quinta-feira, 11 de julho de 2024

Justiça própria Lc 10.25-29

 



 

“E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?26 Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas?27 A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 8 Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.29 Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?”

 

Você alguma vez declarou: “Isso não é culpa minha!”? quantas vezes você, abertamente afirmou: “eu errei, foi mal... me perdoe?” Admitir pecados não é algo fácil. Estamos sempre prontos a nos defender.

 

Em razão de havermos dado as costas a Deus, precisamos do Evangelho. Jamais abraçaremos a beleza e a glória do Evangelho sem que antes de mais nada nos conscientizemos de nossa tremenda necessidade dele, bem como reconheçamos a realidade do pecado. É obvio que isso se aplica ao momento em que nos convertemos, contudo logo nos esquecemos de que o Evangelho tem uma aplicação contínua em nossa vida. Como cristãos, frequentemente nos esquecemos de que somos pecadores, e esquecemos o Evangelho.

 

Muitos caminhos podem nos levar a entender nossa necessidade do Evangelho. um dos aspectos da nossa pecaminosidade é a inclinação à autojustificação. A autojustificação serve como uma boa rota para a nossa necessidade do Evangelho. Mesmo não tendo problema com drogas ou com o Imposto de Renda, todos nos justificamos a nós mesmos de forma tão fácil, banal e automática como o ar que respiramos. Somos como o Jovem Rico (Mt 19.16-22). Segundo nossa própria perspectiva, temos nos conservado obedientes em toda sorte de áreas ... até aquele momento em que Jesus nos confronta com um determinado terreno que revela nos mostra claramente nosso pecado e nossa grande necessidade.

 

Algo marcante que foi observado pelo homem que capturou Adolf Eichman (o autor da “solução final”; o exterminador de judeus debaixo do controle nazista), tanto quanto pelos jornalistas que cobriram seu julgamento posterior, foi a conclusão a que chegaram: a coisa mais chocante em relação a Eichman foi que ele era um homem comum e bastante familiar. Aliada a essa natureza comum ele tinha uma extraordinária capacidade para a autojustificação, e também para se desculpar dos seus atos horrendos.

 

Aqueles que são culpados dos crimes mais atrozes contra a humanidade conseguem facilmente encontrar desculpas para seu comportamento. Se as pessoas podem encontrar justificativas para seus mais terríveis crimes, da mesma forma também nós podemos descobrir espaços para explicar nossas reações e comportamento: ira, preguiça, falta de tempo, olhares de desaprovação, transgressão das leis de trânsito, maledicência, ciúmes, intriga, inveja, e mil e uma características infelizes... A autojustificação é um hábito humano tão velho quanto é velho Caim, o mais claro exemplo de alguém que tentou se justificar a si mesmo diante de Deus e do irmão.

 

Dê uma olhada em Lucas, 10:25-29.  O que ocorre nessa passagem?  O expert, ou perito da lei, logo se dá conta de que apesar de haver dado a resposta certa, as coisas não eram tão simples nem tão fáceis como pareciam à primeira vista. O mandamento dizia que ele deveria amar a Deus de todo o coração, e ao próximo como a si mesmo. Mas quem, afinal, consegue amar dessa maneira?  Portanto, apesar de ser ele um estudioso da lei, ele tenta justificar-se no momento em que pergunta a Jesus: “Diga-me, Jesus, quem é o meu próximo?”  Talvez esperasse que Jesus lhe respondesse que seu próximo era seu amigo que morava ao lado da sua casa, em cuja companhia passara as férias do ano anterior - amigo esse que ele jamais teria dificuldade em amar. No entanto, para sua surpresa Jesus lhe responde: “Não é isso não! O amor a que me refiro inclui amar a pessoa que você detesta. Esse sentimento tem a ver com compaixão e misericórdia em relação aos seus inimigos”.

 

A tendência natural do nosso coração é a de construir um mundo à parte do Evangelho.  Esse homem conhecia a lei, e deu a resposta correta: Ame a Deus e ao seu próximo. Contudo ele reconhecia que não estava guardando essa lei. Por isso pergunta: “Quem é o meu próximo?” Talvez não fosse a pessoa que odiasse – sua sogra ou aquela mulher pecadora que observava na sinagoga. Ele tenta então justificar-se, para que possa estar correto diante de si mesmo, do seu próximo e de Deus. Esse mestre busca minimizar os requisitos da própria lei, porque no seu coração reconhecia que não era perfeito.  Longe disso!  Ele não tinha poder algum para amar seus inimigos. Sua falta de amor é observada até mesmo na maneira como trata a Jesus, e em sua manobra visando lançar uma armadilha contra o Senhor.

 

Autojustificação é uma característica daqueles que conhecem a lei (Lucas 10:25-29). O que significa “justificar-se a si mesmo”? Este homem tenta se defender. Você pode pensar em algum exemplo na sua vida, em que se depara “justificando-se a si mesmo”? Pessoas religiosas precisam sempre encontrar desculpas para se justificarem. Por que buscamos reputação? Onde você está buscando estabelecer uma reputação?

 

Autojustificação é uma característica das igrejas (Apo 3.1-3) A igreja de Sardes tinha nome de que vivia. Vendia uma imagem de igreja viva mas estava morta.

 

Autojustificação é uma característica das pessoas corretas Jó é um clássico exemplo de como podemos ser envolvidos na questão da justiça própria.

 

Pregadores e comentaristas bíblicos afirmam que, de fato, seu maior pecado foi o de se achar justo demais.

“A justiça de minha causa triunfará” (Jó 6.29). “Minha consciência não me reprova por qualquer dia de minha vida” (Jó 27.6). Ele alega que Deus não conhece sua integridade (Jó 31.6). Ele desafia Deus para um tribunal, onde ele demonstraria sua inocência e o equivoco do Todo-Poderoso (Jó 31.35)

 

Qual é o perigo da justiça própria?

 

Pessoas cheias de justiça própria acham que Deus lhes deve – Lembra-se do Filho mais velho, da parábola do filho prodigo (Lc 15)? Ele era moralista e legalista, cônscio de suas tarefas, e por isto fica indignado com o pai: “Há tanto tempo tenho te servido, sem nunca comer um cabrito?”. Ele lança mão de suas credenciais. O Pai lhe deve respeito. Jó chega a desafiar Deus para um tribunal. “Tomara eu tivesse quem me ouvisse! Eis aqui a minha defesa assinada. Que o Todo-Poderoso me responda!” (Jó 31.35). Deus passa muito “apuro” na mão de pessoas cheias de justiça própria. Ele está sempre lhes devendo, e ai dele se não atender as expectativas de tais pessoas.

 

Pessoas cheias de justiça própria, sempre se julgam superiores às outras – Mais uma vez consideremos a parábola do filho mais velho. Ele é moralista, evoca seu currículo de bom filho e o compara com o fracasso do irmão. “Vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado” (Lc 15.30). O fariseu correto, cheio de si, ora dizendo: “Graças te dou, porque não sou como este publicano. Dou dízimo de tudo quanto possuo, jejuo duas vezes por semana” ... e conhecemos bem como Deus viu este patético discurso.

 

Pessoas cheias de justiça própria são hábeis e ágeis em condenar e julgar. Acham-se superiores às demais, ainda que seus corações sejam frios e distantes do Pai, como era o coração do filho mais velho, que não conseguia amar seu irmão pecador, nem entender o coração amoroso do Pai.

 

Pessoas que se consideram justas, facilmente perdem a salvação gratuita de Cristo – A pessoa que se considera justa, não precisa de graça, mas apenas de justiça. Ele julga ter méritos, credenciais, e quem crê nos méritos, dispensa a graça.

 

Sinclair Ferguson afirma que “a justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho”. Nada nos distancia mais da mensagem da cruz que o senso de somos justos. Por isto o Espírito encontra grandes barreiras para aplicar o Evangelho no coração de tais pessoas, porque elas não estão convencidas do seu estado miserável, elas acham que são ricas, e que não precisam de coisa alguma, sem saber que são miseráveis, pobres, cegas e nuas (Ap 3.17-18).

 

Quando o apóstolo Paulo percebeu sua situação de fracasso aos olhos de Deus, isto mudou tão radicalmente sua visão das coisas espirituais que depois de descrever seu invejável currículo de realizações espirituais, afirmou que considerava tudo aquilo como esterco, e que queria ser encontrado em Deus, não tendo justiça própria, senão a que procede de Cristo, e que lhe havia sido imputada pela obra do Espírito Santo (Fp 3.2-10).

 

Pessoas que se consideram justas demais terão muita dificuldade em entender o sacrifício vicário (substituto) de Cristo. Não entendem quão pecadores e necessitados são da cruz, e vão sempre tropeçar na graça. A menos que entendam a profundidade de seu fracasso, dificilmente entenderão a maravilhosa obra da salvação, operada por Cristo Jesus. Por isto nunca terão gratidão, nem se impressionarão com a cruz. Estão demasiadamente impressionadas consigo próprias.

 

No final do livro percebemos o arrependimento de Jó.  “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem.” (Jó 42.5)

 

Por que você anda tão irado?

 

Qual seria o primeiro pensamento que lhe passaria pela mente se a polícia o fizesse parar por excesso de velocidade? Ou se um membro da sua família lhe perguntasse: “Por que você anda tão irado?” Não é mesmo verdade que a nossa primeira reação caminha na linha da autojustificação. Quão rapidamente estamos prontos para mentir, apenas para parecer “bom” e menos irado!... Quão rapidamente tentamos nos justificar a nós mesmos por adotarmos uma “teologia correta”, por fazermos certas coisas ou por minimizarmos aquilo que fizemos de errado. Tudo isso são exemplos de como buscamos construir uma vida à parte de Jesus, um mundo “perfeito” longe de Cristo. 

 

John Maxwell conta uma história engraçada sobre um avô visitando seus netinhos. Toda tarde ele tirava uma soneca. Um dia, os netos decidiram pregar-lhe uma peça. Eles colocaram queijo no seu bigode. Quando ele acordou, começou a fungar, e disse: “Este quarto está fedendo!” Então ele foi para a cozinha. “Aqui também cheira mal.” Então ele foi para fora para tomar um pouco de ar fresco, e depois de um minuto disse: “O mundo inteiro está fedendo” É assim que as pessoas que se baseiam na justiça própria são. Podem farejar os pecados e falhas de todos ao seu redor, e acham que todo mundo fede, exceto eles, mas às vezes, o fedor está neles mesmos.

 

Nós somos por natureza os Eichmanns deste mundo.  Isso porque a história não nos deu a oportunidade de canalizar nossa ira e nosso ódio projetado por nosso próximo. Somos aqueles que estamos no meio da multidão gritando para que Cristo seja crucificado, pela única razão de haver ele subjugado nosso “sistema religioso”, e uma vida de autojustificação diante da humanidade.  Ele tem exposto diante de Deus nossa vida fraudulenta. A razão fundamental da oposição dos fariseus e da multidão em relação a Jesus não nasceu pelo fato de ele os haver ferido de alguma maneira, e sim por lhes haver exposto claramente a vida de autojustificação, e sua religião baseada na justiça humana. O único recurso que lhes restava era o de matá-lo. Nós somos “Jó”, que buscamos a Deus a fim de demonstrarmos quão justos somos.

 

Nossas igrejas são como a de Sardes. Construímos uma reputação à semelhança da torre de Babel, até que Deus em sua misericórdia nos confronte com a mensagem do Evangelho. A maravilha das boas-novas é que Jesus veio para gente como nós!

 

Nossa hesitação, ou até mesmo nossa total recusa a sermos identificados com as pessoas mencionadas acima vem apenas demonstrar quão bons imaginamos ser, quando nos justificamos a nós mesmos! A humanidade tem uma natureza comum – não existe um justo sequer, nem sequer um (Rm 3:10). 

 

Desculpas: como estar certo e aparentar que está tudo bem...        .


 


Eu apenas sou fraco.

(Realmente isso não é culpa minha...)

 

Eu só estava querendo ser honesto.

(Você não entende quão rude tem sido)

 

Eu não tinha intenção de fazer isso.

(Eu não tinha intenção de ser pego.)

 

Isso me deixou irado.

(Fui tratado injustamente)

 

Houve um mal-entendido entre nós.

(O conflito não existiu. Apenas interpretação errada do fato)

 

Eu tão-somente estou dizendo aquilo que sinto.

(Não há nada errado com meus sentimentos)

 

Minha família sempre foi assim.

(Se você acha que eu sou ruim, então você deveria conhecer minha...)

 

Eu estou tendo um dia/uma semana/um ano muito ruim.

(Eu mereço algo melhor)

 

Estou cansado... Está muito quente hoje!

(Eu mereço um descanso)

 

Desculpe, mas você...

(A culpa não é minha... é sua)

 

Eu também cometo erros.

(Todos nós não cometemos?)

 

Eu só estava brincando...

(Você não entendeu a brincadeira...)

 

Você não me entendeu.

(Eu não sou tão ruim como você pensa)

 

Ninguém é perfeito

(Inclusive você)

 

Eu sou desta maneira.

(Sou pecador... Você tem mais é que aceitar esse fato.)

 

Desculpe-me! Por favor, me perdoe.

(Vamos resolver isso o mais rápido possível)

 

Eu simplesmente estou amolado.

(Você não percebe? Seu problema é que você não tem compaixão.)

 

Nós temos um problema de personalidade.

(Você é a metade do problema)

 

Nós temos um problema de comunicação.

(Você é a metade do problema)


O que de fato estamos dizendo, quando afirmamos que não somos pecadores?

           

Jesus fala a respeito de tirar a trave dos próprios olhos "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?.” (Lc 6.41) Se todos temos por natureza a mesma raiz pecaminosa, então por que mencionar essas diferenças entre a trave em nossos olhos e o cisco no olho do nosso irmão? A razão é que temos a forte tendência de nos justificar a nós mesmos. Nosso problema é que pensamos de maneira muito elevada a respeito de nós mesmos. Portanto, invertemos os valores: nós temos o cisco e os outros têm a trave. Isso nada mais é do que a exteriorização da nossa autojustificação.

 

Quantas vezes tem desculpado seu comportamento? Quão amiúde tem se defendido a si mesmo?  Ou ignorado?  Ou minimizado a seriedade do problema?  Você tem se comparado com alguém que estava fazendo algo até mesmo pior que você? Escreva esse exemplo abaixo. Peça ao Pai que lhe mostre as maneiras pelas quais você tenta se justificar a si próprio.

 

J. C. Ryle afirma que dificilmente encontraremos pessoas que negam abertamente a divindade de Cristo, a pessoa do Espírito Santo, descreem da Bíblia ou duvidam da existência de Deus, “mas, de todos os enganos astutos que mantém os homens fora do céu, de todas as armadilhas destruidoras da alma que Satanás utiliza para se opor ao Evangelho de Cristo, não há nenhuma que se mostra tão perigosa, nenhuma tão bem-sucedida, como a justiça própria! (...) “Confiamos nos méritos de Cristo”; mas fazemos do Senhor Jesus apenas um Salvador pela metade,

 

Comentando a parábola do fariseu e publicano ele afirma ainda:

“Que ninguém esqueça o ponto da parábola: o fariseu não foi rejeitado por ser um homem moral, mas por ser orgulhoso e confiar em sua justiça própria; e o publicano não foi aceito porque era um pecador, mas por reconhecer sua miséria. O verdadeiro arrependimento é necessário a todos, quaisquer que sejam suas vidas e condutas externas: é essencial se apegar simples e inteiramente à cruz e ao sangue de Jesus Cristo. Não há outro caminho de salvação além de Cristo, também não há outro caráter para entrar neste caminho além daquele do publicano, e não há oração tão aceitável aos olhos de vosso Redentor e Juiz como “Deus tenha misericórdia de mim, que sou um pecador!”

 

Quando perguntamos quem é o meu próximo, estamos tentando nos justificar a nós mesmos. queremos arrumar desculpas para nosso pecado, narcisismo, egocentrismo.

 

 

 

 

 

 

 


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