Introdução
A Nova Jerusalém é representativa da Igreja. (Ap 21.9) Este é um dos poucos textos de apocalipse que são autoexplicativos. João é convidado a conhecer a esposa de Cristo. “Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa de Cristo…E me transportou em Espírito…e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu.” (Ap 21.9-10. A noiva de Cristo é revelada a João na medida em que ele enxerga a cidade idealizada por Deus. A Nova Jerusalém, figurativamente, revela a igreja que Deus sempre quis ter.
Este texto nos revela a igreja que Deus idealizou, o plano e o sonho de Deus para sua noiva. Mostra não a realidade historicamente crítica, ou as feições tantas vezes meramente humana e algumas vezes quase demoníacas que a suposta igreja cristã tem mostrado no decorrer da história eclesiástica.
Os afrescos de Miguel Ângelo tinham uma característica notável: O rosto dos anjos era sempre muito ruborizados, vermelhos, excessivamente corados, e quando lhe perguntaram porque ele usava aquela cor forte, respondeu que os anjos estavam com vergonha de saber quem estava liderando a igreja.
Este texto mostra não a igreja que é dominada por homens inescrupulosos, mas a igreja que Deus planejou e criou para executar os seus planos na história. Por isto, este texto, é ao mesmo tempo desafio e julgamento. Esta é a noiva para a qual Cristo se deu. Paulo diz que ele temia que “assim como a serpente enganou a Eva, com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.” (2 Co 11.3) A Igreja, historicamente, tem sempre sido enganada, facilmente se apartando da simplicidade do Evangelho, e não raras as vezes, tem perdido a pureza devida a Cristo.
O texto de Apocalipse 21 nos mostra esta igreja idílica. Esta é a noiva de Cristo com bastante azeite na sua lâmpada para não ser surpreendida quando o noivo voltar. Esta é a igreja de Cristo na sua pureza e exercendo sua plena autoridade moral, sem impureza, sem rugas, nem manchas.
A realidade histórica da Igreja
A Igreja de Cristo, historicamente nos apresenta duas facetas.
Uma destas faces é positiva.
Tem sido uma igreja fiel no meio da perseguição, da apostasia, da heresia. Tem defendido os valores morais do Evangelho, tem pregado o Evangelho com autoridade, tem esvaziado o inferno com sua pregação de poder, tem confrontado os poderes das trevas, tem tirado milhares da superstição, do medo do diabo, livrado milhares da culpa, trazido paz ao coração dos homens, e levado a mensagem do Evangelho para libertação de vidas e trazido restauração a milhões de lares. Esta é a Igreja militante, a verdadeira igreja de Cristo, que no meio dos embates mais duros tem levantado o estandarte do Evangelho, e se mantido fiel, muitas vezes com o preço de sua própria vida.
Outra face é negativa.
Uma igreja que tem deixado suspeitas morais na sua liderança, uma igreja politiqueira e interesseira, que negocia status por fidelidade, que vende valores para se popularizar, que sacrifica a mensagem para enganar e atrair gente sofrida e incauta. Esta é a razão pela qual temos hoje uma igreja traumatizada, neurotizada, crítica e descrente.
Tenho encontrado pessoas na convivência da igreja que tem perdido a fé por ver tantos desmandos internos. Gente que tem se tornado amarga. Gente que já viu tantos sinais do Espírito no meio do povo de Deus, e que já foi até instrumentalizada por Deus na sua obra, mas que hoje questiona se aquilo era realidade ou emocionalismo artificialmente gerado. Gente que vive a crise daquele pai do garoto possesso que quando é perguntado por Jesus afirma se tinha fé, afirmou: “Eu creio, Senhor, ajuda-me na minha falta de fé”. É gente que crê sem crer. Vivendo uma distensão imensa na alma porque, ao mesmo tempo que crê, está com o coração seco por não saber realmente se deve crer ou não. Gente traumatizada, neurotizada, ferida, amarga, crítica, ressentida.
