Introdução:
O grande chamado de Cristo não é para segui-lo
a despeito da família, mas segui-lo, reintegrando-se à família e trazendo
redenção à família.
Neste texto, vemos o encontro de Jesus com o
endemoninhado gadareno, que depois de ter vivido anos de profunda solidão e
angústia, dominado por entidades espirituais, agora se vê libertado, e por
razões óbvias, quer seguir de perto a Jesus, que lhe dá outra direção dizendo:
Vai para tua casa!
É interessante perceber que por muitos anos,
ele já estava distanciado de sua família. Retornar à sua casa de fato não
parecia ser muito interessante. Um dos grandes problemas no processo de
recuperação de alcoólatras e viciados em drogas é a fase quando, depois de
passarem por recuperação em casas e clinicas, agora tem que voltar para o mesmo
ambiente de outrora. O problema está no sistema, que adoecido evoca no
dependente, os mesmos sentimentos de outrora, levando-o novamente à queda. O
problema do viciado em drogas é sistêmico, envolvendo disfuncionalidades
familiares, e o recuperando precisa de apoio e ambiente para crescimento.
Retornar à família, no caso deste
endemoninhado, era complicado, porque certamente sua condição de possesso já
era conhecido de muitos, causando certamente muito constrangimento a si mesmo,
à família e amigos. No entanto, Jesus recomenda que ele volte para sua casa e
seja reintegrado à família. O encontro com Cristo move o convertido à
restauração do seu ambiente e de relacionamentos quebrados.
O que fazer novamente na sua casa? Por que
voltar para casa se muito provavelmente este ambiente lhe seria hostil?
- Jesus
quer restaurar os fundamentos – As bases precisam ser
reconstruídas. Existe uma grande e grava lacuna na neurose familiar, muita
dor e mágoa dentro das famílias. Nelson Rodrigues chegou a afirmar que
“família, na melhor das hipóteses, serve apenas para sustentar a indústria
farmacêutica e dar emprego a psiquiatras”. Jesus quer tratar disto, caso
contrario, não faria qualquer sentido remetê-lo novamente às suas origens.
O apóstolo Pedro afirma que fomos libertos,
não por prata nem por ouro, mas pelo precioso sangue do Cordeiro, do fútil
procedimento que nossos pais nos legaram. Famílias possuem etiologias
complicadas, dramas e tramas que nos marcam para o resto da vida se dão no
ambiente familiar. São genealogias adoecidas, condicionamentos históricos,
atitudes herdadas e comunicadas de pais para filhos, que se reproduzem nos
netos, e apenas o sangue de Cristo por estancar estes movimentos malignos, que se
sustentam e retroalimentam num ciclo interminável de competição, disputas,
ódios e amarguras, criando o ambiente propício para que aflorem todas as formas
de patologias emocionais e espirituais, permitindo que verdadeiros nichos
luciféricos se manifestem na nossa história, gerando este processo de
“endominhamento”, cuja raiz da palavra é sugestiva, já que se refere a ninho de
entidades malignas, onde ovos de áspides e cobras são chocados.
- Jesus deseja que
a sua mensagem de libertação seja conhecida através de sua vida – “Vai para tua casa!”. Aquele rapaz
seria agora o “garoto propaganda” de Deus, que é aquilo que acontece com
todos que são transformados pelo poder do Evangelho. Paulo afirmava que os
irmãos de Coríntios, eram a carta de Deus para que o mundo pudesse lê-la e
conhecer quem era Deus. Voltar para
casa tinha a ver com a proclamavao dos feitos de Deus na história dos
homens.
Aquela família, em cujo ambiente o maligno
encontrou tanto húmus para florescer, precisava a agora conhecer o reverso destes
eventos. “Anuncia-lhes tudo o que o
Senhor te fez” (Mc 5.19). A grande verdade é que existe um grande número de
lares que nada sabem de Deus, que desconhecem o que Yahweh pode fazer, mas que
já se especializou nos caminhos das trevas e do diabo.
Há um relato no livro de Reis que fala da cura
de um comandante sírio chamada Naamã. Uma garota fora levada cativa para ser
criada desta família rica, ali vivia sem direitos, sem nome, sem liberdade, mas
um dia ouviu falar da situação de saúde de seu senhor, e ao ver o sofrimento
daquela família declarou: “Ah se meu
senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da
sua lepra” (2 Rs 5.3). Naamã tem um encontro com Elizeu, e desta forma é
restaurado. Um pequeno testemunho de uma criança, anônima e escrava num país
estranho, agora é a porta de salvação e cura para aquele homem.
Ainda hoje, milhões de lares vivem sem
conhecimento de Deus, sem acesso ás verdades de Deus, sem contacto com a
revelação das Escrituras, sem conhecimento de Jesus. Quando uma pessoa é
transformada por Deus, muitos outros, ouvindo seu testemunho também encontrarão
cura e libertação.
Por esta razão Jesus o envia para sua casa. A
mesma situação familiar que desencadeara todo este processo de adoecimento,
seria agora confrontada pelo testemunho poderoso e vigoroso deste homem que
vivia dominado por forças malignas, mas agora, pelo poder de Jesus, pode
assentar-se restaurado, são e em perfeito juízo. Processos malignos se
alimentam de doenças familiares, passando de pai para filho, e trazendo muito
sofrimento.
- Jesus quer gerar admiração através da
compaixão – “Vá e conte o que o Senhor lhe fez, e
como teve compaixão de ti” (Mc 5.20)
Uma das coisas mais perdidas em nossa devoção
tem sido a admiração. Em At 2.36 lemos que em cada alma dos cristãos primitivos
havia “temor”, outra tradução diz “espanto”,
que é uma variável da admiração. Precisamos recuperar esta capacidade de
ficarmos boquiabertos pelas coisas de Deus. Ter “assombro”, assim como se
sentiu Jacó diante da revelação de Deus: “Na
verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). O verbo
“saber”, no hebraico é “Yadah”, que é
o mesmo termo usado para relacionamento sexual. A Bíblia afirma que Adão,
“conheceu” Eva, idéia de encontro, e a tradução para a declaração de Jacó
poderia ser “na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não penetrava”.
O testemunho da restauração de vida daquele
homem passa a ser razao de admiração, trazendo louvor a Deus. Toda aquela
região conhecida por “Decápolis”, por ser um conjunto de dez cidades, ouve
agora, estupefata, o que aconteceu àquele rapaz e Deus é glorificado nele, já
que sua restauração e libertação foram notórias.
Jesus queria que seu testemunho causasse
admiração aos outros, por isto ele precisava voltar para casa, para que aqueles
que o conhecessem fossem impactados pela realidade maravilhosa de Deus que nele
operara.
Conclusão:
“Voltar para casa” é uma ordem de Deus a todos
àqueles que se desencontraram na vida, mas que eventualmente são impactados por
Deus e transformados pelo seu poder.
Famílias ainda se constituem num enorme campo
missionário. Lares precisam de Deus, porque na sua maioria ainda são
controlados por forcas satânicas e espíritos de demônios.
“Vai para tua casa”, para abençoar,
testemunhar, para que o testemunho do amor de Deus em sua vida, cause admiração
e gere transformação em muitos que ainda se encontram oprimidos pelo
diabo. Por isto precisamos ir para casa.
- Vai
para tua casa - Porque muitas famílias ainda estão pactuadas com obras malignas
e dominadas por forças demoníacas e precisam de libertação;
- Vai
para tua casa – Precisamos ir, entendendo que nossos lares são verdadeiros
campos missionários. “Anuncia-lhes
tudo o que o Senhor te fez, e como teve compaixão de ti”.
- Vai
para tua casa – Para os teus, porque Jesus ordena redobrar atenção às famílias.
Aquele homem está agradecido a Deus e impressionado por Jesus e quer segui-lo
no ministério itinerante, mas Jesus o faz olhar em outra direção.
No filme, advogado do diabo, um ambicioso advogado
entra numa esquema que lhe traz muito dinheiro e projeção, mas que eventualmente
expõe sua mulher a um processo de desintegração psíquica, e quando ele percebe como
havia se tornado um joguete nas mãos do diabo ele protesta e o diabo retruca: “Eu
lhe mandei voltar par sua casa, mas você não quis. Seu sucesso, conquistas, ambição
dominaram sua vida. Não fui eu quem destruiu sua casa, mas sua ambição. Sua mulher
precisava de você, mas você decidiu ignorar isto por causa do sucesso e fama”.
A exortação de Cristo para cada um de nós hoje
é “Vai para tua casa!”.