segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Mt 4.1-11 A realidade da Tentaçào

 



Introdução


A história “Os Três Eduardos” de Thomas Costain, descreve a vida de Raynald III, um duque do décimo quarto século, que viveu no que hoje é a Bélgica.

Totalmente acima do peso, Raynald foi comumente chamado por seu apelido latino, Crassus, que quer dizer "gordo".

Depois de uma disputa violenta, o irmão mais jovem de Raynald, Eduardo, conduziu uma revolta bem sucedida contra ele. Eduardo capturou Raynald mas não o matou. Ao invés disso, ele o colocou num quarto no castelo de Nieuwkerk e prometeu que ele poderia recuperar o título e a propriedade dele assim que pudesse deixar o quarto. Isto não teria sido difícil para a maioria das pessoas porque o quarto tinha várias janelas e uma porta de tamanho próximo ao normal, e nenhuma delas estava trancada. O problema era o tamanho de Raynald. Para recuperar a liberdade, ele precisava perder peso. Mas Eduardo conhecia o irmão mais velho, e cada dia ele enviava uma variedade de comidas deliciosas. Ao invés de fazer regime para sair da prisão, Raynald engordou mais.

Quando acusaram o Duque Eduardo de crueldade, ele tinha uma resposta pronta: "Meu irmão não é um prisioneiro. Ele pode sair quando ele bem quiser."

Raynald ficou naquele quarto durante dez anos e não foi libertado até depois que Eduardo morreu numa batalha. Mas a este ponto, a saúde dele já estava tão arruinada que ele morreu dentro de um ano. . . prisioneiro do seu próprio apetite.

“Illustrations for Preaching and Teaching from Leadership Journal” de Craig Brian Larson, editor, Grand Rapids: Baker Book House, 1993, p. 229

 

Hoje o tema do nosso sermão é "A realidade da tentação". Gostaria de fazer quatro afirmações preliminares sobre tentação: 

 

  1. Ser tentado não é pecado.

 

O texto afirma que “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito, ao deserto para ser tentado.” (Mt 4.1). Portanto, não há nenhum problema com a tentação, a não ser que cedamos às ofertas sedutoras do diabo. Pelo contrário, as tentações fazem parte de um processo no qual Deus permite que sejamos avaliados e testados quanto à nossa fé. Todo homem e mulher de Deus enfrenta tentações.

 

  1. Muitas tentações ocorrem depois de grandes experiências com Deus

 

É o que observamos no texto. Jesus é levado ao deserto para ser tentado, depois de seu batismo, e as tentações lhe sobrevieram depois de um longo período de consagração e dedicação de sua vida a Deus no deserto. Ele estava jejuando e orando. Sua tentação veio depois deste longo período de dedicação. 

 

  • Elias, depois da vitória do Carmelo, sente-se deprimido e pede para morrer.
  • Após a transfiguração Jesus tem que se defrontar com um endemoniado.
  • Muitas pessoas enfrentam verdadeiras lutas espirituais depois de um retiro abençoado, ou de um culto de adoração. 
  • Depois de um culto abençoado na cidade de Gurupí, uma fiel mulher, mãe de um amigo meu é acidentada e morre ao sair da igreja.

 

  1. A tentação é uma realidade que não pode ser ignorada

 

Ela vem de formas diferentes porque cada um de nós possui áreas diferentes de fraquezas e pelas quais nos sentimos mais fascinados. Mas não ignore a tentação. Ela sempre estará rondando sua vida, seja em forma de fantasias, pensamentos, ideias, e surge inesperadamente. A verdade é que "não posso impedir que um passarinho voe sobre minha cabeça, mas posso impedir que ele faça ninho sobre ela". Por que a tentação é uma realidade sempre presente em nossa caminhada de fé, a Palavra de Deus  afirma:  “Não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas, antes ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.” (Hb 4.15).

 

  1. A Palavra nos orienta como não cair em pecado

 

Existem fronteiras e proteções que podemos e devemos criar diante das tentações: Oração e jejum fazem parte deste arsenal de guerra que devemos usar para combater nossas paixões. Viver de forma descuidada, distraída e desatenta, por ser muito perigoso. Não vencemos a tentação sem aprofundar a vida no compromisso com o discipulado cristão. Todas as vezes que vemos pessoas caindo em pecado, podemos observar que sua vida espiritual está se desmoronando porque a prática da oração, vida de comunhão com Deus, o tempo devocional e o afastamento da igreja estava se tornando cada vez mais evidente em suas vidas. A queda se dá geralmente porque a imunidade está fraca.

 

Jesus entendia muito bem disto: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”  (Mt 26.41). Deus tem provisão para aqueles que são tentados: “Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.” (Hb 2.18)

 

O texto nos revela alguns aspectos surpreendentes sobre a tentação

 

  1. Lança dúvida sobre sua identidade - "Se és Filho". 

 

Satanás coloca dúvidas na relação dele com o Pai, sugerindo que se fosse filho amado de Deus não passaria por  todas aquelas crises. Curiosamente ele tenta lançar dúvidas sobre a declaração que anteriormente Deus havia feito, de forma pública a Jesus, em Mt 3.17 quando afirmou: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo”.

 

A declaração de Deus revela a identidade de Jesus como filho amado. Deus lhe assegura a alegria da paternidade. Quando não entendemos a paternidade de Deus, as tentações se tornam muito fortes. Em geral, por causa do senso de orfandade, geralmente nos transformamos em vítimas. Se você não souber que é filho de Deus, certamente as tentações e privações se tornarão muito pesadas. Por isto Satanás  tem todo interesse que você não saiba de sua identidade diante de Deus, por meio de Cristo Jesus.

 

  1. Lança dúvida sobre o amor de Deus por Jesus - "Se és Filho". 

 

Existe outro aspecto que precisa ser considerado. Ao questionar sua filiação e identidade, Satanás está também questionando os afetos de Deus por Jesus. No texto anterior, Deus afirma que tinha prazer em Cristo, entretanto, Satanás lança dúvidas sobre sua identidade, sobre a relação com o Pai. Ao fazer isto, Satanás mexe num ingrediente essencial. Ele insinua a Jesus: Será que Deus realmente te ama? Se Deus te ama, porque ele permite que você passe pela privação e sofrimento, pela dor e pela morte? 

 

As mesmas dúvidas ele lança sobre nossa mente. Ele nos questiona: Será que um crente fiel passa pelo deserto? Que um filho amado de Deus passa fome? Se Deus ama, porque permite que coisas ruins aconteçam?

 

  1. Lança dúvidas na hora certa – E depois de jejuar, quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mt 4.2)

 

Certamente este período de privação extrapola os limites da resistência humana, que afirma que uma pessoa não consegue sobreviver sem água por 3 dias, e sem comida, por 21 dias. Portanto, trata-se de um tempo longo de privação. Jesus está no seu limite. Depois de 40 dias, teve fome. O tentador deixou sua fome aguçar e então “aproxima-se”. 


Caímos em tentação quando nossas necessidades estão no limite. Quando estamos cansados ou carentes, quando a fome se aguça, os desejos se potencializam. Esaú vendeu seu direito de primogenitura por um mero prato de sopa de lentilhas. Ele vendeu sua honra e dignidade, para satisfazer um apetite que estava no limite. O mesmo acontece conosco.

 

  1. Lança dúvidas no condicional- "Se és filho de Deus" (Mt 4.3,6,9).

 

Satanás usa a força do condicional “se”, em três ocasiões. O que ele está insinuando é que, aquilo que Cristo acreditava ser verdade, parece equivocado. Jesus sabia que era filho de Deus, ou será que não? Apesar disto, Satanás usa suas necessidades e dores, para questioná-lo sobre a realidade da filiação. Não é exatamente isto que acontece conosco?

 

Nós amamos a Deus, cremos na sua Palavra, estamos seguros na obra de Cristo, mas quando surgem as dificuldades e as intempéries, imediatamente nossas convicções são colocadas na condicional. “E se...” não for realidade o que creio? E se meus valores espirituais não estiverem corretamente fundamentados?

 

Veja que Satanás não diz abertamente que Jesus não é filho de Deus. Ele apenas insinua, questiona, lança dúvidas. E “se”? Este método usado pelo diabo é um recurso poderoso e muitas vezes nos pega desprevenidos.

 

As fontes da tentação

 

Jesus sofre tentações em áreas muito relevantes

 

  1. Tentação de absolutizar o desejo humano - “coma!” 

 

A estratégia da tentação foi levar Jesus a usar seu poder egoisticamente para sua própria satisfação. Colocar Deus para funcionar em função dos seus desejos.

 

O diabo diz: Libere teus desejos, o desejo de teu corpo. Teu corpo tem desejos, alimenta-o! Não reprima sua necessidade, satisfaça-a!  É o desejo da sensualidade  manifesto na fome. É aqui que muitos sucumbem. Ele nos leva a pensar que entre nossas paixões e a obediência e fidelidade aos princípios de Deus, as paixões devem ser atendidas. Certa vez aconselhei um homem vivendo uma grande tentação e estava inclinado a abandonar suas convicções e ceder às tentações e eu lhe disse: "Você precisa decidir se você quer seguir às suas paixões ou seguir os princípios de Cristo". Com muita luta, ele decidiu que queria seguir a Cristo e ser fiel a Jesus.

 

  • Esaú estava faminto, viu o prato de sopas de lentilhas e não resistiu. Vendeu seu direito de primogenitura. É o desejo do desejo imediato, tem que ser satisfeito agora.

 

  • Davi vê a mulher tomando banho, manda buscá-la para seu palácio e se envolve com ela, trazendo graves consequências sobre sua vida.

 

  1. Tentação de manipular o sagrado da vida humana – “Manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4.3)

 

Satanás tenta levar Jesus a usas as coisas de Deus a seu favor. Não apenas sugere que ele transforme as pedras em pães para satisfazer sua fome, mas o provoca para que pule do pináculo do templo, pois com este salto, os homens ficariam impressionados com o seu poder. Satanás sugere a Jesus que este gesto atrairia mais a atenção que três anos árduos de ministério numa região de miseráveis como a Galiléia, no meio dos pobres e desvalorizados ou no dantesco evento que o levaria para a cruz. O diabo sugere a Jesus que tome o caminho mais curto. Ele até mesmo cita a Bíblia. “Porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: eles te susterão nas mãos, para não tropeçares em pedra alguma” Esta é uma citação do Salmo 90.

 

Não é isto que nos acontece quando somos tentados? Somos capazes de citar textos bíblicos para justificar nosso pecado, e achamos que estamos certos.

 

Satanás usa o ideal de serviço a Deus de forma distorcida, é especialista em perverter o sagrado.

-     Faz do milagre, charlatanismo.

-    Faz do serviço caridoso um negócio (Alguns projetos missionários e sociais podem entrar no rol desta suspeição, com pessoas gerando compaixão e mexendo com o emocional dos doadores para terem verbas que nunca passam por uma auditoria de nenhuma instituição).

-    Transforma os dons em auto-exaltação, usando-os como status pessoal.

-    Até a oração pode ser usada como forma de auto-promoção. “Para serem vistos pelos homens”.

 

Às vezes, a busca pelo poder na espiritualidade é reflexo de nossa insegurança, sobre nossa relação com o Pai. Como filhos que querem dinheiro dos pais para saberem se são amados. Tais filhos fazem isto por não terem segurança em nenhuma outra dimensão.

 

  1. Tentação de absolutizar a dimensão do papéis – Podemos observar como isto pode ir em três direções:

 

Þ    No econômico-social  - “Transforme pedras em pães.” Você não precisa ter necessidade de nada. Deus pode lhe dar tudo. Decrete e tudo acontecerá!

Þ    No Marketing – “Atira-te abaixo, porque está escrito!” - pula!  Não comece seu ministério na obscura Nazaré, lugar pobre. Venha para o grande centro de atenção do país, salte do pináculo do tempo. Use o marketing a seu favor. Dê um show, pule! Você precisa de relevância.  

Þ    No Político - “Todos os reinos do mundo te darei se prostrado me adorares.” Você precisa de projeção, da atenção, do poder. Eu posso lhe dar tudo isto.

 

Como vimos, Jesus rejeitou todas as ofertas do diabo.

 

  1. Tentação de criar a filosofia de que os fins justificam os meios Porque está escrito!”

 

Satanás cita a Bíblia. Sempre. Em todas as tentações de Jesus narradas neste texto, Satanás cita a Bíblia. Não importa como chegar lá, o importante é chegar. Prá conquistar vale tudo!  Está é uma filosofia diabólica. Ele nos diz que qualquer coisa que pudermos utilizar, mesmo que sejam desonestos, podem ser usados. Por esta razão, muitas vezes igrejas fazem declarações e profetadas, para impressionar as pessoas, e atrair público para a Igreja, pregadores fazem revelações que Deus nunca deu, palavras misteriosas que Deus nunca falou acreditando que "os fins justificam os meios". Jesus não aquiesceu a estas propostas feitas pelo diabo...

 

No dia do juízo, Jesus revela no sermão do monte, que muitos daqueles que usaram o nome de Cristo, ouvirão uma pesada sentença, apesar de terem feito coisas que deram muita projeção e visibilidade e aparentemente foram feitas para Deus. “Apartai-vos de mim, vós os que praticais a iniquidade.” Muitas vezes a igreja não se apercebe disto, tentando atrair pessoas, um público cada vez mais exigente, que exige mais e maiores sensações: A fé passa a viver na base de novas emoções e maiores sinais. Haja adrenalina!

 

Será que os fins justificam os meios? Vale qualquer coisa para atingir nossos alvos?

 

  1. Tentação de criar mentalidade utilitária em relação ao mundo espiritual – “Mande que estas pedras se transformem em pães”

 

 “Manda que...” Satanás sugere que o poder de Deus existe para nos servir...As pedras serão transformadas, as forças espirituais devem estar a nosso serviço.

 

Pula” - Se serve, tem que ser utilizado. Anjos vão te guardar! Manipule o poder com eficiência.

 

 

  1. Tenta fazer relação com que a relação com o poder e autoridade seja mais importante que a relação com a vontade de Deus. Tudo isto te darei se prostrado me adorares.”

 

Os reinos são meus , eu tos darei...”

O negócio do diabo é usar as coisas para seu beneficio próprio, mas a obsessão de Jesus não é poder nem autoridade, mas submissão à vontade de Deus.

 

Esta é a lógica da síndrome de Elimas, o mágico (At 8). Se converteu, não a Jesus, mas a um poder maior. Elimas tipifica pessoas que ficam buscando poder transferível de outros para sua auto promoção. Sempre há o perigo do mecanicismo religioso. Não existe nada cristão que é passado em série, nossa relação é individual com o Pai, de pessoa em pessoa. O Espírito concede os dons conforme lhe apraz, a cada um, individualmente. (1 Co 12.11)

 

Conclusão:

  1. Tentação é real - Não é algo sem sentido, vago. Tem cor, cheiro e forma. Vem com endereço certo, com o pacote certo. Fazem sentido para nossos desejos, sentimentos e necessidades.

  1. Tentação é oportunidade para crescimento - É a única forma que podemos ser aprovados ou não. É pela tentação, fogo, que se testa o caráter.

  1. Tentação é vencida pela Palavra - O diabo manipula a Palavra, ele só a usa para desvirtuar e corromper o pensamento original de Deus, mas ela sabe manipulá-la.

  1. Tentação será vencida com uma vida de consagração- O diabo tenta Jesus mas ele está forte. Não use sua oração só para admitir seu fracasso, use sua vida devocional para não fracassar.

  1. Vigilância eterna é o peso da liberdade. Na batalha espiritual não há férias;

 

Gostaria de concluir citando o último versículo deste texto: “Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram.” (Mt 4.11).

 

Vitória sobre a tentação traz a presença de Deus para perto de nós. 


Com isto o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram”


Muitas vezes achamos que não vamos conseguir, mas quando dissermos não ao diabo, abriremos as portas para que o consolo e a graça de Deus nos alcance. Tentação é vencida com temor a Deus - Desejo de agradar a Deus.

 

Foi isto motivou Jesus. Sua obediência a Deus. A santidade de Deus.


Por isto resistiu ao diabo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!



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