Introdução
Há sempre uma tendência de acharmos que os dias atuais sempre são os piores. No conhecido poema de Tim Cox, Filtro Solar, ele diz:
Aceite
certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você
também vai envelhecer.
E quando isso acontecer você vai fantasiar que quando
era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram
decentes,
E as crianças respeitavam os mais velhos.
O apostolo Paulo foi sábio ao afirmar que devemos remir o tempo, porque os dias são maus (Ef 5.15). Remir o tempo significa usá-lo da melhor forma possível, otimizar e aproveitar cada oportunidade. Entender que o tempo não é inesgotável, e que o homem de Deus exerce sua mordomia de forma sábia.
Os dias maus são os dias nos quais as tragédias nos atingem, e o caos parece dominar. Nestes dias, pensamentos e sentimentos se confundem e as forças parecem se esgotar. São dias de trevas, de dor e angústia.
Em dias normais, liderar é uma arte e um desafio. Por esta razão as pessoas fogem da liderança. Liderar exige criatividade, ousadia, planejamento, tenacidade, perseverança, coragem e enfrentamento. Liderar em dias maus, contudo, se constitui numa tarefa duplamente difícil.
Foi num contexto absolutamente adverso e caótico, que Neemias assumiu a grande tarefa de reconstruir os muros da cidade de Jerusalém e restaurar a cidade de seus pais. O livro de Neemias é um livro sobre coragem e fé, mas é um livro que fala de estratégia e liderança. Bons textos já foram escritos sobre a liderança de Neemias. Neste estudo, gostaria de analisar este livro, na perspectiva do caos. Como liderar em dias de caos, quando a desordem e a desesperança parecem dominar? O que fez de Neemias um grande líder?
Liderando em tempos de caos
Alguns princípios podem ser extraídos deste texto.
1. Lidere a parte da realidade e não a partir da utopia. Creio que este é o primeiro grande desafio de qualquer líder.
Temos facilidade de romantizar, criar falsas expectativas e achar que as coisas não são ou não estão tão ruins quanto parecem. O resultado desta ótica equivocada é frustração e desencorajamento quando nos depararmos com a realidade brutal.
Neemias liderou a reconstrução de Jerusalém, mas ele tinha uma exata leitura da realidade.
“Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas.” (Ne 1.3) Ele sabia das reais condições e desafios que iria enfrentar diante de si.
Muitas vezes vejo pastores assumindo campos, tentando plantar igreja sem terem a compreensão dos grandes desafios que enfrentarão. Eles acham que os desafios não serão tão grandes e fantasiam que a tarefa não será tão difícil, afinal, eles estão fazendo a obra de Deus. O resultado é um gigantesco fracasso e tudo porque não foram capazes de avaliar corretamente tudo quanto teriam pela frente.
Quando Paulo escreveu a Tito, ele afirmou: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes.” (Tt 1.4) Paulo havia conversado claramente com Tito sobre os desafios que ele teria em plantar uma igreja num contexto transcultural e numa sociedade tão complexa. Veja como Paulo descreve com dureza e objetividade a realidade daquela comunidade e dos habitantes de Creta.
“Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé.” (Tt 1.10-13)
Paulo os descreve como pessoas com sérios problemas de caráter. Eles eram mentirosos. Paulo os descreve como pessoas perigosas, “feras terríveis”, e marcados pela displicência e indolência: eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar. Não é uma descrição muito boa de um campo missionário, não acham? Aliás, a palavra cretino vem de Creta. Não é bem sugestivo?
Ter a compreensão da realidade e do desafio nos ajuda a não alimentar qualquer ilusão, e não assumirmos a tarefa enganados. É preciso olhar com realismo o desafio que temos diante de nós.
Quando estava saindo dos Estados Unidos, assumindo o pastorado da Igreja de Anápolis, um querido presbítero me procurou e disse:
-“Eh pastor, indo embora e deixando os pepinos para trás...”
e eu respondi: -“Eh, mas para onde vou, também tem pepino”.
E ele ironicamente respondeu: -“Mas é pepino de horta nova.”
E eu retruquei: -“Pepino de horta nova tem gosto diferente de pepino de horta velha?”
Quando enfrentarmos um desafio, devemos enfrentar com clareza e lucidez. Não há qualquer problema em assumir liderança em uma tarefa difícil, mas ao assumir, faça sabendo qual é a real situação. Neemias sabia da realidade de Jerusalém, ele não assumiu a tarefa sem compreensão das dificuldades, antes assumiu porque entendeu as dificuldades. Isto o preparou psicologicamente para as lutas que teria de enfrentar.
Quando assumirmos um trabalho, por menor que seja, devemos sempre levar em conta sua realidade, e o que Deus deseja de nós. Não importa quão grande seja o desafio, desde que saibamos da realidade e entendermos que Deus nos quer ali para “por em ordem as coisas restantes”, como aconteceu com Tito. Assuma, pois, a tarefa, sem vitimismo, ilusões ou fantasias.
Uma coisa que pode sempre nos sustentar é a compreensão de que “o salário para quem trabalha para Deus não é grande coisa, mas a aposentadoria é doutro mundo.”
2. Lidere orando, dependendo realmente de Deus
Este é o segundo princípio que observamos aqui neste texto. Neemias sabia que ele não poderia realizar a tarefa sem que a graça de Deus estivesse abundantemente sobre ele. Ele então, se aproxima de Deus, com uma agenda de oração, para receber a benção para realizar a obra.
“Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. E disse: ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos! Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamente contra ti, não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo.” (Ne 1.4-7)
Sua oração é profunda, densa, marcada por súplica e lágrimas. Não era uma oração superficial. Tenho observado, a partir das minhas próprias orações que geralmente oramos de forma superficial, olhando muito para as necessidades pessoais e das pessoas que amamos e que fazem parte de nosso pequeno círculo de relacionamentos. Nada errado em orar de forma intimista, mas nossas orações precisam ser mais profundas e mais abrangentes. Certa pessoa recomendou que as orações, na verdade, deveriam ser, de fora para dentro. Começando na periferia, em assuntos distantes como conflitos entre as nações e os campos missionários, para depois chegar até nossa comunidade e por fim, às nossas necessidades pessoais. Acho que é uma forma interessante de orar.
Neemias ora de forma intensa, assim como foi a oração de Elias. A Bíblia diz que “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.” (Tg 5.17,18)
Já pararam para refletir sobre a oração de Elias? O que ela tem de especial? A Bíblia afirma que ele orou “com instância.” Alguns creem que esta palavra tem a ver com perseverança, mas a ideia aqui é “intensidade”. Elias foi intenso na sua oração. O grande desafio não é apenas orar, mas orar com mais empenho, ou como bem afirmou Billy Graham: “Ore, até que você ore! Ore até que você e Deus sejam íntimos amigos”. As duas afirmações fazem muito sentido. Oh, como eu gostaria que minhas orações tivessem mais intensidade e foco...
Na oração de Neemias, ele ora a partir da compreensão da dura e calamitosa situação da cidade santa. Nossas orações tornam-se mais intensas, na medida em que consideramos a intensidade do nosso pecado, individual e coletivo. A gravidade do problema pode ser um fator motivacional para as orações, gerando uma espécie de ação espiritual. Ao considerarmos que aqueles que amamos encontram-se em situação de calamidade e ruína, podemos ser levados ao profundo desejo de ver algo novo e significativo acontecendo. Orações feitas em tempos de angústia anseiam um profundo mover de Deus onde há apenas escombros. Neemias ora intensamente a partir do momento que recebe a notícia da situação de seu povo que havia ficado em Jerusalém depois da invasão, ele ouviu falar do caos e da dor daqueles irmãos que ficaram na terra, e ora a partir da angústia e sofrimento. É importante saber que nossas orações sempre serão direcionadas para onde move o nosso coração, afinal, quem ama se compromete.
3. Lidere com os olhos fixos nas promessas de Deus
Neemias ora partir das Escrituras Sagradas, daquilo que Deus havia declarado na história e com as verdades reveladas por Deus decide liderar a reconstrução dos muros do templo e de Jerusalém. Ele leu nos livros sagrados que a desobediência espalharia seu povo e o dispersaria, mas leu também que se houvesse quebrantamento e retorno a Deus seriam restaurados.
A Bíblia afirma sempre há o sim que nas promessas de Deus, “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim.” (2 co 1.20) Quando Deus faz uma promessa, podemos agir baseado naquilo que ele disse. O sim de Deus não é para o que desejamos, nem para o que dizemos que é, seu sim está fundamentado em suas promessas. “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19) No sim de Deus não temos o talvez, Não é uma aposta, nem salto no escuro. O justo vive pela fé, nas promessas de Deus.
Veja como ele estrutura sua oração nas promessas de Deus.
“E disse: ah! Senhor, Deus dos
céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com
aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!
Lembra-te
da palavra que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: Se transgredirdes, eu
vos espalharei por entre os povos; mas, se vos converterdes a mim, e guardardes os
meus mandamentos, e os cumprirdes, então, ainda que os vossos rejeitados
estejam pelas extremidades do céu, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar
que tenho escolhido para ali fazer habitar o meu nome.”(Ne 1.5,8-9)
Neemias
se recorda dos mandamentos de Deus, e a partir daquilo que Deus disse, ele
decide retornar a Jerusalém. Sua liderança está baseada na Palavra: um olho na
história, e outro nas Escrituras. Se olhamos apenas a realidade, ficamos desiludidos
e desanimados, mas se olharmos as promessas, podemos vislumbrar o que o Senhor
é capaz de fazer. Deus não diz nada novo a Neemias pois ele já tem a Palavra
para guiá-lo. Muitos estão buscando novas profecias e revelações, Neemias, pelo
contrário, busca os mandamentos de Deus para validar e estruturar sua oração e
ação. Ele procura lembrar a Deus das suas promessas. “Lembra-te da palavra
que ordenaste a Moisés.”
Esta ideia de “lembrar o Senhor”, é muito interessante. Será que Deus tem uma memória ruim e eventualmente sofre de amnésia? O salmista na sua crise indaga: “Esqueceu-se Deus de ser benigno?” O profeta Isaias é ainda mais contundente e enfático:
“Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais se calarão; vós, os que fareis lembrado o Senhor, não descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra.” (Is 62.6,7)
Esta é uma simbologia interessante. Quando nossa liderança está baseada nas promessas de Deus, nós nos tornamos ousados, porque fazemos firmados nas promessas de Deus, lembrando suas palavras. Neemias ora e se sente impulsionado a agir e restaurar Jerusalém, porque tem promessas na Palavra. Esta, é uma das maneiras mais eficazes de orar, e esta deve ser a base de nossa liderança. Deus realmente está interessado neste projeto? Isto é vontade de Deus? Ele quer que sigamos nesta direção?
Muitas vezes precisamos liderar ouvindo as palavras do salmista: “Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão.” (Sl 126.4) Quando fazemos nossas atividades olhando as promessas de Deus nos animamos. Vou semear, mas vou colher. A semente que eu jogar no chão não vai se perder, Deus vai enviar colheita abundante. Ainda que hoje tenha que semear com lágrimas, o Senhor dá certeza de ter a benção da ceifa.
Esta é a recomendação bíblica: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” (1 Co 15.58)
Plantemos, sejamos abundantes e intensos na obra do Senhor. Fazer grandes coisas para Deus e esperar grandes colheitas de Deus. Não estamos plantando inseguros, mas confiantes. Como um semeador que lança sua semente com esperança dos feixes. Liderar assim é desafiador e encorajador, afinal, “aquele que semeia, cumpre fazê-lo com esperança.” (1 Co 9.10)
4. Lidere com planejamento e estratégia
Neemias sabia o que ele queria fazer, mas isto não era bastante. Ele precisava entender como deveria fazer. Então, ele elaborou um plano, e segue as mesmas estratégias das formulações teóricas sobre liderança que ainda hoje são aplicadas. Ele responde alguns “Ws” que as empresas americanas empregam atualmente: “Who, Whom, What, Where, When, Why.” – Quem, o que, onde e quando. Eles acrescentam ainda um “How” (Como) e um “How much” (quanto)
A. What? – “O que você quer?” Quando o rei começou a conversar com Neemias, esta foi uma das primeiras perguntas: “Disse-me o rei: Que me pedes agora?” (Ne 2.4).
Um dos princípios claros de liderança diz: “Se você não sabe aonde quer chegar, todos os ventos parecem contrários.” O rei deseja saber de Neemias o que ele queria. Saber o que queremos nos ajuda a pensar no quando, onde e como. Precisamos clarificar o alvo, saber o que estamos desejando fazer. Muitas vezes nossa visão é muito obscura sobre os alvos que desejamos, e o resultado é frustração e fracasso.
Sua resposta é clara:
“...peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.” (Ne 2.5).
B. When? – “Quando você pretende fazer isto?” Às vezes o plano é bom, mas não é exequível para o momento, ele precisa de mais amadurecimento. O quando fala do tempo, das etapas, da velocidade. O rei, novamente pergunta:
“Então, o rei, estando a rainha assentada junto dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando voltarás? Aprouve ao rei enviar-me, e marquei certo prazo.” (Ne 2.6).
Projetos precisam de tempo para execução. É necessário ter ideia de começo, meio e fim. Embora a pergunta inicial seja “Quanto durará a tua ausência?”, é possível perceber que ele não estava falando de custo, mas de tempo. A pergunta seguinte: “Quando voltarás?”, é ainda mais objetiva e direta. A resposta de Neemias demonstra como ele tinha ideia do tempo que duraria seu projeto: “marquei certo prazo.” Não era um projeto vago e nebuloso. Tinha tempo para execução.
C. Where? “Aonde você quer chegar?” Tem a ver com a direção. Neemias sabia claramente que seu alvo era ir a Jerusalém e restaurar os muros da cidade. “E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, deem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá.” (Ne 2.7)
Muitas vezes vivemos como um judeu errante. Sem lenço e sem documento. Uma espécie de “Forest Gum”, que faz as coisas sem objetividade no que faz. Neemias sabia onde ele queria chegar. Seu alvo era restaurar a cidade de seus pais.
D. Whom? “Com quem você pode contar? Quem deve estar contigo nesta empreitada?”
Neemias sabe muito bem com quem ele precisa se associar para atingir seus objetivos.
Primeiro, ele precisa da simpatia e aprovação do rei. Que veio de forma integral e irrestrita. O rei era indispensável para ele atingir seus objetivos.
“...Concede que seja bem-sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo eu era copeiro do rei.” (Ne 1.11)
Segundo ele precisava de apoio politico dos governadores dalém do
Eufrates, para que pudesse entrar sem barreiras em Jerusalém. Sem estas cartas
do rei e o apoio dos que governavam aquela região, seria impossível qualquer
projeto.
“E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, deem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá.” (Ne 2.7)
Terceiro, ele precisava de carta para os homens que eram responsáveis pelas florestas controladas pelo governo imperial, caso contrário ele não teria a madeira necessária para as reformas necessárias.
“Como também carta para Asafe, guarda das matas do rei, para que me dê madeira para as vigas das portas da cidadela do templo, para os muros da cidade e para a casa em que deverei alojar-me. E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era comigo.” (Ne 2.8)
E. How Much? Ele precisava ainda de recursos financeiros, de provisão. Não seria possível realizar o projeto sem orçamento e verba. Ele precisava de recursos.
Primeiro, ele pede que o rei lhe envie. Isto parece garantir algum sustento. Ele era “enviado pelo rei”, isto atrai recursos e disponibiliza os aspectos pecuniários.
Segundo, ele pede madeira: “para que me dê madeira para as vigas das portas da cidadela do templo,” Era um tipo de madeira especifica, que não era encontrada na região da Judeia, que era basicamente cercada pelo deserto. Ela tinha que vir do Libano num caro e deficil processo de transporte.
Muitos querem fazer a obra de Deus, sem planejamento financeiro, sem recursos, em nome da fé. “Deus vai providenciar.” Obviamente sabemos que toda provisão vem de Deus, mas a dependência de Deus não exclui o planejamento e a provisão necessária. Neemias sabia do que era necessário e qual seria o custo financeiro de um projeto como este.
Jesus afirma:
"Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar?” (Lc 14.28)
É preciso ter fé, mas não precisa ser irresponsável. Precisamos saber o custo de cada projeto que intentamos realizar.
F. How? - Isto tem a ver com o como: Etapas, estratégias, planos. Como isto seria realizado?
Esta é a diferença básica entre o sonhador e o idealizador. O sonhador quer chegar no topo, mas não sabe como e acha que é possível fazer sem nenhuma estratégia. O idealizador é aquele que quer chegar ao topo, mas sabe exatamente o que cada etapa vai exigir. Isto faz a diferença entre sucesso e fracasso.
Os recursos são limitados, e os desafios são imensos. Não é possível dar passos maiores que as pernas.
G. Why? – Isto tem a ver com a motivação. Por que desejo fazer isto? Muito dos nossos sonhos, na verdade, tem a ver mais com nossa vaidade pessoal que com a glória de Deus.
A motivação é fundamental para a realização de um projeto. Isto vai glorificar a Deus? Tem a ver com o reino de Deus? Neemias vê seu projeto como algo que traz glória ao nome de Deus.
“Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome.” (Ne 1.11).
Ele associa seu projeto ao fato de temer a Deus. Ele deseja fazer isto porque ele é um homem que “se agrada de temer o nome de Deus.” O temor a Deus o impulsiona, o desejo de agradar a Deus é o que o motiva. Ele saiu de sua zona de conforto, embrenhando-se num campo marcado por oposição, para resgatar a glória do povo de Deus e a glória do Deus de Israel.
A maior motivação para evangelizar, servir, ou realizar qualquer projeto tem que ser a glória de Deus. A vaidade, a reputação, o desejo de impressionar outros sempre é algo muito atraente e fascinante, mas tudo perde o sentido se Deus não for a razão única e maior.
5. Lidere tendo certeza de que haverá oposição.
Muitas vezes queremos fazer a obra ignorando a realidade da oposição e facilmente nos sentimos desencorajados quando surgem as críticas. Existe uma famosa frase de John Kennedy que diz: "Sempre se ouvirão vozes em discordância, expressando oposição sem alternativa, descobrindo o errado e nunca o certo, encontrando escuridão em toda parte e procurando exercer influência sem aceitar responsabilidade."
Neemias teve que enfrentar fortes oposições e lutas, tanto externas quanto internas. Algumas situações foram muito tensas. Podemos citar uma destas oposições que se encontra logo no segundo capítulo: “Porém Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, quando o souberam, zombaram de nós, e nos desprezaram, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei?” (Ne 2.19)
Não podemos realizar a obra sem entendermos a realidade e a natureza da oposição. A resistência à obra de Deus nos atinge de forma pessoal, familiar, emocional e espiritual. Ironicamente alguém declarou: “Se você acorda de manhã e não se encontra com o diabo, você está seguindo na direção errada.” Como aconteceu com Neemias, Satanás usa seus agentes. Neemias teve forte oposição de Sambalá e Tobias, pois com sua chegada eles perderam muito de seu prestígio e influência, além do mais, eles eram desfavoráveis à reconstrução de Jerusalém. Eles queriam a cidade destruída e sob monturos, pois eram inimigos da causa do Senhor.
Portanto, quando você decidir se envolver na obra do Senhor, e assumir liderança em um projeto que traz glória ao nome do Senhor, espere oposição.
6. Lidere compreendendo sua condição e quem é que faz a obra
Precisamos ainda, entender que tudo tem a ver com Deus, e não conosco. Neemias tinha uma compreensão muito clara de que, se alguma coisa estava dando certo e caminhando bem, isto tinha a ver com a graça de Deus. “E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era comigo.” (Ne 2.8) Ele não atribui o sucesso da empreitada à sua capacidade de logística e de planejamento, nem ao seu charme ou competência. Tudo o que estava acontecendo, na sua visão, tinha a ver com a graça de Deus em ação. Era Deus fazendo.
Podemos ser usados, mas é Deus quem faz a obra avançar. Na visão de Neemias, o rei lhe havia dado porque a mão de Deus estava com ele. Encontrar graça e favor, conseguir levantar os recursos e executar a obra, não era tanto por causa de seus recursos pessoais, mas por causa da intervenção de Deus.
Isto nos ajuda a entender quem somos.
“Eu plantei, Apolo regou, mas quem dá o crescimento é Deus.” (1 Co 3.6).
Todos os recursos, toda a riqueza, toda graça vem de Deus. No livro de Ageu lemos: “...Trabalhai, porque eu sou convosco, diz o Senhor dos Exércitos; Minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ag 2.4,8)
Temos que trabalhar sabendo da graça de Deus em andar conosco. O que nos move a semear é a compreensão de que o Deus da vida é que faz a semente germinar e faz os frutos brotarem. Ele tem todos os recursos. A prata e o ouro lhe pertencem. Portanto, façamos a obra sabendo quem é que faz... o próprio Deus é quem dinamiza, energiza, capacita, dá os recursos e força necessário para que sua obra avance.
Conclusão
Liderança é uma árdua tarefa. Erwin MacMannus (força em movimento), faz o seguinte comentário:
“Liderança não consiste na capacidade de determinar quanto o futuro oferece. É a disposição de seguir em frente quando tudo o que você conhece é Deus. Com mais frequência que gostaríamos de admitir, simplesmente desconhecemos o próximo passo. Mas se o nosso coração está ligado ao de Deus, nunca estamos perdidos. Deus nos convida continuamente a crer que seu futuro é ainda melhor do que todo o passado que temos vivido com ele.”
Vivemos tempos confusos e caóticos. Os valores estão sendo questionados, autoridade sendo rejeitada e a verdade sendo suprimida e negada. Estamos no meio de uma geração pervertida e corrupta, uma sociedade em desordem. Deus deseja homens e mulheres que se levantem neste tempo para dar ordem, direção e sentido. Deus nos chama para este tempo.
Como nos tempos de Neemias, Deus ainda continua levantando homens, inquietando corações, e dando ousadia para tarefas simples e para missões arriscadas. Deus faz tudo por meio daqueles a quem ele mesmo chama, vocaciona, capacita e envia. Podemos enfrentar dificuldades, angústias e medos na tarefa de liderar, mas quando Deus chama, ele capacita e dá os recursos. Quando nos dispomos a ser servos, instrumentos, ele pode fazer através de nós, por meio de nós, e a despeito de nós, muito mais do que imaginamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário