sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

2 Co 5.11-17 O Novo homem






Introdução:

No livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, o autor fala de uma droga chamada “soma”, que tirava todas as asperezas da vida e o transformaria numa pessoa potencializada, pura e profunda. Recentemente o filme “sem limites”, atraiu a atenção ao sugerir uma droga capaz de potencializar o ser humano, tornando a sua mente superativada e com poderes para equações matemáticas complexas, resolução de questões filosóficas, rapidez para ler um livro, e até mesmo escrever uma tese da noite para o dia, aprender diferentes línguas e ser uma pessoa com alta performance sexual. Esta droga, porém, tinha um único e grave problema: seu usuário teria poucas chances de sobreviver por causa do efeito colateral.

De fato, a sociedade aguarda alguma saída para os graves problemas humanos e existenciais que temos enfrentado e sonha com um homem superior, desde a época de Platão, passando por filósofos como Nietzsche. O homem está à beira do abismo, com a moral cada vez mais decadente, e surge um anseio cada vez maior por uma liberdade sem limites que na prática se torna uma cadeia infernal que aprisiona e destrói. O ser humano anseia por uma humanidade que o liberte da fronteira da mediocridade ética e lhe liberte do seu fracasso. Tudo em nosso mundo parece estar melhorando, menos a natureza do homem, e a pergunta do antigo carcereiro feita ao apóstolo Paulo se torna mais contemporânea e urgente: “Que devo fazer para ser salvo?” A antropologia, psicologia e sociologia tem se mostrado ineficaz para o surgimento desta nova humanidade. Esforços humanos e melhor nível de informação e educação parecem incapazes de transformar o falido coração do homem.

Jesus surpreendeu Nicodemos, um homem letrado e líder da comunidade ao lhe afirmar que era “necessário nascer de novo”. Este é o fundamento espiritual do ser humano, na visão de Cristo, sem ele torna-se impossível “ver” ou “entrar” no reino de Deus (Jo 3.3-5). O apóstolo Paulo também fala constantemente deste “novo homem”, criado em Cristo Jesus, em justiça e retidão procedentes da verdade e exorta que, “quanto ao trato passado vos despojeis do velho homem que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos revistais no espírito do vosso entendimento”(Ef 4.22-24). Trata-se de uma nova realidade espiritual, possível e necessária ao homem.

A Bíblia fala desta necessidade, possibilidade e dinâmica do novo homem. Na verdade, embora equivocadamente possamos pensar, a Bíblia não está preocupada com uma nova ética, nem novos comportamentos apenas, mas com algo muito mais profundo: Uma nova natureza de Deus dada ao homem. A Bíblia chama isto de “novo nascimento”, ou regeneração. Neste texto Paulo aprofunda um pouco mais este assunto, ao falar da nova humanidade, descrevendo algumas destas características:

1. Nova Motivação - “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que também a vossa consciência nos reconheça” (2 Co 5.11).
Desde o início do texto, Paulo está falando de um resultado, ou conseqüência de um encontro e experiência do homem a pessoa de Jesus. Ele está se referindo ao revestimento espiritual que pessoas recebem ao se encontrar com Cristo. Deste o início desta perícope, em 2 Co 2.14, ele fala de uma nova dinâmica espiritual que chega à pessoa que se encontra com a pessoa de Jesus.

Este novo homem passa a viver de acordo com o “temor do Senhor”, e não mais segundo a aparência. Sua motivação é fazer as coisas pensando em Deus e para glorificá-lo . A grande preocupação de sua vida deixa de ser sua “reputação” humana e torna-se “o temor do Senhor”.

Algumas vezes na vida tive que acompanhar tribunais eclesiásticos, que tinham a difícil função de julgar um pastor ou líder que causou escândalo no meio da igreja com comportamento pecaminoso. Esta situação gera muito temor porque a Palavra de Deus nos exorta para que nos guardemos também de tropeçarmos. Alguém que caiu moralmente não é inferior àquele que está firme, mas descuidou-se e aceitou a oferta atraente do diabo, trazendo sobre si vergonha e humilhação, ferindo a santidade de Deus. O problema maior em tais julgamentos é que, na maioria das vezes, as pessoas estão preocupadas com uma só realidade: Sua reputação. Por isto, tendem a negar sua culpa, minimizá-la ou dividi-la. Não entendem que o maior problema não é com os homens, mas com Deus. O problema não é, em última instância, externo, mas tem a ver com a glória e o relacionamento com Deus.

Paulo afirma que o novo homem “conhece o temor do Senhor”, e isto lhe dá força para “persuadir os homens”. Seu testemunho se torna poderoso porque está fundamentado em algo profundo: sua experiência com Deus.

Quando Saul recebeu a sentença de Samuel de que Deus havia rasgado o seu trono ao meio, por causa de sua desobediência e rebeldia, ele só tinha uma atitude a tomar: ajoelhar-se em contrição, pedindo a Deus perdão, e rogando a Samuel que orasse por ele – mesmo que aquilo não “mudasse”, o desígnio de Deus. No entanto, o que ele fez? Ele reconheceu que sua atitude foi errada e afirmou: “Pequei, honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do meu povo e diante de Israel, e volta comigo para que adore ao Senhor, teu Deus” (1 Sm 15.30). Ele não demonstra nenhuma preocupação da sua relação com Deus. Na verdade ele fala de Deus como o Deus de Samuel, e não o seu, veja a ênfase no pronome “teu Deus”. Deus de quem? De Samuel. Ele quer ser honrado diante da sua liderança, mas não é movido pelo temor a Deus, e sim pela aclamação pública e reconhecimento humano.

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Jó 28.28). A partir deste temor se constrói toda percepção do homem segundo o coração de Deus. Atitudes passam a ser desenvolvidas a partir do temor no coração.

Por que evitar pecar? O temor do Senhor.

A doutrina de Deus tem sido esquecida em nossos dias. As pessoas, mesmo cristãs, fazem as coisas sem temor. “Deus é amor”, dizem eles. A figura de Deus parece mais a de um papai noel bonachão ou reflete modelos boçais de pais apáticos que novelas e seriados tendem a construir.

No entanto, o livro de Hebreus, portanto, já no Novo Testamento, afirma com clareza: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31), isto deve gerar temor, pois sabemos que “o Senhor julgará o seu povo” (Hb 10.30).

Quando o temor do Senhor chega ao coração, o pecado torna-se algo sério. A santidade de Deus é algo muito importante. Paulo afirma que por conhecer o temor do Senhor, ele persuadia os homens. Vidas tementes a Deus impactam outras vidas. Pelo sim, pelo não, as pessoas consideram nossas atitudes cheias de temor e isto gerar temor também em suas vidas.

2. Nova Cosmovisão – "Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós outros”(2 Co 5.13).

Esta é outra linguagem complicada. De que Paulo está falando? O que ele tinha em mente?

Certamente ele foi muito criticado depois de sua conversão. Muitos o acusaram de ter ficado louco. O evangelho de fato parece loucura. Era escândalo para os judeus, e os gentios diziam que era loucura. Quando Paulo começa a falar da cruz, ressurreição, encarnação, para muitos que vinham da cultura helênica como as pessoas de Corinto, isto deveria ser muito bizarro. Paulo admite esta “santa loucura”, e admite que, de fato, havia enlouquecido por Jesus.

João Marcos, músico baiano, foi morar nos EUA, e lá se tornou amigo de uma mulher que era líder do GLTS em Boston. Apesar de seu estilo rastafári, era uma pessoa nascida de novo e compartilhava com seus amigos da loucura de sua fé. Esta amiga se interessou pelas coisas de Deus e ele começou a falar delas. Um dia lhe deu uma bíblia e a encorajou a ler. Dois dias depois se reencontraram e ela lhe disse: “Que livro louco aquele que você me deu, tem até incesto. Ló transa com suas filhas... tem um negócio dos filhos de Deus transando com as filhas dos homens... que loucura é aquela?” Então João lhe respondeu: “Continue lendo, porque loucura maior você vai encontrar quando ler que o próprio Deus resolve se tornar gente e morrer pela humanidade numa cruz”.

Esta “loucura” do evangelho é o que Paulo está mencionando.

Quando Deus nos faz novas criaturas, abre-se uma nova cosmovisão, uma nova compreensão da vida e do mundo. Novos valores, novos princípios, novas realidades. Paulo fala de “enlouquecer para Deus”, e é exatamente disto que precisamos. Este novo homem começa com a construção de uma nova cosmovisão, uma nova forma de enxergar a vida e por isto, muitos valores já estabelecidos, eventualmente são subvertidos e colocados de cabeça para baixo. Inicia-se a construção de um novo homem, criado em Cristo Jesus, pela obra do Espírito Santo.

