terça-feira, 14 de abril de 2015

Mt 24.1-2 Quando sucederão estas coisas?





Introdução:

Este capítulo fala do sermão escatológico de Cristo, um dos seus sermões mais famosos. O termo escatológico refere-se ao “escaton”, ou às ultimas coisas. Jesus revela aos seus discípulos as últimas coisas que haverão de acontecer.

Neste texto Jesus fala de 4 áreas:
                  a. A destruição do templo de Jerusalém
                  b. As perseguições e a grande tribulação
                  c. A segunda vinda em glória para julgar o mundo
                  d. A Necessidade de vigilância

Estudar o sermão escatológico é importante, porque há muita especulação sobre a segunda vinda de Cristo. Muitos pregadores imaginativos se utilizam de textos enigmáticos e simbólicos, para fazer um sequenciamento da vinda de Cristo, a partir de textos simbólicos e proféticos, quando na verdade, seria muito mais fácil seguir a sequencia que o Senhor Jesus nos apresenta, e a ordem como as coisas se sucederão.

O princípio da dores

Jesus deixa claro que estes sinais ainda não falavam do fim, mas do “princípio do fim”. “É necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (Mc 13.7. Em Mt 24.8 lemos: “Porém tudo isto é o princípio das dores”.

O que motivou este sermão?
Jesus fez uma dura análise da condição espiritual de Jerusalém (Mt 23.37-39). Só existem duas vezes que Jesus chora na Bíblia, e esta é uma delas. Jerusalém não havia reconhecido a oportunidade da visitação de Deus sobre suas vidas. A discussão escatológica se deu depois da admiração dos discípulos pela beleza do templo (Mt 24.1,2) A partir daí inicia-se o “sermão”.

A primeira declaração de Cristo foi acerca da destruição do templo de Jerusalém.

Este era o templo que Herodes o Grande iniciou sua restauração desde 19 a.C. Este Herodes não era o mesmo dos dias da crucificação de Cristo (ano 30). O primeiro foi o responsável pela matança dos inocentes em Belém, o segundo, seu filho Herodes, Antipas, participou de seu julgamento.
Este templo não era tão grande e glorioso quanto o de Salomão, mas com muito ouro, prata, mármore. Herodes, o Grande, era idumeu, e não havia comprovação genealógica de que descendesse dos judeus, então, para ser agradável aos judeus, tomou algumas medidas populares como a construção do templo, porque isto trazia ganhos políticos.
Herodes não poupou recursos. O muro que cercava o templo era de enormes pedras brancas.Os discípulos na certa não queriam acreditar que o Templo de Deus seria destruído e arrasado outra vez.eles estavam impressionados com a arquitetura do templo e sua grandeza, mas Jesus não está nem um pouco impressionado com sua imponência e profetiza sua destruição em termos fortes (Mc 13.2). Isto parece chocar os discípulos, porque quando chegaram ao Monte das Oliveiras para passar a noite, os 3 discípulos mais chegados se aproximam com duas perguntas:

            A. Quando sucederão estas coisas?

            B. Quais seriam os sinais?


O interesse dos discípulos fazia sentido porque o templo ocupava lugar central na teologia judaica. Nele ficava o santo dos Santos, local concreto da presença de Deus – representava toda a religião do Antigo Testamento. Tudo convergia para o templo. Nele se ofereciam os sacrifícios diários a Deus. Ali ministravam os sacerdotes. José e Maria levaram Jesus para a circuncisão, no oitavo dia, com o sacrifício adequado para ser imolado. Um casal de rolinhas, quando se tratava de uma família pobre.
Jesus anuncia que a destruição do Templo estava associada com o início de uma nova era, a que daria início ao fim do mundo.era o “principio das dores”. Em Mt 24.3, a pergunta inclui “consumação do século”. “Quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt 24.3). Este século é o termo “eon”, que dá ideia de uma era, ou um tempo, e não um período fechado de cem anos, como normalmente pensamos.

O que Jesus profetizou acerca do Templo?

1. O templo seria arrasado. “Não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada”(Mc 13.2).
2. Jerusalém seria cercada de exércitos, com trincheiras contra ela (Lc 19.41-43). A cidade seria queimada e arrasada, e a população massacrada.
Jesus chora ao antecipar esta dolorida visão da destruição de Jerusalém e do templo (Lc 19.41), ele afirma que isto seria resultado da rebeldia do povo em não reconhecer a oportunidade da visitação de Deus (Lc 19.44).

A exatidão profética
Tudo aconteceu exatamente como Jesus afirmou. 36 anos depois, os judeus se rebelaram novamente contra os romanos, e o Imperador Vespasiano mandou o exército romano à Palestina, sob o comando do general Tito, seu filho, que mais tarde seria imperador.Os exércitos romanos vieram até Jerusalém em 66 e a cercaram durante três anos.No ano 70, Jerusalém caiu, e os romanos a destruíram completamente, juntamente com o Templo. Mais de um milhão de judeus que haviam se refugiado em Jerusalém foram massacrados. Existe ainda hoje nas ruínas de Roma um Arco de Tito, comemorando a vitória contra os judeus. Apenas um pequeno grupo da resistência se manteve por mais 2 anos, em Massada, e para não serem apanhados pelos romanos, decidiram entre si fazer um suicídio coletivo. Ainda hoje, o lema do exercito judeu é “Massada, nunca mais!”
Josefo, comandante judeu na Galiléia foi vencido e poupado pelos romanos, sendo recebido e tratado com muito favor pelo Imperador. Ele mudou seu nome para Flávio Josefo e passou o resto de seus dias em Roma, onde escreveu duas obras extraordinárias: As Guerras Judaicas e Antiguidade Judaicas.

Em Guerras Judaicas ele narra como testemunha ocular a destruição do Templo de Jerusalém:

“Aquela construção, que era o Templo, Deus havia sentenciado há muito para o fogo. E agora havia chegado o dia fatídico. Um dos soldados, sem esperar a ordem e sem temer o que haveria de fazer, mas movido por um impulso sobrenatural, tomou um tição de fogo da madeira que ardia, e ajudado por um companheiro, lançou o petardo terrível através de uma das janelas douradas do templo. Quando as chamas cresceram, um grito, tão agudo quanto a tragédia, ouviu-se da parte dos judeus, pois aquilo que haviam guardado tão cuidadosamente estava para ser destruído”.

“Enquanto o santuário ardia em chamas, não se mostrava misericórdia pela idade nem posição social. Ao contrário, crianças e velhos, leigos e sacerdotes iam sendo massacrados igualmente”

“O imperador determinou que a cidade inteira e o templo fossem arrasados até aos fundamentos, com exceção das torres altas de Fasael, Hípico e Mariame, e aquela parte da muralha que cerca a cidade pelo oeste. O resto da muralha foi de tal forma nivelada a não deixar aos futuros visitantes qualquer indicação de que ali, antes, tinha sido um local habitado”. [nota: escavações feitas em 1968 desenterraram muitas das pedras que foram derrubadas do muro do templo e da cidade]


Aplicações:

A. As palavras proféticas de Jesus cumpriram-se integralmente. As profecias são tão exatas que muitos não aceitam que Jesus tenha realmente pronunciado estas palavras, mas que trata-se de “vaticia ex eventu”. Não crêem que Jesus teria dito isto, mas sim os discípulos. Partem da ideia que Deus não poderia ter dado este conhecimento antecipado a Jesus, mas aqueles que creem na profecia bíblica, não encontram qualquer problema em reconhecer a autenticidade destes registros. Este texto alerta aqueles que tem duvida sobre a autenticidade da Bíblia. “Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i nem til jamais passará até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).

B. A destruição do templo foi o julgamento de Deus contra a incredulidade e rebeldia do seu povo. Jesus sabia que isto se daria, por isto chora e lamenta pela cidade (Mt 23.37). Os romanos foram instrumentos de Deus para executar juízo.

C. A destruição do templo inaugura uma nova dispensação - Não mais baseada nas cerimônias e rituais do Templo. O véu foi rasgado, de cima a baixo, na morte de Cristo. Ele não habita em templos humanos, nem em lugares sagrados. “Vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores do pai o adorarão em espírito e em verdade, porque são estes adoradores que o pai procura para si” (Jo 4.23-24). A partir dos anos 70 d.C. toda religiosidade centrada no templo deixa de existir. Curiosamente, até aquela data, até mesmos os judeus cristãos de Jerusalém ainda iam ao templo e realizavam cerimônias judaicas.
Para aqueles que crêem na restauração física do templo, e a volta dos sacrifícios em Jerusalém, fica uma pergunta de difícil resposta: Por que o templo será restaurado, se o próprio Deus permitiu a sua destruição? Caso isto se concretizasse, não seria novamente um centro de peregrinação e idolatria, com forte despreza da obra de Cristo? Qual o sentido da obra de Cristo, se os sacrifícios novamente forem realizados?
O sionismo cristão aguarda fortemente que se cumpra esta profecia de Zacarias, que acreditam será para os dias da volta de Cristo, que reinará fisicamente em Jerusalém e reconstruirá o templo de Salomão. Será que estas declarações fazem sentido na visão geral das Escrituras e do Plano de Deus para a história?

D. Não devemos ficar impressionados com a beleza de coisas passageiras, pois tudo é transitório. Os discípulos estavam admirados com o templo. Jesus diz: “Não ficará pedra sobre pedra”. Paulo faz interessante analogia entre a Antiga e nova aliança, em 2 Co 3.1-11 mostrando o contraste entre as mesmas:

                   A Antiga Aliança                                             A Nova Aliança
                    Tábuas de pedra                                             Tábuas de carne
                     Letra Espírito                                                    vivificante
                        Morte                                                                  Vida
                  Desvanescente                                                        Perene
                    Condenação                                                          Glória

Aos que acreditam numa futura reconstrução do templo de Jerusalém como parte do plano de para Israel, é bom lembrar Deus está construindo um novo povo, inscrevendo sua mensagem em seus corações, habitando não em templos e catedrais, mas no coração do contrito e abatido de espírito.
E. Este texto é um alerta aos que vivem de forma descuidada. Jesus chora por Jerusalém por não reconhecer a oportunidade da visitação de Deus. Ele andou entre eles, mas ainda assim continuaram rebeldes e displicentes, abusaram da paciência de Deus. Firmaram-se em falsos pressupostos de que Deus habitava entre eles e fizera ali sua morada, e nada lhes aconteceria, pensaram que sua eleição garantia imunidade, e que Deus era somente amor e não os castigaria. O juízo veio, a oportunidade foi tirada. Jerusalém destruída, o templo arrasado.

E isto é ainda, apenas o princípio das dores...

Um comentário:

  1. MUITO BOM E ESCLARECEDOR. DEUS CONTINUE USANDO A SUA VIDA REV. SAMUEL COM SABEDORIA E GRAÇA NA VIDA DO POVO DE DEUS.

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