domingo, 28 de abril de 2013

Gn 14.18-20; Hb 7.1-10; Sl 110.4 O Fator Melquisedeque





Introdução:

Um dos personagens mais complexos das Escrituras é Melquisedeque. O que era este homem, qual o seu significado? Apesar de ser citado em apenas três versículos deste texto, Davi o cita no Sl 110.4 “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”, uma alusão clara à  identidade de Cristo e o autor aos Hebreus faz uma explanação do seu ministério em Hb 7.1-10.
Melquisedeque é um sacerdote que surge do nada. Como ele veio ao encontro de Abraão, por que trouxe pão e vinho? Como se imiscui no encontro de Abraão com o rei de Sodoma, são coisas que não sabemos explicar. Ele era rei, mas era, acima de tudo, sacerdote, e isto se infere tanto por causa da benção que ele ministra a Abraão, quanto do dízimo que Abraão lhe entrega.

O significado do Sacerdote: 
O que significa sacerdote?

Existem duas funções muito presentes em toda Bíblia: A do profeta (trazia a palavra de Deus aos homens), e a do sacerdote (levava o problema e lutas dos homens a Deus). Todas as religiões possuem o conceito de sacerdote, expresso na questão da mediação: O que se deve fazer para chegar a Deus? Alguns lançam mão de forças de entidades e divindades, que requerem ofertas e sacrifícios, outros de pessoas especiais, com determinados privilégios diante de Deus e que lhes abririam as portas de acesso a Deus. Os gnósticos desenvolveram a ideia de uma hierarquia de anjos, os eons, que eram degraus nas escalas cósmicas.
Existe subjacente no coração humano, uma espécie de arquétipo, a compreensão de que não é possível chegar a Deus por si só, sem uma mediação. Por isto, todas as religiões lançam mão de sacrifícios humanos ou animais e buscam figuras místicas e espirituais para acessar os poderes das divindades. No Antigo Testamento, temos o sistema de sacerdócio. Uma das tribos de Israel, Levi, foi designada por Deus para esta tarefa. Dentre algumas de suas atividades, estava a de cuidar do templo, cumprir as ordenanças litúrgicas e religiosas, manter em ordem o uso do templo. Por esta razão, todas as pessoas desta tribo, aos 30 anos cumpriam o "serviço religioso obrigatório". Suas atividades incluíam a matança dos animais, limpeza de toda sujeira, o corte de animais para sacrifícios, o cuidado com as coisas do tabernáculo e a manutenção dos objetos de culto. No deserto eram eles quem armavam e desarmavam a tenda. Depois da construção do templo, eram responsáveis por todas as câmaras do templo e o culto: Eles cuidavam da manutenção, recebiam as ofertas e eventualmente cantavam. Hoje muitos falam do ministério dos levitas fazendo referência ao louvor, que era apenas uma de suas tarefas. Eles eram responsáveis por todas as coisas. Deus escolheu a tribo dos levitas como "mediadores": Eles sacrificavam e intercediam a Deus pelo povo.
Havia ainda o sumo sacerdote. Uma vez por ano havia um rodízio entre os famílias que escolhiam um sumo sacerdote, cujo cargo era muito importante. Ele entrava no Santo dos santos. Lugar mais privilegiado, íntimo e secreto do templo, separado dos demais objetos do culto, onde ficava a arca da aliança, coberta por uma tampa que era o propiciatório. Dentro desta arca ficavam ainda as tábuas da lei dadas por Deus a Moisés, e um pouco do maná, para que fosse exemplo para as futuras gerações do cuidado de Deus pelo povo, no deserto.
Uma vez por ano ele sacrificava um cordeiro de um ano, e entrava neste lugar sagrado, onde ninguém mais podia adentrar, para aspergir o sangue sobre a arca, para que Deus se tornasse propicio ao povo. Este lugar era tão sagrado que durante o período dos macabeus, eles passaram a amarrar uma cordinha com um sininho nos pés do sumo sacerdote, para que, caso o sininho parasse de tocar, e o sacerdote morresse naquele lugar, eles pudessem puxá-lo para fora. O povo chegava a Deus através dos sacrifícios e dos sacerdotes.
O autor a carta aos hebreus tenta explicar a figura de Melquisedeque, afirmando que ele tipificava Cristo, demonstrando que Jesus era maior que o sacerdócio levítico, provisório e temporal. Tenta provar ainda que O sacerdócio já estava ultrapassado por que Jesus havia cumprido todas as ordenanças legais e se tornado o Cordeiro pascal.
O autor da carta aos hebreus mostra isto aos seus leitores, que tinham uma herança religiosa do judaísmo, e porque alguns estavam querendo voltar novamente para a ideia do sacrifício. Voltar atrás era ir para um plano inferior. O raciocínio dele era: Para que voltar para o tipo, quando vocês já possuem a antítipo? Para que voltar para a figura e para as sombras, quando vocês já possuem a realidade cumprida?
Ele demonstra que antes de Deus estabelecer o sacerdócio levítico, já existia outro sacerdócio maior. Para exemplicar, relembra a história de Abraão, o pai da fé. Em Gn 14, temos apenas três versículos sobre Melquisedeque, e vemos o encontro de abraão com esta figura misteriosa, logo após sua vitória sobre 5 reis, com 318 bravos homens, e apenas no Sl 110.4, veremos outra citação. No entanto, ele tenta mostrar como este sacerdócio era superior. Ele usa a bíblia judaica e a razão, para convencê-los de como este Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico.

Quem era este homem?

