quinta-feira, 13 de julho de 2023

2 Co 10.7-18 Equilíbrio Espiritual

 



 

 

 

 

Introdução:

 

Este texto é marcado por diversas vertentes. O tema central é a defesa de Paulo contra pessoas que faziam severos julgamentos contra ele e seu ministério. Paulo confronta aquele grupo que, para manter a primazia e ter o controle sobre a igreja, começou a acusá-lo de mundano.

 

Paulo demonstra muita tristeza por esta acusação desonesta e infundada. Talvez você já tenha passado por situação semelhante. Quais problemas estavam por detrás destes fatos? Que interesses marcavam esta disputa? Paulo começa a falar de suas percepções, dando-nos alguns princípios relacionados à vida cristã:

 

1.     Mantenha-se alerta sobre o orgulho espiritual - 2 Co 10.7

 

Não se julgue superior espiritual a quem quer que seja. Paulo diz: “Observe o que está evidente.” Outra tradução diz: “Olhe o que está diante de seus olhos…” e ainda outra: “Observe os fatos óbvios”.

 

Paulo está diante de pessoas que se julgavam superiores e consideravam-se especiais diante de Deus. Não é raro vermos esta atitude dentro da igreja

Existe o orgulho pentecostal

O orgulho da doutrina

O orgulho da denominação.

 

Alguns dizem:

“Presbiteriano não tem o Espírito de Deus”

“Aquela igreja não tem unção”

“Eu tenho determinados dons espirituais…”

 

A lista é quase infindável. Desta forma cria-se castas espirituais na vida da igreja.

 

Algumas pessoas se orgulham de fazer do “ministério de libertação”, como se isto fosse privilégio de um pequeno grupo mais espiritual, que tem poder, enquanto outros não o tem. Este raciocínio leva as pessoas ao orgulho espiritual, além de ser herético, porque toda pessoa que nasceu de novo, tem o Espírito Santo e por esta razão pode exercer autoridade espiritual. Portanto, não é privilégio de um grupo seleto, esta é a essência da verdadeira igreja de Cristo. A autoridade se dá pela presença de Jesus, apenas precisamos exercer tal autoridade.

 

Na primeira carta do apóstolo João, já existia certa arrogância em um grupo que se julgava espiritualmente superior e era chamado de pneumatikois (espirituais), enquanto os demais eram psiquikois (mais racionais), eram espiritualmente inferiores. Deste tipo de mentalidade surgiria a maior heresia do cristianismo em todos os tempos de sua história: o gnosticismo. Este movimento se julgava privilegiado espiritualmente, pensava ter acesso aos mistérios espirituais não acessíveis as demais pessoas da igreja. Ainda hoje os “espirituais”, ameaçam a unidade da igreja por causa do seu falso senso de serem mais “crentes e mais consagrados.” É importante considerar que humildade é essencial para uma espiritualidade cristã madura. Humildade não é acessório de uma vida santa, mas é essencial.

 

Qual é o perigo deste senso de superioridade? Quando agimos assim passamos a julgar os outros. Alguns membros da igreja de Corinto estavam afirmando que Paulo era “mundano”. (2 Co 10.2). Não é difícil criar tolas “tabelas de espiritualidade” e julgarmos os outros com base nos critérios que estabelecemos ou avaliando alguns aspectos da fé bíblica que julgamos importante. Houve uma época no Brasil que um homem barbudo não poderia ser “um homem ungido”.

 

Qual o perigo das aparências, espiritualidade exterior e da plasticidade?  Pessoas “espirituais” são complicadas. (Col 2.23-25) Este era o maior perigo dos fariseus. Eles se julgavam espiritualmente “superiores”. Normalmente este tipo de espiritualidade sempre conspira contra a simplicidade do evangelho e a unidade da igreja local.

 

William Barclay conta que quando o recente avivamento chegou as igrejas do Leste da África, muitos bruxos se converteram, e uma das características da liturgia daquela igreja era a pública confissão de pecados. Não existe uma melhor definição para a Igreja que “a comunhão de pecadores perdoados”.  Quando uma pessoa entende isto, ela não consegue encontrar mais espaço para o orgulho pessoal. O problema com a arrogância espiritual é que pensamos que temos posse e controle das coisas espirituais.

 

Muitas igrejas julgam ter a posse privativa da vida eterna. Tornam-se exclusivistas. Ninguém é salvo fora dela. Acreditam que possuem o domínio exclusivo do Espírito Santo. Elas não são possuídas pelo Espírito, mas “controlam” o Espírito Santo.

 

Então, a primeira recomendação deste texto é: “Observe o que está evidente.” Fique alerta sobre o orgulho espiritual.

 

2.     Aceite e compreenda seus limites – (2 Co 10.13 “Não nos gloriamos sem medida”.

 

Duas lições são aqui importantes:

 

A.    Aceite suas limitações - “Respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou.” (2 Co 10.13)

 

É importante saber os limites que Deus nos tem dado. Todos temos certas limitações. O Sl 16.10 afirma: “Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a sua herança.” Deus coloca divisas para nossas vidas, precisamos ver a beleza de Deus nestes limites que ele menos estabeleceu e glorificarmos a Deus pelo que temos ao invés de ficarmos tristes pelo que não temos. Todos temos limites. Aprenda a viver com contentamento dentro do que Deus lhe deu. João Batista disse aos soldados, funcionários públicos em seus dias: “Contentai-vos com os vossos salários.” Esta é uma recomendação extremamente importante para os nossos dias, em que muitos estão vivendo insatisfeitos, sem contentamento e não conseguem desenvolver uma atitude de gratidão.  Vivem murmurando, são ingratos.

 

Não fique angustiado por coisas que você não consegue realizar. Deus não exige conta de 10 talentos àquele a quem foi dado apenas cinco? Uma das maiores frustrações do ser humano é colocar uma meta além de suas possibilidades. É lutar para fazer aquilo que Deus não nos chamou para fazer. Desta forma ficamos frustrados e nos decepcionamos com Deus e com a vida.

 

B.     Reconheça seu potencial -Não nos gloriaremos sem medida…”. Paulo não diz que vai deixar de reconhecer e aceitar a benção daquilo que Deus deu, mas apenas que não devemos nos gloriar “sem medida”.

 

No vs. 8 ele chega até mesmo a afirmar: “Se me gloriar, não me envergonharei…” Paulo se gloria de sua autoridade apostólica. Não é vanglória, mas o reconhecimento de seu valor, dos dons, das virtudes, daquilo que Deus fez. Reconheça seu valor pessoal. Muitas pessoas vivem se desvalorizando, se subestimando, deixando de reconhecer aquilo que Deus lhes deu, seus dons, suas habilidades. Vivem negando suas virtudes, debaixo de uma falsa modéstia. Paulo afirma sua autoridade ministerial no meio da crise.

 

Em Mt 25, na parábola dos talentos, a Bíblia diz que os talentos foram distribuídos “segundo a sua própria capacidade.” (Mt 25.15). Não é interessante? Aquele que deu os talentos o fez conforme a capacidade de cada um, e aquele Senhor exigia que o trabalho com os talentos fosse proporcional à capacidade que cada um deles possuía.  

 

Então, aceite seus limites e reconheça seu potencial.

 

3.     Glorie-se no Senhor – (2 Co 10.17) O mais importante não é a glória pessoal que você atribui a si mesmo ou que os outros te dão. A maior glória é ser aprovado por Deus, ser reconhecido por Deus.

 

O ser humano é ávido por aplausos, reconhecimento, elogio. Não é sem razão que gostamos de curtidas em nossas publicações nas mídias sociais, queremos saber quantas pessoas viram a nossa postagem. Temos, o desejo de ser admirado, apreciado, entretanto, glória humana não significa glória de Deus. A grande glória não está no reconhecimento dos homens, apesar disto fazer bem ao nosso ego. O grande ponto é sermos conhecidos por Deus, aprovados por Deus. O grande exame de nossa vida é passar no teste de 2 Co 10.18.

 

Você tem se gloriado no Senhor? Pergunte não apenas Qual é o propósito de sua vida, mas,

Quem é o propósito de minha vida”.  Não apenas pergunte quem você é, mas de quem você é.  Uma boa oração para aqueles que querem se gloriar no Senhor é: Quero que minha vida tenha valor para ti, e não para mim. Eu sei a quem pertenço e quem é o propósito de minha vida.

 

Veja a poderosa afirmação do profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jr 9:23-24)

  

Qual deve ser nossa glória?  Em conhecer a Deus e saber que Ele é o Senhor. Nada é tão glorioso quanto esta maravilhosa graça. Nem sabedoria, nem poder, nem riqueza, coisas que damos tudo para ter e que temos buscado de forma quase insaciável. Nossa glória reside em conhecer a Deus.

 

Patrick Morley faz uma pergunta crucial:

“Dizer que nosso objetivo é ter uma empresa de determinado tamanho e morar numa determinada casa, ter certo nível de renda, assumir determinada posição representa uma noção insensata da questão: Por que você existe, e, qual é o propósito de sua vida? O objetivo de sua vida é suficientemente grande? Para quem é a glória?”.

 

4.     Sonhe com a expansão do Reino –“A fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.” (2 Co 10.16)

 

Paulo fala aqui de “anunciar o evangelho além das fronteiras”. O nosso grande desafio não que nosso nome cresça, mas que o Reino de Deus cresça. Sonhe com o evangelho se expandindo. Aqueles que estão sonhando com a expansão do Reino de Deus tem pouco tempo para ficar centralizados na autopromoção. Isto nos livra da vaidade, da angústia, do medo do futuro.

 

A igreja de Corinto estava cheia de conflitos pessoais, e Paulo fala de seus planos de alcançar outras pessoas. Brigas internas são resolvidas quando deixamos a mesquinhez e começamos a olhar a vida com mais amplitude. Igreja missionária tem menos problemas que igrejas ensimesmadas. Pessoas solidárias, que se voluntariam para o serviço cristão, tem menos problema de saúde e problemas emocionais. Pare de ficar olhando para sua vida, preocupado e enamorado consigo mesmo. Muita cura e libertação surgirá desta grandiosa experiência de libertar-se de si mesmo.

 

Boa parte de nosso problema é que olhamos muito para dentro de nós mesmos. O resultado é a ansiedade por coisas. Jesus disse: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33) Será que esta mensagem faz algum sentido real para nossas vidas? É importante lembrar que ele faz esta exortação quando fala de ansiedade. O que Jesus está dizendo é claro: Vivemos ansiosos e angustiados quanto ao futuro porque não temos buscado nem o seu Senhor nem o seu reino. O melhor remédio para a cura da ansiedade é o investimento de nossas vidas, tempo e

dinheiro no reino de Deus.

 

Conclusão

 

Paulo está sendo bombardeado de acusações. Alguns estavam desconfiados de sua integridade ministerial, outros pediram carta de recomendação para ele continuar pregando na igreja que ele mesmo havia plantado, outros afirmaram que sua forma de agir e viver era mundana.

 

Paulo foca em Cristo.

O coração do problema é o problema do coração.

 

Encontrei um casal numa viagem recente a Itália na consulta da “Global Vision” do ministério City to City. Ele é suíço e ela alemã e se conheceram num projeto missionário, amam a servem a Jesus. Um dia tivemos oportunidade de jantar e conversar com eles. Eles gostariam de ter filhos, mas Deus, nos seus misteriosos planos, não lhes permitiu. Perguntei-lhes como eles viam tudo aquilo na perspectiva do Evangelho de Cristo e ela respondeu: “Eu sei que Deus nos ama, Ele é soberano, e tem planos para nossas vidas. Temos aprendido que não podemos condicionar nossa alegria a nada que temos ou que desejamos. Algumas vezes tem sido difícil, já choramos por isto, mas dia a dia Deus vai nos mostrando seu amor e temos sido abençoados e transformados pela sua graça.

 

Quando olhamos nossa vida, muitas vezes nos sentimos cansados, frustrados, e até mesmo amargurados com a vida. Nestas horas, precisamos olhar para a obra de Cristo. Um dos maiores problemas é que somos orientados para as coisas do mundo e não para o reino de Deus. Quando somos orientados para o Reino de Deus, queremos tornar conhecido o seu reino, procuramos agradar a Deus, ser usado por ele. Buscamos levar o Evangelho de salvação aos outros e uma vida de santidade para nós mesmos.

 

Só existe uma forma de aprender a viver assim. Olhando para Jesus. Ele tinha um claro senso de missão. Ele estava cumprindo o propósito de Deus na história. Sua morte era o grande projeto de Deus para trazer redenção para nossos pecados, nos justificar diante de Deus, nos libertar do diabo e das trevas. Então ele sabia sempre: “Deus está cumprindo seu propósito em minha vida.” Houve um momento em que ele chegou mesmo a dizer: “Se possível, passa de mim este cálice.” Deus não o livrou da cruz.

 

Mas aquela cruz foi o lugar da redenção. Deus transformou aquele lugar de morte e condenação, no lugar do resgate e da reconciliação. Cristo sofreu a cruz por nós. Ele pagou o preço de nossos pecados. A vida de Cristo deve ser inspiração para nós. Estamos servindo a um Deus gracioso e bom. Ele estabelece os limites para nossas vidas, fronteiras e cercas são colocadas, mas estas divisas caem em lugares amenos. Elas não são divisas insustentáveis. A herança que temos do Senhor é linda.

 

Será que podemos nos alegrar na beleza destas divisas, e continuar glorificando a Deus por tudo o que ele tem feito?

 

Isto é fundamental para que tenhamos uma vida espiritual equilibrada e madura.

 

 

 

 

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