sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Série: Educando Filhos no Sec. XXI. Lição 1: Pós Modernidade

 

 

 

 

 


Você está entendendo o que vem pela frente?

 

 

Vivemos num contexto de transição entre o que tem sido chamado de Modernismo e Pós Modernismo. Uma das realidades mais facilmente observadas é a mudança de valores e estilo de vida. A Família está confusa. Seus valores estão sendo diariamente questionados e ela se sente insegura e ameaçada. Um dos sintomas claramente perceptíveis é o divórcio, no qual, na maioria das vezes, a mulher tem tomado a dianteira no processo, para espanto dos maridos. Outro aspecto a ser considerado é a "crise e confusão da masculinidade". Não na identificação sexual em si, mas na compreensão do seu papel como líder da casa, e sua função na vida. Teóricos do pós modernismo já tem perguntando o que vem acontecendo no universo masculino e com nosso universo simbólico e social? Uma das áreas, contudo, que tem sido mais críticas, sem dúvida, é a da educação dos filhos. Os pais se sentem confusos sobre o que podem e devem fazer. Abaixo tentaremos rever algumas questões dialéticas envolvidas neste processo e as mudanças mais visiveis neste cenário.

 

1.  Modelo educacional:

 

No jeito de educar e aprender, podemos perceber de forma nítida, como ocorreram estas transformações. Escola, família, igreja, sociedade experimenta uma verdadeira revolução na forma como o conteúdo tem sido assimilado e apreendido.

 

1.1. Singularismo x Pluralismo

 

Uma das características mais visíveis da pós modernidade é o pluralismo. Por pluralismo entende-se que num mesmo ambiente social, e até mesmo familiar e religioso, diferentes concepções sobre o mesmo assunto podem existir, mesmo quando existe discordância sobre eles.

 

As pessoas não possuem mais uma forma única e singular de enxergar a vida mesmo quando criadas num mesmo ambiente sócio cultural. A influência da mídia, dos livros, da intenet, criam óticas diferentes e fazem brotar uma infinidade de opiniões sobre temas abordados. A não ser que a pessoa esteja isolada de toda influência externa, o que é quase impossivel de se criar hoje em dia. Os filhos vão para a escola e ali ouvem seus colegas e professores falando do mesmo tema ouvido em casa, com abordagens diferentes.

 

Ocorreu então um processo histórico de des-monopolização cultural. As comunidades na qual nossos pais viveram pensavam de forma semelhante. Uma opinião moral divergente era condenada veementemente e até mesmo com a condenação social daqueles que divergiam do pensamento vigente. A intolerância era presente, as questões estavam “resolvidas”, as coisas eram daquela forma e não havia espaço para um pensar alternativo.

 

A sociedade moderna tornou-se tolerante. Eventualmente torna-se até elegante pensar e agir de forma diferente, mesmo em questões classicamente tidas por absolutas. Vivemos numa “metamorfose ambulante”. Ocorreu uma ruptura entre a sociedade tradicional e a sociedade pluralista, uma fragmentação do universo simbólico do passado e do discurso vigente.

 

Assim, a família perdeu consciência dos valores e está confusa. os pais tem medo de se posicionar diante da inquietação e questionamento dos filhos, porque estão inseguros sobre o que é certo e errado, sobre o que é correto fazer. A igreja também, flexibiliza valores, e pressiona seus líderes e pastores a assumirem posições que nem sempre são compativeis com as Escrituras Sagradas. Dúvidas teológicas e éticas são feitas constantemente e eventualmente geram insegurança, porque mesmo no meio da liderança ocorre certa confusão e discrepância sobre assuntos variados.

 

Temas variados, claramente defendidos pela ortodoxia teológica são flexibilizados.

 

O que pensar sobre casais que vivem juntos a muito tempo. Eles podem ser membros de uma igreja local ou não?

 

E quanto à sexualidade? A não ser em caso de gravidez, é raro vermos uma disciplina pastoral de alguém que comete tal delito. Parece que a gravidez e não a fornicação é o que deve ser punido.

 

E sobre o divórcio? É caso de disciplina eclesiástica ou não? A não ser em casos que envolvem adultério, pessoalmente nunca vi alguém ser disciplinado quando se separa pelas razões mais fúteis como incompatibilidade de gênios ou simplesmente porque chegou à compreensão de que não ama mais o cônjuge.

 

A verdade é que se perdeu a cosmovisão cristã. Ocorreu uma desintegração entre fé e mundo. Fé pertence ao âmbito do espiritual e místico, sem relação com a ética, deveres e direitos.

 

1.2. Coletivismo x individualismo

 

Outro aspecto a ser considerado é que saimos do coletivo para o particular. Se antes havia uma hegemonia social e os temas eram claramente aceitos por todos, hoje vivemos no contexto do subjetivo. Perdeu-se o senso do social e coletivo, Não existe mais uma fonte global de sentidos nem uma concepção uniforme do saber comunitários.

 

Outrora os temas eram discutidos assentados ao redor da fogueira. Ali, juntos, os temas eram debatidos e surgia o consenso. Hoje, não existe mais pensamento coletivo que empreste sentido. Josh MacDowell afirmou no congresso de Líderes em Boston (1999) que 85% dos adolescentes de hoje não crêm numa verdade fora de si. A verdade encontra-se neles mesmos.

 

O subjetivismo ensina que cada pessoa, na sua individualidade, torna-se a medida e fim de todas as coisas. Surge dificuldade de relacionamentos, e de formulação de um saber comunitário. Cada pessoa opta pela sua visão utilitária e pragmática da vida e faz como acha que deve ser, afinal, a vida é dela e não tem que dar explicação a ninguém.

 

Além do mais, existe uma fragmentação progressiva do saber: A ciência não precisa de religião para justificar suas teorias e surge cada vez mais o espaço para uma religiosidade não eclesial dos não igrejados, que não querem se submeter a uma estrutura institucional e não querem se sujeitar a qualquer autoridade. Isto faz florescer um abundante campo para profetas e cristos, shamans, magos e loucos.

 

1.3 Absolutos x relativos

 

Quatro aspectos podem ser percebidos na questão sobre a possibilidade de existir uma verdade que seja universal. Isto se deve por causa de alguns fatores:

 

Þ  Singularismo: Busca de espaço da afirmação singular da pessoa. Eu posso defender qualquer ponto de vista a partir de mim mesmo, porque não existe uma fonte externa de saber. Eu sou a minha verdade. A verdade é o que eu desejo que ela seja. O resultado é uma tolerância amorfo, dificuldade de posicionamento mais profundo e conformismo. Aceita-se as divergências sem questionamentos.

 

Þ  Relativismo: Tudo é relativo e depende do ponto de vista e da ótica de cada. A verdade não é o que Socrates afirma: “A verdade é o que é”, mas a verdade é o que eu desejo que seja. As coisas não são cabem mais na categoria de certo e errado. É encorajado e aceito o pressuposto de ser uma “metamorfose ambulante” que não tem qualquer compreensao da verdade. Não existe A ou B, antes o C. Nem macho nem fêmea. Tudo é neutro, cinzento.

 

Þ  Experiencialismo: “A fonte n. 1 do critério da verdade para os jovens, em 75% são eles mesmos”.[1] Eu senti…

 

Þ  Sincretismo: Confundir Deus com o diabo. Sacralizar o paganismo. Mundanizar a Igreja.

 

 

2.  Estilo de Vida:

2.1. Rural x Urbano

Þ  Modelo patriarcal : Universo familiar dirigido pelo ancião.(Embora a mãe tivesse maior controle que o Pai) x Universo regido pela Sociedade. Pais cada vez mais ausentes dos filhos.

 

Þ  Similaridade de trabalho x Uniformidade do trabalho. Repetição substituída pela inovação. Seminários, pesquisa, treinamento, etc.

 

Þ  Vida social estabelecida : Poucas tensões.X  Vida social dialética. Sociedade mobilizada.

 

Þ  Lazer e atividades uniformes x inovações e modernidade.

 

Þ  Amizades longas e profundas x superficialidade e transitoriedade. Dificuldade para se estabelecer longos vínculos e relacionamentos duráveis.

 

Þ  Estabilidade e envolvimento x Mobilidade e privacidade.

 

Þ  Falta de rituais: A vida sem sequência.

 

2.2. Simples x sofisticado

Þ  Sociedade regida pelo econômico: Mercantilização do ser humano. Tempo cronometrado até para família

 

Þ  Capitalismo: Sociedade na qual o dinheiro dá valor a todas as pessoas. Tudo é interpretado dentro da lógica da produtividade, do quantitativo e do lucro.O Ser substituído pelo Ter.

 

3.  Valores Familiares:

3.1. Funções bem definidas x papéis confusos:

Þ  Homem caça e mulher protege a casa, cuida da tenda…E agora? Todos produzem, quem cuida?

 

3.2. Educação doméstica x Educação globalizada

Þ  Pai e mãe educavam (principalmente a mãe). Outras vezes a avó, a tia, ou a vizinha X baby-sitters com formação familiar e valores completamente diferentes da sua família e de sua história.

 

Þ  A globalização da educação e dos valores: Programas de TV preparados por pessoas num universo completamente distinto da sua família. (religioso, ético, social, cultural, etc).

 

Þ  Outrora, familias extensivas: (pai, mãe, avós, sinhás, comadres, etc) hoje familia nuclear, (pai, mãe)

 

Þ  O que nossos filhos estão aprendendo?

 

3.3. Autoridade confusa e permissividade patológica:

Þ  Perda da noção de autoridade - Outrora, Pai tinha autoridade. Perigo: Tirania dos pais. Hoje, Pais sem autoridade: Perigo: Tirania dos filhos. (filhos decidem, mandam)

 

Þ  Perda de valores - Desaparecimento da autoridade. Resultado: Filhos desorientados.

 

Þ  Lares sem governo: O silêncio de Adão.

 

Þ  A precocidade sexual e a doentia urgência pela maturidade.

 

4.  Qual deve ser a resposta da Igreja/Família, diante dos desafios atuais?

 

4.1  Fazer uma leitura do seu tempo e tentar responder as questões aflitivas da alma. Líder conhece “o seu tempo?” (Filhos de Isssacar). Quem está na responsabilidade de cuidar e dar afeto, sentido e auto-estima?

4.2  Como a Família pode orientar, e trazer saúde para as novas gerações? Ter ferramentas adequadas para lidar com a voracidade deste sistema? Quem é responsável pelo afeto? Quando todos buscam o sustento e a provisão, quem dá o afeto e o sentido?

 

4.3  O desafio de responder às nossas questões pessoais antes de responder as questões de nossas gerações. 

 

 

Rev. Samuel Vieira

Igreja Presbiteriana de Anápolis

                                                                                                                                                                                 Janeiro 2005


Para ouvir a mensagem:

https://www.youtube.com/watch?v=vEHsYP1pg5U&list=PLR9PRkKupu-i8T0yZDtn1G3ESS8lvCvAq&index=1

youtube.

 



[1] Josh MacDowell Congress, 1999. Boston. 6.2.99, 2:45 PM

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário