segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Mt 4.1-11 A Anatomia da Tentação

 



Introdução

 

Diariamente enfrentamos tentações, algumas em maior escala, outras menores. Na verdade, não existem pequenas tentações, porque elas só se tornam tentação quando mexem conosco, provocam reações viscerais e nos tornam propensos a queda. Só se torna tentação aquilo que nos atrai. Tiago afirma que “cada um de nós é tentado por sua própria cobiça”.

 

Para se obter vitória, não existem fórmulas. Temos a tendência de julgar, escrutinar, apedrejar quem cai, quando a Bíblia nos diz claramente: “aquele que pensa estar em pé, veja que não caia”.Todas as vezes que vemos pessoas que amam a Deus, caindo, ao invés de julgá-las deveríamos ter uma atitude de respeito e reverência maior a Deus, de cuidado para nós mesmos, ao invés de nos tornarmos críticos.

 

Jesus as enfrentou de forma contundente. Ele foi vitorioso. Hoje gostaríamos de considerar como pode Jesus obter vitórias sobre elas.

 

1.     Precisamos enfrentar a tentação tendo como alicerce o afeto de Deus – Geralmente olhamos a narrativa da tentação de Cristo, ignorando o que precede tal tentação. Antes de enviá-lo ao deserto, Deus lhe faz uma manifestação pública de carinho: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Mt 3.17 Quando as tentações de Jesus começam no deserto, a primeira coisa que Satanás faz é questionar sua filiação divina. Se és filho de Deus!” (Mt 4.3)

 

Sabe qual é a essência deste questionamento que o diabo faz? ele insinua que Jesus não é Filho.

 

Quando passamos pela fornalha ardente, em tempos de privação e sofrimento, tendemos a:

 

q  Nos culpar, a acharmos que fizemos alguma coisa errada, que se estamos passando por uma situação difícil, certamente isto se dá porque não fomos fieis e por isto pesa sobre nós o juízo de Deus. Quando nos deparamos com a dura realidade de um leito de hospital, e as sombras da morte pesam sobre nós, achamos que Deus não nos ama. Reforça esta tese o conceito judaico de que o homem de Deus tem que ser próspero, e a equivocada pregação da teologia da Prosperidade, que rejeita a ideia de que uma pessoa temente a Deus passe pelo sofrimento.

 

q  A outra atitude em temos de privação e sofrimento é a de culpar Deus, e acharmos que Ele não nos ama, e que, por esta razão permite que passemos pela dor.

 

Não é exatamente isto que Satanás faz com Jesus? Se és filho de Deus!” (Mt 4.3) Satanás insinua que Jesus se equivocou sobre o amor de Deus por ele, que Deus nunca o considerou filho, porque filho de Deus não passa fome, nem privação.

 

O que nos sustenta em tempos de crise é sabermos que, mesmo quando andamos no vale da sombra da morte, não temeremos mal algum, porque a sua vara e o seu cajado nos consolam.É a convicção de que somos filhos amados do Pai.

 

Nosso problema básico na fé cristão e na vida tem a ver com aceitação. Por isto Deus faz afirmação de amor por Jesus.

 

Convivi por quase 9 anos com imigrantes brasileiros nos EUA, toda segunda geração é emocionalmente complicada, se envolve com gangs, torna-se agressiva. Enquanto a primeira geração trabalha como louca para sobreviver, a segunda geração tenta se estruturar, mas a identidade deles é confusa. Não são brasileiros, nem americanos. Associado a isto, os pais tem muito pouco tempo para demonstrar afeto aos seus filhos, porque em geral trabalham 60 horas semanais, e quando tem tempo livre, estão indispostos a fazerem programa com os filhos. Os filhos se tornam inseguros e pouco amados. Aumenta o número de depressão e suicídio entre eles.

 

Gente insegura quanto aos seus afetos, torna-se obcecada por sinais. Quer provas, falta confiança essencial no caráter e na amizade de Deus. Outro aspecto, está sempre querendo provar a Deus o quanto são boas, para que assim (pensam eles...) Deus possa amá-las. Quando a tentação vem, e chegam as dificuldades, torna-se difícil atravessar o vale sombrio, porque a relação que era buscada para se sentir amado era a relação de troca, não baseada na graça que a todos dá livre e liberalmente. É fácil desenvolver uma fé baseada em performance, acreditando que seremos amados pelo  desempenho que demonstramos. Precisamos constantemente de evidências de que somos amados de Deus, e quando tais provas não aparecem, nos tornamos completamente desorientados.

