sexta-feira, 6 de março de 2020

1 Cr 21.1-27 Faça as coisas certas, Pelos motivos certos






Introdução:

Para Deus não interessa apenas o que você faz, mas porque você faz o que você faz. Para Deus não conta apenas o ato, mas o motivo e a intenção. Até mesmo gestos sagrados como a oração, podem ser carregados de intenções de auto promoção; assim como trazer sua oferta pode ser uma forma de barganha ou de elogio dos outros. Então, diante de Deus, pergunte sempre sobre seus motivos. A prática do jejum é muitas vezes censurada na Bíblia porque as pessoas o praticavam para demonstrar aos outros o quanto eram espirituais...

Portanto, ao fazer as coisas para Deus, não basta apenas fazer, o coração deve ser acompanhado de uma clara intenção de glorificar a Deus. Faça as coisas certas pelos motivos certos.

Este texto nos mostra como isto é verdadeiro.
O povo de Deus sofre juízo condenatório de Deus porque Davi resolve fazer o censo de Israel. O que de fato aconteceu neste texto? Como interpretá-lo? O primeiro livro das Crônicas é um dos livros históricos do Antigo Testamento e possui 29 capítulos. A tradição judaica afirma que ele teria sido escrito por Esdras, cerca de 430 a.C., logo após o cativeiro babilônico.
Os primeiros nove capítulos contém uma longa lista de genealogias dos israelitas, desde Adão até os descendentes de Saul, os capítulos seguintes narram a história do reinado de Davi. Da mesma forma, quando lemos o livro de Números, vemos que Deus mandou Moisés contar o povo por duas vezes (Nm 1, Nm 26). O Rei Josafá também contou o povo ( 2 Cr 17.14-19) e nem por isto foram julgados.

  1. Atitudes comuns e simples podem estar carregadas de intencionalidades profundas e espirituais – O que vemos neste texto são coisas que transcendem muito a percepção de Davi.

Eu fico me perguntando:
Se Davi foi “o homem segundo o coração de Deus”, e pode tropeçar tão violentamente. O que pode acontecer com nosso coração tão auto enganado, arrogante, pretencioso?

O texto começa com uma afirmação bombástica: “Então Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel”. O texto correlato de 2 Sm 24.1 faz outra afirmação curiosa e aparentemente contraditória: “Tornou a ira do Senhor a acender-se contra os israelitas, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá” (2 Sm 24.1).

Afinal, quem tomou a iniciativa? O coração pecaminoso de Davi, a incitação de Satanás, ou o impulso gerado pelo próprio Deus para levar Davi a seguir seu coração pecaminoso? O texto não é contraditório, mas complementar.

Ele nos revela dois aspectos interessantes:

  1. Mesmo quando Satanás faz as coisas, ele o faz debaixo da permissão de Deus. Satanás não é um ser livre. Não existe maniqueísmo. Duas forças espirituais iguais competindo no mesmo pé de igualdade. A Bíblia não admite a possibilidade de Satanás ter o mesmo poder de Deus. Ele faz o que Deus permite, quando Deus permite e se Deus permitir.

O texto demonstra que Satanás não passou de um instrumento de Deus, como aconteceu no caso de Jó, em que Deus lhe dá liberdade para tocar na saúde e na família de seu servo. Deus permitiu isto para executar o juízo que Israel merecia por causa dos seus pecados.

O mesmo acontece no livro de Jó. Satanás é quem causa danos a Jó, mas isto só acontece por causa da permissão de Deus. (Jó 1.1-17). Nada acontece sem que Deus permita, e Satanás só pode ir até onde Deus permite que ele vá! Satanás não é livre para fazer o que quiser, com quem quiser e quando quiser. Neste texto há complementaridade, não contradição. É Satanás quem incita o coração de Davi a pecar, mas isto aconteceu porque Deus permitiu que isto acontecesse. 

  1. Deus permitiu que Davi seguisse seu caminho pecaminoso e sua vaidade pessoal. O que vemos no texto é que Deus decide não impedir que Davi peque. Ele, como nós, segue sua carne e seu orgulho.

Não havia nada inerentemente errado no recenseamento, já que isto é comum em Israel, mas há algo errado no coração de Davi, que parecia estar procurando segurança na força dos seus exércitos mais do que nas promessas de Deus.

Joabe, o comandante do exército e amigo de Davi percebe que a atitude do rei estava seguindo uma direção perigosa e tenta dissuadi-lo: “Então disse Joabe: Multiplique o Senhor teu Deus, a este povo, cem vezes mais, porventura, ó rei meu senhor, não são todos servos de meu senhor? Por que requer isso o meu senhor? Por que trazer, assim, culpa sobre Israel?” (1 Cr 21.3). Ele percebia que algo não estava correto em Davi, que sua motivação era pecaminosa, que isto traria juízo de Deus. Joabe não era um homem tão espiritual assim. Por que então ele tem tanta sensibilidade neste caso?

Havia algo espiritual no coração de Davi que era visível, até mesmo para um guerreiro bronco como Joabe. Algo não estava bom. Ele obedece, e sendo designado para a função, levou dez meses para realizar a tarefa. Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, em Judá, quinhentos mil. Ao todo, um milhão e trezentos mil homens. Excetuando os levitas e benjamitas - Que Joabe, por rebeldia não quis contar

As vezes nossos amigos mais próximos querem nos fazer enxergar as coisas mais perigosas que praticamos mas nós nos recusamos a ver, e eventualmente ficamos irritados quando somos questionados. nos tornamos reativos e até agressivos.

Consulte seu coração diante de Deus:
-Meus motivos estão retos diante de Deus?
-O Salmista ora: 
          -“Se no meu coração eu contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido". 
         - Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim, um espirito inabalável” (Sl 51.10). 

Nós não somos capazes de ter um coração puro, precisamos do Espírito Santo para nos dar as motivações corretas naquilo que fazemos. Deus não se impressiona com a nossa aparente espiritualidade.

A segunda observação é:

  1. Fique atento com as atitudes do seu coração: As melhores atitudes podem estar carregadas das motivações mais pecaminosas

Davi decidiu  fazer o censo do povo. Deus o castigou porque aquela atitude era motivada pela sua vaidade. Davi queria ver como ele era poderoso. Havia algo pecaminoso no seu coração de Davi que desagradou a Deus. Os capítulos 18-20 relatam as vitórias militares que Deus deu a Davi, vitórias portentosas, Deus sempre revelou sua proteção e cuidado com Davi. O texto nos dá a impressão de que Davi queria se orgulhar de quão grande era seu povo, ou estava com medo do futuro.

O Senhor usou Satanás para incitar Davi. Satanás usou sua arma mais poderosa que é a instigação de nosso coração em direção às coisas erradas.  Ele atacou dois pontos: Sua vaidade e falta de confiança em Deus. O recenseamento evidenciava que o Rei Davi queria conhecer o efetivo do seu exército, porque sua confiança estava sendo colocado no seu poderio militar e não no poder de Deus. Sua auto suficiência estava evidente.

Por isto a palavra de Deus afirma que “A ira do Senhor se acendeu contra Israel incitou a Davi contra ele, dizendo: “Vai”, disse ele, “e faze o recenseamento de Israel e a Judá” (2 Sm 24.1). O motivo da ira, do Senhor, não nos é dito, mas o Senhor não se agradou quando Davi mandou contar o povo, porque Davi estava se gloriando sua força, nos números, não em Deus. Davi havia conquistado muita glória e neste momento se tornou auto suficiente. Deus queria ensinar que não era o número de soldados que garantiria vitória, mas ele mesmo.
O próprio Davi reconhecerá isto posteriormente: “E pesou o coração de Davi, depois de haver numerado o povo; e disse Davi ao SENHOR: Muito pequei no que fiz; porém agora ó SENHOR, peço-te que perdoes a iniquidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente.”(2 Sm 24.10).

O recenseamento em si não era pecado, mas sim o motivo, a vaidade e a auto suficiência, que levou o rei a contar o povo. Davi foi julgado por orgulho e soberba... Deus permitiu que satanás o influenciasse, para provar o seu coração.

Deus pelejaria pelo seu povo, e o segredo estava na obediência, Israel não precisava confiar na sua força, mas sim no poder que vinha do alto, o socorro vinha de Deus.

Conclusão:

  1. Para Deus não é importante apenas o que você faz, mas como faz.

Caim e Abel foram para a “igreja” juntos. Foram adorar a Deus. Ambos trouxeram suas ofertas. Deus se agradou de Abel e de sua oferta, ao passo que "de Caim e de sua oferta não se agradou o Senhor". Muitos afirmam que Deus não se agradou de Caim porque ele não ofereceu sacrifício de animais, mas se lermos atentamente os cultos levíticos, veremos que eram comum as pessoas trazerem também sus ofertas pacificas, que eram de cereais e frutos. O problema não era o que Caim trazia, mas é que Caim não trazia o seu coração. Seu culto não era acompanhado do coração. Jesus advertiu: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”.

Motivação é algo íntimo, subjetivo, interno, ninguém, exceto Deus, vê. Deus pesa os corações, julga as intenções mais profundas da alma.

  1. Diante das consequências de suas atitudes erradas, ainda que Deus julgue você, esteja próximo de Deus e de sua grande misericórdia.

O pecado de Davi foi julgado severamente. Deus trouxe graves consequências sobre o povo, por causa da sua atitude. As vezes ficamos inquietos com situações assim, mas a verdade é que muito sofrimento que vem sobre as pessoas é resultante do pecado de outros.

Temos falado muito sobre pecados individuais, mas pouco consideramos a natureza de pecados sistêmicos e endêmicos, de pecados coletivos, que igualmente trazem juízo de Deus. O seu pecado não afeta apenas você, mas atinge outros. O pecado de outros, também atinge pessoas indefesas. É assim a extensão e natureza do pecado.

ü  Uma liderança infiel na igreja traz graves consequências sobre uma comunidade.
ü  Lideres de uma nação com seus pecados afligem severamente as pessoas.
ü  Muitos culpam Deus por deixar que milhares de pessoas no mundo passem fome. Você sabia que a produção de alimentos no mundo daria para alimentar a população mundial seis vezes mais? O problema não é a falta de generosidade deste Deus bondoso, mas a ambição, luta pelo poder, desigualdade social dos homens.
ü  Nossos pecados afligem os outros.
ü  O pecado dos pais ferem profundamente a vida dos filhos, e assim por diante.

O pecado de Davi afetou diretamente o povo de Israel, e como Davi era um homem sensível a Deus, isto lhe causou muita dor ao ver o juízo de Deus sobre o povo, sabendo que grande parcela da culpa daquele sofrimento era causado por sua vaidade. Mas Davi, ao invés de correr de Deus, decide se colocar nas mãos de Deus: “Então disse Davi a Gade: caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias, mas nas mãos dos homens não caia eu” (1 Cr 21.13)

Alguns pecados nossos, apesar da misericórdia de Deus, trarão consequências sobre nossa vida, mas muitas vezes trarão consequências sobre amigos, cônjuges, sociedade.

Deus dá três opções para Davi:
            -Três anos de fome
            -Três meses de destruição vinda dos inimigos;
`           -Três dias de peste.

Davi não teve dúvidas: que eu caia nas mãos do Senhor. Se tenho que ser disciplinado, que seja por ele mesmo, e não pelos homens. Na hora em que precisar ser disciplinado, deixe Deus dar a sua disciplina. A disciplina de Deus é dolorida, mas é para cura. Não busque atalho (Hb 12.5,6).

  1. Os critérios do juízo de Deus não são facilmente compreendidos, mas Deus não perde tempo para responder suas ações. Ele não justifica suas atitudes, Ele é Deus, soberano, e age como quer.

Quando Davi ouve a sentença e o julgamento de Deus, ele entra em crise e começa a fazer perguntas: “Disse Davi a Deus: Não sou eu quem disse que se contasse o povo? Eu é que pequei, eu é que fiz muito mal; porém estas ovelhas que fizeram? Ah! Senhor, meu Deus, seja, pois, a tua mão contra mim e contra a casa de meu pai e não para castigo de teu povo” (1 Cr 21.17). Davi indaga a Deus por que seria assim? E Deus não responde. Há um absoluto silêncio de Deus nesta questão. Ele faz questão de que seja assim.

Deus ordena que Davi fosse até a eira de Ornã, o jebuseu, e lhe levantasse um altar (1 Cr 21.18). Jesus certa vez disse: "O que faço agora, compreendê-lo-ás depois". O fato é que Deus não joga dados. Quando Deus age da forma como age, ele tem uma profunda coerência, ainda que aquilo pareça absolutamente anacrônico. Quando determinadas coisas estranhas acontecem precisamos nos lembrar:

            (a). Deus não pode fazer algo injusto, porque o seu caráter é absolutamente justo, logo, nossa percepção da justiça de Deus é relativa e insuficiente, porque ele é absolutamente justo e santo. Não há má intenção em Deus.

            (b). Deus não pode agir de forma desumana, porque Ele é santo. Logo nossa compreensão da vida e do fato enumerado também são limitados e parciais, porque não entendemos o que Deus faz, não quer dizer que ele não é santo naquilo que ele faz.

  1. No meio de suas perplexidades mais agudas algumas diretrizes devem ser tomadas.

        i.         Levante um altar. “Então, o Anjo do Senhor disse a Gade que mandasse Davi subir par levantar um altar ao Senhor, na eira de Ornã,o jebuseu” (1 Cr 21.18).