“Ser uma nova criatura em Cristo não quer dizer ter havido uma alteração nos elementos da personalidade de uma pessoa, mas que um princípio novo de vida foi introduzido no centro de seu coração, dirigindo-lhe a vontade para novos motivos, nova conduta e novos ideais” (Billy Graham).

3. Nova Afetividade – “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram” (2 Co 5.14).

Paulo fala de algo muito interessante: ele se sente constrangido de ser amado de forma tão intensa por Cristo e que diante de tão grande amor, seus motivos, comportamentos e ética passam agora a serem orientados por esta compreensão do absurdo amor de Deus.

Você já se sentiu constrangido alguma vez por alguma coisa que tenha feito ou fizeram contigo? Pode ter sido um comentário do tipo: “Você está grávida”, para uma mulher que apenas engordou um pouco nos últimos meses? Ou, “esta é sua filha?” a um homem casado com uma mulher 20 anos mais nova que ele? Já se sentiu amado ou recebeu um gesto tão inesperado de alguém que o levou a se sentir “sem graça”, embora fosse um sentimento positivo?

Em 1992, eu era pastor no Rio de Janeiro, e num domingo uma senhora simpática, falante e alegre, ao terminar o culto dominical matutino me procurou e perguntou se eu gostaria de fazer uma viagem a Israel. Eu disse que todo pastor gostaria de uma experiência como esta, mas que era muito cara. Ele então me disse: “Eu gostaria de dar esta passagem para você e sua esposa”. Como eu não a conhecia, fui de uma sensibilidade paquidérmica e perguntei o que ela gostaria em troca. E ela me explicou que fizera um propósito de que, todas as vezes que visse um pastor e se identificasse com ele, tentaria propiciar-lhe uma viagem destas, porque seu pai fora pastor e morreu sem realizar seu sonho. E lá fomos nós, viajando para o Oriente Médio. Todas as vezes que me recordo desta mulher, penso como o amor pode constranger desta forma, como fomos abençoados por ela. Sou eternamente grato por isto.

Quando somos “constrangidos” pelo amor de Cristo, nossa vida se pauta pelos afetos divinos. Passamos a não querer “pecar”, não por medo das conseqüências dos atos, mas para não ferir a santidade de Deus, nem o coração deste Jesus que nos amou tanto que a si mesmo se entregou por nós.

4. Novo Conhecimento de Cristo – “E, se antes conhecemos a Cristo segundo a carne, ja agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5.16b).

Existem muitas interpretações acerca da pessoa de Jesus na história. Durante três séculos, a igreja cristã se desdobrou por uma definição da pessoa de Cristo, o que foi feito no Concilio de Nicéia (324) e de Calcedônia (431). Nos dias de Jesus, muitas hipóteses foram levantadas acerca de quem ele era e o mesmo dilema permanece até hoje na mente de muitos.

Jesus perguntou aos seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mt 16.13). Eles responderam como as concepções populares refletiam esta questão. Uns acreditavam que ele fosse Jeremias, Elias, e outros ainda, alguns dos profetas. Então Jesus lhes perguntou diretamente: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). Pedro lhe respondeu que Cristo era o Filho do Deus vivo.

Quando Jesus curou um cego de nascença, isto trouxe à tona a identidade de Cristo. Os líderes religiosos indagaram ao homem curado, quem ele acreditava ser Jesus. A resposta dele demonstra como a visão de Cristo pode ser mudada na medida em que nos aproximamos dele. Aquele homem sai de uma fé intuitiva ou superficial, para uma fé racional, ou plena. Da primeira vez respondeu que Jesus era “um homem especial” (Jo 9.11). Ele admitiu que Jesus não era uma pessoa comum. Da segunda vez ele deu a Cristo um caráter espiritual ao responder: “Um profeta” (Jo 9.17), mas sua fé se plenifica quando, indagado pelo próprio Jesus, admitiu que era alguém que deveria ser reverenciado, porque se ajoelhou diante dele e o adorou (Jo 9.38). Adorar significa dar um status de divindade a Jesus. Um judeu jamais se curvava diante de outro homem, porque desde cedo sabia que só a Deus se devia adorar e dar culto. Isto fazia parte do Shemah hebraico, que era a essência da fé judaica.

