terça-feira, 22 de maio de 2012
Gn 1.1 No princípio ... Deus
Introdução:
O livro dos princípios, ou mais conhecido como Gênesis, abre o Cânon Sagrado, a Bíblia com uma declaração enfática: "No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Segundo este texto, o mundo não é eterno, somente Deus. “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). Deus surge sem cartão de visitas. Não há necessidade de apresentação, Ele simplesmente é. Quando Moisés tenta descobrir seu nome, ele afirma: “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel : EU SOU me enviou a vós outros” (Ex 3.14). A Bíblia não se detém para provar que Ele existe, apenas afirma que Ele existe. Deus é, na linguagem de Jung, um dos arquétipos da raça humana. Todos os seres trazem em si mesmos, um conceito de sacralidade, do misterioso, do “Numinoso” (Otto Rank). A Bíblia afirma que “Os atributos de Deus, assim como a sua eternidade divindade, são claramente reconhecidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso, indesculpáveis” (Rm 1.20). Nenhum ser humano será isento de julgamento sobre a existência de Deus, porque insistentemente a sua criação proclama a realidade de sua existência (Sl 19.1).
"No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Para Moffat, "Céus e terra" se referem ao universo com toda sua estrutura e sistema. A Bíblia anuncia que a matéria foi criada antes da existência da vida humana. Certa vez perguntaram a Agostinho o que Deus fazia antes de criar o universo, e ele respondeu asperamente: “O Inferno, para colocar pessoas com perguntas estúpidas como a sua”. Certamente a sua resposta não foi polida.
1. Qual é mais fácil admitir: A criação feita por um ser inteligente, racional ou a matéria cega e inerte gerando a si mesma? Este é um dos argumentos racionais (ontológicos) usados por Thomas de Aquino, teólogo da Idade Média. Para provar a existência de Deus dizia que era necessário evocar a idéia do primeiro motor. Todas as coisas provêm de um outro motor que impulsionou os demais movimentos, mas qual foi este primeiro motor? A Bíblia afirma que este mundo é o mundo de Deus, nascido por causa de sua palavra. Por meio da sua palavra, todas as coisas vieram a existir. Lei do primeiro motor - Não existe nada causado sem causa, os átomos surgem de uma primeira força, de uma energia que o antecede, desde os menores elementos possuem uma força por detrás delas. Gn. 1.1-3; Rm. 4.17 É o que os cientistas atualmente chamam de “partícula Divina”
Emil Brunner, no seu clássico, “Nossa Fé”, já no primeiro capítulo, introduz a discussão com a provocativa pergunta: "Existe Deus?" Para Brunner, tanto faz dizer que sim ou que não, por que Ele continuará existindo da mesma forma, sendo sempre o que sempre foi. Deus não deixa de ser real porque alguém não acredita na sua existência.
O termo “criar”, do vs. 1, vem do hebraico “Barah”, e significa “criar, sem o auxílio do material pré existente”. Quando os hebreus usavam o termo “Barah”, para falar de algo criado, referiam-se exclusivamente a Deus (Hb 11.3). Criar a partir do nada é prerrogativa divina. A natureza pode mudar, a partir daquilo que já existe nela. Os cientistas “criam”, juntando a química dos elementos gerando novas substâncias e bactérias, mas tal criação precisa de elementos anteriormente criados por Deus. Satanás não cria, copia. Os cientistas trabalham o material básico deixado por Deus. Einstein chegou a afirmar que em cada descoberta ele estava pensando os pensamentos de Deus.
O ponto de partida da teologia bíblica precisa ser “a criação”. Alguns teólogos tem, com razão, criticado a teologia atualmente pregada, afirmando que ela começa da queda, mas que precisamos resgatar a idéia do projeto de Deus, realmente é importante pensar assim, porque antes da queda da raça humana registrada em Gn 3, temos a maravilhosa descrição bíblica da genialidade de Deus, expressa na sua artística criação. Quando Deus completou a sua obra, ele disse que tudo era “muito bom”, no sentido estético e ético. As coisas eram harmônicas, belas, mas eram também eticamente corretas. Criação perfeita.
Resgatar os aspectos doutrinários da criação é um grande desafio para nossa vida. A obra da criação é antagônica aos seguintes conceitos seculares ensinados em nossas academias e universidades:
1. A criação divina se opõe ao ateísmo. Se Deus criou, o mundo não é fruto do acaso ou do nada. Existe uma inteligência superior e poderosa por detrás de tudo o que vemos. Enquanto os sistemas pagãos falam de um universo desgovernado, a Bíblia afirma a ordem e a harmonia de todas as coisas realizadas pela palavra de poder que existe em Deus. Ele não apenas é o criador, mas é também o seu mantenedor.
2. A criação se opõe ao politeísmo. A Bíblia não fala de outros deuses, nem de demiurgos criando as coisas, mas fala de um único Deus, criador de tudo o que existe. O conceito de Deus e entidades é muito presente em religiões animistas. No Brasil, o candomblé e a macumba exploram muito este conceito das entidades e forcas espirituais criativas. A Bíblia fala apenas de Deus, e ele deve ser exaltado por causa de sua criação. “Porquanto tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.21-22).
3. A criação se opõe ao materialismo – A Bíblia não afirma que as coisas do encontro casual de amebas e átomos, nem atribui inteligência, ordem e harmonia à matéria, mas afirma que Deus tudo criou. A matéria não possui inteligência, ela foi criada pelo propósito soberano de Deus.
4. A criação se opõe ao fatalismo – As coisas não estão desgovernadas e sendo conduzidas acidentalmente. Existe a agência e a soberania de um ser Supremo, que faz todas as coisas, segundo sua própria vontade, para executar seu propósito. A natureza foi criada para um plano divino. Não estamos seguindo para o caos, mas para o sentido. O Livro de Apocalipse mostra isto, ao revelar que “tudo está sob controle”. Os céus não são pegos de surpresa e Deus conduz a história e é Senhor da história, dentro de seu plano soberano e sábio. Não há maktub ou fatalismo.
5. A criação se opõe ao evolucionismo – O princípio filosófico que existe nesta teoria tida como cientifica, é o da “geração espontânea”. O problema deste sistema de pensamento é que ele implicitamente exclui Deus. Deus sofre um problema habitacional nos métodos científicos, sendo excluído do universo. Segundo esta teoria, o mundo estaria se organizando e encontrando seus caminhos, sem nenhuma supervisão divina.
6. A criação se opõe ao panteísmo – Este sistema de pensamento afirma que “Deus é tudo e tudo é Deus”. A Bíblia ensina que não. Uma coisa é a criatura, outra o criador. A natureza é obra de Deus. Nós não somos deuses, mas criaturas. As florestas não são entidades animistas, nem as cachoeiras possuem vida e são realidades espirituais. As coisas que existem são criadas por Deus, e anunciam a existência de um Deus.
7. A criação se opõe ao deísmo – Esta teoria afirma que Deus pode até ter criado todas as coisas, mas ele não mais as governa. Seria como um relojoeiro que faz o relógio, mas não tem contacto com sua criatura. Uma criação sem supervisão. A Bíblia diz que Deus está sustentando todas as coisas. Os discípulos entenderam isto de forma dramática, quando Jesus ordena ao mar para se acalmar. “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem”. A criação segue o governo de Deus, ainda que seja tão ferida pela ambição e cobiça humana.
Conclusão: Qual é a importância destas verdades para minha vida?
1. A compreensão de um Deus criador e mantenedor traz sentido à existência. A vida abre janelas quando percebemos Deus. Certa jovem me disse que não acreditava em Deus, apenas nela mesma. Eu lhe disse que achava sua vida muito pobre, pois quando não existe a realidade de Deus, nada podemos fazer se nossos recursos pessoais acabaram? A verdade é que o ateísmo é desesperador. Viver sem uma compreensão maior do significado do universo é um grande tragédia. A vida torna-se uma mera sucessão de acasos. Quando entendemos e cremos no Deus que criou toda as coisas a vida encontra sentido. Sabemos da origem, e entendemos porque existimos... fomos criados por um propósito divino.
2. A compreensão de um Deus criador, traz segurança para o presente – Aconteça o que acontecer, eu não sou regido pelo acaso. O poderoso Deus que criou todas as coisas pela palavra de seu poder, também está cuidando de minha vida. Se Deus cuida dos lírios do campo, e valoriza os pequenos pardais, dando-lhes sustento e provisão, não fará o mesmo com a minha vida?
3. A compreensão de um Deus criador, traz esperança para o futuro – Não vivo no caos e no desespero. O Universo não é formado de partículas desorganizadas, mas segue um rigoroso cronograma de ordem e harmonia, eventualmente quebrado pela intervenção humana e pela cobiça. O universo não é caótico, mas possui ordem, simetria e propósito. Estou nas mãos deste Deus, e embora não saiba o que me aguarda no futuro, sei quem me espera no futuro.
Rev. Edson Caetano (Black) pastoreava a cidade de Abadiânia, quando foi convidado a participar de um evento político, com uma vertente ecológica. Era uma manifestação pública, o caminhão com o trio elétrico puxava a passeata, e o pastor estava ali presente. Na hora do discurso, o líder do movimento, falava das suas reivindicações, e da luta por habitação, educação, lazer, transporte e saúde. Para demonstrar isto, fizeram um quadro mostrando uma grande árvore, e cada um dos galhos apontava para uma destas solicitações, e foi nesta hora, que o articulador, vendo o pastor Black por ali, o convidou a subir no palanque, e lhe perguntou o que ele achava. O Pr. Black disse que concordava com a árvore, mas afirmou que havia um problema grave naquele painel: “Não estou vendo a raiz da árvore. Qual é a raiz?” E aproveitando este momento, falou que a raiz era Deus. Ele dava o suporte para todas as demais causas legitimas que estavam sendo reivindicadas naquela manifestação. O princípio é simples: Sem Deus, a árvore não tem sustentação.
Que Deus nos ajude!
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