terça-feira, 22 de maio de 2012

Gn 1.1-25 Por que foi criado o Universo?

Introdução: Sempre achamos que existe algo errado com a criação. As deturpações, aberrações da natureza, a dor e o sofrimento, as tragédias e calamidades nos levam a pensar que este universo é caótico e que encontra-se assim porque não tem governo. No entanto, do ponto de vista da ciência e da Bíblia, vivemos num universo absolutamente integrado e harmônico, com chuvas, estações, gravidade, movimentos, um ecossistema que se equilibra e se organiza. Muitas das tragédias e calamidades da natureza apontam para a ganância e vaidade humana, que solapa os alicerces da natureza. A Biblia fala que Deus criou o universo, absolutamente harmônico. Os primeiros versículos da Bíblia são essenciais para se entender as Escrituras Sagradas. Deus se apresenta sem cartão de visitas. A grande questão de Gn 1.1 não é onde e quando, mas porque e quem. Enquanto os cientistas se preocupam em datar e estabelecer onde seria o ponto de partida de tudo, o principio causador, a Bíblia começa afirmando Quem. A Bíblia afirma que “Deus criou os céus e a terra”, e que, na medida em que se dava a criação, Deus apreciava sua estupenda obra, e por isto a expressão “e viu Deus que tudo era bom”, ocorre 4 vezes (Gn 1.10,12,17,21). O termo “no principio” (Hebraico: Bereshit), é traduzido na septuaginta para o grego “en arché”, daí as palavras “arcaico”e “arquétipo”, dando a impressão de coisas muito primitivas e remotas. Tim Keller, analisando este texto afirma que a grande preocupação aqui não deve ser COMO, mas PORQUE da criação. Quais as implicações que este texto traz para a raça humana. A Bíblia inicia seu relato com uma afirmação: "No princípio criou Deus os céus e a terra". 1:1 A primeira mensagem que ela quer deixar é que por detrás deste universo, existe um ser superior, uma inteligência, que este mundo não é mera soma de acasos. Deus é auto-criado, e é a partir dele que surgem todas as coisas. Este texto apresenta algumas dificuldades de interpretação: Para C.Hodge e John Stott, existe um intervalo entre Gn 1.1-1.2, nos quais teriam surgido os dinossauros e outros animais não descritos na Bíblia. Agostinho e Thomas de Aquino,interpretam “dias” não como 24 horas, mas “eras”, já que na septuaginta surge o termo “eons”, portanto, não seria uma linguagem literal, mas simbólica. Esta era disforme seria o que conhecemos por neolítica e paleolítica, ou mais comumente conhecido como “era jurássica”. Por milhões de anos, a terra estaria sem forma e vazia, e o espirito de Deus, “pairava” sobre as águas (literalmente “chocava”). Foi quando Deus deu ordem para que a natureza tivesse a forma tão qual a conhecemos nos dias de hoje. Por trás do conceito da criação, existem conseqüências espirituais profundas. Quais são estas implicações? 1. A criação reflete o senso estético e moral de Deus – “e viu Deus que tudo era bom”(Gn 1.10,12,17,21). O cosmo reflete uma inteligência moral, transmitindo ideia de ordem e não anarquia ou caos. Todos os elementos cósmicos estão sincronizados. Existe alguém inteligente e criativo por detrás de todo este movimento intergalático, dos sistemas solares, bem como sobre os seres minúsculos, como os insetos, bactérias e vírus. Existe um propósito neste mundo aparentemente frio e repleto de causas/efeitos. Além disto, este Deus é alguém presente e ativo, não é um ser amorfo, indiferente e impessoal. Faz as coisas segundo sua própria visão, e as coisas acontecem pela sua palavra. Existe um ser que domina todas as coisas e isto se torna a razão e o fundamento último do ser e do agir de tudo. Tudo caminha de forma absolutamente sincrônica, harmônica, complementar, com perfeito equilíbrio entre sistemas, ecologia e estações. Além do mais, possui estética, beleza. O homem ama o belo – Esta é uma das dimensões do sagrado em nós. buscamos excelência, visual, forma, conjunto, design, beleza. O belo, porém, pode se desvirtuar tornando-se algo idolátrico em nós, que tende a substituir nossa adoração a Deus, pelo belo. É assim que muitas pessoas, impressionadas com o belo sacrificam sua fé, valores, princípios e família. O belo desvirtua-se em paixão e Deus deixa de ser prioritário, sendo substituído pela forma. Em Paris, existe um famoso museu que estampa em sua fachada os dizeres: “Para a glória da arte!” Isto contrasta diretamente com a compreensão de Juan Sebastian Bach que escrevia nas partituras de musicas que compunha: “Soli Deo Glory!”. Bach também buscava a excelência e o belo na musica, mas colocava Deus como objeto de sua adoração. Berkhof afirma: “Deus criou primeiramente para Receber glória, mas para tornar sua glória saliente e manifesta. As gloriosas perfeições de Deus são demonstradas em toda sua criação” (Teologia sistemática, pg. 127) No vs. 2 lemos: "A terra era sem forma e vazia". É a ameaça do negativo. O caos, as trevas, o informe, o abismo. Deus tira o caos do universo criado, assim como tira o caos de minha vida sem sentido, da minha existência sem razão. Dá sentido ao meu modo de viver, me enxerta de razões para viver. Curiosamente, a primeira coisa que Deus produziu em meio ao caos foi a luz: "Haja luz!". Deus fez o universo para seu deleite. Depois de ter feito todas as coisas Deus aprecia o que fez afirmando que tudo era muito bom. Deus revela aqui um profundo senso estético, Deus é um arquiteto que faz tudo a partir de sua capacidade criativa e tem prazer naquilo que fez. Como um músico, um poeta, um engenheiro, um artista que vibra com aquilo que concluiu. A criação foi feita por Deus, para que ele pudesse apreciá-la. Um dos programas prediletos meus na TV é aquele que costuma apresentar lugares inóspitos e pouco conhecido dos homens. Algum tempo atrás foi mostrada uma cena monumental: Uma montanha íngreme, que tinha no final de sua escarpa inacessível, uma pequena floresta com muitas flores. Quando minha esposa viu aquilo ela afirmou: Isto aqui foi algo que Deus fez só para apreciar, já que é algo tão inacessível a animais e homens. 2. O Propósito da criação é glorificar a Deus – Deus fez a natureza para sua glória – “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1). Pe. Antonio Vieira comentando este texto afirma que os céus foram os primeiros pregadores, anunciando a gloria de Deus a todo universo. Paulo afirma que “os atributos de invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.20). Deus é por nós discernido através da obra de sua criação. O por do sol reflete a gloria e majestade de Deus. As arvores, aves, chuvas, ventos, mar, floresta, campo falam-nos desta revelação geral que Deus faz de si mesmo. Um antigo hino assim afirma: “As grutas, as rochas imensas, Dos vales, o grande esplendor, Proclamam bem alto e constante, Um hino de glória ao Senhor” Deus fez a natureza para anunciar sua presença. O texto de Romanos diz que porque a natureza anuncia os atributos invisíveis de Deus, os homens são inculpáveis diante de Deus. Ninguém poderá chegar a Deus e dizer, não conheço a Deus¸ porque Deus é percebido por meio das coisas que foram criadas. “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19.1). Quando vemos a natureza e a apreciamos vemos a presença de Deus, vemos o rosto de Deus. A natureza é tanto proclamação quanto juízo. Quando recusamos a admitir a natureza de Deus, somos indesculpáveis (Rm 1.20). 3. Por ser criação divina, a criação deve ser tratada como algo sagrado. No designo da criação, Deus colocou o homem para cuidar da natureza. O texto descreve a profunda unidade entre a terra e o homem – “formou Deus o homem (Adam: ser humano) do pó da terra (adamã, ou terra cultivável) (Gn 2.7). Não considerar a natureza é desconsiderar a nossa raiz. Agressão à natureza é agressão contra nós mesmos. As frases bíblicas “tenha o homem domínio sobre os peixes do mar... (vs 26) e “enchei a terra e sujeitai-a e dominai sobre os peixes do mar” (vs.28) de ensejo para muita distorção. Historicamente a natureza tem sido oprimida e maltratada gerando desequilíbrio no ecossistema. No entanto, o texto aponta para a responsabilidade do homem com a natureza, já que Deus o “Colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar…”.(Gn 2.15 ). Ao homem foi dada a responsabilidade de exercer, com prudência e zelo, o cultivo e a guarda da terra. Cultivo tem a ver com a relação de produção. Terra é fonte de riqueza, alimentação e extrativismo. Mas, mais do que isto, Deus nos colocou para guardá-la. A terra precisa ser protegida, amparada. Conclusão: A questão ecológica não deveria ser defendida, prioritariamente, pelo Green Peace, mas pelos cristãos, que receberam este “mandato cultura” para cuidar da terra e protegê-la. Cristãos não deveriam investir em empresas que provocam danos ecológicos. Existe muita dor na natureza, causado pela cobiça e ganância. Em Rm 8.18-23, a Bíblia descreve a natureza como que sofrendo dores, por causa do pecado da raça humana. Pecados individuais possuem dimensões cósmicas, já que o universo é um sistema integrado. A obra de Cristo aponta para a re-criação e restauração de todas as coisas, não apenas espirituais, mas físicas. O plano da redenção envolve também um resgate do cativeiro da natureza, produzida pela queda da raça humana. Em 2 Pe 3.18, lemos que com a vinda do Senhor, “os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas”. O texto descreve que a terra sofrerá uma enorme hecatombe. Já em Ap 21.1,2, vemos uma nota de esperança, brotando da restauração de todas as coisas. “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”. Em Gênesis, vemos Deus criando o universo harmônico; em Gênesis vemos também a natureza produzindo cardos e abrolhos, e sendo atingida pelo pecado humano, mas Apocalipse nos fala de uma re-criação: Deus fará surgir novamente a natureza, da forma como sempre intencionou que existisse. Samuel Vieira 12 de Maio 2012

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