Paulo tinha conhecimento de Cristo, ele sabia sobre seus milagres e das controvérsias diante dele, mas no caminho da Damasco se deparou com alguém muito superior na sua essência. Ao afirmar que ele agora conhecia Cristo de outro modo, está afirmando que Jesus deixou de ser alguém perseguido por ele para se tornar tão central na sua história que deveria ser adorado.

Qual a visão que você tem de Cristo? A concepção correta de Cristo surge quando o Espírito Santo age em nossa vida. “Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu pai que está nos céus” (Mt 16.17). Só através de uma ação sobrenatural de Deus em nossas vidas, poderemos sair desta visão periférica, para uma fé plena.

5. Nova natureza – “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17).
Jesus usa uma interessante linguagem ao dirigir-se a Nicodemos: “Necessário te é nascer de novo”. A Palavra no grego para “novo nascimento”, tem, na sua raiz, o termo “gene” de genética, e é traduzido para o português por “regeneração”, e se observamos a raiz desta palavra, veremos que ela também em português tem na sua raiz, o termo “gene”. Na verdade é sobre uma genética espiritual que Jesus está falando. Tem a ver com o DNA da alma.

Nascer de novo é uma obra revolucionária. Muitos já passaram por esta experiência de algo renovador e transformador que lhes aconteceu de dentro para fora, ou de “cima para baixo”. Esta experiência não é exclusividade de um grupo seleto, todos podemos ter. Precisamos nascer de novo.

Paulo fala exatamente disto neste texto: “nova criatura”.
O que acontece com este novo homem? Sua natureza é tocada na essência pela obra de Deus e algo novo e surpreendente acontece na vida.

Surge uma nova realidade de vida. “As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. Se você comete um crime, mesmo depois de ter “pago” por ele, seu currículo fica com uma marca. Em Deus não é assim. Quando alguém nasce de novo, o recorde, o histórico de pecado ou crime é zerado, tudo se faz novo. Para Deus, quando uma pessoa é perdoada, seus pecados são jogados no fundo do mar (Mt 7.18-19). Deus cancela a dívida, tudo está pago e resolvido!

Conclusão:

Alguns anos atrás, num dos grupos de estudo de nossa igreja, havia um homem de muitas posses e que gostava de falar de coisas espirituais. Suas observações e considerações eram sempre feitas com muita reflexão e ponderação, hoje ele é um senador, por um dos estados de nossa federação. Um dia falei sobre a necessidade de morrer para o para o EU, e nascer espiritualmente. Abri a Bíblia e mostrei que o propósito de Deus é uma transformação radical na vida, não apenas um paliativo. Não se tratava de uma reforma, mas de uma transformação. Ele então ponderou: “Pastor, acho que estou perto deste negócio”. Tão direto e educadamente quanto podia, disse-lhe que ele estava equivocado, porque antes desta experiência ele precisava morrer para si mesmo, e este rei que governava a sua vida, que era o seu eu, precisava se render, mas que ele era soberano, e um rei não se curvava com facilidade. O Novo Nascimento é a vida de Deus sendo estampada em nós. Deixamos o centro de nossa vida ser governado por Deus.

Para que esta obra aconteça, um novo homem “criado em Cristo Jesus, em justiça e retidão procedentes da verdade”, precisa nascer, e o velho homem, torto, confuso, narcisista e auto centrado precisa se render. Quando isto acontece, um novo poder, uma nova forca, uma nova e abençoada natureza formada em Cristo, surge na vida.

É interessante enfatizar que está vida está disponível a todos os que desejarem, Hoje você pode orar a Deus dizendo: “Senhor Jesus, reconheço minha fraqueza e impotência, meus deslizes e fracassos, não consigo ser aquilo que o Senhor gostaria que eu fosse. Minha vida tem sido marcada por desacertos, rebelião e fracasso, preciso de um novo nascimento que só o Senhor pode fazer, por isto quero colocar minha vida à disposição do Senhor para a transformação que o Senhor deseja e precisa fazer. Faça de mim uma nova criatura. Eu preciso ser renovado e transformado. Entre na minha casa e na minha vida. Amem!”

Deus quer te fazer novo homem: Esta é a experiência mais revolucionária que pode acontecer em nós, e o maior projeto de vida de um ser humano.

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