ganho por méritos pessoais, que a salvação depende de algo que façamos para ser
salvo.
O que acontece quando somos
fascinados pela lei?
1. Dificuldade de entender o Evangelho – Esta é a primeira e grave
consequência de estarmos fundamentando nossa vida em nós mesmos.
A pergunta de Paulo é
provocativa: “Quero apenas saber isto:
recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gl 3.2).
A questão é simples: Como alguém
recebe o Espírito Santo?
O Espírito de Deus é derramado
sobre nós quando produzimos um comportamento irrepreensível ou quando, pela fé,
colocamos nossa esperança na graça plena e suficiente de Cristo? Somos
galardoados com o Espírito por nossas obras ou porque cremos?
Quando Pedro pregou no Dia do
Pentecoste, as pessoas perguntaram: “Que
faremos irmãos?” (At 2.37). E Pedro respondeu:
i.
Arrependei-vos:
compreensão de que precisamos de abandonar nossos pecados.
ii.
Sejam
batizados: Compromisso público, rito de submissão a Cristo.
iii.
Recebam
o Espírito Santo.
O Espírito é dado quando nos
arrependemos e cremos em Cristo.
Pedro não deu uma lista de
exigências e normas éticas para aquelas pessoas seguirem. Ele não criou um
código religioso, mas disse que deveriam ser arrepender, serem batizados para
receberem o Espírito Santo.
No modelo baseado na Lei e nas
boas obras, o Espírito Santo não é um dom de Deus, mas uma conquista humana.
Fazemos algo e recebemos de Deus a recompensa por nossa performance.
No
modelo do Evangelho, segundo Efésios 1.13 vemos o seguinte: “Nele, quando vocês ouviram e creram na
palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o
Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13).
Existe uma sequência clara no texto:
I. Ouvir – “Quando vocês ouviram”. A fé vem pelo ouvir a Palavra da verdade.
II. Crer: “Vocês ouviram e creram na palavra da verdade”. Sem fé, a palavra se torna inoperante
e inativa.
III. “Fostes selados”. Ato passado,
passivo. Baseado em Cristo.
Portanto, quando colocamos nossa
confiança em nós mesmos para sermos aceitos diante de Deus, perdemos a
perspectiva do Evangelho que diz que nossa salvação é obra exclusiva de Deus,
mediante a fé em Cristo Jesus. Nós somos salvos, não nos salvamos. Portanto, "Nossa luta em viver a vida cristã não está no fazer, sim
no crer" John Owen.
2. Se o foco é a lei, nos aperfeiçoamos na carne – “Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora,
vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.3).
O que acontece quando o foco da
espiritualidade está em nós mesmos e não em Cristo? O foco será sempre a carne.
A carne é vaidosa.
O problema é que, tudo que
fazemos tem como base a auto promoção. A corrupção humana vem de sua raiz. Nossos
motivos são o aplauso, a aprovação dos homens, o reconhecimento das pessoas. O
centro sempre será o EU, vaidoso, auto-glorificado. Por isto a carne conspira
contra o Espírito. “E os que são de
Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências”
(Gl 5.24). A carne nos conduz à morte. “porque o que semeia para a sua própria carne
da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito
colherá vida eterna”(Gl 6.6).
A carne deturpa e contamina todos
os desejos mais puros, se andarmos na carne sempre satisfaremos à
concupiscência, que são “desejos
estragados” (Gl 5.16). O que faz a carne? Ela transforma os atos mais
espirituais em atitudes pecaminosas, por isto é tão fácil ver pessoas
travestidas de sacralidade em seus gestos que são puramente carnais.
A glória não é de Deus, mas
nossa!
O homem entregue a si mesmo, à
sua carne, instintos e vontades, se afasta mais e mais de Deus. Precisamos
“crucificar a carne” (Gl 5.24).
3. A carne não experimenta os milagres de Deus! A obra do evangelho,
sim! “Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que
opera milagre entre vós, porventura, o
faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gl 3.5).
A Lei não pode transformar o
coração do homem.
Não pode pegar uma velha natureza
e transformá-la numa nova criatura.
Apenas o Evangelho pode
transformar nosso ser.
O milagre vem pelo seu poder ou
pelo poder do Espírito Santo?
Paulo afirma que quem faz a obra
é o Espírito. Milagres são experimentados pela ação do Espírito.
O exemplo de Abraão
Em seguida, Paulo usa Abraão, o
Pai da fé, para demonstrar o que está falando (Gl 3.6-9). Ele pergunta: Como
Abraão foi justificado? Por que ele fez coisas boas? Foi um exemplo de fidelidade?
Paulo diz: Não! O Velho
Testamento ensina que ele foi justificado pela fé: “Abraão creu, e isto lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6). Deus
“imputou” algo que Abraão não possuía. Imputação é algo dado por Deus. Não é
algo que adquirimos por nossa vida espiritual. Assim foi com Abraão.
O texto é interessante, porque
Deus havia feito a promessa a Abraão, de que ele seria uma grande nação: “Olha para os céus...Assim será a sua
posteridade” (Gn 15.5). A promessa era absurda: um homem idoso, uma mulher
estéril. As coisas pareciam impossíveis. O Novo Testamento afirma que Deus fez
o milagre a partir de um corpo já “amortecido” (Rm 4.10; Hb 11.12). Mas Abraão,
“esperando contra a esperança, creu”
(Rm 5.18). Ele creu! E porque creu, isto lhe deu a promessa.
Paulo está dizendo: O nosso
exemplo é Abraão!
A justificação de Abraão se deu,
não pelas obras, mas pela fé.
A. Como Abraão foi justificado, pela
fé, assim se dá conosco.
Em Rm 4.1-5 Paulo diz:
“Portanto,
que diremos do nosso antepassado Abraão? Se de fato Abraão foi justificado
pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a
Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como
justiça". Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor,
mas como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que
justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça”.
Paulo diz: Abraão não foi justificado por obras. Ele não trabalhou por isto!
Por
isto, ainda em Romanos Paulo afirma: “Portanto, a promessa
vem pela fé, para que seja de acordo com a graça” (Rm 4.16).
É a graça que justifica. Não são as obras
que fazemos.
A história de Abraão nos diz isto.
Ele é o nosso exemplo.
B. A obra do Evangelho foi dada a todos os
povos. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”
(Gn 12.3).
A salvação não é para os judeus
apenas, mas qualquer um que crer, independente de sua nacionalidade, será
salvo. “Os da fé é que são filhos de
Abraão” (Gl 3.7).
A que fé ele se refere?
A fé no Deus que faz milagres.
Abraão foi salvo pela fé.
C. Não estar debaixo da cruz,
significa condenação: “Todos quantos, pois, são das
obras da lei estão debaixo de maldição, porque está escrito” (Gl 3.10).
A Lei não pode nos justificar.
Por que?
A Lei exige absoluta perfeição: “: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da
Lei, para praticá-las” (Gl 3.10). A obediência deve ser absoluta, em todas
as coisas.
Paulo entendia isto, porque antes
de conhecer o evangelho, tinha uma alta visão de si mesmo. Ele afirma que era
zeloso, cumpridor da lei e irrepreensível, e se alguém poderia confiar na
carne, ele se julgava ainda mais competente (Fp 3.4-7). Mas um dia entendeu seu
fracasso. Isto se deu quando ele se aproximou da santidade de Cristo, e aceitou
o que Cristo havia feito na cruz. A partir deste dia, sua visão mudou
radicalmente: “Fiel é a palavra e digna
de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15).
Ao entender o sacrifício de
Cristo, ele mudou sua visão sobre a sua realidade humana. Não era mais alguém
irrepreensível, cheio de si, mas percebeu a radicalidade de seu pecado: ele era
o pior dos pecadores. Ele entendeu que “é
evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus” (Gl 3.11).
Por isto Jesus precisou morrer em
nosso lugar.
“Ele nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em
nosso lugar” (Gl 3.13).
Paulo cita o texto de Dt 21.23: “O que for pendurado no madeiro é maldito de
Deus”. Quem foi pendurado no madeiro? Jesus. Ele nos substituiu, “fazendo-se ele próprio maldição em nosso
lugar” (Gl 3.13). Jesus experimenta todo horror e condenação de Deus pelos
nossos pecados, toda a ira divina estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados. Ele tomou o nosso lugar.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que,
nele, fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21).
Conclusão:
Se assim é a nossa condição
diante da lei, porque ainda estamos fascinados por ela? Paulo chama por duas
vezes os cristãos da Galácia de insensatos (Gl 3.1,3). A melhor tradução para
insensato é “louco”. Na nossa linguagem Paulo teria dito assim: “Vocês estão
ficando loucos?”
Por que somos fascinados pela
lei?
Porque a Lei nos dá um falso
senso de que podemos alguma coisa. Traz alguma coisa da carne, da conquista, do
meu eu realizando algo. Quando me utilizo da lei, tenho a tendência de pensar
que “eu faço, e não Deus!”, e por conseguinte, sem perceber, estou dizendo
outra coisa: “Por que Deus precisa fazer algo por mim? Eu mesmo sou capaz de
realizar. Não preciso de ninguém.
Certa vez minha esposa estava
evangelizando uma senhora e lhe disse que Cristo havia morrido a sua morte. E
ela, vaidosa e soberbamente disse: “Eu não preciso que alguém morre a minha
morte por mim. Eu a morro por mim mesmo”.
O que ela estava dizendo?
Aquilo que geralmente pensamos,
de forma inconsciente, quando ainda estamos no “modus operandis” ou no “sistema
operacional” da lei. Eu não preciso de Cristo, eu não preciso da cruz, eu não
preciso de ninguém. Eu sou auto-suficiente, eu sou capaz, eu posso. O meu
esforço e meu zelo serão capazes de me justificar diante de Deus. Eu o
convencerei, por meu comportamento, que sou digno de ser aceito por ele.
Por isto a lei fascina!
Ainda estou focado no meu eu e na
minha competência. Ainda estou dominado pelo orgulho de que eu posso fazer algo
para impressionar a Deus. Eu não confio e descanso na obra de Cristo, e naquilo
que ele fez por mim. Minha confiança ainda está depositada em meus esforços
pessoais, nas obras da lei, e na minha carne, naquilo que posso fazer.
Este é o grande risco da alma
humana.
Se estou fascinado pela lei,
corro grande perigo: pois “é evidente
que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus”.
Preciso me arrepender,
urgentemente, da minha tola confiança em mim.
Preciso confiar inteiramente na
graça plena de Cristo para minha salvação.
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