sábado, 15 de fevereiro de 2020

Sl 67 Por que fazer missão?


 


Introdução:

Muitas pessoas não entendem a razão da igreja colocar tanta energia e dinheiro na obra missionária. A Igreja de Anápolis, na qual sou pastor desde 2003, investe boa parte dos seus recursos na obra missionária, envolvendo ação social, voltada para escolas e cuidados com os menos favorecidos na cidade, plantação de igrejas, através de parcerias ou ações diretas, e Missão Transcultural, cujo investimento é feito para alcançar povos de outras regiões, etnias e nações.

Muitos, entretanto perguntam: Por que fazer missão?
Por que dispender este dinheiro que poderia ser aplicado em melhorias no nosso templo. Temos tantas necessidades de concluir o Edifício de Educação Religiosa, que já está em construção desde 2008,  o carpete da igreja precisa ser trocado, pois a reforma foi feita na década de 1990, e os bancos são extremamente desconfortáveis e duros. Por que investir em missão se temos tantas necessidades?

De forma superficial podemos afirmar que igreja é a única associação do mundo que não vive apenas para si mesma. O chamado de Deus para seu povo é para olhar para as pessoas que estão fora do círculo e de sua membresia. Mas esta resposta é apenas parcial, a ação missionária decorre de vários aspectos da teologia bíblica:

Primeiro, o Deus da Bíblia é um Deus missionário.

Desde o chamado inicial que ele fez a Abraão para formar o seu povo, ele foi claro: “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que ti amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2-3). O chamado é definido em duas linhas: “Te abençoarei”, e “em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Chamado para um relacionamento e chamado para um projeto.

Segundo, Deus é o iniciador de missões:
ü  No Antigo Testamento não vemos um povo sendo fiel à sua vocação. Pelo contrário, Israel resiste à ordem de Deus de abençoar todas as famílias da terra. Desenvolve um senso de um “Deus tribal”. Deus era o Deus “de Israel”, e seu limite de ação e missão estariam voltados, na equivocada visão do povo dos judeus, para esta única nação. Por esta razão, o judaísmo, até hoje, é uma das poucas religiões missionárias do mundo. Não possui estratégia nem visão para anunciar seu Deus ao mundo.

ü  No Novo Testamento, a mesma coisa ocorre. Apesar das ordens explicitas de Jesus de que seu povo deveria pregar o evangelho a toda criatura (Mc 16.15), e de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20) e ser testemunha até os confins da terra, vemos que a igreja teve muita dificuldade em sair de Jerusalém, e a ação missionária só se deu quando Deus levantou um poderoso agente missionário: a perseguição. E assim a igreja foi para Samaria, conforme os relatos de Atos 8.

Terceiro, Deus só teve um filho e fez dele um missionário.
O Deus da Bíblia ama o mundo perdido e envia seu Filho para resgatá-lo da sua condição de miséria e perdição. Porque Deus fez isto? “Porque Deus amou o mundo” (Jo 3.16). A base da obra missionária é o amor de Deus pela humanidade.

Para nossa reflexão, gostaríamos de estudar o Salmo 67. Um salmo explicitamente missionário. Poucos textos da Bíblia nos revelam de forma tão clara a razão pela qual devemos ser uma igreja missionária. Neste salmo observamos o amor de Deus e seu desejo de penetrar em todas culturas e nações. Veja quantas vezes aparecem os termos: “povos”, “nações”, “terra”, e “gentes”. Sempre se referindo a pessoas, como objeto final do amor de Deus.

Por que devemos ter os olhos voltados para missão?
Como o povo de Deus deve entender sua missão?
Quais os efeitos da obra missionária?
O que leva o povo de Deus a fazer missão?

A partir deste texto, queremos refletir sobre três aspectos essenciais envolvidos na obra missionária:

1.     O povo de Deus é missionário porque entende que a benção de Deus sobre suas vidas, é uma oportunidade de testemunho ao mundo, e não seu objetivo final de vida.

Veja a primeira afirmação: “Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto” (Sl 67.1).

Esta é uma oração que facilmente fazemos: “Deus, venha nos abençoar!”, “Deus, derrame sua graça!”, “Deus cuida de nós!” Apesar de serem legítimas estas orações, o texto demonstra porque o salmista deseja a benção de Deus sobre sua vida. O vs 2 afirma: “Para que se conheça na terra o seu caminho e, em todas as nações, a sua salvação” (Sl 67.2).

O objetivo final de nossa vida cristã não é sermos abençoados. Este motivo é circunstancial e secundário. O objetivo deve ser a expansão do nome de Deus no mundo. Deus precisa ser conhecido através de nossa vida abençoada.

O livro de Êxodo descreve a oração de Moisés, pedindo para que Deus se manifestasse entre seu povo. Ele pede que a presença de Deus estivesse no meio do povo, ainda que este povo tivesse se rebelado tanto diante de Deus (Ex 32.9-12). Qual era o propósito da oração de Moisés?

