terça-feira, 22 de maio de 2012

Mc 11.15-19 PERIGOS DE UMA RELIGIÃO ACOMODADA

Introdução : Este texto nos ensina várias lições: (a)- É possível ser profundamente religioso e mesmo assim ofender a Deus no exercício da religiosidade; (b)- Grandes desvios espirituais surgem com fachadas de atitudes de bom senso; (c)- Pequenas permissões trazem grande permissividade, por isto os alcoólatras anônimos tem um princípio de que uma pessoa viciada não pode fazer concessões, ainda que seja mínima: "nem um gole"; (d) Determinados costumes são trazidos para dentro da igreja e nem sequer sabemos quem e onde começou, e de repente se torna um sistema; (e) O diabo sempre vai achar meios de penetrar na Igreja através das brechas e concessões que são feitas; (f) Gente bem intencionada pode se envolver em práticas que trazem a ira de Deus sobre suas vidas. Ambiente: Por que Jesus se mostrou tão duro ao lidar com os vendilhões do templo? Literalmente falando, Ele “virou as mesas”. Duas práticas simples estavam ali presentes, mas que apontaram para problemas internos muito sérios: a. Venda de animais para o sacrifício; b. Troca de moedas para estrangeiros. Havia um sistema de câmbios no templo. Os dois problemas estavam relacionados ao culto, tinham uma relação com o adorador. O que isto tem a ver conosco? Quais são os pecados implícitos neste texto que levaram Jesus a ter uma reação tão inusitada e agressiva? 1. O sistema religioso possui uma enorme capacidade de se tornar meio de opressão e exploração - Estes homens estavam explorando os fiéis. Os judeus criaram ali um sistema de câmbios no qual trocavam as moedas e vendas de animais para o sacrifício. As pessoas que vinham de fora de Jerusalém traziam as moedas de seus países, não era difícil ter cerca de 2 milhões de pessoas na época das páscoa, e todo judeu, ou prosélito (convertido ao judaísmo) com mais de 19 anos deveria pagar ao templo a taxa de quase dois dias de trabalho de um operário. As taxas tinham que ser pagas em Shekels da Galiléia ou do templo, pois as demais moedas eram consideradas impuras. Contudo, ao fazer o câmbio, eles taxavam profundamente os adoradores simples e fiéis que se aproximavam sinceramente diante de Deus. Sistemas religiosos facilmente exploram os adoradores, e passam a negociar para ter lucros em nome de Deus e criar estruturas que exploram o fiel. Durante a Reforma, vimos a igreja vendendo pequenas imagens e até perdão de pecados através das indulgências, as religiões facilmente se transformam em negócios. Atualmente vemos a manipulação da fé de pessoas desesperadas, nos programas que atraem milhares de pessoas atrás de uma cura ou de uma resposta imediata ou das estruturas comercial que gira em torno de santinhos e objetos sagrados nos centros de romaria e peregrinação do Brasil. Cultos podem perder sua reverência e se tornar um business. Os líderes religiosos aliados aos comerciantes instrumentalizaram a fé dos peregrinos nos dias de Jesus, assim como hoje as religiões sabem fazer. Mesmo quando um culto tem verdadeiros fundamentos, voltados ao Deus verdadeiro, pode se tornar algo fortemente corruptível, nas mãos de líderes carismáticos e corruptos. 2. Adoração facilitada - O que estavam fazendo? Facilitando a adoração. Parece que existe tanto bom senso no que estão fazendo. Trocava-se moedas para se adorar a Deus, vendia-se animais para sacrificá-los. Os gestos parecem inofensivos, afinal, as pessoas vinham de longe. Já imaginou trazer um cordeirinho de sua casa, que ficava numa região do deserto da Judéia? Atravessar montanhas em procissão, quando podiam comprar na porta do templo e oferecer o sacrifício? Este texto parece nos ensinar que existe um grave perigo neste negócio de tornar fácil a vida do adorador. Nossos cultos tem se tornado quase sempre assim. O alvo não é glorificar Jesus, mas manter o adorador entretido. Todo nosso culto é uma tentativa de fazer as pessoas se sentirem bem. Pregamos coisas politicamente corretas porque não queremos ofender, temos um agradável pastor, falando de um agradável Jesus, numa linguagem agradável, mas será que as pessoas estão entendendo a necessidade de arrependimento e mudança de vida, ou temos feito de tudo para que se sintam bem? Culto tem que ser curto, a música tem que ser de qualidade, grupos musicais tem que cantar bonito e agradar os ouvintes. As pessoas não mais participam do culto, mas elas assistem o culto. Não vem para adorar a Deus, mas para um encontro social agradável. As pessoas se sentem como senhores assentados nos bancos, aguardando o momento de serem servidas, quando deveriam estar aprendendo em como servir a Deus e ao próximo. Os cultos estão centrados nos homens. Ficamos pensando em estruturas, imagens, som, mas onde fica Deus nisto tudo? Jesus percebe que os líderes do templo colocaram tantas coisas dentro dele, que Deus, o principal personagem, já não cabia e estava do lado de fora, e quando Jesus resolveu entrar, já não havia lugar para ele dentro desta estrutura humana e maligna. Tenho visto pessoas tão confortáveis nas igrejas. Não querem pagar preço algum, nem de tempo, nem de vida, nem de compromisso, nem de dinheiro. Stanley Jones afirmou que "Fé que não custa nada, não vale nada". Se seu compromisso com Deus não está lhe custando nada, nenhum sacrifício, fique atento a possíveis riscos. Se você é do tipo que quer uma igreja que tenha dízimo de 8% e bebedouro de coca-cola, você ainda não se comprometeu com o reino de Deus. 3. Jesus denuncia como o pecado paulatinamente pode entrar na igreja – Satanás tem a capacidade de lenta e progressivamente nos acostumar ao pecado, de tal forma que mesmo quando ele se torna tão expandido, não mais nos assustamos com ele. Assim foi sua estratégia na tentação diante de Adão e Eva. Primeiramente ele dá a impressão de que sabe realmente da recomendação dada por Deus, pois afirma: “É assim que Deus disse”. Em seguida, coloca um ponto de interrogação naquilo que era uma afirmação. Coloca dúvidas naquilo que era certo: “Não comereis de toda árvore do jardim?”, e por último, nega o que Deus afirmou: “É certo que não morrerei”, e para fazer isto, lança dúvidas sobre a intenção de Deus, já que afirma que quando Deus estabelece esta lei, ele estava sendo mentiroso, e não queria correr risco na sua soberania, o que ele havia dito, nunca aconteceria. Certo beduíno possuía um camelo e numa noite muito fria ele se surpreendeu ao ver o seu animal colocando uma pata dentro de sua tenda. Compassivo resolveu nada fazer com o animal. Em seguida ele colocou outra pata e finalmente o camelo colocou o pescoço, e a tenda desabou, porque não comportava o animal dentro dela. Assim fazemos com nossas atitudes pecaminosas. Assumimos uma atitude de complacência, barganhamos, não queremos tomar posições, ficamos ali flertando com o perigo, com as tentações e com o diabo, e quando vemos, nossa casa inteira desaba. Como Jesus age diante desta situação? Jesus se torna radical: “Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo” (Mc 11.15-16). Fico sempre pensando na autoridade moral e espiritual para fazer isto. Esta é a única vez que vemos Jesus irado na Bíblia. Sua ira é direcionada contra o pecado. Pecado para Deus é coisa séria. Hebreus fala do pecado como algo que "calca aos pés o Filho de Deus e profana a aliança com a qual fomos santificados, e ultrajamos o espírito da graça" (Hb 10.29). Quais os problemas revelados no texto? A. Os meios tornaram-se mais importantes que os fins - Todas as vezes que o meio e fim forem confusos, tornamo-nos desagradáveis a Deus. Não sabiam mais a razão de estar ali: comércio ou culto? Se o que estamos fazendo é mais importante que o porque, somos vendilhões do templo. Se cantar é mais importante que a razão de estarmos cantando, algo está errado! Para Deus não conta apenas o que fazemos, mas porque fazemos o que fazemos. Como escapar desta armadilha? 1. Nenhum método é sagrado, sim os princípios- Deve-se agir com rigor quanto aos princípios, não quanto aos métodos. Por que estou fazendo? Onde estou querendo chegar? Como estou fazendo? Deus não vê o que fazemos, mas sim o porque fazemos. Podemos ter ações corretas, mas motivações erradas. Auto- promoção? Lucro? Vaidade? Soberba? Deus enxerga as motivações. Não podemos negociar princípios. 2. Nunca devemos pensar que os fins corretos justificam os meios errados- Os meios tem que ser legítimos como os fins, não vale gol de mão. Não podemos embarcar no novo em nome do novo, nem no velho apenas porque é velho. O novo nem sempre é legítimo, e o velho tantas vezes é repetido sem que se saiba porque tem sido feito, apenas pela tradição. A verdade nunca é absolutamente nova, e nem é verdade apenas por ser velha. A verdade não está no novo nem no velho, mas no eterno. Deus está interessado nas razões de nossos atos, não apenas nos atos em si. 3. Nunca devemos achar que as estruturas em si dão favor diante de Deus Nome de Igreja, nome de pastor, construções sofisticadas, ar condicionado no templo, bancos macios. Antes de estruturas, precisamos de Deus e de sua graça, pois se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. 4. Não devemos invejar o aparente sucesso de quem usou métodos excusos para chegar onde chegou. Jamais confunda sucesso, riqueza e prosperidade com aprovação de Deus. Grandes heróis da fé foram homens e mulheres dos quais nunca ouvimos falar. Caráter não pode ser substituído por carisma, nem integridade por aclamação pública. Conclusão: O texto nos mostra: A. Aqueles homens não entenderam a mensagem de Jesus. Ele estava querendo mostrar o coração missionário de Deus. Esta casa tem que estar aberta “para todas as nações” (Mc 11.17). Não apenas para uma etnia arrogante que se firmava na sua história, dizendo ser filho de Abraão, únicos herdeiros das promessas e detentores de toda benção divina. Jesus estava anunciando que a casa de Deus não podia ser fechada, porque seu propósito é permitir que todas as nações conheçam o Deus verdadeiro. No entanto, aquelas pessoas ao invés de serem impactados e se convencerem do erro que praticavam, conspiravam contra Jesus; B. O texto revela também que a obra de Cristo, que deveria transformar interiormente suas vidas, não lhes causa impacto. Apesar de sua religiosidade e talvez por causa dela, não conseguiam aprofundar sua fé. A obra de Cristo não os regenera. Tiveram a oportunidade de mudarem suas vidas, e de serem transformados por Jesus, no entanto, o hostilizavam e planejavam matá-lo (Mc 11.18). Enquanto o povo se maravilha da doutrina de Cristo, eles rejeitavam a obra de revitalização que cristo anunciava. É fácil ser muito religioso e ainda assim ofender a Deus. Nossa religião acomodada e manipulativa, que não exige sacrifício e comprometimento pode se tornar algo hostil a Deus e provocar sua ira. Que Deus na sua misericórdia não permita que isto aconteça conosco! Samuel Vieira

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