Ira de Deus
Rm 1.18-27
Introdução
No dia 26.12.2004, o mundo ficou chocado pelo tsunami causado por um terremoto de 9 graus na escala Richter. O epicentro do terremoto foi localizado na costa de Sumatra, a 1.600 quilômetros de Jacarta, com ondas de até 30 metros de altura em alguns locais. O tsunami devastou a costa de oito países no Oceano Índico. Estima-se que de 220 a 280 mil pessoas tenham morrido na tragédia, milhares desaparecidos e milhões desabrigados. Regiões inteiras foram devastadas pelas ondas gigantescas de 10 a 30 metros de altura com velocidade de 200-800 Km por hora.
Diante disto, muitas questões foram levantadas:
Tragédias como estas poderiam ser evitadas?
Como Deus vê estas coisas acontecendo e não faz nada? Como lidar com tragédias e calamidades sem envolver a questão da soberania e do poder de Deus?
Isso é ira de Deus? Sri Lanka e Indonésia são paises fechados e opostos ao cristianismo. Deus estaria julgando esta região pelo sue paganismo?
Narração
Neste texto de Romanos, somos orientados sobre um tema que não gostamos de falar: A ira de Deus! (vs. 18). O que é ira de Deus? A Ira de Deus se manifesta contra determinadas atitudes humanas, nações, cidades. Sempre associamos hecatombes a juízo divino, e muitas vezes na Bíblia vemos como Deus, de fato jugou a perversidade e impiedade de um povo. Mas este texto, particularmente, vai nos falar da ira de Deus numa perspectiva surpreendente.
A Bíblia afirma que Deus derrama sua ira sobre as pessoas, por duas razoes: Impiedade e perversão.
Impiedade – Este termo refere-se à coisas espirituais. Ímpio não é, necessariamente, uma pessoa que faça maldades. Ímpio, por definição, é o não-pio. Alguém que não consegue ajoelhar, não reconhece uma divindade sobre sua vida, nem sente necessidade de dirigir-lhe orações. O Ímpio nunca ajoelha, nunca se curva. Ele pode até reconhecer que existe um Deus, mas ele não se submete a este Deus. Ele faz tudo sem considerar Deus na sua vida. Pode ser até mesmo uma pessoa honesta, integra, trabalhadora. Seu problema não é ético, mas espiritual. Deus não faz parte de sua agenda. Ele é ímpio.
Perversão – Por outro lado, perversão tem a ver com a ética. Se refere-se a atos de maldade. O perverso é, por definição, alguém inescrupuloso, cruel. Ele pensa apenas em si mesmo, nos seus ganhos pessoais, e não tem medo de sacrificar qualquer princípio ou sua consciência para alcançar os seus fins. Ele usa de estratégias injustas e não faz o fair play. Lamentavelmente, muitos homens que se dizem cristãos, e que até mesmo freqüentam igrejas, podem ser implacáveis, desumanos, cruéis, em seus lares, relacionamentos e nos negócios. Estas são algumas das características da perversidade.
Tais atitudes levam os homens a conspirarem contra a verdade: Eles “detém a verdade pela injustiça.” (Rm 1.18) A ideia do texto é a de que a verdade está empurrando para cima e os homens a segurando para que ela não venha a tona. Para ilustrar isto, tente imaginar dois homens que são companheiros de pesca. Um deles precisa de uma bóia, e indaga ao outro se ele a tem para emprestar. Ele tem, mas não quer emprestar, então, com uma das mãos empurra a boia para dentro d’água, e com a outra, afirma que não tem.
Verdade é conceitual, injustiça é prática. Muitos tentam justificar atitudes imorais, negando verdades explícitas. Criam argumentos filosóficos e existenciais que amenizem sua consciência e rejeitam a verdade. Tais homens detém a verdade (conceito, princípio de vida), para que a mesma não questione a injustiça (prática, atitude). Vivemos de acordo com aquilo que cremos ser verdade, então, para vivermos de forma pecaminosa, precisamos arrumar argumentos, ainda que falhos, para nos convencermos de que podemos continuar fazendo aquilo que queremos fazer.
Por que os homens não querem a verdade?
