“Quanto àquilo que eu
e tu falamos, eis que o Senhor está entre mim e ti, para sempre”
(1 Sm 20.23).
(1 Sm 20.23).
Introdução:
Este
texto fala da amizade entre Jônatas e Davi. Portanto, não se trata de um texto
sobre casamento, mas sobre amizade. E por se tratar de relacionamento profundo,
de gente que tem consideração pelos outros, creio que ele pode também se
aplicar ao relacionamento de um homem com mulher.
Da
mesma forma, muitos convites de casamento enviam o texto que trata do diálogo entre
Rute e Noemi, aplicando-o ao compromisso dos noivos: “Aonde quer que fores, irei eu, e, onde quer que pousares, ali pousarei
eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16).
“O Senhor está entre mim e ti, para sempre”.
Deste
texto podemos tirar algumas lições profundas sobre o caminho de um homem com
uma mulher, ao assumirem compromisso diante de Deus. Jônatas e Davi fizeram uma
aliança de respeito e amizade, e por mais que as circunstâncias fossem
desfavoráveis, ambos honraram esta aliança de amizade.
Que
lições podemos extrair deste texto?
1.
Uma
aliança entre duas pessoas é mais que um vínculo humano, possui sacralidade.
Veja
a compreensão de Jônatas:
““O Senhor está entre mim e ti”.
O
grande risco da aliança é quando ela é vista como algo superficial. Desta
forma, os votos são facilmente quebrados. Quando fazemos isto, transformamos a
aliança em um contrato. Um contrato possui demandas e se uma das partes não
consegue realizar, automaticamente ele se desfaz. Cada lado entra com uma
parte, mas no casamento devemos entrar não com cláusulas, mas por inteiro. Se o
casamento é um mero contrato, ele pode ser quebrado, mas se entendermos que
estamos fazendo uma aliança na qual Deus está envolvido, isto faz toda
diferença. Por esta razão ninguém troca aliança em um cartório quando faz um
negócio.
Jônatas
declara: “O Senhor está entre mim e ti”.
Entre
nós dois existe alguém a quem honramos e adoramos. Existe um Deus. Por isto
existe cumplicidade, lealdade, cuidado. Esta aliança tem a ver com Deus. Ela
está cimentada por Deus. A argamassa é divina.
Da
mesma forma lemos Ec 4.9-12 que diz: “Melhor
é serem dois do que um, porque tem melhor paga do seu trabalho. Porque se
caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo
não haverá quem o levante. Também se dormirem juntos, eles se aquentarão; mas
um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade”. É
interessante notar que o texto está falando de dois, mas adiante ele faz uma
curva dizendo que “o cordão de três
dobras não se rebenta com facilidade”. Qual é a terceira dobra? O texto
definitivamente está falando de Deus. De sua presença. De sua santidade unindo
e ligando duas pessoas.
A
geração atual facilmente despreza símbolos e ritos.
Nós
afirmamos que “ritos nada valem”. Pois não é esta a verdade que vemos nas
Escrituras. Os símbolos e ritos são essenciais. Nós participamos do batismo,
nós participamos da ceia. Em qualquer um destes ritos, entendemos que a
presença de Deus é real e espiritualmente percebida. Jesus diz aos seus
discípulos que “o meu corpo é verdadeira
comida e meu sangue verdadeira bebida”. Há sacralidade nestes ritos.
Da
mesma forma quando realizamos a cerimônia das alianças entre um homem e uma
mulher. A Igreja Católica chega a afirmar que o casamento é um sacramento.
Embora a Igreja protestante não entenda o casamento como um sacramento, ela
reconhece que, no ato dos votos há um poderoso vínculo que não deve ser
quebrado. Há uma presença espiritual e real no casamento.
Antes
de uma pessoa pensar em se separar, ela precisa considerar que está quebrando
um vinculo sagrado, feito entre um homem e uma mulher, com votos, na presença
de Deus. O profeta Malaquias afirma que “o
Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a
qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança”
(Ml 2.14). No rito do casamento, Deus se torna testemunha desta aliança.
Caso
você tenha se divorciado, queria trazer uma palavra de esperança para você. O
divórcio é imperdoável? Não! A única
coisa imperdoável é a blasfêmia do Espírito Santo, que é a recusa eterna de uma
pessoal em aceitar a oferta graciosa de Deus que foi dada a nós, por meio do
sacrifício de Cristo. Se você não aceita Jesus, você está condenado. É o único
pecado imperdoável. “Aquele que tem o
Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 Jo
5.12), pois a única forma de termos a vida eterna é crendo no Filho de Deus. “Esta vida está em seu Filho” (1 Jo
5.11).
Entretanto,
ao quebrar a aliança você está pecando contra o Deus que “está entre ti e o seu cônjuge, para sempre”. Ai você pensa: “Ah,
bom! Então eu posso me divorciar...” Se você pensa assim gostaria de considerar
contigo. Não parece ridículo e leviano, que alguém peque intencionalmente
porque sabe que será perdoado?
Precisamos
resgatar a sacralidade do vinculo do matrimônio. “O Senhor está entre mim e ti”. Deus está nesta relação. Este vinculo
não é apenas entre duas pessoas, mas contempla uma dimensão muito mais
profunda, porque percebe Deus envolvido na caminhada e no processo.
Então,
quando forem se casar, considerem isto...
2.
Por
terem sacralidade, alianças possuem um aspecto de perenidade. “O Senhor está entre mim e ti, para sempre”.
Destaque
ai a frase: “para sempre”.
Não
estamos fazendo um contrato temporal e passageiro, que quando cumprido o prazo
perde a validade. Em contratos existem cláusulas que podem ser prescritas. “Prescrever”
é a perda do direito de ação em face do transcurso de um prazo legal. Modo pelo
qual o direito se extingue pelo seu não exercício em um determinado período de
tempo. Por isto pode-se dizer na lei: “O crime que foi realizado há muito tempo
prescreveu a um ano.”
A
aliança não prescreve. Não perde o valor com o passar do tempo. Na verdade, uma
aliança vai se fortalecendo cada vez mais, quando não perde a dimensão sagrada
nela existente.
Muitos
atualmente fazem alianças baseadas em sentimentos, impulsos e paixões. Agem
irrefletidamente. Isto é paixão, febre, não tem compromisso maior, e portanto,
nunca poderia haver uma aliança, que leva em consideração a presença de Deus.
Por
isto a Bíblia adverte tanto sobre a seriedade da aliança, com votos, na presença
de Deus. Alguns pais já me procuraram para batizar seus filhos e fazerem votos
diante de Deus pelos filhos, e quando percebo que eles não estão assumindo
votos nem por si mesmos, mas querem assumir votos pelos filhos, eu procuro
dissuadi-los. Eu não quero ser cúmplice de seus votos de tolos ou votos
levianos.
Eclesiastes
5.4-5 diz: “Quando a Deus fizeres algum
voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que
fazeres. Melhor é que não votes, do que votes e não cumpras” . Dá para
perceber quanto Deus leva a sério os votos que fazemos.
Ao
discutir o divórcio com seus interlocutores Jesus afirmou: “Não tendes lido que o Criador, desde o
princípio os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai
e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já
não são dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o
homem” (Mt 19.4-6).
Jesus
imprimiu tanta seriedade no casamento e colocou tanta dificuldade no divórcio,
que os discípulos assustados disseram: “Se
essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar”. (Mt
19.10). Em outras palavras, se é tão sério assim, é melhor a gente não assumir
um compromisso matrimonial. A visão de Jesus os levou a repensar a seriedade do
casamento.
Quando
uma aliança é espiritual, temos a presença de Deus, e isto envolve uma dimensão
que transcende a esfera do humano e tangencia as realidades espirituais e
sobrenaturais. Um casamento deve ter um vinculo perene. Não circunstancial e
temporal, não passageiro e efêmero, mas duradouro.