Pessoas com este tipo de experiência descobrem não o que a igreja de Cristo deveria ser, mas se encontram com o lado mais negativo e sombrio destas comunidades, e esta experiência normalmente desemboca em algumas atitudes extremamente negativas:
1. Tornam-se críticas da igreja ao invés de tornarem-se cooperadoras
Um dos casos exemplares foi de uma mulher, que depois de muitas frustrações na sua igreja de origem, começa a participar do culto em nossa igreja e sempre me dizendo à porta da Igreja. “Pastor, estou te avaliando…”
Um dia, depois de quase dois meses de tapinhas nas minhas costas e com sorrisos zombeteiros, olhei para os seus olhos e disse: “Filha, tem quase dois meses que você está me avaliando, deixe-me avaliá-la agora: Durante este tempo, muitas coisas boas aconteceram na igreja e você não foi abençoada, senão vejamos: enquanto você avalia o pastor, você olha com crítica a mensagem, e portanto, a palavra não pode penetrar em você. Enquanto você avalia a comunidade, você não se entrega, fica na periferia dela, não faz amigos, não se deixa tocar. Enquanto você avalia, você não contribui para o Reino com seus dons e talentos. Enquanto você avalia, sua atitude é de crítica, tentando descobrir falhas que certamente você vai encontrar. Enquanto mantiver esta atitude, você não receber a graça de Deus, e nem vai poder ser usada pelo Senhor. Creio que está na hora de você mudar sua atitude. Devemos ir à igreja, para sermos abençoado pela mensagem, para termos comunhão com o corpo de Cristo, para glorificarmos a Deus através dos cânticos e das orações. Devemos ir porque amamos o Senhor, e por isto tiramos nossas reservas e nos abrimos para a operação do Espírito Santo em nós. Esta sua atitude de crítica, vai drená-la espiritualmente, vou lhe roubar bênçãos e a alegria do Senhor”. Ela admitiu que isto era verdade, mas logo depois saiu novamente da igreja, levando e fazendo outras feridas naquela comunidade.
2. Não aprendem a amar a igreja de Cristo, e esta relação confusa com o Corpo de Cristo afeta diretamente a vida espiritual de seus filhos
Pessoas assim, facilmente tornam-se críticas e amargas contra a igreja. O resultado é a incredulidade que brota no coração dos filhos. Filhos passam também a ser críticos da igreja e muitas vezes a rejeitá-la. Isto acontece especialmente com pessoas que são líderes numa comunidade. Diante das disputas internas, falta de piedade dos pais e da liderança da igreja, os filhos tomam posição de defesa e acusação e finalmente rejeitam, não apenas as falhas da comunidade, mas passam a descrer do conteúdo do Evangelho;
3. Esvaziam suas almas
Por causa da animosidade, da contenda, dos ciúmes e da inveja presentes na igreja, facilmente tais pessoas tendem a perder a comunhão com o Senhor, o vigor do primeiro amor, a alegria da salvação. O fato é que, nunca vi uma pessoa cheia do Espírito que não tivesse uma relação de amor e cuidado com a igreja, e que não estivesse debaixo da autoridade espiritual da igreja. Muitas vezes viver numa comunidade não é fácil, mas é na comunidade que aprendemos a paciência, que exercitamos o perdão, e é bom lembrar que Deus criou os membros do corpo não para estarem separados, mas para viverem em harmonia e refletissem a presença de Cristo na experiência comunitária.
4. Estão buscando a igreja perfeita.
Criam uma imagem idealista da igreja e se frustram facilmente. Muitas delas, passam a visitar várias comunidades, mas sempre de forma crítica, encontrando falhas aqui e acolá, tornam-se cada vez mais distante do propósito de Deus para suas vidas. Costumo dizer a estes turistas cristãos: Se você achar uma igreja perfeita, não entre nela porque você pode estragá-la.
Obviamente, o que dizemos agora é apenas um preâmbulo para abordarmos este texto, que fala da Igreja de Cristo. O que Deus quer fazer da sua igreja? Qual é o projeto definitivo e eterno que ele estabeleceu para a sua noiva, para o seu povo pelo qual ele morreu? Quais as características desta noiva estão prefiguradas neste texto? O que estava na mente de Deus quando ele formou a igreja?