Ele afirma que pedia a presença de Deus no meio do seu povo para que seu nome de Deus pudesse ser glorificado entre as nações. “Porque hão de falar os egípcios, dizendo: para mal os tirou, para mata-los nos montes, e para destruí-los da face da terra?”. Ele queria que Deus abençoasse seu povo porque desta forma o seu nome seria honrado e temido entre os povos. Ele não queria apenas que Deus estivesse presente para ficassem seguros e confortáveis, mas porque se Deus não estivesse presente, como as nações vizinhas conheceriam o seu glorioso nome?

O Salmo 67.2 diz a mesma coisa:
faça resplandecer  sobre nós o rosto, Para que se conheça na terra o seu caminho”.

Ele não está pedindo a benção e a graça de Deus apenas para se sentirem confortáveis e realizados, mas para que as nações conhecessem a salvação.
Então, toda vez que orarmos pedindo uma determinada benção, devemos ter em vista não apenas nosso sucesso pessoal, mas desejando que as pessoas, ao verem a graça de Deus sobre nossas vidas, conheçam o Deus de nossa história e glorifiquem o Senhor.

A benção de Deus sobre nossas vidas deve ter como objetivo o testemunho de nossa fé às pessoas que ainda não conhecem a Cristo. Assim, quando olharem para nossa vida e verem a benção de Deus, elas reconhecerão que há um Deus vivo entre nós, aprenderão o seu caminho e o glorificarão.

Isto é muito visível quando acompanhamos o funeral de uma família que ama a Deus e de uma família que não ama a Deus. No meio dos que creem, vemos esperança, consolo e graça; no meio dos descrentes, vemos pavor e desespero. Por isto o salmista pede para que Deus abençoe seu povo, para que Deus seja conhecida entre aqueles que ainda não o conhecem.

Seguindo esta mesma linha de pensamento, o salmista encerra este salmo dizendo: “Abençoa-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão” (Sl 67.7).

A benção que experimentamos, deve servir de testemunho.

2.     O povo de Deus é missionário, porque está convencido de que a melhor coisa que pode acontecer a uma etnia ou cultura é a compreensão do plano eterno de Deus para suas vidas.

Por que devemos ser missionários?
Porque o Evangelho traz benção às pessoas que são atingidas pela verdade.

Recentemente um autor famoso afirmou que os povos que tem o melhor nível social, como Finlândia, Suécia, Suíça e Noruega estão neste nível social porque são nações com pouca influência de religião ou do Sagrado e sua prosperidade se deve ao fato de serem secularizadas. Entretanto, quando estudamos a história destas nações, percebemos que a Suíça foi profundamente impactada pelo calvinismo, cuja teologia bíblica e ética cristã forjaram a nação. Quando estudamos a Noruega, sabemos que antes da chegada dos cristãos, ela era dominada pelos vikings, cruéis conquistadores, mas aquela nação foi impactada na sua origem, pela chegada do evangelho. Hoje tais nações recebem os benefícios de uma cosmovisão cristã de honestidade e trabalho que ali foram implantadas.

Quando o salmista fala do seu desejo de que as pessoas conheçam a Deus, ele está pensando na alegria e libertação que o evangelho traz. Ele afirma que “Deus julga os povos com equidade” (Sl 67.4). Deus exerce julgamento e juízo. A balança de Deus é justa. A desigualdade, injustiça, pobreza e miséria estão presentes em nações cujas culturas são pagãs, ou anticristãs.

O salmista considera ainda que Deus dá um correto senso ético. “Guia na terra as nações” (Sl 67.4). O povo que teme a Deus é orientado pela ética divina. As pessoas se parecem com seus deuses. Veja o que aconteceu com o Império Romano, cruel, desumano, assolado pela escravidão, que dava pouco valor à vida, humana, oprimia duramente a mulher, praticava o infanticídio. O que o cristianismo fez em Roma? A história de Roma foi mudada pela presença do cristianismo genuíno.

John Piper no livro “Alegrem-se os povos”,  traz uma cuidadosa análise da Bíblia, mostrando que Deus quer um culto cujo objetivo máximo seja a adoração a Ele, pois isto será como combustível para missões, e que a razão principal da obra missionária é a glória de Deus, mas que isto sempre traz grande graça àqueles que compreendem a obra de Deus em suas vidas.

Países são mais justos quando dominados pelo protestantismo. Ricardo Amorim, economista brasileiro e comentarista do programa “Manhattan Connection”, fez corajosa análise comparativa entre os EUA, e Brasil, afirmando que a diferença do progresso entre as duas nações está nas origens. Os EUA, tiveram rápido desenvolvimento por causa da ética do protestantismo.

A ética bíblica traz vida e liberdade. Apesar de tantas vezes na história o cristianismo, enquanto religião, ter perdido o cerne do evangelho, o que caracteriza as ações missionárias no mundo inteiro, são gestos de cuidado, benção e misericórdia, onde chega a genuína mensagem das Escrituras Sagradas, vidas são profundamente transformadas, a sociedade é impactada.

Portanto, fazer missões é um desafio, porque cremos na benção que a mensagem das Escrituras Sagradas trará a povos dominados pela idolatria e pelo paganismo, por deuses falsos e cosmovisão deturpada. A mensagem cristã é revolucionária e transformadora. Fazemos missão porque sonhamos com um mundo melhor.

3.     O povo de Deus faz missão porque anseia que Deus seja glorificado entre as nações.

Qual é o objetivo da obra missionária?
Apesar de entendermos que a obra missionária trará graça e alegria às nações pagãs, o alvo principal da obra missionária é promover a glória de Deus.

O profeta Isaias afirma:
As nações verão a tua justiça, e todos os reis a tua glória; e serás chamado por um nome novo, que a boca do Senhor designará” (Is 62.2)
“Olhe! A escuridão cobre a terra, densas trevas envolvem os povos, mas sobre você raia o Senhor, e sobre você se vê a sua glória. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu” (Is 60.2,3).

Por isto o Salmo 67 afirma: “louvem-te os povos; ó Deus, louvem-te os povos todos” (Sl 67.3). O desejo é que o Deus verdadeiro seja glorificado entre todas as nações. Que a glória de Deus se torne manifesta.

Não raramente pensamos que a principal tarefa da igreja é a obra missionária, afirmamos que se a Igreja não é missionária, não é Igreja. Sem dúvida, missões é uma prioridade da Igreja, mas não é o seu objetivo último. Adoração a Deus, na verdade deve ser sua razão de existir. A igreja existe para a glória de Deus. John Piper afirma que quando esta era terminar e todas as raças, tribos e nações estiverem diante do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais terá razão de existir, mas o culto, continuará existindo. Missões é apenas uma atividade temporária da Igreja, mas o culto a Deus permanecerá para todo o sempre.

O Salmo 67 faz a relação entre a adoração e missões.
para que se conheça na terra o teu caminho”.

A glória de Deus deve ser a razão da obra missionária. O objetivo das missões, em última instância, não é só abençoar os povos que recebem a mensagem, mas trazer glória ao nome de Deus. O alvo final não é a humanidade mas a promoção do nome de Deus. Amor a Deus deve ser o motivo missionário. Adoração é o objetivo central, e  a obra missionária é resultado da adoração e do amor a Deus.

John Piper afirma que “a paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação”. Faz missão quem ama o Senhor e tem interesse na glória dele. O que está em foco é o culto. Quem deseja adorar a Deus fará missão, mas missão é consequência do amor e do anseio pela glória de Deus.

Andrew Murray no seu famoso sermão sobre Adoração e Missões, pregado há mais de cem anos atrás afirmou: “Quando buscamos saber por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército de Deus que está enfrentando os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é: falta de coração e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando, porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei”.

A prioridade última do povo de Deus é glorificar a Deus e como resultado desta adoração, a obra missionária será realizada.

Conclusão:

Tentando entender as razões da obra missionária, a partir do Salmo 67, destacamos três pontos essenciais:

1.     O povo de Deus é missionário porque entende que a benção de Deus sobre suas vidas, é uma oportunidade de testemunho ao mundo, e não seu objetivo final de vida.
2.     O povo de Deus é missionário, porque está convencido de que a melhor coisa que pode acontecer a uma etnia ou cultura é a compreensão do plano eterno de Deus para suas vidas.
3.    O povo de Deus faz missão porque anseia que Deus seja glorificado entre as nações.

A Bíblia fala que no último dia, estarão diante do Cordeiro de Deus, pessoas de todas as nações, povos, línguas para o grande julgamento. O livro de Apocalipse fala dos efeitos da obra missionária. Ali estarão todos aqueles que foram alcançados pela graça de Deus, que se arrependeram de seus pecados, e entenderam o significado da obra de Cristo para suas vidas e depositaram sua confiança no sacrifício do Cordeiro em favor dos pecadores.

Ali estarão nações do mundo inteiro. Pessoas de diversas etnias, uma grande multidão que ninguém pode enumerar, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos, que clamam em grande voz dizendo: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação” (Ap 7.10).

Este é o resultado da obra missionária. Povos do mundo inteiro, alcançados pela obra missionária, se apresentando diante de Deus, com grande louvor, porque um dia ouviram falar do Evangelho eterno. O que estas pessoas fazem de Deus e do Cordeiro? Elas estão glorificando.

Por que fazemos missão?
Porque teremos a grande alegria, no juízo final, de estarmos ao lado destas pessoas que surgem dos quatro cantos da terra, com um único desejo em seus corações. Glorificar e exaltar a Deus, por tão grande salvação.

Eu não quero perder esta festa!

Um comentário:

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