3.
Uma
aliança, por ser sagrada e perene, impacta gerações.
Em 1
Sm 20.42, num outro texto complementar, Jônatas diz a Davi: “O Senhor está entre mim e ti, e entre a
minha descendência e a tua”.
O que ele está afirmando?
O fato de termos Deus como testemunha e selando nossa
lealdade e amizade, se refletirá nos nossos filhos.
E como Davi levou isto a sério:
Jônatas
morreu na guerra, e Davi assumiu o trono de Israel algum tempo depois. Logo
após a guerra, todos os filhos de Saul procuraram desaparecer porque temiam as
conspirações decorrentes do contexto. Um dos filhos de Jônatas foi Mefibosete.
Ele foi criado como príncipe, andando pelo palácio, cortejado e com
prerrogativas reais, até que, seu avô Saul, o rei de Israel e seu pai, Jônatas,
o sucessor e príncipe herdeiro, morreram na batalha, e de uma hora para outra,
tudo se desmorona. Ele não apenas perde todos os direitos reais, mas corre
risco de vida, e precisa sair imediatamente de Jerusalém para não morrer. Na
fuga, sua ama o deixa cair, ele quebra severamente as pernas, se torna coxo,
perdendo os movimentos dos pés.
Anos
depois, refugiado e vivendo no anonimato numa pequena vila chamada Lo-Debar,
Davi se lembra da amizade e dos votos com Jônatas e decide fazer restauração e
o descobre, trazendo-o à sua presença. Certamente Mefibosete se assustou. O que
o rei queria dele? Ao chegar diante do rei ele se curva temeroso e
reverentemente diante de Davi, que faz questão de lhe dizer, antes de qualquer
coisa: Não temas, porque usarei de
bondade para contigo e te restituirei
todas as terras de Saul, teu pai, e tu comerás pão, para sempre à minha mesa.
Além
disto, Davi deu honra e intimidade, convidando-o para assentar-se consigo à
mesa: “comeu, pois Mefibosete, à mesa de
Davi, como um dos filhos do rei”
(2 Sm 9.11).
Por
que Davi fez isto?
Certamente
ecoava na sua mente a beleza da amizade e da lealdade que tivera com Jônatas. A
aliança da amizade entre eles agora abençoava os descendentes de Jônatas mesmo
depois da sua morte. Davi adota seu filho, cuida dele, restitui suas terras, dá
honra, o convida para assentar-se à mesa. Ele sai da vergonha para o palácio,
do medo para a restauração.
A
aliança de um homem com uma mulher também é feita para abençoar as gerações. O
divórcio é sempre uma ruptura. Deus perdoa e restaura pessoas divorciadas, mas
há sempre uma quebra para as próximas gerações.
Conclusão
Um
exemplo que me emociona e que demonstra a sacralidade, a perenidade e os
efeitos de uma aliança aconteceu em minha família.
Quando
meu filho decidiu se casar foram comprar as alianças, quando sua sogra lhe
mostrou a aliança que seu pai usara por muitos anos até a sua morte, e que
estava guardada. Era uma aliança bonita, e Matheus e Lari decidiram que a
aliança deles seria do mesmo formato, e o Matheus usaria a aliança que fora do
avô da Lari. Não é um relato curioso? A aliança do avô da noiva, agora seria a
aliança do seu esposo? E assim fizeram.
É
claro que estamos falando aqui de objetos, mas gostaria de aplicar esta verdade
a uma dimensão sobrenatural.
Uma
aliança possui uma dimensão transcendental e perene. Porque tem a ver com o
próprio Deus. A aliança de amizade entre Jônatas e Davi eram assim: “O Senhor está entre mim e ti, para sempre”.
Deus está entre nós, esta é a beleza de nossa aliança. E porque ele está
conosco, ela será duradoura, para sempre.
Que
Deus nos abençoe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário