terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Jo 10.27 Sussurros de Deus






Introdução:

Jesus afirma: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”. Já encontrei muitas pessoas com dificuldade de entender o significado de ouvir a voz de Deus.

A. Nem sempre aqueles que dizem ouvir a voz de Deus nos inspiram.

Alguns anos atrás, várias crianças desapareceram na cidade de Alexânia-GO, e posteriormente prenderam um homem que dizia ouvir a voz de Deus, e ele explicou que matava as crianças porque ouvia a voz de Deus dizendo que era para fazer isto. Em Novembro de 2014, a justiça de Pernambuco condenou um homem e duas mulheres a longos anos de prisão, que pertenciam a uma seita e haviam matado uma jovem e comido a sua carne porque “Deus” lhes havia dito isto.

B. Existem muitos que falam em nome de Deus, mas nem sempre sao confiáveis.

A Bíblia fala de pessoas que se auto intitulam profetas. Em Dt 18.20 Deus condena aqueles que “presumiam” falar em seu nome. Presumir é assumir que é uma coisa é, mesmo quando não é. Em Jr 23.16 o profeta condena as pessoas que falavam “as visões do seu coração”, dizendo que era Deus quem havia dito e em seguida condena aqueles que “proclamam o engano do próprio coração”(Jr 23.26).

Por causa disto, a Igreja Presbiteriana julga com muita discrição o lugar das profecias e revelações. Apesar de crer na contemporaneidade de todos os dons da Bíblia, não se deixa orientar por profetas e profecias particulares, mas unicamente pela Palavra de Deus.

Existem muitos falando em nome de Deus, mas aprendemos que, na verdade, Deus fala pouco. Por que? Porque ele zela pela sua palavra para cumprir. Nenhuma de suas palavras cai por terra, nem sequer um “i” ou um “til” como nos ensinou Jesus. “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).

Então, como entender a afirmação: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem?”. Como discernir a sua voz?

Muitos afirmam: “Eu queria tanto ouvir a voz de Deus”, outros falam de “sentir”. Confundimos ouvir com um som audível. Neste sentido, eu nunca ouvi a voz de Deus. Confundimos crer com emoção. Se você tem a tendência de se emocionar, certamente isto poderá acontecer, mas fé não é uma questão de sentir, ainda que a emoção esteja muitas vezes aliada ã fé.

C. S. Lewis afirma que a sua conversão foi num momento de muita crise de sentido. Professor de filosofia em Londres ele orou a Deus, sem estar muito certo de o que fazia tinha sentido, nem sequer se Deus de fato existia ou se ele seria capaz de ouvir sua oração e faria algo a respeito de sua vida. Quando terminou de orar afirma que esperava alguma manifestação sobrenatural, mas não ouviu nenhum som, nenhum vento anormal, nem uma sensação de calor ou frio, mas relata que depois desta oração, uma nova realidade de Deus em sua vida começou a surgir.

Eric Clapton, conhecido músico é um grande guitarrista com um estilo de vida destrutivo, nas drogas e na prostituição, mas que relata no seu livro autobiográfico a experiência que teve com Deus.

“Não obstante, atravessei meu mês de tratamento aos trancos e barrancos, a exemplo do que havia feito da primeira vez, apenas riscando os dias que passavam, esperando que algo em mim mudasse sem que eu tivesse que fazer muito por isso. Então, certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro e estava em serio perigo. Fique absolutamente aterrorizado, em completo desespero.

Naquele momento, quase por si mesmas, minhas pernas cederam, e cai de joelhos, na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei de que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.

Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateu provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida, é verdade, mas foi muito mais que isso, encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manha, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.

Se você está perguntando porque faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter inicio, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos com Muddy Waters, HowlinWolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve presente ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele”.

Eric Clapton, A Autobiografia, São Paulo, Ed. Planeta, 2007, pg 280-281

Jesus afirmou: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas e me seguem”.

Isto nos aponta para algumas verdades:

1. As ovelhas de Jesus são capazes de discernir sua voz – Tenho visto muitos me relatando sua trajetória espiritual e sua busca por um significado, e como sua vida foi transformada pela direção de Deus. Antes de terem um encontro com Jesus, muitos se enveredam até mesmo por vias alternativas, esotéricas e místicas, mas tudo o que ouviram nunca fez sentido, mas quando ouviram a Palavra de Deus, disseram: “Era isto que eu estava buscando”, e a partir de então, uma nova realidade de vida, uma nova forma de encarar a vida, surge pela compreensão das verdades do Evangelho.

Tenho visto também o contrário.

Alguns ouvem o Evangelho, às vezes muitos anos, mas nunca tomam decisão espiritual, freqüentam os cultos, saem e entram das reuniões, vão a acampamentos, mas um dia, ouvem outra voz, que não vem do Evangelho e que é profundamente contrária ao evangelho, e isto lamentavelmente faz todo sentido. Por não serem ovelhas de Cristo não foram capazes de discernir sua voz. Ouviram a voz do mercenário e se perderam.

Jesus conhecia muito bem o comportamento de ovelhas.

Ele nasceu numa região onde muitos pastores cuidavam de seus rebanhos. Imagine a cena. Ovelhas juntas se misturam, então, um pastor precisava levar seu rebanho para casa. O que ele fazia? Levantava, chamava suas ovelhas, e aquelas que pertenciam ao seu rebanho o seguiam naturalmente. A tonalidade de voz, o diapasão, era perfeitamente discernível. As ovelhas de outros pastores não o seguiriam, mas suas ovelhas não mais ficariam ali, pois conheciam aquela voz peculiar e sabiam que era hora de seguir seu pastor..

Creio que é neste sentido que Jesus afirma: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem” e ainda afirmou: “Eu tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).

2. As ovelhas que não pertencem a Cristo, não o seguirão “Mas vós não credes, porque não sois minhas ovelhas” (Jo 10.26).

Estas ovelhas, podem até andar no meio do rebanho, podem freqüentar os mesmos pastos, ter certa ambientação, mas não possuem identificação com o pastor e por isto não o seguirão, mas as ovelhas de Jesus o seguirão. “Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (Jo 10.14)

Várias vezes Jesus usa o verbo conhecer, “ginosko”, um conhecimento por interação. Você pode dizer que conhece alguém porque já o viu, já se encontrou com ele, já o cumprimentou, mas isto não significa que de fato o conhece. Você não tem interação pessoal com ele. Conhecer implica em certo nível de relacionamento.

Conta-se que determinado guia turístico estava explicando a profunda relação da ovelha com o pastor, mostrando como elas o seguiam atendendo ao seu chamado, e que uma ovelha não segue adiante do pastor, mas sempre atrás. Então, num determinado momento viram um homem conduzindo as ovelhas com uma vara, empurrando as que queriam voltar, e uma pessoa interpelou o guia. Ele desceu do carro, no calor do deserto, foi até o pastor, e perguntou porque elas estavam se comportando daquela forma, e a resposta que obteve é que aquelas ovelhas não eram suas ovelhas. Ele era açougueiro, não pastor. Ele precisava empurrá-las, porque elas não reconheciam sua voz.

Discernindo a voz

No meio dos clichés evangélicos e de tantas pessoas que afirmam ouvir a voz de Deus, muitos ficam confusos e perguntam: O que devo fazer para discernir a voz de Deus? A resposta é simples: Não se preocupe, se você é ovelha de Cristo você vai ouvir sua voz.

A voz do pastor faz sentido para suas ovelhas. Sua mensagem fará sentido.

Por esta razão prego confiadamente a mensagem de Jesus. Eu prego para as ovelhas de Cristo, mesmo para aquelas que ainda não fazem parte do seu aprisco, porque, ao ouvirem a sua voz, elas o seguirão.

Paulo afirma que sua missão era “promover a fé que é dos eleitos” (Tt 1.1). Acho interessante esta ideia: “promover a fé”. A mensagem não “gera” fé, mas a promove. A fé já está incubada lá dentro do coração, e ao ouvirem a mensagem ela desperta os eleitos de Deus para reconhecerem a voz do bom pastor e responderem a sua voz. Por isto a Palavra de Deus registra que após a pregação do evangelho em Antioquia “creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). As ovelhas de Cristo sempre identificam sua voz.

Sussurros de Deus

Bill Hybels fala da necessidade de discernir os “sussurros de Deus” e de estarmos atentos para o que ele deseja comunicar. Certo dia, ele andava pela rua quando viu um carro com uma grande antena, certamente para alcançar uma determinada freqüência que não deveria ser muito fácil, e ele ficou perguntando que freqüência aquele dono do carro queria alcançar que o obrigava a ter uma antena tão grande? De repente ele percebeu que é isto que precisamos fazer. Precisamos ficar antenados aos sussurros, orientações e direções que Deus quer nos dar. Ele deseja nos falar, precisamos estar atentos.

Não espere, portanto, uma voz audível de Deus, mas esteja atento ao seu desejo de nos comunicar sua mensagem, nos ensinar e nos atrair para perto de si.

Conheci um grupo de jovens cristãos, que se assentavam juntos e perguntavam uns aos outros. “Que impressões de Deus você tem tido em sua vida? O que Deus tem lhe falado na sua Palavra, você ouviu alguma música ou algo esta semana que o fez desejar se aproximar mais de Deus? Que conversa você teve que o encorajou e o estimulou a seguir mais de perto o bom pastor?

Conclusão:

As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”. Quem discerne a voz de Cristo no meio de tantos ruídos, tantos chamados de diferentes tonalidades e sons? Será que temos aprendido a discernir a voz de Deus nestes dias? A voz do pastor é inconfundível e suas ovelhas a ouvem e o seguem por causa disto.

As ovelhas de Jesus não serão atraídas pela voz daquele que é mercenário, porque só serão atraídas pela voz do pastor amado.

Ouça os sussurros de Deus. Ele pode estar convidando você a se arrepender de seus pecados, a mudar seu relacionamento em casa, a sair de ambientes que estão destruindo espiritualmente sua vida, talvez ele esteja dizendo algo relacionado ao seu estilo de vida, melhor administração de seus bens, convidando-o para parar e silenciar sua alma para perceber a direção que ele deseja dar à sua vida.

Não se distrai com os sons e vozes que gritam tão alto exigindo sua atenção e tempo. Volte-se para o Senhor, peça-lhe que oriente a sua vida.




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