1. A Igreja tem a Glória de Deus sobre ela – “E me mostrou a cidade santa, que descia do céu, da parte de Deus.” (Ap 21.10) A presença de Deus deve marcar a sua Igreja, porque ela desce de Deus. (Ap 21.10,11). Algo nela deve ser distintiva.
Duas passagens das escrituras nos demonstram esta revelação de Deus sobre a sua igreja:
a) - O Tabernáculo
Nos dias de Moisés foi construído uma tenda, onde se ofertavam os sacrifícios, e onde o povo se reunia para adorar a Deus. O povo de Deus estava no deserto, mas ali naquela tenda o sinal distintivo de Deus estava presente: a nuvem de dia, para proteger-lhes do Sol, e uma coluna de fogo, a noite para iluminar o caminho. Quando a nuvem se levantava, eles desmanchavam suas tendas, e seguiam a movimentação da nuvem. O povo só se movia quando estas manifestações de Deus se davam. A Glória de Deus estava sobre aquele povo. A presença de Deus enchia o tabernáculo.
b)- A Igreja Primitiva
Uma das declarações mais impressionantes no relato de Atos 2-4 sobre a existência da igreja é que em cada alma havia “temor.” (At 2.43) A tradução das NIV é “awe” (uma palavra que é mais usada como uma interjeição), dando ideia de que, porque Deus estava ali, na alma das pessoas havia “espanto”.
Sem a glória de Cristo, presente e manifesta no meio de seu povo, a igreja torna-se esvaziada do seu poder de impacto. Esta é a primeira verdade que este texto revela sobre a igreja de Cristo vista por João no céu. O protótipo, o modelo, o design, a proposta de Deus para sua comunidade. Sem a glória de Deus, podemos ser uma grande e poderosa instituição, mas ainda assim sermos uma realidade pálida do que Deus deseja de sua igreja;
2. A Igreja tem proteção – “Grande e alta muralha.” (Ap 21.12) Esta muralha representa a cerca de proteção de Deus para a sua igreja.
A Igreja de Cristo não é desprotegida, existe fortíssima e cerrada oposição contra a igreja de Cristo, estamos numa guerra espiritual, na qual a igreja é o exército de Deus para esta milícia, mas sem a presença protetora de Deus, sem o seu Espírito Santo, somos presa fácil. Tornamo-nos fortes por causa da muralha de proteção que Deus tem colocado sobre a sua igreja. Se ela não for fortemente protegida, com grandes e altas muralhas, será destruída.
São muitas as forças contra a igreja,
Ateísmo,
Filosofia,
Sistemas políticos e religiosos,
sistemas de valores, propaganda,
Perseguição,
Heresias,
Apostasia.
A igreja precisa de muralhas contra os inimigos. Esta muralha é a presença do Senhor Jesus. “Edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.18) O apóstolo Paulo, falando do povo de Deus afirma: “As armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus.” (2 Co10.4-5)
Nas portas de entrada a Nova Jerusalém, protótipo da igreja de Cristo, é necessário um forte de esquema de segurança, porque pelas suas portas podem entrar heresias que causam profundos danos ao corpo de Cristo e são infiltrações satânicas para confundir o povo de Deus.
3. A Igreja é protegida, mas não é fechada: tem portas para todos os lados (Ap 21.13)
São portas em todas as direções:
Norte
Leste Oeste
Sul
E as portas estão abertas, não fechadas. Isto aponta para a natureza missionária da Igreja, seu projeto de ser e existir para o mundo.
Um dos grandes problemas da igreja é o seu ensimesmamento, facilmente ela transforma-se em gueto, fechando-se em torno de si mesma. A Igreja é um organismo vivo, e como tal precisa se reproduzir, ampliar suas fronteiras. Esta igreja tem espaço aberto para todos os que precisam de conforto, direção, acolhimento, proteção, cura e direção, para todos os que se encontram perdidos e cansados.
Esta igreja, contudo, denuncia o perigo de uma igreja fechada. Facilmente a igreja torna-se um fim em si mesma, sem visão, sem missão, sem sonhos, sem projeto. Torna-se ensimesmada, fechada, não receptiva. A Igreja de Cristo é retratada aqui com portas abertas. Em nenhuma circunstância, sob nenhum pretexto, a nenhum grupo racial, social ou político a igreja pode ter suas portas fechadas. “Suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque nela não haverá noite.” (Ap 21.25) Portas abertas a todo tempo, a todas as horas. Só quando a igreja se abre, pode realizar sua missão, e as nações poderão trazer-lhe glória e honra. (Ap 21.26).
4. A Igreja possui fundamentos absolutos e claros – O texto afirma que “a muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21.14).
A Igreja de Cristo é antes de tudo Apostólica.
Paulo afirma que a família de Deus está “fundamentada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular.” (Ef 2.20) Isto é, sua fortaleza e estrutura, sua defesa e proteção está na base apostolar. Nada é mais eficiente ainda hoje contra as heresias e desvios teológicos que o fundamento no qual a Igreja está construída.
Esta igreja ideal, também denuncia a tendência da igreja de perder seus fundamentos, sua base. Muitas vezes a igreja é tudo, menos apostólica. Houve uma determinada época que a Igreja resolveu afirmar que além de apostólica precisava ser romana, e estabeleceu outro fundamento que era a tradição. Isto foi um grande tropeço para a igreja de Cristo na sua história. O texto daqui nos mostra qual o fundamento no qual sua muralha é erigida, e esta base é apostolar.
Muitos querem fundamentar a igreja em cima de outros pressupostos como a experiência pessoal. Afirmam que tiveram novas revelações, novas profecias, novas experiências sobrenaturais e que Deus está trazendo uma nova mensagem, complementar ou contrária ao que já foi dada aos apóstolos. Isto tem trazido enormes prejuízos para a mensagem do Evangelho. Desconfie do novo, da novidade teológica. Em teologia, o novo quase sempre é a negação do Velho e nossa base é velha, nosso fundamento é antigo. Foi dado aos apóstolos. Portanto, “Ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gl 1.9)
O Salmo 11.3 indaga: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” Quando vamos comprar uma casa, além do seu aspecto exterior, estamos profundamente interessados em saber como é sua base. Se ela estiver ruim, mesmo que tudo o mais pareça excelente, certamente não queremos adquirir tal propriedade. Se os fundamentos teológicos da igreja forem destruídos, a igreja estará mortalmente ferida.
5. A igreja triunfante é adornada de pedras preciosas – é ornamentada. “Estão adornadas de toda espécie de pedras preciosas.” (Ap 21.18-21)
A cidade que representa a igreja causa admiração em quem a vê por causa de seus ornamentos. As pessoas admiram sua beleza. Estas pedras têm apenas a função de ornamentar, de adornar, representa valores estéticos. Assim, o povo de Deus, deve ser admirado pelos seus adornos, suas obras, seus atos, sua missão, seu ministério, seus atos de justiça e de misericórdia.
A igreja tem sido admirada na história pelo adorno de sua misericórdia. Socorrendo os desvalidos, os miseráveis, estendendo a mão ao aflito, tornando-se a voz daqueles que não tem voz. Sendo o socorro para o órfão e a viúva. Quantas vezes a igreja tem sido admirada na história de sua existência pelo seu poder de resistência a governos tiranos, sua incapacidade de se curvar diante das ameaças de déspotas, sua perseverança e resistência diante da oposição e da ameaça. Muitas vezes a igreja tem sido admirada pelo adorno de seu ministério, restaurando famílias, indivíduos, culturas e nações, livrando povos do obscurantismo, da opressão maligna, da ignorância e do medo. Estes são os adornos da igreja de Cristo. Pedras raras e de grande valor tem sido colocadas sobre este fundamento apostólico.
Além disto, estas pedras revelam outros aspectos da noiva de Cristo: sua solidez, durabilidade e esplendor. Estas realidades são experimentadas historicamente, de forma muito opaca na igreja militante de Cristo, da qual temos participado. Mas o propósito original de Deus é que ela esteja ornamentada de pedras preciosas, que revelem o esplendor daquele que é seu senhor, a durabilidade de seu projeto, e a solidez de suas convicções e de sua mensagem.
6. A Igreja celestial vive em intensa comunhão com o Senhor e o Cordeiro (Ap 21.22) “O seu santuário é o Senhor”. Mais adiante lemos: “contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele.” (Ap 22,4)
Estes textos revelam a completa intimidade do Senhor com o seu povo. Não haverá mais santuário, símbolo da presença de Deus entre o seu povo, porque a presença de Deus será agora real e perceptível. O templo, para os judeus, simbolizava a presença de Deus no meio de seu povo, mas na Nova Jerusalém, a presença de Deus não é simbolizada por um templo, ela é simples e puramente experimentada na sua mais absoluta dimensão.
Templo relaciona-se a algo estrutural. O contraponto aqui é a rigidez e a institucionalização dos sistemas eclesiásticos, que engessam a alegria e a exultação do Espírito que está sendo derramado sobre a igreja. Muitas instituições eclesiais, já perderam a capacidade de ser uma comunidade que experimenta o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do Espírito Santo. Certa feita ouvi de um conhecido líder evangélico, num encontro de liderança cristã em Brasília um desabafo que me fez estremecer. “A liderança de minha denominação, conspira contra a santidade”.
A Igreja é chamada para vivenciar a comunhão do Senhor, experimentar a alegria de sua presença e a celebrar a vida restaurada e redimida que o Cordeiro de Deus nos propiciou.
7. A Igreja celestial não se prende a estruturas ou edifícios humanos, mas na relação com o seu Senhor - “Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro.” (Ap 21.22)
A Igreja aqui descrita, não tem preocupação com estrutura, com edifício, pelo contrário, celebra exatamente o contrário: A absoluta ausência de santuários, vestuários, indumentárias. Ela está feliz com a presença do Senhor, e isto lhe basta. Sua alegria está em saber que o Senhor é o santuário que eles não precisam de nada mais.
Muitas vezes idolatramos estruturas, exaltamos templos e maravilhosas construções. Quando vive Nova Inglaterra, Nordeste dos Estados Unidos, me deparava diariamente com prédios belíssimos, luxuosíssimos, arquiteturas centenárias mas dentro destes prédios, não se adorava mais a Deus, a mensagem não era mais pregado, não havia salvação de vidas, pessoas não estão se convertendo. Certa vez num encontro de pastores, um pastor batista de Cambridge, MA, estava louvando a Deus porque restauraram o batistério que estava entulhado de coisas do Departamento Infantil, depois de anos sem uso…
A realidade mais bela no Reino de Deus, não é a relação com edifício ou coisas, mas com pessoas e almas. O apóstolo Paulo afirma que, a velha aliança foi escrita com tintas, em tábuas de pedras, mas a nova era escrita em tábuas de carne, isto é, no coração. (2 Co 3.3) Entre a Velha e a Nova aliança existe uma grande mudança. As coisas deixaram de ter valor absoluto e passaram a ter valor relativo. O que importa agora não é mais o cerimonial e santificação exterior, fundamentada na santificação de objetos do Templo, na separação de objetos. O que importa agora é a atitude do coração, se a obra de Deus está marcada nas nossas mentes, nas nossas emoções, nos nossos afetos. Tem a ver com o interior, tem que ser escrita “nos corações”.
Na Nova aliança, o importante não é se adoramos o Senhor em Sião ou Refidim, mas se o adoramos “em espírito e em verdade.” (Jo 4.24) A noiva de Cristo tem sua preocupação maior, seu contentamento maior, na comunhão com o Senhor, e não na ordem dos objetivos na liturgia de um culto. Seus valores não estão presos a obras humanas, mas à convivência e relação com o Pai Celestial. Não estão preocupados com prédios luxuosíssimos ou com estruturas grandiosas, mas com o valor inalienável da convivência com o Senhor.
Prédios são relativos, porque são transitórios. O que importa é a presença de Deus! Templos não fazem uma igreja viva, liturgia e formas de governo, hierarquia e estrutura também não fazem uma igreja fiel à sua missão. A única realidade que pode caracterizar o sentido mais profundo da igreja é a presença de Deus no meio dela, é o toque do Espírito sendo percebido, vidas sendo resgatadas, pessoas sendo curadas e redimidas pelo Sangue do Cordeiro, enfim, a relação desta igreja com o Senhor
8. A Igreja gloriosa recebe sua iluminação, sua claridade do Cordeiro, porque Ele é a sua lâmpada. “A cidade não precisa do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada.” (Ap 21.23).
Ela tem luz própria, e toda sua luminosidade vem de Jesus.
Algum tempo atrás um casal me pediu que eu abençoasse a união deles. Depois de entrevistá-los, descobri que aquela mulher, que se via como evangélica, tinha 3 filhos no Brasil que ficaram com seu esposo, e viera tentar sua vida na América e ao encontrar outra pessoa passaram a viver juntos. Mas como ela era “crente”, não queria viver naquele relacionamento sem que um pastor orasse por eles e os abençoasse.
Depois de lhes mostrar que a Bíblia condenava claramente aquela atitude dela, uma vez que era casada com outro homem e estava vivendo um regime de concubinato, mostrei ainda que eu não podia abençoar o que Deus não abençoava, porque eu não tinha capacidade de dar benção por mim mesmo, e se tentasse ministrar benção sem a benção de Deus, o efeito poderia ser contrário, minhas bênçãos se transformariam em maldição para suas vidas (Ml 2.1-3).
Muitas vezes a igreja se esquece desta realidade de que todo poder, glória, domínio, toda benção e luminosidade vêm do Senhor. Não podemos fazer acontecer um avivamento, porque isto é obra de Deus. Não podemos converter ninguém, porque isto é obra do Espírito. Não podemos curar quem quer que seja por nossos próprios esforços, porque isto é prerrogativa divina. Não podemos existir sem Jesus, porque o Cordeiro é a lâmpada da igreja. Não existe pastor poderoso, o poder é de Jesus. Ele vai conseguir realizar a obra do Senhor na medida em que for fraco, porque se torna canal da benção de Deus. A Igreja vive sua dialética, é forte porque é fraca. Tem claridade, porque não tem luz própria. Seu candeeiro é Cristo.
9. A Igreja que Deus tinha em mente é referência para as nações e traz cura para os povos “As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória.” (Ap 21.24).
O seu poder moral, sua autoridade é percebida pelos poderosos, e em reconhecimento desta realidade lhe é trazida a glória e a honra das nações. (Ap 21.26).
Quando a Inglaterra era uma das maiores potências mundiais viveu debaixo de uma profunda depravação moral. John Stott afirma que o povo britânico era, no século XVIII, tão profundamente depravado e corrupto quanto nenhum outro povo da cristandade: A cruel tortura de animais no esporte, a bebedeira bestial do populacho, o tráfico desumano de negros africanos, o sequestro de compatriotas para a venda como escravos, a selvageria do sistema penitenciário e do código penal, a mortalidade infantil, a obsessão universal pela jogatina, a expansão devassadora da imoralidade, a prostituição do teatro, a prevalência cada vez maior da ilegalidade, da superstição e da libertinagem; a corrupção e o suborno da vida pública, a arrogância e a truculência das autoridades eclesiásticas.[1] Como este cenário mudou? “Tal mudança surgiu de uma nova consciência social…dada à luz e nutrida pelo reavivamento evangélico através de um cristianismo vital e prático – um reavivamento que iluminou os postulados centrais da ética do Novo Testamento, tornou real a paternidade de Deus e a fraternidade dos homens”. [2]
Assim foi para Sierra Leone com a abolição da escravatura em 1787, sob a liderança de Wilberforce. Sob a influência poderosa de William Carey, a igreja conseguiu pôr fim à prática ritualística do extermínio das viúvas hinduístas na Índia que eram queimadas vivas no funeral de seus maridos. As primeiras forças que se opuseram à escravidão nos Estados Unidos saíram principalmente de entre os convertidos nos reavivamentos de Finney. “Os missionários desempenharam papel muito importante na abolição de escravos forçados no Congo. Resistiram ao comércio de escravos no Sul do Pacífico. Lutaram ferrenhamente pelos direitos humanos no combate ao ópio, à atadura dos pés e à exposição das meninas recém-nascidas na China. Abriram guerra à queima das viúvas, ao infanticídio e à prostituição sagrada na Índia e, acima de tudo, romperam a escravidão social e econômica do sistema de castas que afetava os inferiorizados e marginalizados”. [3]
E o que dizer do Brasil, com milhares de vidas sendo libertas da escravidão da idolatria, da prática das religiões animistas, da consagração e rituais macabros feitos nos terreiros de umbanda e macumba? A Igreja que Deus tinha em mente tem o poder de iluminar as nações e de trazer esperança aos povos.
10. Da igreja procede a cura para os povos. “E as folhas de suas árvores são para a cura dos povos,” (Ap 22.2). O que sai dela, é vida, saúde, redenção, libertação, justiça, misericórdia. Cura para os povos.
A igreja historicamente, nem sempre é agência de restauração e cura. Muitas vezes, a igreja que deveria ser terapêutica, adoece as pessoas, neurotiza famílias, causa enfermidade e dor. Mas uma marca da verdadeira igreja será sempre a sua capacidade de curar, de restaurar, de redimir. A Igreja verdadeira segue, pelo poder do Espírito, curando vidas, salvando almas, restaurando lares, sarando feridas, curando traumas, libertando opressos e possessos. A Igreja de Cristo é o mais eficaz agente de cura.
A Igreja gloriosa confronta a maldição e profetiza benção. “Nunca mais haverá qualquer maldição.” (Ap 22.3). Ela existe para quebrar maldições, romper pactos sinistros. No lugar onde ela for estabelecida, haverá confronto com os poderes das trevas, pois sua mensagem “livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa…Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.” (Sl 91.3-6) Nunca mais haverá qualquer maldição! Louvado seja o nome do Senhor.
11. Só se pode participar desta igreja quem for inscrito no livro da Vida – “Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação, mas somente os inscritos no livro do Cordeiro.” (Ap 21.27)
O que nos impressiona é o sistema seletivo aqui descrito, que por sua natureza rígida, exclui a todos nós. Quem é capaz de dizer, não tenho nenhuma mancha, sou incontaminado? Por outro lado, sabemos que ninguém é inscrito no livro do Cordeiro se não for lavado pelo seu sangue. O convite não é para justos, mas para os redimidos. É capaz de participar de tal projeto, não aquele que se julga superior espiritualmente, mas aquele que, por ser um “grande pecador”, sente necessidade de ter um “grande salvador” e encontra a redenção na obra expiatória de Cristo.
Na Igreja terrena, joio e trigo se misturam, não dá para discerni-los antes da colheita. O Senhor da obra recomenda que não tentemos arrancá-los antes da época da colheita. Só o tempo vai trazer o necessário discernimento. A Igreja atual é susceptível de contaminação, não raramente graves abominações são reveladas no meio do povo de Deus, grandes escândalos. “É inevitável que venham os escândalos”. A igreja sonhada por Deus, contudo, por causa da presença gloriosa de Deus e de sua absoluta transparência revela e denuncia a mentira, a abominação e práticas pecaminosas que a contaminam e enfraquecem. Para se participar da Igreja gloriosa, é necessário, porém, que nosso nome seja escrutinado por aquele que a tudo vê. Um requisito essencial para se participar dela é que o nosso nome esteja inscrito no livro da vida!
12. A Igreja que Deus tem em mente é celestial é eternamente vitoriosa – “Reinarão pelos séculos dos séculos.” (Ap 22.5)
Não há força que possa se opor ao poder da Igreja de Cristo. Quem se levantar contra a igreja de Cristo será destruído, esmagado. Esta Igreja é imbatível e eternamente vitoriosa. Ela subirá com Jesus, quando ele voltar nas nuvens, e não há poder que possa mantê-la na terra. Quando o Filho do homem vier em sua majestade e todos os anjos com ele, aparecerá nos céus o sinal. “Todos os povos se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunião os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.30-31), “Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” (1 Ts 4.17-18).
Samuel Vieira
Orlando, Flórida
24.02.2001 72o. graus F
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