sábado, 20 de abril de 2013

Ap 2.12-17 Pérgamo: uma igreja construída na geopolítica do diabo



Introdução:

Ao lado de Boston, existe uma famosa cidade chamada Salem. Esta cidade é chamada “a cidade das bruxas”. Alguns pregadores do Evangelho nesta região têm afirmado que existem cerca de 2.000 bruxos morando naquela área. Bruxaria, turismo e folclore se confundem em torno deste temática. Ali existe o museu das bruxas no centro da cidade e na época do Halloween, tradicional festa americana, chamada “dia das bruxas”, a cidade fervilha de pessoas com máscaras e fantasias, todas em torno desta idéia de bruxaria.
Seria Salem de fato uma cidade maldita? Seria ali de fato uma das centrais de operação do diabo?
Se existe alguma dúvida em relação à cidade de Salem ser uma cidade satânica, o mesmo não se dá com Pérgamo. Jesus afirma que ela era a base, o quartel general de uma operação desencadeada pelo diabo no mundo antigo. Jesus afirma que ali era o “trono” de Satanás. O termo Pérgamo vem de Pergaminho. Ali se instala a sede de satanás (1.13). Lugar que era o centro do culto ao imperador. O termo Kaloiken (instalar, ficar) é oposto a Paroiken (estrangeiro, peregrino). A Igreja estabelece-se num lugar que não lhe pertence. A igreja passa a penetrar um território no qual Satanás transformou em um seu reduto particular e firmou as suas estacas.


Por que aquele lugar era chamado de “trono de Satanás?”.

Várias hipóteses são levantadas pelos comentários quanto a isto:
a. Como cidade imperial, lá estava o mais antigo templo dedicado à prática da religião do Estado, que era a adoração aos imperadores. O imperador é ali declarado Deus, obviamente era particularmente hostil à fé cristã. O poder de Roma era satanicamente poderoso. Este culto era chamado "trono de satanás".

b. Para Hendriksen, trata-se de um templo dedicado a Escolápio (ou Asclépio), o deus serpente das curas, cujo colégio sacerdotal era famoso. Era conhecido como "o deus da sanidade", cujo símbolo era a serpente (satanás). O emblema de Asclépios era a serpente (evocava a idéia de um culto satânico).

c. No ano 240 AC, Pérgamo ganhou uma importante guerra contra os gauleses. Em memória construíram um grande altar de 40 pés de altura, onde se queimavam incensos durante todo o dia.

O Povo de Deus resolve fazer missão neste lugar hostil, reconhecendo a chamada missionária. Ali, naquele contexto antievangélico surge uma igreja para ministrar, no meio de uma cidade supersticiosa, idólatra e dominada por forças malignas. Satanás se opõe fortemente àquela igreja. Plantar uma igreja fiel dentro de um território dominado pelo paganismo é uma das melhores formas de confrontar os poderes das trevas e estabelecer o Reino de Deus. Satanás, contudo, contra ataca, usando as suas mais poderosas armas. Eis algumas delas:

As armas do diabo contra a Igreja de Cristo

1.       Ameaça contra a integridade física – Este tipo de arma tem sido sempre usado por Satanás para inibir o avanço da mensagem de salvação. Antipas fora morto naquela cidade por recusar a negar a sua fé. Muita igreja tem sido ameaçada na história. Pastores foram executados, templos foram queimados, fiéis foram dispersos e espoliado de seus bens. Mas quase sempre isto tem se tornado o húmus para o progresso do Evangelho e para a pregação ousada das Boas Novas. Antipas fora morto por sua fé, isto ameaçou a integridade física da igreja, gerou medo, mas a igreja de Pérgamo é louvada pelo seu Senhor. Aleluia!

2.       Sincretismo religioso – 2:14 “A referência a Balaão e aos Nicolaítas nos mostra que existia uma controvérsia em Pérgamo, como houve em Éfeso sobre quais eram os líderes que tinham autoridade e qual era o autêntico ensino sobre a vida cristã”[1]. A velha e eficaz fórmula de sincretismo e quebra dos padrões morais utilizada por Balaão, é aqui usada. Nem sempre o diabo é criativo, mas ele é sempre perseverante nas suas táticas. A estratégia deste homem místico e pagão é descrita entre os capítulos 23-25 de Números.

Aqui em Pérgamo. Como Satanás não obteve vitória com a perseguição e o martírio sobre aquela fiel igreja, resolveu colocar gente herética dentro dela. Que força pode ser mais destrutiva contra o Povo de Deus que a sua própria infidelidade?

As ameaças do diabo não podem te destruir, mas infidelidade sim...

A grande ameaça contra a igreja é a infidelidade. Devemos temer a nossa cobiça, porque somos tentados por ela, e depois que ela é concebida, uma vez consumada, gera a morte. Esta cobiça tem o poder de nos atrair e seduzir (Tg 1.14-15) e o diabo acha a brecha por meio destas coisas e destrói aquilo que Deus está fazendo em nós. Quando pecamos abrimos brechas, damos espaço a Satanás para nos desviar do Senhor. Esta é uma grande arma do diabo. A arma da infiltração, da confusão, usada para fazer o povo ficar confuso em relação ao projeto de Deus para a humanidade.

3. Heresias – A doutrina dos Nicolaítas é mencionada no texto. Provavelmente foi fundada por Nicolau, um dos diáconos da Igreja Primitiva e prosélito de Antioquia. (At  6.5). Esta corrente teológica penetrou amplamente na Igreja e era caracterizada pela indulgência moral (Ap 2.15). A heresia surge a partir da comunidade. A Igreja tem o incrível poder de gerar heresias...Heresias são desvios históricos que levam tempo para se solidificar, são feitos lentamente, em fogo brando, até matar a Igreja. O pecado desta igreja era a tolerância com a heresia, enquanto Éfeso tinha uma atitude morna quanto aos afetos, mas era firme na ortodoxia.

O que motiva a Igreja a permanecer firme?

1.    A lembrança de que o Senhor não está alheio à vida da igreja – “Ele passeia no meio dos candeeiros”. (2:13) O povo cristão tem a convicção de que seu Deus “conhece” a dura realidade que enfrenta; Jesus diz aqui “Conheço o lugar em que habitas”.

2.    Ter consciência do tipo de solo que estamos pisando – O solo determina o tipo de semente que temos que jogar na terra. Terreno arenoso é ótimo para plantação de coco, mas não de hortaliças. Pérgamo, pela sua situação geográfica, precisava de um ministério de confrontação espiritual mais que as outras igrejas; Esta igreja está plantada no terreno em que o diabo “habita” e estabeleceu seu trono (2:13). Esta era uma referência clara ao fato de que Pérgamo era o centro do Culto ao Imperador, e a Igreja iria sempre se opor a isto e, conseqüentemente, sofrer dura oposição.
Chamamos isto de consciência missionária, os teólogos preferem o termo “mandato cultural”. Entender onde estamos, e o que estamos fazendo… Qual é o solo do meu campo ministerial ou da cidade onde você está plantado? Robert C. Linthicum levanta uma interessante questão em seu livro: “Como as Escrituras vêem minha cidade?”[2] Para ele, uma afirmação poderia sintetizar o pensamento bíblico sobre este assunto: “A cidade é o lugar de uma grande e contínua batalha entre o Deus de Israel e/ou a Igreja, e o Deus do mundo”. [3]  Linthicum enfatiza a necessidade de vermos a cidade não só como um projeto solitário de salvação individual, mas vermos a cidade, estruturalmente como um lugar que precisa de redenção, porque o pecado é coletivo, não apenas individual, o mal é sistêmico, (possui um componente sócio-político-estrutural), e endêmico (isto é, atinge a todos). Jacques Ellul afirma que este conflito entre a igreja e a posição daquela cidade é “o sinal efetivo do conflito entre Revelação e a civilização”. [4] Não há síntese conciliável entre a revelação e as grandes obras da civilização humana.

3.    Conservar firme o nome de Deus – (2.13) - “Conservas o meu nome e não negaste a minha fé”. Uma doutrina exata que permita a existência de uma prática correta. Conservar o nome de Jesus tem a ver com o fundamento de nossa Teologia. Jesus é a Rocha irremovível, inalterada, centro de nossa fé e de nossos valores. Nós não supervalorizamos Jeová dando a Jesus um papel secundário. O nome de Jesus tem que ser conservado..

4.    Manter uma vida de arrependimento constante (2.16).  Se a Igreja não se arrepender e tomar uma posição, o próprio Senhor promete julgar. A Igreja que não se arrepende é julgada pelo próprio Senhor da Igreja. "Contra eles pelejarei”. Pecado desautoriza a igreja de Cristo e enfraquece sua autoridade.

5.    Estar com os ouvidos abertos para aquilo que diz o Espírito – (2.17) Jesus está falando à sua Igreja e dizendo: “Quem tem ouvidos”. Muitas vezes, como igreja, não conseguimos “ter ouvidos” para assimilar a palavra de Deus.  Muitas vezes, como líderes do povo de Deus não temos sensibilidade ao Espírito. “Quem é o cego como o meu servo, ou surdo, como o meu mensageiro a quem envio? Quem é cego como o meu amigo e cego como o servo do Senhor? Tu vês muitas cousas, mas não as observas; ainda que tens ouvidos abertos nada ouves”. ( Is. 42:19-20).

6.    Manter os olhos firmes na recompensa que está porvir –(2:17). Lembrar que existe uma coroa de justiça. “Eu sei em quem tenho crido...” Por que devemos ser justos e fiéis? Porque tememos a Deus, honramos sua palavra. O que Deus promete à Igreja.

Promessas ao vencedor:
¨       Maná escondido - alimento para a alma.  O maná foi o alimento dado ao povo no deserto e é figura no NT de Jesus, o pão espiritual que sacia a nossa fome espiritual. Jesus promete matar a sede que nossa alma sente do sagrado, de um sentido mais profundo para viver. Ele disse que daria este pão ao seu povo.

¨       Um novo nome gravado sobre a pedra branca. Nome revela caráter. O nome é a expressão do ser espiritual. Só o conhece aquele que o recebe… É uma experiência individual e íntima que só conhece aquele que dela experimenta.

Conclusão
A promessa é feita “ao vencedor”.  Batalhando no meio de um mundo hostil é fácil sermos atraídos por doutrinas demoníacas e novos ensinamentos. A atitude de Balaão e dos nicolaítas é sempre uma ameaça à Igreja de Cristo. É fácil sucumbir à tentação do comodismo, aquietar e parar de lutar contra as armas do diabo.
A Igreja de Pérgamo não se deixou intimidar pelas ameaças e ataques recebidos. O preço pago foi caro, um de seus líderes morreu naquele lugar pela sua fidelidade ao evangelho. Mas Jesus elogia esta igreja pela sua fidelidade e a lembra de que “passeia no meio dos candeeiros”.


[1] Collins, Adela Yarbro – The Apocalypse – New Testament Message. A Biblical-Theological Commentary. Wilmington, Delaware, Michael Glazier, Inc., 1979, pg. 19
[2] . Linthicum, Robert C.,  City of God, City of Satan, A Biblical Theology of the Urban Church,  Zondervan Publishing House, Grand Rapids, MI, 1991.
[3] . Op. Cit. pg. 23
[4] . Ellul, Jacques - Apocalipse, arquitetura em movimento, São Paulo, Ed. Paulinas, 1979, pg. 145

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