Introdução
Este texto nos fala de Elias e Elizeu. Elias exerceu seu ministério profético nos dias em que Josafá era rei de Jerusalém, enquanto Acabe e Acazias, no reino do Norte. Na verdade, seu ministério esteve quase todo o tempo relacionado ao ímpio e idólatra reinado de Acabe e de sua perversa mulher Jezabel, que não era israelita, mas viera de Ecrom e adorava Baal-Zebube, o “deus das moscas”. Sua relação com este reinado foi sempre conflitiva e tensa.
Quando estava para ser arrebatado, os discípulos da escola de profeta de Betel e Jericó tiveram a revelação de que Elias seria tomado naquele dia. Estas escolas eram muito comuns naqueles dias, um lugar de preparação espiritual, equivalente aos atuais mosteiros, institutos bíblicos e seminários.
Elizeu, o discípulo fiel e mais próximo de Elias, faz um pedido inusitado, arrogante e pretencioso e estranho, quando olhado superficialmente: “Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse Eliseu: Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito.” (2 Rs 2.9) O que Elizeu pede é surpreendente: “Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito” (2 Rs 2.9).
Ao lermos este relato, surgem algumas questões hermenêuticas.
-Estaria Eliseu querendo ser maior que seu mestre?
-Não seria pretensão um pedido deste?
-Por que Eliseu pediu isto?
-Qual o significado do seu pedido?
Vivemos dias em que muitas pessoas correm atrás de poder espiritual. Já pararam para considerar quão perigoso pode ser este desejo? Como os motivos podem ser errados e danosos?
Pr. Ricardo Barbosa relata que certo homem casado com uma mulher de sua igreja, era um empresário conhecido por sua truculência nos negócios, por humilhar as pessoas e maltratar sua esposa. Do seu jeito atabalhoado um dia foi alcançado pelo Evangelho. Daí pra frente começou a buscar a Deus em todos os lugares onde havia manifestação do poder de Deus. Um dia ele comentou com o Pr. Ricardo, que ele estava buscando poder, e este lhe perguntou: “Para que você quer poder? Para continuar atropelando as pessoas? Para transformar Deus em seu parceiro de arrogância? Quer espiritualizar sua atitude de controle e domínio sobre os outros, instrumentalizando Deus?”
Certa mulher, membro de nossa igreja nos Estados Unidos, comunicou que estava saindo da igreja. Ele estava se transferindo para uma igreja que estava se formando e disse: “Eu gosto muito da “sua”igreja, pois é uma igreja amorosa, o senhor tem cuidado pastoralmente de cada um de nós, mas eu preciso de poder, e vou para esta igreja buscar o poder.” Eu tentei mostrar-lhe quão perigoso é o poder sem amor, mas foi em vão. Seis meses depois, a igreja para onde ela foi se dividiu por causa da tentativa do pastor de assediar a filha de sua esposa que era adolescente. O outro pastor que ficou, pouco tempo depois, se envolveu numa relação de adultério. Poder pode ser atraente, sedutor, mas a pior espécie de poder é aquele que se reveste de uma aura espiritual, porque as pessoas se justificam tendo Deus como seu aliado de sua ganância e ambição.
A Bíblia relata a trajetória espiritual de um homem chamado Simão, o mágico, que fascinado pelos milagres que via pelas mãos dos apóstolos aderiu ao grupo, e chegou a ser batizado. Entretanto, sua motivação era altamente pecaminosa. “Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito santo, ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espirito Santo” (At 8.18-19).
Simão queria poder para manipular e controlar.
Estaria Eliseu sendo conduzido por motivos errados?
Estava ele sugerindo que queria ser maior que Elias?
Duas razões nos levam a concluir que não.
Em primeiro lugar, Elias não faz qualquer questionamento ao seu pedido, apenas afirmou: “Dura coisa pediste”. E o abençoou. Na verdade Elias não vê seu pedido como algo pretencioso, mas como um grande desafio.
Em segundo lugar, Deus realmente lhe deu um ministério profícuo. Se seus motivos fossem ruins, Deus não o atenderia. Ou não é isto que nos ensina a Palavra: “Se no meu coração eu contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido.” (Sl 68.18)
Qual era o pedido de Eliseu?
A Bíblia de Genebra tece o seguinte comentário:
“Em Israel, o filho mais velho recebia uma partilha dupla da herança da família e também tinha o direito de suceder a seu pai (Dt 21.17). O desejo de Eliseu de receber porção dobrada do Espírito de Elias, foi, por conseguinte, um pedido ousado de levar adiante o ministério de Elias”. O que ele pede? Não para ser superior ou maior, mas para ser seu sucessor na dura jornada profética que Elias exercera. Por isto Elias lhe respondeu: “Dura coisa pediste!”
A Bíblia Shedd faz comentário similar: “Não quer dizer que Eliseu pretendia ter duas vezes o poder de Elias, mas sim, estava querendo ser herdeiro da missão profética de Elias, e por isto, a porção dupla era a herança do primogênito, comparada a dos demais filhos. O primogênito era o herdeiro patronal, herdava a riqueza, o nome, e representava a família.”
Donald J. Wiseman afirma:
“O filho primogênito tinha a responsabilidade de perpetuar o nome e o trabalho do pai”.
O pedido de Eliseu deve ser visto como uma expressão profunda de sua admiração e respeito por Elias. Ao longo de seu aprendizado, Eliseu presenciou a grandeza profética de Elias e foi profundamente impactado por sua fé e compromisso com Deus. Ao pedir "porção dobrada do seu espírito", Eliseu desejava não apenas herdar o manto profético, mas internalizar seus valores, sua fé e sua paixão pela justiça.
Porção dobrada, não era, portanto, mais poder para realizar milagres, antes mais responsabilidade como líder. Não era o dobro do poder espiritual de Elias, e nem Elias jogou seu espírito sobre Eliseu com esta finalidade. Tanto é assim que ele não prometeu coisa alguma a Eliseu, apenas afirmou que se ele o visse subindo, receberia tal comissionamento, o que realmente aconteceu.
Ninguém pode receber unção dobrada, porque o Espírito de Deus não pode ser medido, e nem é dado por medida (Jo 3.34). Seria pretensão descabida de Elizeu ou até falta de humildade se ele fizesse tal pedido.
O poder do Espírito é fundamental na nossa vida. Infelizmente não o buscamos, não o desejamos. Jesus sabia que muitas lutas são vencidas com uma vida de oração e busca. A fonte do poder espiritual se encontra no Espírito Santo. (Mc 9.29)
Todos precisamos da ação do Espírito para termos vida de vitória.
Certo homem ao levantar-se numa manhã fria, encontrou as janelas de sua oficina cobertas de gelo e tudo o que ele fazia parecia insuficiente para remover a profunda camada de gelo que se formara. O vizinho, vendo a sua luta e como era lento e duro o seu trabalho disse: “Acende a lareira, porque, esquentando a casa, o gelo desaparecerá por si mesmo.” Este é um sábio conselho. Se temos ficado frios de coração, por causa da incredulidade e da frieza que nos rodeia, não procuremos em vão livrar-nos do gelo por esforços próprios, mas peçamos ao Senhor o fogo necessário do Espírito para o nosso coração, e então desaparecerá o gelo. (A Revista Homilética)
O Espírito Santo nos é dado quando nos convertemos, mas este é apenas o pontapé inicial da fé cristã. Uma vida no Espírito precisa ser cultivada. A Bíblia nos adverte a não “entristecer o Espírito” (Ef 4.30); Não apagar o Espírito” (1 Ts 5.19) e “não resistir ao Espírito” (At 7.51) e nos ordena “buscar o poder do alto.” (Lc 24.49) e nos “enchermos do Espírito.” (Ef 5.18). Jesus exorta seus discípulos a pedirem o Espírito Santo: “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (LC 11.13). Certamente somos abençoados quando nos humilhamos diante de Deus e pedimos para que seu Espírito encha nossa vida.
A vida de Eliseu nos ensina que, aqueles que quiserem desenvolver bem sua vida espiritual e crescer espiritualmente, precisam ter algumas coisas em mente:
Primeiro, é necessário ficar perto
Eliseu não se distancia de Elias. A única promessa que Elias lhe faz é a seguinte: “Se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, se não me vires, não se fará”. (2 Rs 2.9) Quando Elias sugere: “Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel, respondeu Eliseu: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim, desceram a Betel” (2 Rs 2.2). Novamente Elias insiste para que ele não o acompanhe, mas Eliseu não se afasta (2 Rs 2.4). portanto, fique próximo do lugar onde a benção de Deus pode ser concedida. Onde tiver a possibilidade da benção de Deus, ali devemos estar.
Muitos querem assumir liderança na igreja, colocar seus serviços a favor do reino, mas ficam distantes, nunca se envolvem e nem se aproximam. Querem liderar, mas não são modelos de servos; querem reconhecimento, mas não se sacrificam pelo rebanho nem pela igreja. Querem posição e status, mas não querem o ônus da liderança. Muitos querem a benção, mas se afastam do lugar onde a benção de Deus flui.
Vivemos dias em que uma geração de “evangélicos não praticantes.” Prá começar, não existe evangélico não praticante. Ou você é evangélico e pratica o evangelho, ou você não é e se engana achando que é. Pessoas desigrejadas, são caracterizadas pelo distanciamento e pelo descompromisso, são membros de um corpo, mas desvinculadas de um corpo, são pedras de um edifício, mas não fazem parte deste edifício. Os desigrejados não precisam de comunhão, acreditam que podem desenvolver sua espiritualidade cristã distanciados do povo de Deus, sem prestar contas a ninguém. Tais pessoas precisam ser advertidas: Nunca vi ninguém cheio do Espírito Santo, longe da igreja. A missão de Cristo se faz com envolvimento comunitário. Avivamentos acontecem em torno de pessoas que oram comunitariamente para que Deus se mova na história. Projetos missionários, obras sociais, sempre são feitos por uma comunidade local, que se sente desafiada a projetos e de forma comunitária, servem à igreja de Cristo.
Eventualmente em igrejas grandes é fácil nos escondermos e nunca servimos. Não trazemos nosso tempo, não servimos com os talentos ou recursos, não contribuímos financeiramente. Muitos reclamam que nunca são convidados para ajudar nas atividades e serviços da igreja, mas em geral, também nunca estão disponíveis ou nunca se apresentam. Muitos reclamam da falta de conforto das estruturas da igreja sem nunca se comprometer com seu dinheiro para a melhoria do templo e de suas dependências.
Se você quiser servir, crescer na fé e no compromisso, é necessário estar mais perto.
A Bíblia fala que uma das causas da queda de Pedro se deu por tentar seguir Jesus de longe. Ao mesmo tempo afirma que “O jovem Josué nunca se apartava da tenda” (Ex 33.11). Este Josué se tornaria o futuro líder do povo de Israel, mas isto não aconteceu aleatoriamente. Ele sempre estava lá, servindo, cooperando, envolvendo-se no ministério, e quando chegou a hora de alguém assumir o lugar de Moisés, seu nome foi naturalmente indicado. Liderança brota daqueles que se encontram envolvidos, sacrificialmente. Quando surge uma necessidade, ele é lembrado.
John Maxwell afirma no seu livro O Líder 360o graus, que muitas pessoas pensam que só poderão assumir funções quando já forem líderes, quando na verdade, devem estar preparados, porque quando as oportunidades surgirem, já devem ter deixado sua marca na organização e na obra que fazem.
Segundo você tem que ir um pouco mais longe
Eliseu caminha com Elias, onde quer que este se dirigia. Ele segue para Betel, Eliseu vai com ele; ele vai a Jericó, Eliseu o segue; dali para a travessia do Jordão, Eliseu anda junto e vai onde for necessário. Por que os demais discípulos não fizeram o mesmo trajeto, por que não os acompanharam?
Não podemos parar em Betel, nem Jericó, nem no Jordão. Precisamos caminhar o quanto for necessário. Eliseu não abre mão de ir até onde fosse necessário para estar com seu mestre. Assim deve acontecer conosco. Precisamos investir tempo e recurso na obra do Senhor. Isto significa caminhar um pouco mais, andar uma milha a mais. Muitos se contentam em caminhar um pouco, e só andam se o trajeto for curto. Não querem se sacrificar, nem se entregar, nem ir além.
Os discípulos dos profetas sabiam até os detalhes de como seria o arrebatamento de Elias: “Sabes que o Senhor, hoje, tomará o teu Senhor, elevando-o sobre a tua cabeça?” (2 Rs 2.3). Se sabiam tanto, por que não foram juntos? A resposta clara é a falta de interesse. O comodismo, a lei do menor esforço, a mediocridade, nos impedem de ir adiante.
Gosto de relatar a história da mãe de um garoto que padecia uma grave enfermidade e procurou um bombeiro pedindo-lhe que fosse visitar o garoto no hospital. O bombeiro prometeu que iria, e no dia marcado, chegou com um forte aparato no carro de bombeiro, acionou a escada magirus e entrou pela janela do quarto do hospital para visitar aquela criança. levando-lhe uma roupa de bombeiro mirim e condecorou aquela criança.
Esta é uma boa ilustração de excelência.
Gente que vai adiante. Não se contenta com o que existe, quer melhorar. Não faz apenas o que lhe pedem, antecipa-se. Em geral, quem tem a visão, tem o dom. Esta capacidade de servir, de melhorar, de influenciar.
Se quisermos uma vida plena de sentido e ministério, precisamos caminhar um pouco mais longe, andar a segunda milha, sair do circulo do anonimato, descompromisso, displicência ou preguiça.
Terceiro, você tem que querer um pouco mais
É isto que percebemos em Eliseu. Ele quer continuar o ministério, quer honrar Elias, quer exercer o ministério e por isto se entrega com disposição.
Liderança na igreja é sempre um desafio.
Muitas igrejas reclamam do fato de não terem pessoas disponíveis para a obra. Um texto que me desafia é 1 Tm 3.1: “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja”. O problema dos membros da igreja não é desejar uma função, ou aspirar algo na comunidade, antes é a falta de interesse, de não querer nada. Se você deseja crescer na graça e servir o reino de Deus, é necessário ir um pouco mais. Comprometer-se um pouco mais.
Fé que não custa nada, não vale nada. Se o seu compromisso com o reino de Deus é meramente institucional, cantar na igreja, vir aos cultos, sem nunca se sentir responsabilizado pelo ministério, sem sentir necessidade de contribuir, de dar parte do seu tempo, de se envolver no cuidado, certamente sua fé ainda é superficial e precisa ir além.
Já ouviram aquela velha alegoria: “A galinha colabora com o café da manhã, o porco se compromete”? Na igreja há esses dois grupos: os envolvidos e os comprometidos. Parece ser a mesma coisa, mas não é. Quando você come o ovo, a galinha está envolvida. Quando você come o bacon, o porco está comprometido e seu comprometimento significa sacrifício. Existem muitos que colaboram, mas poucos são os que estão comprometidos. Essa é a diferença entre o envolvimento, superficial, aparente e o comprometimento, real e profundo.
Quando lançamos um desafio na igreja, surge uma diversidade de pessoas dispostas a colaborar para o sucesso da empreitada. Cada uma com sua forma e estilo. Aparecem aqueles muito envolvidos e outros, nem tanto. Mas também existem os comprometidos com os resultados, os que lutam, dão seu máximo, buscam corresponder com as expectativas e cooperar.
Conclusão
De acordo com as Escrituras, Eliseu teria realizado aproximadamente o dobro dos milagres que Elias realizou. A Bíblia registra mais milagres específicos para Eliseu do que para Elias. Enquanto Elias é mencionado realizando cerca de seis milagres principais, Eliseu é descrito realizando cerca de nove milagres principais, sem contar aquele milagre que se deu quando um cadáver foi jogado na cova de Eliseu e reviveu. (2 Rs 13.21)
Elias:
- 1 Reis 17.1-7 - Elias prediz uma seca e é alimentado pelos corvos.
- 1 Reis 17.8-16 - Elias multiplica a farinha e o azeite da viúva de Sarepta.
- 1 Reis 17.17-24 - Elias ressuscita o filho da viúva de Sarepta.
- 1 Reis 18.1-40 - Elias enfrenta os profetas de Baal no monte Carmelo e invoca fogo do céu.
- 1 Reis 18.41-46 - Elias ora pela chuva e ela retorna após a seca.
- 2 Reis 1.10-14 - Elias chama fogo do céu para consumir dois grupos de soldados.
Portanto, Elias é registrado realizando pelo menos seis milagres durante seu ministério.
Eliseu:
- 2 Reis 2.14-15 - Eliseu divide as águas do Jordão com o manto de Elias.
- 2 Reis 2.19-22 - Eliseu purifica as águas de Jericó.
- 2 Reis 2.23-24 - Eliseu amaldiçoa 42 jovens que zombavam dele, e dois ursos os devoram.