 

Esta teologia, é o fundamento de Satanás na argumentação sobre a vida de Jó. O que ele diz é exatamente isto a Deus: “Porventura, Jó debalde teme a Deus?...Estende, porém, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face”.Jó 1.9,11  Satanás afirma para Deus que a base da relação que o ser humano estabelece com ele é da troca, da retribuição. Só o louvamos porque ele dá coisas, nos abençoa, mas se Deus tirasse as coisas que Jó possuía, toda sua prosperidade e abundância, ele o amaldiçoaria.

 

É muito difícil enfrentar tribulações, sem a certeza de que somos amados de Deus. Torna-se mais fácil quando entendemos o quanto ele nos ama. Este texto descreve Jesus no deserto, sendo duramente tentado, mas as palavras de afeto de Deus ainda ecoam na sua mente. “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mt 3.17. Como precisamos entender isto...

 

  1. Precisamos estar alertas para enfrentar a tentação. Geralmente caímos porque julgamos que somos imbatíveis, nada nos atingirá. “Aquele que pensa estar em pé, veja que não caia”. Tentações surgem no meio de nosso despreparo e desta forma nos atinge em cheio com suas setas infalíveis.

 

Em Janeiro de 2003, perdi um irmão muito querido em Brasília (Helder Dias – 29 Jan 03). Foi uma morte súbita, uma meningite que o atingiu durante sua viagem de férias para o Nordeste e ele morreu em menos de 12 horas. Uma pessoa me disse que este virus está presente entre nós, mas quando o organismo está frágil ele entra em ação com efeito fulminante. Este rapaz estava enfrentando um seriíssimo problema no casamento, e talvez sua fragilidade emocional tenha se tornado um componente pesado e potencializado a enfermidade.

 

Muitas vezes caímos em tentação, porque não alimentamos nossa alma, não nos prevenimos contra os dias dificeis e os ataques do diabo.

 

Paulo recomenda: “”Revesti-vos do Senhor Jesus e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.” (Rm 13.14) Outra tradução diz: “Não façais provisão para a carne”.

 

Jesus foi levado ao deserto, para ser tentando pelo diabo, mas ele estava preparado para este enfrentamento. Ele estava se consagrando, estava em jejum, sua alma estava preparada contra os possíveis ataques do diabo. Não é o que geralmente acontece conosco. Em geral caímos porque estamos muito fragilizados.

 

Normalmente quedas são precedidas por negligência espiritual, relaxamos espiritualmente, deixamos as coisas simplesmente acontecerem. Não estamos vigilantes em relação ao que pode acontecer. A tentação de Jesus teve efeito menos trágico, porque ele estava espiritualmente preparado para as ofertas que Satanás faria. A Bíblia afirma: “Aquele que pensa estar em pé, veja que não caia.” Não é o que está em pé, mas aquele que julga, que acredita estar.

 

  1. Enfrente a tentação, tendo Deus ao seu lado– O texto se inicia com uma declaração: “A seguir , foi levado Jesus pelo Espírito, ao deserto, para ser tentado.” (Mt 4.1).

 

Apesar de sermos levados pelo Espírito, isto é, Deus mesmo permite que passemos pela prova para sermos provados, ele nunca retira sua presenca de nós em tempos de tentação. Não estamos sós. Jesus afirmou as seus discípulos: Não vos deixarei órfãos.”  Eventualmente até acreditamos que estamos orfãos, mas esta não é a realidade.

 

O texto conclui também dizendo:  “Com isto o diabo o deixou, e eis que vieram anjos e o serviram.” (Mt 4.11)  A tentação começa e termina evidenciando a presenca de Deus.

 

Quantas vezes estamos cansados, no limite, entregando o ponto. Deus não nos deixará sós, esta é sua promessa. Outras vezes também, erroneamente acreditamos que podemos resistir à tentação, por causa de nossas habilidades e capacitações humanas. Nada poderia ser mais falso. O Evangelho aponta para o nosso fracasso em responder as coisas de Deus. A verdade é que estamos constantemente falhando, precisamos de sua graça.

 

O salmo 124 precisa ser lido...”não fosse o Senhor, Israel que o diga...”

 

 

 




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