sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Série. Educando Filhos no Séc XXI Lição 5: Mentoria Espiritual


 

 

 

Introdução

 

A vida cristã pode ser comparada a uma corrida de revezamento 4 x 100. Assim como a influência dos pais sobre os filhos.

 

- Só leva o prêmio a equipe que estiver bem-preparada para transmitir na hora certa o bastão. Não se espera que o corredor faça os 400 metros sozinho. A corrida é do time.

 

 

- O bastão tem que ser passado sem que a corrida acabe. Em movimento.

 

-Deve ser feito sincronizadamente. Um corredor deve estar sintonizado com o corredor anterior. No momento em que o bastão está sendo entregue, o corredor anterior ainda corre paralelo, mas quando o se passa o bastão, lentamente o corredor vai saindo do cenário e os holofotes se voltam para aquele que agora tem a responsabilidade de continuar a competição.

 

- Existe um curto intervalo de tempo para se conseguir realizar o feito

 

- Você não pode deixar o bastão cair. A transmissão deve ser feita de forma segura e precisa.

 

- Não pode ser entregue antes do tempo

 

- Não pode ser entregue depois do tempo.

 

- O bastão não pode cair

 

O povo de Israel sempre recebeu esta instrução de Deus. Os filhos deveriam receber o bastão, deveriam ser mentoreados e aos poucos deveriam assumir a posição dos pais quanto à responsabilidade de transmitir a fé para a próxima geração.

 

EO povo de Israel sempre aprendeu isto. Eis o famoso Shemah hebraico:

 

Ouve, Israel , o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.

Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma

e de toda a tua força.

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;

tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa,

e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”

(Dt 6.4-7).

 

A exortação da Palavra de Deus é muito clara: O conteúdo da revelação precisa ser transmitido às novas gerações. Os filhos precisam aprender as verdades de Deus, e, por sua vez, transmitir também a seus filhos. A obra de Deus não termina em nós, mas continua nas gerações que estão vindo depois de nós.

 

Por isto, Deus fez um pacto generacional[1] com Abraão que tinha alguns aspectos estabelecidos:

 

  • É um pacto ligado às gerações. Uma geração contará a outra geração este pacto feito com Deus (Sl 78.1-8; 145.3).

 

  • A transmissão do pacto incluía os descendentes (Gn 12.1,2; 17.3-7).

 

  • A fé judaica envolvia um aspecto corporativo: A salvação é pessoal, mas Deus não nos trata apenas como indivíduo. Ele vê nossa família na dimensão pactual. Somos uma comunidade marcada pela aliança. (Ex 19.3-16).

 

·      O pacto tinha um sinal (Gn 17.11-14) e é muito significativo considerar que ele era realizado no órgão da procriação com a circuncisão. As gerações seriam consagradas a Deus e pertenciam à comunidade da aliança (Rm 11.16).

 

Nem sempre a igreja de Cristo é cuidadosa com seus filhos. Com a mentalidade individualista que herdamos do iluminismo francês, a tendência é de esquecermos deste aspecto corporativo do pacto que Deus faz com seu povo. O pacto não era apenas com Abraão, antes incluía os seus descendentes. Por nos esquecermos desta doutrina tão importante, o resultado nos descuidamos também de educá-los e deixamos de ver nossos filhos como herança bendita do Senhor. A extensão do pacto vai de geração a geração.

 

Certo presbítero de uma igreja no litoral Sul de São Paulo afirmou que se em sua igreja, apenas os filhos tivessem permanecido nela, e não tivesse acrescentado nenhuma outra pessoa à comunhão da igreja por evangelização, ela seria 2 vezes maior do que era naqueles dias.

 

O que leva os nossos filhos a se afastarem da comunhão da igreja?

 

Dois fatores devem ser seriamente considerados:

 

1.     Liderança comunitária inescrupulosa – Em geral, pastores e líderes infiéis geram muito descrédito em relação ao conteúdo do evangelho para a nova geração.

 

Quando pastores caem, ou lidam de forma infiel com os recursos da igreja, manipulam ou tiranizam suas igrejas, a juventude passa a desacreditar do conteúdo da mensagem que é pregada. Centenas de jovens tem se desviado da igreja por causa de pastores e lideranças autoritárias, contraditórios, emocionalmente instáveis, que manipulam o sagrado, comercializam e mercantilizam a palavra.

 

2.     Pais cínicos quanto à fé professada – Outro aspecto que leva ao descrédito da mensagem é a superficialidade da fé que os filhos veem dentro de seus lares.

 

Quando a religião se torna algo meramente institucional, e Deus não é experimentado na vivência comunitária, nas relações de compromisso, afeto e amor, e as pessoas se comportam apenas como “membros de uma determinada comunidade” e não verdadeiros discípulos de Cristo, a fé se torna superficial e hipócrita, e gera descrédito em relação à verdade do Evangelho.

 

O Salmo 78 nos fala da importância de transmitirmos a Fé de nossos pais, às futuras gerações, e estabelece alguns princípios:

 

Como pais, devemos transmitir o que

recebemos às gerações futuras

 

Não apenas aprendermos, mas transmitirmos o que recebermos.

 

O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele estabelecer um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que uma nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes”. (Sl 78.3-6).

 

Henry Nouwen no livro “A volta do filho pródigo[2]”, reflete sobre a Parábola do Filho pródigo, ressaltando que ele via nesta narrativa de Cristo, uma jornada espiritual, uma espécie de espelho para nossas almas, e que devemos sair da posição de filho e caminhar em direção à paternidade, já que o pai é o centro do acontecimento.

 

“O chamado é para que eu mesmo me torne o Pai. Por muito tempo vivi com a convicção de que voltar à casa do meu Pai seria o chamado final... Há um outro chamado. É o apelo para que me torne o pai que acolhe e deseja festejar. Tendo recuperado a minha filiação, tenho agora de reivindicar a paternidade (p.129) (...) Minha vocação final é realmente me tornar como o Pai e exercer no meu dia-a-dia sua divina compaixão... É um passo difícil e solitário a ser dado, mas é essencial à realização da jornada espiritual... (p.132). Por que falar tanto em ser filho quando a verdadeira questão é: “Você quer ser como o pai?” ... Será que desejo ser não somente aquele que está sendo perdoado, mas também aquele que perdoa; não somente aquele que é bem-vindo, mas aquele que acolhe; não unicamente aquele que é tratado com compaixão, mas aquele que tem compaixão? (p. 133).

 

Ele continua:

 

“Tendo vivido meu papel de filho plenamente, chegou a hora de ultrapassar todas as barreiras e confessar a verdade que tudo o que desejo é me transformar no velho à minha frente. Não posso permanecer criança para sempre, não posso continuar usando meu pai como uma desculpa para a minha vida. Tenho que ousar estender minhas próprias mãos numa benção e receber meus filhos com toda a compaixão, não importa o que eles sintam ou pensem a meu respeito; uma vez que tornar-me o Pai misericordioso é o objetivo final da vida espiritual” (p. 135) ... “À medida que passam meus anos de vida, descubro como é difícil e complicado, mas também compensador, crescer nessa paternidade espiritual... paternidade espiritual não tem nada a ver com poder ou controle. É uma paternidade de misericórdia...o pai do filho pródigo não se preocupa com ele mesmo...seus filhos são sua única preocupação” (pg 137).

 

Mais adiante afirma:

 

“O... caminho para se tornar como o Pai é o da generosidade. O Pai não somente dá a seu filho tudo o que pede, mas também o cumula de presentes na sua volta. E para seu filho mais velho diz: ´tudo o que é meu é teu´. Não há nada que o pai reserve para si mesmo. Ele se doa em profusão a seus filhos...Todas as vezes que dou um passo em direção à generosidade, sei que estou me movendo do medo para o amor” (Pg 144).

 

Quando refleti sobre estas desafiadoras palavras, me pergunteu: Em que sentido sou confrontado com estas verdades e como posso responder a estas verdades tão profundas e desafiadoras?

 

Pastoreio uma igreja de pessoas com uma formação sólida, tanto bíblica quanto intelectual. Lamentavelmente, porém, vejo que muitos tem se recusado a serem pais: querem continuar patologicamente sendo filhos, ora rebeldes (que brigam com o pai, saem de casa, desentendem, querem fazer do seu jeito, rompem com o sistema, etc), amargurados (estão sempre na igreja, mas com uma vida sem prazer, sem alegria, rabugentos, enfezados, emburrados, mau humorados, etc).

 

Somos chamados a transmitir o que recebemos de Deus às novas gerações. Nosso grande projeto é a paternidade, que para Nouwen tem qualidades essenciais:

 

 

GENEROSIDADE

&

MISERICÓRDIA

&

CELEBRAÇÃO

 

Será que poderíamos caminhar um pouco mais para a paternidade?

 

Nossos filhos, nossos jovens e nossos netos precisam de paternidade. O Salmo 78 nos exorta a não encobrir aquilo que ouvimos e recebemos, mas comunicar às vindouras gerações, os louvores do Senhor, o seu poder e suas maravilhas.

 

É nossa responsabilidade transmitir o Evangelho às vindouras gerações. Estamos na corrida de revezamento. Alguns nos deram o bastão, passando-o com firmeza. Como estamos transmitindo a fé cristã à nova geração?

 

Historicamente falando, uma comunidade pode perder seu impacto de uma geração para a outra. Os grandes avivamentos americanos se deram nos séculos XVII-XIX. Até os idos de 1890, muitos missionários americanos foram enviados ao redor do mundo, e isto prosseguiu ainda por um bom tempo. Na virada do Século XIX, porém, o liberalismo teológico, com a crítica das formas da Escola Alemã e a desmitologização da Bíblia com a teologia de Bulltmann e Von Rad, invadiu os seminários evangélicos, e a teologia liberal passou a dominar o pensamento dos futuros pastores. primeiramente nas escolas européias, posteriormente nas americanas, e o Evangelho sofreu uma grande perda de sentido.

 

Saindo do Seminário para as igrejas, estes novos pastores, que não conheceram a fé simples que veio de seus pais e receberam outro evangelho (Gl 1.6-8) de seus professores, foram enfraquecidos em sua fé e em poucos anos, as igrejas começaram a ter grandes perdas, e uma geração pós-cristã surgiu, com resultados catastróficos. Hoje, centenas de igrejas fecharam suas portas, o vigor missionário desapareceu, o conteúdo do evangelho foi sacrificado no contexto da neo-ortodoxia e liberalismo teológico, e as igrejas não mais conseguiam sobreviver. Isto nos mostra que basta uma geração para que igrejas, que hoje amam a palavra de Deus, tenha famílias compromissadas com o Evangelho, percam o poder de impacto. Para que nossos filhos parem de correr nesta corrida de revezamento, basta que não recebam na hora certa, da forma certa e no compasso certo, a transmissão do bastão.

 

Como esta geração está recebendo o Evangelho?

Qual o nosso legado?

Como deixar uma herança de fé e transmitir a vida de Deus aos nossos filhos, convencidos de que nossos netos também receberão a mensagem que lhes foi comunicada?

 

A Igreja de hoje está muito infantilizada. Todos querendo ser filhos, mas ninguém querendo a paternidade, se recusando a crescer, sofrendo nanismo cristão e sem maturidade afetiva. Querem ser filhos sempre. Síndrome de Peter Pan. Gostaria de convidar estas pessoas a assumirem o lugar no qual Deus espera que, como seus discípulos estejamos exercendo as funções de mentoria e cuidado que foram dados por Deus, como conciliadores, promotores de alegria e celebração.

 

Somos convidados a passar o bastão, a convidar o filho mau humorado a dançar, a ensiná-lo a celebrar, a ser liberal com seus recursos, a aprender a ser generoso com os bens, a cuidar da geração que está se espelhando em nós.

 

É necessário reavaliar nossa função à luz da Palavra de Deus. Em que sentido a figura do pai na parábola do filho pródigo, nos desafia?

 

Como a vida de Saul, um pai desequilibrado, violento, paranoico e manipulativo contrasta com a deste pai contada por Jesus na parábola?

 

Qual modelo nos inspira? Como gostaríamos que filhos e netos, futura geração, se lembrasse de nós? Como um pai que promove alegria e gera graça, ou como alguém que perturba sua família e sua geração?

 

Quem aceita o convite para se tornar pai?

 

O que a próxima geração

precisa conhecer?

 

O Salmo 78 revela o conteúdo do que precisa ser ministrado aos filhos para que estes por sua vez ensinem aos seus filhos e netos.

 

“Contaremos à vindoura geração os louvores do Senhor, e o seu poder,

e as maravilhas que fez. Ele estabelecer um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel ,

e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos”

(Sl 78.4-5).

 

Há dois aspectos que precisam ser realçados neste texto:

 

A.    Deus não é um poder frio, silencioso e distante, mas é real e se move entre nós

 

“Contaremos à vindoura geração, os louvores do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez.” (Sl 78.4)

 

Como os judeus sustentavam a fé de seus filhos? Relatando os feitos do Senhor na história do povo de Israel. Desta forma os filhos sabiam que Deus se revelou historicamente entre eles. Deus não era uma idéia, mas alguém presente. Ele se moveu entre o seu povo, ele visitou seus pais, chamando de forma pessoal a Abraão, realizando milagres na vida de Sara, abrindo o Mar Vermelho, agindo com mão forte. Deus não era abstrato, mas concreto. Quando o povo relatava aos filhos as intervenções poderosas de Deus entre eles, a fé era gerada, estimulada e aquecida.

 

Assim como entre o povo judeu, somos convidados a compartilhar a realidade de um Deus que se move na história, chamados a relatar aos nossos filhos os feitos de Deus nos dias de hoje. É fundamental lembrar as maravilhas que Deus tem feito, para que nossa fé seja firmada. Deus precisa deixar de ser algo meramente institucional e se tornar uma realidade vital para nossa história, doutra forma, como nossos filhos serão encorajados na fé?

 

O que precisamos dizer aos filhos que os leve à compreensão da realidade de Deus?

 

Nas atas das reuniões do Conselho, sempre registramos as decisões da liderança da igreja. Este é um documento importante na história que sempre é guardado com cuidado para que as futuras gerações tenham acesso às informações e decisões que hoje a igreja está tomando.

 

Recentemente me ocorreu que, além do registro das deliberações administrativas, mais importante seria, a longo prazo, que registrássemos os atos da intervenção de Deus na vida da igreja, de tal forma que as futuras gerações, pudessem ficar impressionadas ao descobrir que Deus, em nossos dias, visitou esta igreja de forma maravilhosa.

 

Não foi exatamente isto que motivou os escritos do Antigo e Novo Testamentos? Por que Deus pedia para que a história do povo judeu fosse registrada? Para que as futuras gerações pudessem perceber o rastro de Deus no meio do seu povo e construísse sua história a partir da intervenção de Deus entre eles. Não temos no Antigo Testamento apenas relatos de um grupo étnico vivendo durante muito tempo como nômade no deserto, antes vemos a história de Deus na história daquele povo. Os relatos revelam um Deus se movendo de forma supra histórica no meio do seu povo.

O livro de Atos dos Apóstolos não são meros registros históricos do que aconteceu à igreja, mas acima de tudo são registros da intervenção de Deus agindo no meio da Igreja, de tal forma que alguém afirmou que o livro de Atos deveria ter um nome diferente, a saber, “Atos do Espírito Santo”, tal é a forma como a presença do Espírito Santo se revela no mesmo.

 

  1. Deus revelou sua Palavra ao seu povo“Ele estabeleceu um testemunho em Jacó e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos” (Sl 78.4-5).

 

Outro conteúdo a ser comunicado é de que Deus se revelou a nós através de sua palavra. Temos a lei e o testemunho escrito de Deus entre nós. Precisamos ensinar esta lei aos filhos e neto. Somos o povo que segue a Palavra de Deus, que é suficiente e não precisa ser atualizada para satisfazer os anseios da atual geração. Sua palavra é vida, inerrante, autoritativa e inspirada, totalmente, pelo Espírito Santo.

 

Ao instituir a lei em Israel, Deus queria que os filhos do seu povo, que ainda nasceriam, não se esquecessem da sua intervenção na história.

 

O que é o relato de Gênesis, senão uma tentativa de resgatar a história e trazer uma identidade a um povo que vinha de um longo período de escravidão no Egito, onde toda sua cultura, herança e, acima de tudo, teve sua identidade destruída pelo pensamento pagão e egípcio. O povo passou 400 anos no deserto, longe de Deus, distante das revelações que Deus havia dado aos patriarcas. Ao registrar as narrativas bíblicas, Moisés resgata a herança e identidade do povo judeu. A partir dali puderam construir uma cosmovisão que incluía o fato de um Deus agindo na criação, na história, e, de forma peculiar, no meio de um povo que escolheu para si, para ser testemunho de seu louvor e glória.

 

Devemos nos concentrar na transmissão

da mensagem de Deus, a longo prazo

 

Corremos o risco de achar que nosso cuidado deve ser apenas para nossos filhos, sem considerar que Deus tem olhos muito além desta geração imediata. Ele está mirando gerações vindouras. Nossos atos hoje, refletirão em toda uma geração que ainda está por vir.

 

Ele... ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos,

a fim de que uma nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer

se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes”. (Sl 78.4-5).

 

A Bíblia demonstra que atitudes dos pais se reflete a longo prazo. Pensem, por um instante, na história dos midianitas e moabitas.

 

Este povo tem sua origem num incesto de Ló com suas duas filhas, que conceberam Moabe e Amom (Gn 19.37-38). Quando o povo de Deus entrou na terra de Canaã, estes povos foram obrigados a se conservar nos limites orientais do deserto (Nm 21.24; Dt 2.37). Estes dois povos se associaram para subornarem o profeta Balaão e amaldiçoar os israelitas (Dt 23.3-6). As filhas deste povo tinham péssima reputação moral e quando Balaão quis ferir espiritualmente o povo de Israel, depois de suas fracassadas tentativas de amaldiçoá-lo, ele orientaou Balaque a contratar suas mulheres para se prostituirem com os filhos de Israel, resultando na maldição de Baal Peor, no qual 24 mil homens morreram de praga (Nm 25.1,5,9; 31.16).

 

Disto se conclui que a infidelidade dos pais vai se refletindo nas gerações seguintes, a menos que Jesus quebre esta maldição, trazendo-nos para debaixo da cruz, já que a cruz faz nova todas as coisas (2 Co 5.16).

 

A Bíblia afirma que “o homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos” (Pv 13.22). O texto se refere especificamente a herança material, mas é natural entendermos que a grande herança que deixamos para nossos filhos é a herança de uma fé viva e genuína, que não encerra seu capítulo em nós, mas alcança nossos filhos, netos e bisnetos.

 

O Salmo 78 nos diz que Deus ordenou a nossos pais, que transmitissem sua lei a seus filhos, “a fim de que uma nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes”. (Sl 78.5-6). Deus não está interessado apenas nesta geração à qual servimos, mas em muitas outras gerações que ainda virão e que precisam conhecer os testemunhos e a lei do Deus de Israel.

 

Existe uma doutrina em teologia sistemática chamada de solidariedade da raça. Ela afirma que estamos identificados de forma espiritual com a raça humana. A Bíblia diz que “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12). Todos os homens participaram “em Adão”, do pecado original e sofrem os efeitos do pecado de Adao. Por semelhante modo, a vida eterna nos é dada por meio de Jesus, porque nele, “fomos justificados” (Rm 5.15). Cristo corresponde a Adão no sentido antitético: Adão foi o autor da morte para todos e Cristo foi o autor da vida para aqueles se identificam com sua morte. Adão representa a raça humana inteira, assim como Jesus nos representa diante do Pai.

 

Pecados individuais têm a capacidade de afetar a família, não apenas na primeira geração, mas se prolongar por gerações inteiras, como foi no caso do incesto de Ló. Decisões pessoais de hoje, baseadas nos princípios de Deus, repercutirão por gerações. “O que fazemos hoje, ecoa pela eternidade”. Por isto que o pecado tem o poder de penetrar em filhos que ainda hão de nascer.

 

Considere um homem que consome todos os seus bens e heranças recebidas com atitudes inconseqüentes e levianas. Sua atitude desregrada vai causar perdas, empobrecimento e dores nas próximas gerações. Considere ainda o texto citado acima de Pv 13.22 que nos ensina: “o homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos”. Na primeira situação, a atitude daquele homem empobreceu sua família, na segunda, abençoou filhos e netos.

 

Quando a mensagem do Evangelho penetra de forma eficaz em nossa vida, filhos e netos serão abençoados por nortearmos nossas vidas por princípios de Deus. Gerações inteiras serão abençoadas quando os pais vivem sua vida com a perspectiva das coisas de Deus. Por outro lado, gerações inteiras têm adoecido por falta de conversão genuína de seus pais, que vivem um cristianismo superficial.

 

Minha avó se converteu lendo um Novo Testamento que fora roubado de uma antiga congregação da igreja cristã do véu no povoado de Santa Rita do Mutum-MG, leste de Minas Gerais.  Os ladrões entraram no templo para roubar um velho relógio, e como não o acharam, roubaram aquela Bíblia e que foi dada à minha avó nunca tivera acesso a qualquer texto da palavra de Deus, embora fosse religiosa. A Palavra de Deus não era acessível às pessoas naquele tempo. A leitura sistemática da Bíblia mudou sua vida, e ela entregou seu coração a Jesus. Muitos de seus filhos foram criados na orientação cristã, e as verdades do Evangelho que receberam, mas muitos filhos mantiveram-se na orientação das Escrituras, e hoje, os seus bisnetos e trinetos estão sendo beneficiados por seu encontro com as verdades do Evangelho naquela ocasião.

 

Como pais, devemos nos concentrar na transmissão da mensagem de Deus, não apenas a curto prazo, mas também a longo prazo. Os nossos atos hoje, refletirão em toda uma geração que ainda está por vir. Que provisões estamos fazendo para que nossos trinetos possam discernir Deus nas suas vidas?

 

Isto tem implicações também no mandato cultural que Deus nos deu. Obediência aos princípios de Deus trazem implicações maravilhosas para o futuro de nosso planeta. O descaso com que tratamos a natureza, a devastação das florestas, a poluição dos rios e do ar, a ética perniciosa, a fé superficial, relacionamentos desamorosos, a corrupção dos e desvios de recursos públicos terão efeito cascata no futuro de nossa sociedade.

 

Estamos numa corrida de revezamento 4 x 100.

Como estamos passando o bastão?


Para ouvir a mensagem:
https://www.youtube.com/watch?v=l3N3-RtZvh0&list=PLR9PRkKupu-i8T0yZDtn1G3ESS8lvCvAq&index=5


 



1)     Hunt. Susan – A graça que vem do lar, Casa de Cultura Cristã, São Paulo, 2002.

 

 

[2] Nouwen, Henry - A volta do filho pródigo, São Paulo, Ed. Paulinas, 1996

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