A verdade é que grande parte de nossos questionamentos se dissolvem diante do mistério e do altar de Deus. Davi não está entendendo nada e está perplexo com toda situação, sentindo-se culpado, sofrendo ao ver a dor das pessoas e saber que ele está intimamente ligado a este caos, mas ele se dirige, obedientemente para levantar este altar.

Quando você estiver confuso, atônito, levante um altar. Um antigo hino afirma: "Ao sentir-me perturbado, em meu coração vou orar..." Davi estava se sentindo culpado pela morte daquelas pessoas. Setenta mil homens morreram. Tudo isto tinha acontecido por causa de seu orgulho e vaidade do Israel, especialmente de Davi. Ele estava arrasado. Mas para onde vai a alma atribulada? Para o altar do Senhor.

O altar deve estar no meio de sua mais profunda dor, deve estar presente diante da mais forte culpa, o altar é a forma certa de superar a praga. O altar é o convite de Deus para nos aproximarmos dele, e de seu mistério.

      ii.         Não construa altar que não te custe nada – “Porque não tomarei o que é teu para o Senhor, nem oferecerei holocausto que não me custe nada” (1 Cr 21.24).

Quando Davi chega com um grande número de pessoas à casa de Ornã, ele fica muito assustado e quer agradar ao rei de todas as formas. Ao descobrir o motivo: o rei estava ali para levantar um altar a Deus, ele oferece tudo ao rei. Ele não queria cobrar a terra, ele queria dar os bois para o holocausto, ele queria providenciar a lenha, mas Davi se recusa.

Qual é a lógica de Davi? “Não tomarei o que é teu para o Senhor, nem oferecerei holocausto que não me custe nada”.

Lamentavelmente muitos estão querendo seguir a vida cristã sem pagar o preço de ser discípulo. Querem vida cristã sem sacrifício, discipulado sem santidade, ser membro da igreja sem comprometimento, querem um cristianismo soft, light, que não cobre nada, não exija nada. Querem serviço a la carte, mas não querem doar de si mesmo, se entregar para a obra de Deus. Nenhum sacrifício.

Tenho uma má noticia para este tipo de atitude: “Fé que não custa nada não vale nada!” Sacrifício à custa de outros não é sacrifício. Não queira ter culto sem custo, fé sem compromisso, discipulado sem santidade. Quem ama se compromete. Se doa. É generoso. Compromete seu tempo, sua energia, ama a obra de Deus.

     iii.         Deus conduz Davi simbolicamente ao lugar onde ele queria construir seu templo.

As pessoas dizem que há uma contradição entre as narrativas de 2 Samuel 24.10-25 e 1 Cr 21.18-30, porque em um fala que a propriedade era de Araúna (hebraico: אֲרַוְנָה ‘Ǎrawnāh), e noutro era de Ornã. Na verdade, trata-se apenas questão de variações e pronúncias: Araúna (hebraico: אֲרַוְנָה ‘Ǎrawnāh) e Ornã (hebraico: אָרְנָן ‘Ārənān).

Que propriedade era esta? Por que o anjo do Senhor se dirigiu para lá?
Porque esta propriedade é nada menos que o Monte Moriá, o mesmo monte onde Abraão oferecera o seu filho Isaque como sacrifício quase um milênio antes. Davi comprou a eira e edificou um altar ao SENHOR. Mais tarde, neste mesmo lugar, Salomão edificaria o templo de Jerusalém. Atualmente ali se encontra uma mesquita islâmica, no centro de Jerusalém. O domo dourado!

Apesar da importância e da relevância deste lugar na teologia judaica, o maior e mais significativo evento se daria a pouca distância do Monte Moriá. Num lugar chamado “Gólgota” onde Jesus foi crucificado. (Mt 27.33; Mc 15.22) "local da caveira". Onde atualmente a comunidade evangélica afirma ser o Jardim do Túmulo.

Jesus não pode ser crucificado dentro dos muros de Jerusalém (Jo 19.41-42), e por isto foi levado a uma curta distância da cidade ainda que próximo de um dos seus portões (O Portão de Damasco- Hb 13.12), numa área de tráfego de pedestres e viajantes (Mt 27.39). Neste local, que fica a poucos metros do Monte Moriá, Deus providenciou o Cordeiro para o sacrifício.

Ali aprendemos que Deus se torna o próprio sacrifício. Ele é quem doa gratuitamente sua misericórdia, sacrificando o Cordeiro, assim como mostrou a Abraão o cordeiro que deveria ser sacrificado em lugar de Isaque. 

Deus conduz Davi, para construir o altar.
Mas o maior evento será a condução do seu Filho para ser sacrificado na cruz.



Um comentário:

  1. Excelente, como sempre. Jesus continue te abençoando. Grande abraço - Milton

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