- 2 Reis 4.1-7 - Eliseu multiplica o azeite da viúva.
- 2 Reis 4.8-37 - Eliseu ressuscita o filho da sunamita.
- 2 Reis 4.38-41 - Eliseu purifica o alimento envenenado em Gilgal.
- 2 Reis 5.1-14 - Eliseu cura Naamã da lepra.
- 2 Reis 6.1-7 - Eliseu faz flutuar um machado que caiu na água.
- 2 Reis 6.8-23 - Eliseu faz os soldados sírios ficarem cegos e depois recupera a visão deles.
Portanto, Eliseu realizou pelo menos nove milagres durante seu ministério. Essa diferença numérica reflete a continuidade do poder profético que Deus conferiu a Eliseu após o arrebatamento de Elias. Eliseu pediu uma porção dobrada do espírito de Elias (2 Rs 2.9), e a tradição interpreta isso não apenas como uma dupla porção de poder profético, mas também uma quantidade maior de milagres realizados.
Eliseu se disponibiliza. “Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito”. Não queria ser maior, queria apenas continuar o grande desafio da obra profética tão necessária em Israel. Não queria superioridade, mas realizar a função de ser a voz de Deus para aquela geração tão distanciada de Deus, a fim de trazer a nação de Israel novamente para a Lei de Deus.
Ele não queria ser mais que Elias, mas queria se comprometer. Não queria ser superior, queria ser servo.
Como isto nos fala de Jesus e do Evangelho?
Toda e qualquer pregação deve apontar para Cristo porque é para lá que toda a Bíblia aponta. Todos os personagens bíblicos devem apontar para Jesus, porque sem Cristo, a mensagem se torna esvaziada. Como afirma Tim Keller “Jesus é a verdadeira Rocha de Moisés, o verdadeiro Cordeiro pascal, inocente, perfeito, desamparado, sacrificado para que o anjo da morte não atentasse contra nós. Ele é o verdadeiro templo, o verdadeiro profeta, o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro rei, o verdadeiro sacrifício, o verdadeiro cordeiro, a verdadeira luz, o verdadeiro pão. A Bíblia definitivamente não é sobre você e eu. É sobre Ele."
No sermão do Pentecoste, o apóstolo Pedro afirmou. “Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer … Disse, na verdade Moisés … E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos quantos depois falaram, também anunciaram esse dia.” (At 3.18,22,24)
A vida de Elizeu, sua humildade, obediência, serviço, abnegação, poder, autoridade, sofrimento, a perseverança, o legado e o impacto duradouro demonstrados por ambos nos servem como exemplos a serem seguidos em nossa jornada de fé. Assim como a vida de Cristo foi uma vida de obediência e sujeição ao Pai. Sua obediência o levou até a cruz.
Todo poder e autoridade presentes em Elizeu, evidenciados em manifestações, sinais e milagres nada é comparado com o poder e a autoridade que vemos em Cristo. Jesus morreu para nos justificar diante do Pai, e nos concedeu, não porção dobrada do seu Espírito, mas ele nos deu o seu Espírito, por inteiro, para nos fortalecer, guiar e capacitar nossa vida de adoração a Deus.
Sua vida e seu poder, nos são comunicados por meio de seu sacrifício. Ele nos concedeu, mais que “porção dobrada do seu Espírito”, ele nos a si mesmo por oferenda, para nos apresentar diante do Pai, justificados e redimidos.
Padre Antônio Vieira, no sermão do quarto domingo da ascensão, sobe ao púlpito. Ele era muito requisitado, muitas pessoas queriam ouvi-lo onde quer que ele estivesse. Como se tratava de um calendário religioso, todos esperavam um sermão sobre o domingo da ascensão. Entretanto, quando começou a falar, ele olha fixamente para a imagem de Cristo e afirma:
“A imagem dos meus pecados me comove muito mais que essa imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado eu sou levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou, mas diante da imagem dos meus pecados eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me vendi, ver que Deus me compra com todo o seu sangue, me leva a pensar que eu sou muito, eu valho muito, mas quando noto que eu me vendo pelo nada do mundo, aí vejo que sou nada, eu valho nada”.
A obra de Cristo nos
redime da morte. A porção dobrada do Espírito que nos foi dado, este Deus que
habita em nós, faz toda diferença para nossa caminhada. Certamente precisamos
dizer como Elizeu: “Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário