Se eu lhe perguntasse hoje: qual identidade te definiria melhor: Pecador ou santo? O que você responderia? Esta pergunta é desconfortável em qualquer direção que sigamos. Fixar nossa identidade como pecador é complicado, mas ainda se torna mais complicado ainda dizermos que somos santos, pois você sabe que você não é santo, sua esposa, filhos e pais sabem que você não é. Como você responderia, então, a esta pergunta?
A melhor definição deveria ser:
“Sou um pecador (mas isto não me define completamente), redimido pela graça de Cristo. Quando eu recebo a Cristo pela fé, e recebo Jesus no meu coração, eu me torno nova criatura, as coisas antigas passaram, eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17). Portanto, me foi dado, por meio da cruz, uma nova identidade, um novo nome, uma nova relação com o Deus santo.
Vida cristã é “vida em Cristo”. É a união e comunhão com Cristo. Nossa nova vida é controlada de acordo com quem é Cristo e o que Cristo tem feito. Paulo usa frequentemente a frase “em Cristo” Estima-se que a expressão apareça cerca de 160 vezes em todo o Novo Testamento. Só nas epistolas paulinas, 83 vezes, principalmente em Filipenses e Efésios. Estar em Cristo é sinônimo de ser um cristão. Um homem ou mulher que está em Cristo é um cristão, não apenas o que é membro de uma igreja, ou declara que crê em determinados dogmas e princípios revelados nas Escrituras Sagradas.
Esta união deve ser vital e visceral:
“Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.”(Jo 6.54-56)
Estar "em Cristo" expressa, antes de tudo, a profunda união que os crentes têm com Jesus. Mas revela também a nova identidade em Cristo, sendo participantes de sua vida, morte e ressurreição, e aponta para as bênçãos da salvação, redenção, perdão e vida eterna por meio da fé em Cristo.
Os versículos seguintes, tirados de Romanos e Efésios, apresentam uma visão geral do amplo ensino do Novo Testamento sobre nossa união com Cristo. Observe especialmente a expressão “em Cristo.”
“Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Rm 3.24)
“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.” (Rm 6.4)
Portanto, agora não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. (Rm 8.1)
“Louvado seja Deus. Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que tem nos abençoado do reino divino com toda benção espiritual em Cristo.” (Ef 1.3)
“E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” (Ef 2.5-6)
“Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.” (Ef 2.13)
Toda benção é recebida por estarmos unidos com Cristo. Porque estamos em Cristo, recebemos tudo que Cristo tem – sua perfeição, sua perseverança, sua adoção, sua ressurreição e sua obediência. Em Cristo todas essas bênçãos são nossas:
- Redenção (Rom 3:24) - Justificado (Gal 2:17)
- Vida nova (Rom 6:11) - Santidade (1 Cor 1:30)
- Vida Eterna (Rom 6:23) - Ressurreição (Ef 2:6)
- Nenhuma condenação (Rom 8:1) - Um corpo (Rom 12:5)
- Liberdade (Gal 2:4) - Perdão (Ef 4:32)
- Amor de Deus (Rom 8:39) - Salvação (2 Tim 2:10)
- Nova criação (2 Cor 5:17) - Graça (1 Cor 1:4)
- Santificado (1 Cor 1:2) - Adoção (Gal 3:28)
- Promessa de Abraão (gal 3:14) - Submissão
- Toda benção espiritual (Ef 1:3) - Chamado
- Riquezas Gloriosas (Fil 4:19) - Regeneração
- Retidão (1 Cor 1:30) - Justificação
- Recompensa divina (Fil 3:14) - Aceitação
- Glória Eterna (2 Tim 2:10) - Santificação
- Riquezas de Sua graça (Ef 2:7) - Perseverança
- Reconciliação (2 Cor 5:19) - Glorificação
Você tem esquecido quem você é realmente?
A grande questão da nossa alma é a identidade. Quando Jesus foi tentado, sua primeira tentação tem a ver com sua relação com o Pai: “Se és Filho de Deus.” As tentações só se tornam efetivas quando nos esquecemos que somos filhos de Deus.
O gráfico a seguir mostra o risco de distorcermos a compreensão do evangelho da graça e perdermos nossa identidade em Cristo. Quando não lembramos que somos filhos amados de Deus, nos tornamos facilmente em escravos, órfãos, fariseus, prisioneiro de guerra, eremita, pessimista, Sr. Avarento, hindu e até mesmo um tirano. Veja o que aconteceu com cada uma destas imagens distorcidas que assumimos:
Agindo como: Você está escravizado a: Você tem esquecido sua :
Um escravo? “regras” das pessoas-suas próprias e dos outros liberdade em Cristo
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Um órfão? medo: de rejeição, fracasso, punição adoção em Cristo
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Um fariseu? aparência, fingimento, desaprovação justificação em Cristo
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Prisioneiro de guerra? um pecado particular santificação em Cristo
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Eremita? interesse, individualismo pessoal união com outros em Cristo
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Pessimista? Fracasso, doença, tristeza, morte ressurreição em Cristo
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Sr. Avarento? posses materiais, boa vida herança em Cristo
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Um espírita ou hindu? trabalhando para um bom Karma retidão em Cristo
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Um tirano? manipulação, raiva, poder submissão em Cristo
“Ame a Deus e faça o que quiser” – Agostinho de Hipona
Há uma liberdade maravilhosa em Cristo, mas nós não podemos usar nossa liberdade para favorecer a natureza pecadora. Agostinho resumiu a vida cristã dessa maneira: “Ama a Deus e faça o que você quiser". Por causa da liberdade que temos por estarmos unidos a Cristo, podemos viver de forma leve, livre de angústia e senso de condenação. Quando a Bíblia afirma “onde está o espírito de Deus, aí há liberdade” (2 Co 3.17), está falando de uma liberdade que experimentamos para viver uma vida em abundância, sem as amarras da consciência (culpa); do perfeccionismo (autoimagem) e acusação (diabo)
O estilo de oração dos fariseus e suas vidas cheias de preocupação resultam de sua servidão à aparência exterior e sua alienação de Deus. O fariseu se esquece da sua identidade em Cristo. Nós temos recebido o Espírito da liberdade. Nossa retidão em Cristo, os méritos e justiça de Cristo sobre nossas vidas, nos leva a liberdade.
Os benefícios do Evangelho são seus por completo!
O Evangelho é verdadeiramente boas novas. Em Cristo, você é uma nova criação (2 Co 5.17). Você não vive mais, mas Cristo vive em você (Gal 2.20). Por causa de sua união com Cristo, a perfeita obediência Dele à lei é atribuída à você. Sua retidão e sua santidade tornam-se suas. O Pai te aceita como filho porque você está em Jesus. Você agora vive sob aceitação total sem nenhuma condenação (Rm 8.1). Nada pode separar você do amor de Deus (Rm 8.38-39). Você é um filho muito amado, com o qual Ele se alegra e se encanta. Isso é quem você realmente é! Você é definido por quem você é em Cristo, não pelo seu pecado.
Assim, Paulo não começa suas cartas: “Para todos aqueles em Roma com quem Deus está zangado...”; “Para a igreja em Corinto, que continuamente testa a paciência de Deus...”; ou “Para todos os rebeldes em Filipos...” Mais precisamente ele diz: “Graça e paz, muito amados, crianças queridas, santos”, você pode não se sentir santo, mas por quê? Se você está em Cristo, você é aceito pelo Pai. Cristo Jesus não apenas nos traz a justiça, ele é a nossa justiça.
A palavra de Deus afirma:
“Pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração.” (1 Ts 2.4).
Não diz, “seremos aprovados”, mas “fomos aprovados por Deus.” Em Cristo somos aceitos pelo Pai. Não é esta uma maravilhosa notícia? Esta é a identidade que temos em Cristo. De filhos amados e aprovados por Deus.
Qual é sua identidade?
Atrelamos nossa identidade ao que fazemos, nossa profissão, ao ganho que temos. Associamos nossa identidade a performance moral. (um dia somos salvos e outro dia não, dependendo da capacidade de sermos boas pessoas). Muitos erroneamente buscam identidade na sua sexualidade: heterossexual, homossexual, ou estado civil, casado ou solteiro, ou até mesmo na profissão. Paul Tripp disse que ele descobriu que se tornou um problema sério para seu ministério, porque ele atrelou sua identidade ao ministério, e não sua relação de filho com Deus.
Somos salvos porque estamos em Cristo, o qual se tornou nossa justiça. Cristo não somente nos traz justiça, Ele é a nossa justiça. E nós somos justos ou justificados porque estamos nEle. Quando estamos em Cristo, Deus nos vê impecavelmente justos. Nós somos santificados através da nossa união com Ele.
Como você se parece aos olhos de Deus? Como Deus o vê? Nós somos declarados justos!
De modo geral as pessoas discutem justificação em termos de perdão. Isso é maravilhoso! Uma verdade fantástica, você precisa edificar sua vida em cima desse alicerce, mas justificação significa, aos olhos de Deus, ser mais do que declarado não-culpado; significa também que fomos declarados justos. A benção é dupla: perdoado, isto é, no nosso arquivo, nada existe contra nós, ficha limpa aos olhos de Deus. Justificados. Declaração forense, jurídica: Deus nos vê com a justiça de Cristo.
Nossa união com Cristo é uma união orgânica. “Eu sou a videira, vós os ramos.” (Jo 15.5) Nessa experiência orgânica, cada parte do corpo serve a cada uma das outras partes, e por essas é servido, e juntos são subservientes ao todo numa união que é indissolúvel. Cristo é o princípio vitalizador e dominante.
João Calvino afirma, precisamos entender que enquanto Cristo permanecer fora de nós e nós estivermos separados dEle, tudo que Ele sofreu e fez pela salvação da raça humana é sem valor, permanece inútil. Tudo que Cristo possui é nada para nós até que cresçamos num corpo com Ele. A união com Cristo é a verdade central de toda a doutrina da salvação, não somente em sua aplicação, mas também em sua realização.
Pela fé em Cristo temos mais do que uma página nova: temos uma linda página. O Juiz não apenas nos perdoou e apagou a página antiga; ele nos deu a justiça de Cristo. Ele apagou o registro do nosso pecado e em seu lugar colocou a justiça de Cristo. Nosso Pai celestial não somente limpou a nossa página, como estabeleceu créditos mediante a justiça de seu Filho. Sua justiça sobre nós é semelhante a um selo protetor, a ponto de não existir nada nem na Terra nem no céu que possa anulá-la. E tudo isso é uma dádiva recebida pela fé!
Voltemos nossos olhos ao texto inicial.
Paulo afirma, citando o Antigo Testamento: “Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Rm 4.3). O texto não diz que Abraão trabalhou, ou aperfeiçoou seu caráter, nem que ele era um homem irrepreensível, aliás, depois dos seus tropeços em relação à sua esposa, isto jamais poderia ser dito. A Bíblia faz questão de registrar, quase que de forma irônica, que a primeira coisa que Abraão fez depois de ter recebido as promessas de Deus, foi entregar sua esposa Sara a Faraó. Seu aperto financeiro, diante da seca, o fez insensível à sua esposa. (Gn 12.10-20)
Abraão não foi justificado pela sua capacidade moral. Na verdade, ele entregou Sara a outros homens por duas vezes (Gn 12.10-20; 20.1-18). Numa destas vezes ele foi severamente repreendido por Abimeleque, rei de Gerar, na região de Cades. (Gn 20) Um homem pagão o censura por causa de seu comportamento grotesco.
O texto apenas diz que ele “Creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Gn 15.6)
Três verdades precisam ser destacadas neste texto:
Méritos não são suficientes
Obras são ineficientes
Rituais são deficientes
- A salvação de Abraão não foi decorrente do princípio da retribuição – Ele não é salvo pelo que fez (Rm 4.4), seus méritos não são suficientes;
- A salvação de Abraão não foi através do cumprimento da lei – A lei sequer existia, e mesmo que existisse sabemos que nenhuma pessoa foi capaz de cumpri-la (Rm 4.13). Obras são ineficientes. Paulo diz em Rm 4.9-10 que o povo judeu pensava que a circuncisão (assim como nós, os cristãos, nos relacionamos com o batismo), tornava o homem aceitável diante de Deus. Muitos creem que o fato de se unir a uma igreja é eficiente para nossa salvação. A Bíblia diz: “Abraão creu em Deus” (deu espaço para Deus em sua vida), e isto lhe foi imputado para justiça.
- A salvação de Abraão aconteceu pelo fato dele ter acolhido as promessas de Deus em seu coração, quando ele ainda não sequer circuncidado (Rm 4.10) – Rituais são deficientes. O rito de Abraão foi o “selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso” (Rm 4.11).
Santo Agostinho, o grande teólogo da Patrística, tinha um versículo deste texto lido gravado numa placa e afixado em sua cama, para que toda noite pudesse se lembrar desta grande verdade: “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado.” (Rm 4.8).
O texto de Romanos 4 nos revela que, ao receber a obra de Cristo, algumas coisas incríveis acontecem em nós:
- Deus cobre os nossos pecados – “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (Rm 4.7).
Uso intencionalmente a ideia de termos nossos pecados “cobertos”. Isto nos livra da falsa ideia de que não temos pecado. Não! Nosso pecado é real. A culpa é real. Não falamos com Ney Matogrosso: “Não existe pecado rasgado do lado de baixo do Equador.” A sociedade moderna nega a culpa humana. O evangelho afirma a culpa humana. Seu pecado, sua transgressão, são reais. Você é culpado e responsável pelo que fez. Você jamais poderá dizer diante de Deus que é inocente, porque você não é.
O Evangelho afirma que, por meio do sangue de Cristo, seus pecados são perdoados, desde que haja arrependimento e confissão. Por meio do sacrifício de Cristo, seus pecados são cobertos. Foi esta a descoberta de Davi. “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.” Nossa culpa é zerada. Alguém cobriu o déficit em nossa conta. Não há mais dívida, ela foi inteiramente paga. Não há mais condenação, eu fui justificado aos olhos de Deus.
Davi não diz: “Bem-aventurado o que não peca.” Ele na verdade está falando de seu pecado e confessando o erro que cometeu. A grande experiência dele foi a percepção do perdão. “Bem-aventurado aquele a quem o Senhor não atribui iniquidade.” (Sl 32.2). Não é alguém que não tem pecado, mas alguém a quem não é atribuído pecado. Não alguém perfeito, mas redimido.
Durante muito tempo costumava brincar com os jovens da igreja dizendo: “Oi pecador, como vai você?” Um dia, um dos rapazes da igreja me respondeu: “pecador sim, mas redimido pela graça.” É exatamente isto que o Evangelho quer nos comunicar.
Vamos usar uma ilustração simples:
Imagine que você esteja falido. Para resolver seu problema você vai ao banco e o gerente olha para você, sua conta, seus débitos, e demonstra desolação e desconforto. Ele sabe que sua conta é impagável, mas para sua surpresa ele resolve deletar seu débito? Calma... você sabe que está é uma situação hipotética, improvável, um banco nunca fará isto... mas vamos adiante no nosso raciocínio. Não seria isto razão de muita alegria? Como você se sentiria diante de uma situação tão inusitada? Sua conta foi zerada. Não tem mais protestos, dívida no cartório, credores ligando e atormentando você.
Davi afirma: “bem-aventurados aqueles... cujos pecados são cobertos”. Davi sabia o que isto significava. Ele pecou contra Deus, e sua atitude trouxe muita tristeza ao seu coração, senso de culpa e acusação. Enquanto esteve calado seus ossos envelheceram. Seu pecado o condenava, sua consciência o atormentava. Mas ele se arrependeu, confessou seus pecados, e experimentou o perdão de Deus. Entendeu que, pela fé, seus pecados foram cobertos. Ele estava livre, fora justificado, absolvido.
E o que é mais interessante: Não decorre da nossa capacidade pessoal: “Ao que não trabalha, porém crê.” É uma declaração dada por Deus quando cremos (pode ser agora). Deus declara inocente quem não trabalhou, quem não fez por merecer, quem não tem mérito. Afirma que ele foi perdoado embora não tenha trabalhado para ser perdoado, não decorreu de seus esforço e lutas. Foi assim que Deus fez com Abraão e com Davi, e é assim que ele faz com cada um de nós. Esta ideia não é estranha? Isto é justificação pela fé.
- Deus imputa justiça – Mas o Evangelho não para por ai. Você não é apenas perdoado. Este é um lado da moeda. Veja quantas vezes o verbo imputar e atribuir justiça aparece no texto: (4.3,5,6,9,10,11). Estas palavras são sugestivas. Imputar significa, atribuir, colocar algo de fora em nós. Deus coloca algo em nós que não temos. Merecíamos castigo, ele nos deu perdão; merecíamos condenação, ele nos deu redenção. Bonhoeffer afirma: “Nossa justiça é uma justiça estranha, ela vem de fora de nós.” Deus nos deu uma justiça que não temos. Deus diz que é nosso aquilo que não era nosso. Estes termos são jurídicos, forenses, legais. O santo juiz nos atribui esta justiça que não é nossa.”
Agora pense nos desdobramentos desta verdade. Vamos retomar a analogia que usamos quando você foi ao banco sem ter como pagar e o gerente perdoou suas dívidas. Esta seria uma notícia maravilhosa, não é? Agora imagine outra coisa inusitada. Você está saindo do banco, o gerente lhe chama. Você leva um choque, um susto e pensa: é claro que esta história não poderia ser verdade, estava bom demais para ser verdade. Mas para sua surpresa ele diz o seguinte: “Pensando bem, acho que você não pode sair daqui zerado, queria lhe colocar algum saldo na sua conta. Mesmo com a conta zerada, você precisa ter algum dinheiro para recomeçar sua história.” E coloca 40 mil reais na sua conta, um saldo positivo com o qual você possa viver de forma ainda melhor.
Assim faz Deus conosco. Ele não apenas perdoa, mas nos credita justiça. Não foi isto que ele fez com Abraão? “Creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Rm 4.3)
O verbo justificar (dikaion) se contrapõe ao condenar (katakrino) e é tirado dos códigos penais. O réu é culpado e merece a punição, mas a despeito de sua culpa, é posto em liberdade. A lei de Deus é impessoal, não como a dos homens: Ela pode perdoar. Não é pela lei; Não é pelas obras; Não é pelo sacrifício físico; Cristo é o seu meio, e a fé é o seu modo.
John Mackay:
“Deus assinou o recibo de quitação de nossa justiça que Cristo pagou ao ressuscitar dos mortos.” Foi isto que Jesus fez na cruz. Tetelestai! “Tudo está consumado”, seria melhor traduzido como: “Tudo está pago!” Jesus rasgou a nota promissória, nossos débitos no cartão de crédito. Tudo o que devíamos ele pagou, e o melhor de tudo, nossa dívida era eterna e ele a quitou. Isto é muito mais libertador que terminar de pagar o financiamento de casa própria, com a qual você se endividou por 30 anos.
Este ensino é chamado algumas vezes de Dupla Transferência, ou de Vida Transformada, ou “A Grande Mudança”. A Bíblia nos ensina que pela fé fomos perdoados e a justiça de Cristo foi imputada e creditada a nós. Portanto, uma benção duplicada: Fomos perdoados e declarados justos.
Martinho Lutero afirma:
“Mediante a fé em Cristo, portanto, a justiça de Cristo se torna a nossa justiça, e tudo o que ele tem se faz nosso. Ele mesmo se torna nosso.”
João Calvino declara:
“Uma pessoa será justificada pela fé quando, excluída da justiça das obras, coloca completamente a sua fé na justiça de Cristo e aparece revestida aos olhos de Deus, não mais como pecador, mas como justo...”
Jesus é nossa perfeita retidão. Quando vamos a Ele não precisamos de nenhuma outra retidão. A luta por ela termina, e Ele se torna nossa reputação e glória. Já não precisamos temer estar na posição de pecadores, porque quando pecamos paramos de depender dos nossos próprios esforços; cessamos de tentar ser aquilo que não somos e admitimos ser aquilo que realmente somos. Nesse ponto aceitamos a retidão de Cristo, sendo justificados diante de Deus e passando a experimentar a paz genuína. Esta é a bênção básica de Deus para nós, e o único verdadeiro caminho de alegria e paz.
PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS AMOROSO
Deus é santo, e não tem nenhum prazer no pecado (Esta é uma dimensão ética), mas Ele tem lidado com meu pecado – passado, presente e futuro (identidade). Ele removeu meus pecados para um lugar tão distante como o Ocidente está para o Oriente, e agora eu sou uma nova criatura. Eu estou em Cristo. Deus não se deleita no pecado, mas se deleita em mim. No passado – em razão da minha natureza - eu era objeto da sua ira, mas hoje, em virtude de minha nova natureza, sou objeto do seu prazer. Agora eu ainda me arrependo da natureza pecaminosa dos meus atos. Na verdade, eu não me deleito com o pecado. Sou ainda responsável por meus pecados, e não posso ser neutro ou ambivalente em relação a eles, porque eles ainda ferem e entristecem o Espírito de Deus, e eu posso me colocar debaixo da disciplina do Pai (comunhão). Portanto, tudo aquilo que não vem mediante a fé e o arrependimento não é aceito por Deus - como a palha e o feno, que serão queimados no último dia. Nenhum pecado é agradável a Deus. Entretanto, isso não muda a minha identidade – quem eu sou em Cristo.
Luiz Berckoff afirma que essa imputação da justiça de Cristo a seu povo foi estabelecida no Conselho da Redenção, quando o Pai, Filho e o Espírito Santo estabeleceram o plano eterno da salvação. Ap 13.8 afirma que o Cordeiro foi morto, antes da fundação do mundo. Certamente a morte de Cristo é a base da nossa justificação e o fundamento sobre o qual recebemos todas as bênçãos espirituais e a dádiva da vida eterna. Em virtude da nossa união legal ou representativa estabelecida na Aliança da Redenção, Cristo se encarnou como substituto para doar todas as bênçãos da salvação para seus eleitos.
Algumas implicações bíblicas da união com Cristo.
Primeiro, os crentes estão em Cristo. “Se alguém está em Cristo, é nova Criatura “(2 Co 5.17).
Segundo, Cristo está em nós. “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gal 2.20).
Terceiro, estamos em Cristo e Cristo em nós. “Nisto, conhecemos que permanecemos nele, que ele permanece em nós, pelo fato de nos ter dado o seu Espírito.” (1 Jo 4.13)
Justificação é o ato de Deus, pelo qual Ele imputa ou atribui o crédito aos crentes a perfeita satisfação e justiça de Cristo, de tal forma que todos seus pecados são perdoados e somos considerados perfeitamente justos aos olhos de Deus. Somos salvos porque estamos em Cristo.
Conclusão:
Imagine um quadro:
Uma pequena garota está presa em um prédio em chamas. Debruçada na janela do segundo andar ela vê o seu pai a mandando pular. Antes de pular, algumas considerações têm que ser feitas. Primeiro, ela precisa ter algum conhecimento sobre seu pai, principalmente se ele é forte o suficiente para segurá-la. Ela precisa acreditar nisto. Em outras palavras, ela tem que aceitar esta verdade, e não em alguma mentira que ela possa ter ouvido na vizinhança. Finalmente antes de pular ela tem que ter certeza de que seu pai vai de fato segurá-la. Só depois disto ela vai pular.
Assim acontece com nossa relação. Deus nos deu o presente da vida eterna por meio de Cristo. O que eu preciso fazer para receber o perdão e a justificação? Me arrepender de meus pecados, e da minha tolice de acreditar que por meus esforços e méritos serei aceito por Deus, e colocar minha confiança no caráter de Deus e na obra de Cristo. Ele morreu por mim. Ele derramou seu sangue por mim. Sou salvo nele.
Fé é se agarrar, descansar, confiar e crer em Cristo. É o oposto da autoconfiança. É abrir mão dos seus próprios recursos e correr até Jesus. É aceitar quem Cristo é, quem Deus é, e o que ele prometeu e quem nós somos em Cristo. É receber as verdades do evangelho em nossas vidas e em nossos corações.
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