sábado, 12 de novembro de 2022

2 Co 3.1.11 Velha ou Nova aliança

 

 







 

 

Introdução

 

A relação de Paulo com a igreja de Corinto foi bem tensa. Apesar dele ter plantado a igreja, alguns irmãos estavam questionando sua apostolicidade, e até mesmo o acusaram de ter uma atitude mundana no seu procedimento (2 Co 10.2) Estas coisas lhe machucaram muito. Não é fácil receber acusação da igreja. Ainda mais quando pessoas questionam seus motivos e intenções e o acusam de ser carnal e pecaminoso. Isto deve ter sido bem doloroso para Paulo.

 

Quando lemos o primeiro versículo deste texto, temos também a impressão de que, um grupo que se opunha a Paulo, estava pedindo que ele trouxesse uma carta do Presbitério, ou dos apóstolos, referendando seu ministério. Paulo está aqui se defendendo. Seu questionamento tem motivo: Ele havia plantado aquela igreja, as pessoas haviam se convertido com seu ministério, e agora queriam uma carta de recomendação? Não fazia sentido.

 

Muitas pessoas são injustiçadas dentro da igreja. Já vi muitos pastores e líderes completamente arrasados por causa do comportamento belicoso de uma pessoa ou de um grupo de oposição. Muitas vezes isto desemboca em amargura, tristeza e até mesmo depressão.

 

Paulo se defende: “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todas as pessoas.” (2 Co 3.2) Ele diz: “vocês são o selo do meu apostolado.” Ele se recusa a trazer carta, porque a vida dos membros daquela igreja testificava o seu chamado e ministério.

 

A seguir ele começa a expor a diferença entre a velha e nova aliança. Este texto é um texto de contrastes – “Os contrastes que ele introduz entre tinta e Espírito, pedras e corações, são de grande ajuda para tornar claro este ponto.[1]” Paulo quer ensinar o que é a nova aliança, fazendo um paralelo com a velha.

 

Paulo diz que há duas alianças.

Velha - Tudo vem de mim

Nova - Tudo vem de Deus

 

O que é aliança? Acordo ou parte entre duas pessoas. O casamento é uma aliança na qual as pessoas assumem os compromissos do ato. As alianças sempre existiram na humanidade, mas uma é básica. A aliança de Deus com a humanidade.

 

Eis alguns contrastes entre a Antiga e a Nova Aliança

 

1. Contraste do material

- Escrita com tintas - escrita pelo Espírito (3.3)

- Escrita com tábuas de pedra - Escrita nos corações (3.3)

 

2. Contraste na intensidade

Uma desvanecente, outra permanente (3.11)

 

3. Contraste nas fontes

Uma vem do homem, outra vem de Deus (3.15)

 

4. Contraste nos resultados

Morte x vida (3.7,8)

Justiça x condenação

 

 

Vamos examinar estes contrastes mais de perto.

 

1.     Contraste do material

 

Escrita com tintas - escrita pelo Espírito (2 Co 3.3)

Escrita com tábuas de pedra - Escrita nos corações (2 Co 3.3)

 

Neste texto, por duas vezes Paulo enfatiza o meio como a lei fora dada: Escrita em pedras. Moisés recebeu as leis quando subiu ao Monte Sinal e Deus as entregou. Entretanto, desde o Antigo Testamento Deus anuncia por meio dos profetas que ele faria uma Nova aliança como novos fundamentos e ela seria escrita no coração.

 

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei com que andeis nos meus estatutos, guardeis os juízos e os observeis.” (Ez 36.26-27)

 

A Antiga aliança relaciona-se a pedras, a coisas e desde os profetas, Deus vem apontando para uma dimensão mais profunda e abrangente: Ele não está interessado nas coisas exteriores, mas no ser mais profundo, no coração.

 

O cristianismo falso é sempre preocupado com a importância das coisas:

Pedras, rituais, templos, vitrais, órgãos, tradições, roupas, se o pastor usa paletó, toga, colete clerical. Tudo se relaciona ao exterior às formas.

 

Na nova Aliança, o importante são as pessoas. Coisas só são importantes para trazer benção. Por isto quando Jesus curou no sábado isto se transformou num escândalo. As tradições e a lei diziam que nada poderia ser feito no sábado, nem mesmo abençoar as pessoas. O sábado se tornou mais importante e ocupou o centro da sua teologia. Os fariseus se preocupavam com coisas.

 

Quantas vezes vemos esta atitude na Igreja. A reputação vem antes da pessoa. Tradições são mantidas para atender necessidades individuais. O que está em jogo é o status e a aceitação de alguém. Equivocadamente permitimos que tudo gire em torno de coisas.

 

A Antiga e a Nova aliança possuem fundamentos completamente diferentes.

 

2.     Contraste na intensidade

 

Desvanecente x permanente (2 Co 3.11).

Maior e menor glória (2 Co 3.8)

 

 

 

E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia.” (2 Co 3.13)

A Lei, atrai, fascina e cativa. Os homens sonham em atingir um estágio de consagração pessoal que os capacite a cumprir seus gloriosos ideais de lei moral. Esta é a figura do rosto de Moisés. Quando o rosto deste grande legislador do Antigo Testamento se iluminou, depois do encontro com Deus no Monte Sinai, ele manteve o véu mesmo após o seu brilho desaparecer. Paulo fala aqui também do rosto de Cristo, e o brilho permanente que ele dá. São brilhos diferentes: Simbolizam duas alianças.

 

No rosto de Moisés, as pessoas ainda acreditam que seus esforços são capazes de alcançar a Deus e estão constantemente olhando para sua capacidade humana (2 Co 3.15,16). Mas quando as pessoas miram no rosto de Cristo elas entendem a grandeza da obra de Cristo e se impressionam, não mais consigo mesmas, mas com o que Deus fez em Cristo. Então, elas se colocam como instrumentos, reconhecem sua total incapacidade, não confiam em si mesmas, e esperam em Deus, pois ele mesmo é quem faz. (2 Co 3.15)

 

Quando contemplamos estas duas alianças, e sua natureza tão distintas, começamos então a perguntar por que ainda optamos pela lei, mesmo depois de convertidos?  Por causa da em brilho que ela tem. Ela coloca o foco naquilo que somos e fazemos, e isto nos atrai. Queremos reconhecimento, ansiamos por admiração, mas tudo isto vem da carne, que busca sempre a respeitabilidade. A Igreja da Galácia, 30 anos depois de ser fundada com base na nova aliança, já havia perdido completamente a referência do rosto de Cristo e se tornou completamente atraída pela Lei. Eles queriam retornar os falsos fundamentos, queriam resgatar rituais e práticas antigas. Paulo então, escreve uma carta advertindo-os: “Oh Gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?” (Gl 3.1)

 

A experiência de Moisés revela como a Lei produz glória passageira, e gera hipocrisia. Ao subir ao monte, viu seu rosto brilhar e para conversar com o povo de Israel, teve que colocar um véu. Com o passar dos dias o brilho acabou, mas ele continuou a manter o véu para que os filhos de Israel pensassem que a glória de Deus ainda estava lá. O véu nos protege e dá aos outros a impressão de espiritualidade. Muitos fazem as coisas para Deus, experimentam entusiasmo, mas logo perdem o estímulo e o interesse e desvanece a alegria, mas para que as pessoas não percebam que o brilho desapareceu, mantém uma fachada de espiritualidade, usando véus.

 

O ministério de Jesus é o da glória. Os que confiam em si mesmos, logo perdem o entusiasmo, mas os que confiam no Senhor, mesmo cansados são revigorados e renovados para a obra. Eles não precisam usar véus, eles sabem quão frágeis são, e dependem de Deus, e por isto vivem uma vida de alegria e liberdade. O apelo para que as pessoas confiem em seus recursos e habilidades naturais, pode provocar uma enorme onda de entusiasmo e vibração, mas dura apenas um determinado tempo, é temporário.

 

Como eu sei que tipo de rosto estou mirando?

 

As obras da Lei (Moisés) servem ao meu próprio Eu, à carne, tudo é narcisista e egocêntrico, mesmo tendo toda aparência de espiritualidade. Podemos amar, trabalhar, criar, servir, mas sendo sempre dirigido para o proveito do Ego!

 

A fonte está contaminada!

 

Satanás toma o que você faz e inverte os motivos. Ao invés de fazer para Deus ele o distorce para dentro (satisfação da carne). É a carnalidade mais rebuscada, porque até os gestos mais sagrados: oração, dons, serviço ao próximo, são usados para exaltação do Eu, são carnais. O exemplo clássico é o do fariseu, que dava dízimos, jejuava, orava, mas sempre “de si para si”. É a vida distorcida - torna-se rival de Deus. O centro é você, que se acha merecedor de todo louvor. Nada é feito genuinamente para Deus, ainda que tudo isto seja mascarado por uma falsa modéstia e humildade.

 

Por esta razão, Antiga e a Nova aliança possuem intensidades diferentes. Podemos até ter aplauso das pessoas e encontrarmos aprovação no que os outros estão falando a nosso respeito, mas esta glória é passageira, desvanecente, falsa e vazia. Só a glória do Evangelho interessa. Ela é permanente, pois o louvor é de Deus, e ele partilha sua beleza e graça conosco. Esta glória que vem por meio da cruz de Cristo, jamais perde seu brilho e intensidade.

 

3. Na fonte

Justiça própria x justiça divina

 

Esta é outra grande diferença. As pessoas que vivem na lei estão sempre acentuando sua justiça própria. Os fariseus se orgulhavam de guardar minuciosamente os 327 mandamentos e 240 prescrições do VT, e toda esta religiosidade e zelo, ao invés de abençoar, redundou em maldição. Se tornaram orgulhosos espiritualmente.

 

Quando o ser humano confia na sua performance, ele sempre corre alto risco. Gente “boa demais, religiosa demais”, encontra grande dificuldade em entender que “tudo vem de Deus”. Por isto, correm o risco de se gloriar em seus feitos, na sua moral, nas suas boas obras e na sua capacidade de guardar os mandamentos. O resultado é legalismo e moralismo. Paulo conhecia muito bem isto. Ele se tornou perseguidor da igreja por acusa de seu zelo religioso, ele achava tudo aquilo era maravilhoso, mas quando conheceu o evangelho, ele declarou:

 

“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.” (Fp 3.8). Ao conhecer a beleza de Cristo, sua sublimidade, e entender o seu perdão dado na cruz, ele agora nada mais queria, senão ter a Jesus.

 

Veja como é diferente quando entendemos a obra de Cristo.  na graça é exatamente diferente. Entendemos que tudo vem de Deus: “Não que por nós mesmos sejamos capazes de fazer alguma coisa como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus.” (2 Co 3.5)

 

Mais adiante leremos ainda: "Temos este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." (2 Co 4.7) Vasos de barro, material simples, de pouco valor, nada de que se orgulhar. Quem vive na nova aliança reconhece que é de barro, às vezes rachado, mas há alguma coisa dentro, um poder sobrenatural, um tesouro inestimável que é a graça de Cristo. Em Cristo entendemos que somos recipientes das riquezas mais notáveis e do maior poder que se conhece, mas tudo vem de Deus! “A nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).

 

Na antiga Aliança, o homem tenta fazer o seu melhor através de seu esforço pessoal, existe um padrão a ser alcançado. O lema é: Esforça-te! Faça o seu melhor! Tudo depende de sua capacidade pessoal e a autoconfiança, mas na Nova Aliança é o oposto: Deus está fazendo o seu melhor através de nós. Deus apenas lhe pede que você se entregue a ele, com rendição, para ser um instrumento, Deus fará através de nós, em nós, e muitas vezes, a despeito de nós. A realização vem de Deus, e somos apenas instrumento. O crédito não é nosso, não conseguimos fazer nada sem a ação poderosa de Deus. É Deus quem faz. Esta perspectiva faz enorme diferença.

 

4.  Nos resultados

Justiça própria x justiça divina

Morte x Vida

 

Os resultados espirituais são completamente distintos. Olhar o rosto de Moisés traz resultados completamente distintos de mirar no rosto de Cristo.

 

Ministério da Morte

x

Ministério da Vida

 

 

Vida ou morte?

 

A Bíblia afirma que a vida centrada no Eu, tendo o homem no centro, leva à morte. “Ministério da morte.” (2 Co 3.7). Sem dúvida uma ideia forte! Morte em si mesma é um termo negativo. ausência de vida. O enfermo, não tendo sinal de vida está morto...  A vida possui características distintas. A morte é a ausência delas. Quais atitudes revelam a morte a morte?

 

A vida centrada na lei, nas conquistas pessoais, na performance, traz angústia, infelicidade, desalento, medo, frustração, enfado e culpa. A fonte determina as demais coisas. Em geral pensamos que nossas qualidades negativas resultem de momentâneas variações de humor, ou circunstâncias desfavoráveis, mas tanto Paulo como Jesus afirmam algo mais profundo: Estamos dependendo de algo que provém de nós, não de Deus. Ao falarmos de sentimentos negativos que revelam a carne em ação, pensamos numa ação maléfica patente, ou pecados que são socialmente discriminados, como bebedices, tumultos, adultérios etc.  Mas além destes aspectos, as manifestações da carne possuem dimensões ainda mais sutis, e na maioria, aprovadas socialmente: Autoconfiança, auto piedade, auto afirmação. Precisamos buscar a causa. Na velha aliança, o eu está sempre governando.

 

Em geral a carne traz depressão e revela nosso egoísmo. Queremos que a atenção esteja voltada para nós. A autopiedade tem a mesma fonte, e gera sentimentos de frustração ou rejeição.

 

Da mesma forma, a solidão. Ela demonstra uma preocupação excessiva conosco mesmo, que nos impede de nos envolvermos, ser solidário, servir e amparar as outras pessoas. Mergulhamos na própria solidão porque estamos demasiadamente preocupados conosco mesmo. Toda depressão tem um movimento egóico, de excessiva preocupação consigo mesmo, de dificuldade de nos entregarmos e participar da vida dos outros. Yalom Irvin afirma: “O momento em que lhe contei que jamais fui tocado foi exatamente o momento em que me permiti pela primeira vez, ser tocado. O isolamento só existe no isolamento. Uma vez compartilhado, ele evapora.[2]

 

A morte é a ausência das características da vida que Jesus veio dar. Vida é satisfação pessoal. A insatisfação pessoal, autoconfiança, depressão, autopiedade, solidão, preocupação consigo mesmo, hipersensibilidade, revelam a ausência desta vida.

 

A lei, conquanto seja um ministério de morte, ainda assim, possui sua glória. Algumas pessoas não querem deixar a autopiedade, porque assim recebem a atenção dos outros.

 

Culpa ou justiça?

 

Outro aspecto destrutivo da Antiga aliança é que ela produz senso de condenação, de culpa. Todas as pessoas sinceras, que tentam viver uma vida que agrada a Deus através do esforço pessoal, descobrem que nunca conseguem fazer o bastante. Martinho Lutero fala de suas grandes crises espirituais, pois apesar de se esforçar e fazer sacrifícios pessoais, nunca encontrava paz em Deus. John Wesley relata suas lutas quando, ainda jovem, vivia num completo desespero por falta de paz interior até entender o Evangelho. Certa senhora afirmou: “quando vou dormir, sempre percebo que nunca fiz o bastante para agradar a Deus.” Ela está certa, "quem é suficiente para estas coisas?” Este é o ministério da condenação. Sem a graça de Cristo, viveremos debaixo da condenação, e não encontrarmos alegria e liberdade. A lei é capaz de apontar o caminho, mas ela é insuficiente e impotente, porque nenhum ser humano é capaz de seguir a lei e não se desviar.

 

A Nova Aliança nos concede status de justiça aos olhos de Deus. 

A Bíblia afirma que 

Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1) 

e que

 “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.” (Rm 5.1) 


Justiça na Bíblia não é apenas fazer o que é certo, mas ser o que é certo. Justiça é a qualidade de quem é é aceito por Deus. A Bíblia diz que no Antigo Testamento, as pessoas faziam sacrifícios e holocaustos. Alguns destes sacrifícios eram oferecidos para obter o perdão dos pecados (holocaustos), outros sacrifícios eram pacíficos (para agradar a Deus) e ainda existiam os sacrifícios nas festas determinadas. Nada daquilo, entretanto trazia realização e perdão.

 

Ainda hoje, milhares de pessoas vivem sob a culpa, fazendo rituais pesadíssimos, trazendo ofertas aos deuses irados ou tentando agradar seus deuses (religiões animistas e orientais). Eles trazem alimentos para as entidades, constroem altares e nichos para os santos e fazem boas obras para seus deuses, todos na tentativa de obter o favor divino e serem aceitos. No Novo Testamento, porém, vemos que os sacrifícios acabaram. Jesus se fez maldição para nós, ele foi o sacrifício exigido por Deus e por isto ele tomou nosso lugar e assumiu nossa condição. “Pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Is 53.4) Somos aceitos diante de Deus, não pelo que fazemos, mas pelo que Cristo fez. Ele é a oferta perfeita pelos nossos pecados.

 

A Bíblia diz que em Jesus nós fomos “justificados”, isto é, fomos declarados justos. Deus reconhece nossa justiça em Cristo, somos aceitos em Cristo. Não precisamos lutar para fazer e sermos amados; pelo contrário, aprendemos a fazer as coisas para Deus porque somos amados. Ele já nos amou. Nossa resposta é de gratidão. A motivação não é a culpa, mas gratidão. Muitos cristãos estão querendo fazer de tudo para serem aceitos, quando Deus quer que façamos porque somos aceitos.

 

Você pode fazer tudo certo, e ainda assim ser um fracasso e não encontrar a vida. Marta tinha uma vida cheia de tarefas e atividades, mas Deus queria que ela entendesse que seu valor não estava nas coisas que fazia, mas na amizade com Deus. Por outro lado, Maria ouvia, tinha certeza de que era amada, e recebeu elogios de Cristo.

 

A glória possui momentâneo prazer. Uma obra bem-feita produz autoaprovação o que é algo muito agradável, mas logo vem a frustração. Na velha aliança, o EU é quem faz, somos autocentrados. Quantos não tem procurado conselheiros sentindo-se culpados, pecadores e perdidos, por não se lembrarem que Deus já lhes ofereceu sua maravilhosa graça?  Se a pessoa soubesse que Deus a ama, teria paz interior suficiente para glorificar a Deus.

 

“Justificação significa ser perfeitamente aceito, tendo um senso de ser aprovado por Deus, de ser honrado e cuidado por ele. A palavra mais próxima para descrever é “valor”. Deus nos deu um status de valor. Você não tem que conquistar nada, Deus o coloca na nova aliança. ‘Eu te amo, eu o perdoei, eu o purifiquei, você é meu querido e amado filho, eu quero usar você, você faz parte do meu programa, sua vida tem significado”. Você não pode acrescentar nada a isto. Firmado na segurança e aceitação, disponha-se para o trabalho. E você fará isto com um senso de aprovação e segurança. Aprovação, aceitação, amor, cuidado. Isto tudo é inerente à nova aliança.” (Ray Stedman)

 

A grande tensão

 

Por sermos facilmente seduzidos pela antiga aliança, é fácil estarmos na graça mas vivermos sob o estigma da culpa. A culpa surge quando achamos que a vida espiritual depende de nós (personalidade, força de vontade, dinheiro, coragem). Esta é a tendência Ocidental, afinal queremos ser um homem de ação. Você pode fazer! Como Marta. Vemos numa frenética atividade, com a sensação de frustração e cansaço. Não é o número de atividades que determina o fracasso de uma vida ou de uma Igreja - é a fonte da atividade. É carnal?  É para satisfação do ego, para "parecer" espiritual? É você quem opera ou Deus quem opera? Onde está o dedo de Deus nisto tudo? Fazer no Espírito traz paz. O que Deus quer de nós é a fidelidade. A nova aliança revigora nossas almas. "Tudo vem de Deus" (3.5)

 

O Grande impulso

 

Na verdade, podemos comparar a vida na lei e vida na graça com um exemplo simples, de um homem que comprou um carro, mas não sabia que ele vinha com motor. Um amigo indaga o que ele está achando do carro e ele responde que é maravilhoso, mostra o estofamento, a cor, aperta a buzina, revela os detalhes do painel, os recursos eletrônicos, mas apesar de tudo se sente muito cansado quando precisa sair com o carro, porque é muito difícil empurrá-lo. Ele diz que na descida sente-se bem, mas em qualquer subidinha, fica arquejando, suado e cansado.


Então o amigo diz: 

-Meu amigo, você precisa de uma ajudazinha, e em nossa igreja, estamos realizando uma série de conferências sobre como empurrar o carro com eficiência e o pregador falará sobre os seguintes assuntos:

 

2a. feira - Como se empurra o carro com o braço direito.

 

3a. feira – Como alavancar o carro com o ombro esquerdo.

 

4a. feira – Serão apresentados slides a cores, utilização de multimidia e vídeos ensinando como empurrar melhor com as costas

 

5a. feira - Estudos práticos com as costas, para empurrar com maior eficiência.

 

6a. feira - Culto de consagração, no qual todos se dedicarão a empurrar os carros!

 

Não parece ridículo?

 

Não seria mais fácil abrir o motor do carro e explicar seu funcionamento, dar a partida, receber o combustível adequado e desfrutar da riqueza e conforto que um carro pode dar? Pra que empurrar se a força e a potência vêm do motor. Não é esforço humano, é o poder que vem de dentro.

 

É exatamente assim que o cristianismo em grande parte é vivido hoje. Temos empregado horas e horas procurando ensinar as pessoas a reunirem todos os seus recursos para realizar a obra de Deus, mas são vozes de sereia, do tipo "Três passos para ser feliz", ou, “Cinco pontos para ser bem-sucedido, e ainda, “Como transformar-se num fenômeno" ou, “eficientes passos para se sentir realizado”. Tudo centralizado no homem. Todos oferecem vida vitoriosa, mas quando você chega aos 30 anos, sabe que é tudo mentira. Estes passos são ineficientes, eles não resolvem nosso problema mais profundo.

 

Por isto Paulo faz esta afirmação radical: O segredo não está em nós (2 Co 3.4-6).  Nada vem de nós, tudo vem de Deus. Este é o segredo da suficiência humana. O que Paulo afirma é que a atividade que depender de recursos humanos para alcançar sucesso, no fim, resultará em frustração e futilidade.

 

Infelizmente, o que temos mobilizado é a carne, o recurso do espírito humano e as possibilidades da força de vontade. Mas o que precisamos fazer é descobrir o motor, o poder gerador de força que vem da obra do Espírito Santo dentro de cada um de nós. Depois que aprender as noções básicas acerca do motor, precisamos ainda conhecer sua potência. Toda a força é do gerador - Jesus. Você terá que girar o volante, mas a força é do Senhor. Temos que aprender a aplicar corretamente a força e fazer as decisões acertadas ao volante.

 

Conclusão

 

No parágrafo anterior Paulo levanta uma questão e não a responde: 

Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Co 2.16) 


Mas agora Paulo vai respondê-la: 

Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança!” (2 Co 3.5-6)

 

Você certamente vai querer fazer um pouquinho para Deus, afinal, você tem a impressão de que as coisas dependem de você. Mas tranquilize-se, quem faz é Deus! Paulo afirma que o segredo de uma vida plena e significativa reside na nova aliança (vs. 6). É sua vida em nós que constitui o poder que nos capacita a viver a verdadeira vida cristã - Isto é nova aliança.

 

A Antiga aliança é da letra, causa morte. A Nova, do Espírito, vivifica. Os brilhos são diferentes. A velha, desvanecente. Há certo brilho, que rapidamente se desgasta. 


A nova é permanente, otimista, expressa integridade, gratidão, triunfo impactante.

 

O problema é que acreditamos que quem faz a obra somos nós. Velha aliança!  Quem faz é o Senhor... Tudo provém de Deus!

 

 

 




[1] Calvino, João – 2 Coríntios. São Paulo, Ed. Parakletos, 1995, p 64

[2] Irvin Yalom D. ” Qdo Nietzsche chorou, Ediouro, Rio de Janeiro, 1992, p. 399

 


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