- A verdade é inimiga da injustiça – O texto diz que eles “detém a verdade pela injustiça”. Toda atitude é precedida pela crença, pelo conceito. Somos o que cremos. Agostinho dizia que “somos o que amamos.” Agimos de acordo com aquilo que estamos convencidos ser verdadeiro. Não é difícil ser ateu, não é difícil nadar a favor da maré, o difícil é ser cristão, lutar pela verdade numa cultura que nega e rejeita a verdade, para ter espaço de ação em direção à injustiça. Ser cristão exige lucidez, inteligência, autenticidade, coerência, valor. Você precisa justificar o que você crê, as pessoas que se encontram no sistema não precisam provar nada, basta seguir o fluxo.
Os Guiness afirma: “Toda verdade é verdade de Deus”. Como cristão, devemos levar às últimas conseqüências o pensamento humano, “dando resposta honesta a todas as perguntas honestas que nos são feitas” (Francis Schaeffer), afinal, “destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11.4).
- A mentira gera obscurecimento intelectual – (Rm 1.19-20) Como vimos este texto nos ensina que a verdade está pulsando, mas que os homens estão conspirando contra ela. Por esta razão a verdade tem sido orgânica, sistemática e dinamicamente negada.
Como a verdade se revela?
a. A verdade se revela pelos feitos criadores de Deus “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.” (Rm 1.19)
A criação anuncia Deus. O salmista afirma: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.” (Sl 19.1). Na visão do Pe. Antonio Vieira, o primeiro pregador foi a criação, pois desde a criação, os céus proclamam a glória de Deus.
Para Vieira, a beleza, a ordem e a complexidade do mundo natural devem ser vistas como um sermão eloquente de Deus, que revela sua sabedoria, poder e bondade. Cada elemento da criação, desde as estrelas até as menores criaturas, são uma manifestação da glória divina e uma mensagem para a humanidade. A linguagem da natureza é universal, capaz de ser compreendida por todos que a observam com atenção e reverência. Vieira incentivava a contemplação da natureza como forma de se aproximar de Deus e de compreender seus desígnios. A criação reflete as perfeições divinas, sendo como um espelho que revela a imagem de Deus.
b. A criação aponta para o Criador – “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.” (Rm 1.19,20)
Somente uma mente obscurecida pelo engano pode rejeitar a ideia do Criador e se curvar diante da criatura. Entretanto, esta tem sido a trajetória da raça humana. Os homens passam a adorar a natureza, rios, árvores, plantas, animais. Falam da criação como se ela tivesse personificação, referem-se à natureza como se ela fosse a “mãe natureza”, e dela adviesse tudo o que existe. Na cosmovisão bíblica, natureza é criação, não criadora. Ela se origina de Deus, é filha, Os homens constroem ídolos à sua imagem e semelhança, para não terem que prestar contas a um Deus, que os criou à sua imagem.
c. A criação torna-se agente de Deus para juízo – “Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus.” (Rm 1.20,21).
Tendo o conhecimento, negam o conhecimento. Como? Tentando deter a verdade.
Não reconhecem a Deus – “Não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças.” (Rm 1.21) Para se justificar, os homens criam filosofias que apaguem ou retirem Deus do centro, criam uma blindagem para ofuscar a verdade. Eles afastam Deus de seus conceitos e se justificam por pensamentos falaciosos e enganadores. Se eu não recnheco a existência de Deus, eu não o glorifico, nem dou graças.
Criam uma lógica às avessas – “Se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se lhes o coração insensato.” (Rm 1.21) Ateísmo é, antes de mais anda, anti-teismo. Se Deus não existe, não faz sentido algum brigar contra Deus. O ateísmo é uma contradição semântica e terminológica, porque é uma luta contra alguém que “não existe”, por isto o ateísmo, por mais que pareça estranho, é uma confissão de fé velada e obscurecida. O ateísmo é anti-teos, portanto, ateísmo é uma forma de afirmação de Deus já que você não pode lutar contra quem não existe.
Lutam por anular o óbvio – “Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos.” (Rm 1.22). Não há sentimento de culpa, logo, não há consciência da graça e do perdão, mas a humanidade vive um paradoxo. Negar a culpa não absolve a humanidade nem tira dela o sentimento de culpa e a angústia humana. Os homens sofrem por uma consciência culpada num mundo que diz não há certo nem errado, e sofrem por não encontrarem perdão para seus pecados, já que, uma vez que não existe pecado, também não há necessidade de existir perdão.
Tornam-se idólatras – “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. (Rm 1.23) Calvino afirma que o ser humano é uma fábrica de ídolos. O ser humano clama por adoração, e quando não adora um Deus sobrenatural, cria substitutos de Deus. Idolatria não é apenas se curvar diante de imagens, mas desenvolver substitutos de Deus na vida e no coração. Coisas em quem colocamos nossa confiança.
O texto afirma que tais homens, serão “indesculpáveis” diante de Deus. A palavra grega é “unapologetikai”, que significa que eles não terão defesa, ou apologética diante de Deus. Seus argumentos serão fracos e pífios, porque as evidências do Criador são muito claras. Ao negarem a presença de Deus na criação, trazem condenação para si mesmos.
A ira de Deus
Iniciamos este texto com a frase do vs 18 que fala da ira de Deus. O que é a ira de Deus? Como ela se manifesta historicamente?
- Afirma que Deus se revela julgando a raça humana – Deus exerce juízo. O secularismo nega a intervenção histórica de Deus. No entanto, a Bíblia afirma que Deus está vivo e ele se revela: Deus vê, ouve e julga. A Bíblia diz que ele julgará o mundo com justiça, e os povos consoante a sua fidelidade.
- Este texto demonstra a forma como Deus julga – Uma frase se repete nos vs.24,26,28: “Por causa disto, Deus os entregou.” O juízo de Deus não é uma catastrófe, nem se traduz em tragédias naturais, nem cheira a enxofre, mas traz outros componentes.
A afirmação “Deus os entregou”. (grego paradidomai), literalmente afirma que Deus deixou os homens entregues a si mesmo, como um pai que se cansa de tentar disciplinar o filho, desiste de educá-lo e o deixa à sua própria sorte. O maior juízo de Deus é o abandono de Deus. Nada pode ser mais dramática e trágico para nossa alma que Deus nos deixar caminhar segundo as nossas paixões, sem que ele intervenha para nos conduzir ao caminho que gera vida. Por isto os puritanos oravam: “Senhor, livra-me de mim mesmo.” Onde a ira se revela? Na incapacidade do homem em fazer escolhas morais e espirituais. Quando somos entregues a nós mesmos, sofremos o abandono de Deus. Sermos entregues à nossa sorte é o grande castigo de Deus. Inferno, pode ser definido como o distanciamento e a ausência completa de Deus.
- Este texto mostra que quatro áreas da natureza humana são atingidas: corpo, emoção mente e espiritualidade. Isto é, o ser humano completo.
- Emoções
- Vs. 24 - “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração.” Concupiscências são desejos estragados. Ter ambição na vida é bom, mas quando sua ambição se torna cobiça, ela está estragada; ganhar dinheiro é uma boa ambição, mas quando você vende seus valores por dinheiro, seu desejo está estragado. Desejo sexual é bom, criado por Deus, mas quando este desejo se degenera e se transforma em luxúria, seu desejo, se transforma em concupiscência.
- Vs. 26: “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames.” São paixões. Amor adoecido. Aliás, a palavra paixão vem do grego “páthos”, que significa “patologia”.
O resultado é que as emoções são impactadas. Nossa afetividade é comprometida. Passamos a querer o que não deveria ser apreciado por nós, a desejar aquilo que deveríamos ter repulsa. Com as emoções enfermas, passamos a julgar de acordo com aquilo que achamos que dá prazer imediato. É uma questão de percepção equivocada, corrompida. Nossa geração é hedonista (busca desenfreada pelo prazer) existencialista (o que dá sentido é o sensório, aquilo que traz prazer no aqui e agora). Uma geração conduzida pelo desejo do prazer, sacrifica virtudes, valores, consciência moral e espiritualidade. Os desejos se absolutizam e tornam-se soberanos e nos curvamos para satisfazê-los. Uma geração conduzida pelo prazer é levada pelos instintos, pelo cio.
Uma música de Joana parece apontar para isto: “Eu sou o que me pede o coração”. Eu faço qualquer coisa para satisfazer meus instintos e meu desejo de prazer. Esqueço Deus, esqueço meu valor próprio, sacrifico família, negócio fé e abandono a Deus. Vendo meu direito de primogenitura por um prato de sopas de lentilhas. “de que vale meu direito de primogenitura se estou com fome?” Este é o raciocínio de Esaú, que mais tarde, não conseguiu encontrar arrependimento e cura para sua alma.
- Corpo
“Vs, 24 “Para desonrarem o seu corpo entre si.” As paixões levam os homens a adoecerem a tal ponto que eles desonram seus próprios corpos.
Vs. 26,27: “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.”
Uma das áreas mencionadas no texto é o corpo, que por causa do abandono de Deus à sua própria sorte são desonrados (Rm 1.24), desvirtuados de seu propósito original. Aqui a Bíblia fala de uma das consequências da ira de Deus: Homossexualismo. (Rm 1.26)
Muitas pessoas me perguntam se homossexualismo é genético, e quando leio a Bíblia não posso dizer outra coisa senão de que se trata de comportamento aprendido ou de um desvio de comportamento. Apesar da compaixão e amor que sentimos por aqueles que sofrem tentações nesta área, isto não significa que devemos concordar com a conduta e comportamento daquelas que adotam o homossexualismo como um estilo de vida.
Dois erros devem ser evitados pela igreja.
- A Bíblia diz que são “paixões infames” (Rm 1.26). Se você quiser discordar da Bíblia você tem todo direito, aliás, alguns acham fácil discordar da Palavra de Deus em muitos outros aspectos. Se o homossexualismo é uma questão genética, Deus não poderia considerar infame um desvio biológico, criado por ele mesmo. Normalmente o homossexualismo é um subproduto social, de uma sociedade em queda, que chega a um nível de devassidão que se permite atitudes semelhantes. Sei que muitos homossexuais foram vítimas de abusos sexuais ou psicológicos na fase da formação da identidade sexual trazendo conflitos e danos irreparáveis aos afetos e à identidade sexual. A distorção no momento da construção da identidade sexual, afeta para sempre a percepção de masculinidade e feminilidade.
- A Bíblia ensina que é algo “contrário à natureza” (Rm 1.26). Se é contrário à natureza, trata-se de algo antinatural. O termo em grego é para-phisis, isto é, algo que segue na direção oposta ao propósito originalmente dado. Uma razão biológica simples nos mostra porque homossexualismo é contrário à natureza. Se a raça humana não fosse heterossexual, ela seria extinta dentro de poucos anos.
- A Bíblia ensina que é torpeza – “Os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens.” (Rm 1.24), por isto, recebem em si mesmos a merecida punição de seus erros (Rm 1.27).
- Mente: Vs, 25 “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes.”
Esta é a outra área que é considerada no texto. Trata-se de uma disposição mental reprovável (Rm 1.28). Nosso problema moral é resultante de uma mente pervertida. Uma sociedade corrompida, cria uma visão secularizada, que exclui Deus. A mente degenerada pelo pecado tem um tropismo para o mal. Se você quiser saber se Deus está trabalhando em sua vida pergunte a si mesmo, se suas paixões o atraem mais do que a Deus e se você as tem satisfeito. Se você quer saber se Deus está trabalhando em sua vida, considere se você tem sentido vontade de abandonar o pecado e se apegar a Deus. Repulsa ao mal e desejo de santidade são dois sintomas de quem se aproxima de Deus. Você tem sentido prazer nas coisas de Deus ou no pecado? O vs. 30 afirma que pessoas corrompidas mentalmente tornam-se “aborrecidas de Deus”. As coisas espirituais não fazem mais sentido, e se tornam nauseantes.
- Espiritualidade: Vs, 25 “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador.”
O efeito idolátrico é consequência do homem entregue a si mesmo. Ele inverte os valores, ele adora a criatura, ao invés do Criador. Ele vai criar seus substitutos de Deus. O ser humano é criado para adorar, e quando ele perde a compreensão do Deus criador, ele começa a criar outros deuses que possam suprir seu anseio pelo eterno e sobrenatural.
O resultado é catastrófico. Ele faz imagens estranhas e cria bizarros objetos para adoração. O homem é criado à imagem e semelhança de Deus, mas quando se afasta de Deus, ele decide criar deuses à sua imagem e semelhança, com seus defeitos. A multiplicidade dos ídolos na religiosidade humana é assustadora, e seus deuses, com suas “exigências”, são cada vez mais espalhafatosas.
Conclusão: Deus está irado!
Aqui está a ira de Deus! Deus nos entrega à nossa própria sorte. Deus permite que a raça humana siga seus instintos e paixões. A pessoa fica entregue a si mesmo. Liberdade não é ter permissão para fazer tudo que desejamos, mas sermos capazes de dizer não a algumas coisas que queremos. Quando estamos debaixo da ira de Deus, tornamo-nos entregues à devassidão moral, somos incapazes de dizer não às inclinações da carne. Lutero chamava isto de “escravidão da vontade.” Aquilo que o ser humano começa a fazer por prazer, torna-se o seu pesar. Ele é pego nas armadilhas de seus desejos.
A ira de Deus está presente na falsa liberdade que assumimos. Tornamo-nos escravos de nossas paixões e desejos, vazios em nosso ser, sem percebemos os ídolos modernos que construímos. Quando a ira de Deus se revela, ele nos entregue ao nosso próprio abandono, aos instintos que passam a exigir de nós devoções cada vez maiores. Torna-se vicio, ficamos dependentes de adrenalina, por isto, uma das conseqüências deste estilo de vida longe de Deus é descrito no vs 31 como a perda da afeição natural.
Este texto fala da ira de Deus de forma completamente diferente daquela que eventualmente cremos. Sempre achamos que calamidades, tragédias, terremotos, maremotos, tsunamis são resultantes da ira de Deus, e na Bíblia muitas vezes tais tragédias são descritas como juízo, mas, ao mesmo tempo, Deus manda sol sob justos e injustos, coisas ruins acontecem a pessoas que não tem nenhuma responsabilidade moral. Tragédias atingem a todos: ricos e pobres, velhos e crianças, justos e injustos. Podemos ser abatidos por tragédias humanas, catástrofes. Deus teria se esquecido de nós? Não!
A grande ira de Deus se revela quando insistimos e zombamos de sua orientação sábia, quando inculcamos por sábios e nos tornamos loucos, quando invertemos a ordem natural da vida, adorando a criatura ao invés do Criador, e usamos a criação de uma forma contrária ao propósito original de Deus. Quando insistimos em viver assim, Deus nos deixa ir, como o Pai fez ao filho pródigo, e somos entregues às nossas próprias escolhas morais, nos escravizamos aos nossos impulsos, e nos autodestruímos por não termos a direção e orientação de Deus.
Estar longe do amor e da graça de Deus é a grande ira de Deus. No fundo, a ira é resultante de uma rejeição deliberada de sermos aquilo que Deus intentou que fossemos para ele mesmo. Então, Deus “nos entregou” a uma disposição mental reprovável, para cometermos ações infames, nos tornamos insensíveis aos nossos afetos e desonramos nossos corpos usando-o para um propósito para o qual Deus não planejara. Ai está a verdadeira ira de Deus: somos abandonados à nossa sorte, e caímos.
Podemos ainda observar um momento da história em que Deus se revelou de forma dura. Isto se deu no calvário. Deus colocou toda sua ira no seu Filho, ele assumiu toda nossa culpa e vergonha. Jesus sentiu o desemparo de Deus, a dor do afastamento de Deus. A ira de Deus se revelou em sua forma mais dura. Ao invés de Deus condenar a humanidade pelos seus pecados, ele aceitou a obra substitutiva de seu Filho, que morreu em nosso lugar e levou sobre si nossa culpa e condenação.
Toda vez que pensarmos na ira de Deus, e não entendermos bem seu lugar, olhe para a cruz de Cristo. Ali vemos estampado a sua ira. Por que Jesus fez isto? Para satisfazer a justiça de um Deus irado. Jesus pagou a nossa dívida. Nós merecíamos a morte, ele nos deu vida. Merecíamos a condenação, ele nos deu graça.
Que Deus nos ajude!
Samuel Vieira
Piracicaba, 14 de Janeiro 2005
Refeita Anápolis, Março 2025
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