Para muitos tratava-se de uma figura angelical, para outros, do próprio Jesus, mas a melhor interpretação é que fosse um dos semitas, remanescentes dos filhos de Noé, que após o dilúvio se dispersou e foi viver nesta região e nunca perdeu o conceito de um Deus pessoal e único. Ele era ao mesmo tempo o líder político e religioso de sua cidade, portador da verdadeira religião, já que era "sacerdote do Deus Altíssimo" (Hebraico: El Elion). Era sacerdote, mas sua linhagem não é mencionada, já que nada se sabe dele.
No AT para se tornar um sacerdote, era necessário provar sua ascendência, até provar ser descendente de um dos filhos de Levi. No entanto, nada sabemos deste homem, ele aparece e some. Não sabemos nada antes, nem depois, exceto na vaga citação de Davi no Sl 110.4. Não há registro sobre ele além destes esparsos textos. Aparece num momento chave da vida de Abraão, trazendo "pão e vinho", dá para fazermos alguma associação com Jesus? E abençoa Abraão. O que faz Abraão? Tira 10% do despojo de guerra e lhe entrega. Era costume na época das guerras, quando se prestava culto as divindades, dar bens e propriedades. Abraão faz isto. Dá 10% de tudo aquilo que pegou como despojo da guerra.

Como o autor da carta aos hebreus interpreta isto?

1.      Este homem era figura de Jesus - superior a Abraão e a Levi, cujo sacerdote é provisório e inferiores a Jesus. Ele Tipificava:
a.      Meleque- Palavra hebraica para rei;
b.     Tsadeque - justiça ou justo.
c.      Rei da cidade de Salém.
Temos aqui, andando juntos justiça e paz. Dois dos atributos do menino que haveria de nascer, de acordo com Is 7. Seu reinado seria de justiça e paz.
2.      
Melquisedeque simboliza o Filho de Deus, sacerdote e mediador
Eterno. Sem começo nem fim... Jesus também é eterno e imortal. Sem genealogia sacerdotal, Superior. Hb 7.3 Ele era maior que Abraão.
a.   Primeiro: Abençoa Abraão. A lógica é simples: O maior abençoa o menor. Hb 7.7. Abençoa aquele que tinha as promessas. Hb 7.6;
b.     Segundo: Abraão pagou dízimo a Melquisedeque, portanto, era maior que Levi, já que Levi era descendente de Abraao. Quem ele representava? Jesus. Os sacerdotes do templo são pálidas figuras e sombras de Jesus. Seu sacerdócio será provisório. Não precisamos mais de sacrifícios de animais. Ele morreu de uma vez por todas pelos pecadores.

Aplicações:

O que podemos aprender disto tudo? Augustus Nicodemus aponta cinco ideias práticas sobre a figura de Melquisedeque:

1. Não fiquem impressionados quando determinadas pessoas querem judaizar a igreja. Muitos trazem candelabro de Israel, guardam o sábado, usam relíquias de Israel como terra santa e água do Rio Jordão, usar o kipah, aquele pequeno boné que o homem judaico põe sobre a cabeça para suas orações. Nós não precisamos circuncidar os filhos, tocar shofar (Um dos instrumentos de sopros mais antigos do mundo, feito normalmente a partir de um chifre de carneiro ou de bode, tocado, principalmente nas cerimônias religiosas judaicas), nem usar véu. Tudo isto é sombra, rudimento. (Hb 10.1).

2. A Questão do dízimo – Muitos dizem: “Eu não entrego o dízimo, porque estou debaixo da graça e não debaixo da lei”. Na verdade, Deus instituiu o dizimo na lei, para que o levita pudesse viver com estes recursos, afinal, se vivia tempo integral no templo, ia viver de que? Então, todas as 11 tribos tiravam dízimos para manutenção do culto e sustento dos levitas, mas este texto nos ensina, que antes da instituição do dizimo no AT, Abraão trouxe a Deus 10% de seu ganho. Dízimo não é uma questão da lei, mas antecede à lei. Jacó também decidiu entregar 10% a Deus, como forma de agradecer as bênçãos recebidas. Dízimo é algo do coração, não da lei.

3. A questão missionária - No meio do paganismo havia um povo eleito, no meio das cidades pagãs, havia um homem que era sacerdote do Deus Altíssimo, portador da religião verdadeira, e que adorava não os ídolos pagãos daquelas religiões, mas o Deus Altíssimo. Don Richardson fala da bússola cultural que Deus tem colocado em todas as religiões mais primitivas do mundo, para identificar sua cosmovisão religiosa, com a mensagem verdadeira da redenção em cristo. Estudiosos católicos preferem chamar isto de “semente do verbo”. A misericórdia de Deus em não se deixar ficar sem testemunho no Mundo. Vemos isto aqui na vida de Melquisedeque, e desta forma Deus abençoa Abraão e o mundo.

4. A importância de estudar a bíblia. O AT fala de Cristo, os tipos e figuras do AT apontam para Cristo. Precisamos ler o AT. Eventualmente é penoso, aparentemente difícil, mas precisamos lê-lo. Existem muitas verdades profundas no Antigo Testamento. Deus estava preparando um povo para receber sua mensagem completa e plena que haveria em cristo. Não desanime. Aprenda a estudar estes livros.

5. O acesso a Deus - Sempre foi mediatizado pelo Filho de Deus. Seu sacerdócio permanece para sempre e não existem outros mediadores. Maria não é mediadora, nem os santos, nem espíritos, pastores, papas, entidades ou gurus. Só existe um mediador.
Para se chegar a Deus não é uma questão de mérito. Por isto Jesus é nosso mediador para sempre, sendo nosso redentor, pagando nossos pecados ao morrer na cruz.
Como crentes, começamos em Cristo, mas quase sempre queremos nos santificar na carne, precisamos lembrar que temos um grande sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, que nos liga a Deus. (Hb 4.14-16).

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