segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dt 6.10-25 Desafios de um novo tempo




Introdução:

Estas palavras foram proferidas no portão da Terra prometida. Moisés estava na Transjordânia, no deserto de Arabá  (Dt 1.1), e estava tentando fixar a Lei no coração do povo de Israel. O nome “Deuteronômio”, o quinto livro da Torah (livros da lei), na verdade significa “repetição da Lei”. Como sabemos, Moisés não entrou na terra prometida, mas a contemplou do monte Pisga (Dt 3.27). Seu discurso é apaixonado, de um líder que fala com o coração de quem gostaria de entrar (Dt 4.1).
Este livro, especialmente este texto, reflete a preocupação de Moisés de que o povo de Israel, que ele liderou por 40 anos, uma vez dentro da terra prometida, já sem a tensão das guerras e sem uma liderança forte, perdesse sua identidade, e se afastasse do caminho do seu Deus, tornando-se como o povo da terra de Canaã. Por isto ele enfatiza a Lei. Todos estes mandamentos são repetidos para serem fixados no coração do povo e assim observados.

O perigo que o povo de Israel enfrentou, tem sido sempre o perigo da Igreja de Deus no decorrer da história. A perda da identidade. Moisés percebia que o contato com outra cultura, as facilidades e riquezas que adviriam de um prospero país, pudesse impactar o povo de Israel, Se isto foi verdade naquela época imagine hoje quando os valores encontram-se tão fragilizados.
Jacques Ellul afirma: “A Igreja hoje, já não interpreta o certo e o errado para a sociedade. A Igreja não é convidada a desaparecer, mas somente a ocupar um espaço no anfiteatro da sociedade”. (The new demons). Ricardo Gondim afirmou: “Quando uma sociedade julga a Igreja psicologicamente útil mas não verdadeiramente real, ficamos restritos a ser, apenas o confeito do bolo da vida. Damos beleza, adoçamos, mas não somos essenciais na receita” e Rubem Amorese completa esta visão afirmando: “O mundo mudou mais nos últimos 40 anos que em 40.000 anos anteriores”.
Todas estas advertências acima mostram que estamos vivendo dias de perigo. Estamos lidando com realidades novas, novos conceitos, tempo novo, mundo novo. Ecoa na nossa mente a afirmação de Tolkien em “A Sociedade dos anéis” afirmando: “O tempo está mudando”.

O que fazer diante de tantos desafios?
Analisando o texto, encontramos algumas semelhanças entre aquela terra e o mundo atual:
·         Era a terra pela qual anelaram os ancestrais - vs. 10. Nossos pais e avós também sonharam com um mundo com as características do nosso:
à         Comunicação mais acessível
à         Medicina mais avançada;
à         Maiores possibilidades para os oprimidos, desprivilegiados, discriminados: negros, mulheres, etc.
à         Transporte mais veloz, rápido e eficaz
Isto nos traz uma profunda similaridade conosco. Moisés afirma que isto era resultado da graça de Deus - vs.11

Quais são os perigos do conforto, bem estar e segurança?

1. Nos encantarmos com as novidades da terra e nos esquecermos de Deus - 10-12
-As bençãos da nova terra eram imensas, todavia elas poderiam servir-lhes de tentação e fazê-los esquecerem-se de Deus.
*         As facilidades da nova vida podem levar-nos a relaxar a disciplina;
*         A liberdade da nova terra nada parecia com o Egito, tempos de opressão, escravidão e angústia

Em dias de bonança e de conforto, de riquezas e bens em abundância, corremos o risco de:

a)       Desprezo da vida devocional - Bíblia e oração;
b)       Perda das referências e absolutos - Cada um tem a verdade para si (subjetivismo, relativismo, pluralismo e sincretismo)
c)       Afirmação social - Não lutamos mais pelas necessidades, mas desejos. Criamos necessidades e aspiramos por elas.
d)      Relacionamentos superficiais - Falta de amizades profundas. Amor líquido.
e)       Imediatismo - Geração micro ondas e fast-food.
f)        Quebra de valores familiares – Muitos pais e mães provendo, buscando um estilo de vida mais sofisticado, mas poucos tempo tempo para nutrir e cuidar. No desejo de uma vida mais confortável saímos desesperadamente para o mercado de trabalho e nos esquecemos dos afetos.
g)       Substituição da presença pelos presentes. Nossos filhos estão cheios de coisas, entulhados de roupas e brinquedos caros, mas não tem a presença do pai e da mãe.
h)      Crentes, sem vínculos comunitários. Como uma celebre frase em inglês afirma “Believers, but not belongers”. Crentes, sim; mas sem engajamento com uma igreja local, desenvolvendo uma fé virtual, mística e supersticiosa.

2. Adotarmos um estilo de vida que aborrece a Deus – (Dt 6.13-19). Este é o segundo risco que   Moisés percebe. Ele tinha preocupação que o povo de Deus adotasse um estilo de vida dos habitantes de Canaã e que aquilo trouxesse a ira de Deus sobre eles. Como?
a)       Praticando uma adoração politeísta - Adultério espiritual - 13-14
b)       Andando nos mesmos erros de seus pais – Murmurando e reclamando contra Deus - vs. 16
c)       Não guardando os mandamentos do Senhor - vs.17
d)      Abrindo mão da preocupação em agradar a Deus - vs.18

Todas estas preocupações são extremamente atuais em nossos dias.
¨       Talvez não adoremos ídolos da madeira e barro, mas adoramos a profissão, entronizamos o lazer, endeusamos as posses e entretenimentos;
¨       Vivemos uma vida de murmuração e ingratidão - salário, família, Igreja.
¨       Pouquíssimas diferenças são notadas entre o crente e o incrédulo: desistimos de influenciar e aceitamos a influência do mundo: na moda, negócios, soberba, relacionamentos, moral, etc.

Como nos imunizarmos?
Percebendo todos estes riscos, Moisés estabelece uma liturgia de vida para o povo de Israel, que consistia em se proteger contra a tentação do conforto e bem estar neste novo mundo.

  1. Vigilância pessoal –Moisés apela ao povo: “Guarda-te, para que não esqueças o Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão” (Dt 6.12). Precisamos estar atentos porque o risco é real, não podemos nos descuidar. C.H. Spurgeon afirmou: “A espada do julgamento deve dirigir-se primeiramente a nós”. D.L. Moody faz alerta semelhante: “Gosto das pessoas que pedem orações por si mesmas, é onde em geral, são mais necessárias”. (Em resposta a alguém que em uma reunião, após tantos pedidos dos presentes por outros, pediu para que orassem por si mesmos).
A exortação Paulina se torna extremamente relevante aos nossos dias: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16).

  1. Comprometimento com a Palavra do Senhor – “Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os estatutos que te ordenou” (Dt 6.17). Não apenas guardar de forma displicente e descuidada, mas ser diligente na obediência. Eventualmente somos relaxados e desatentos, e precisamos nos lembrar que o abandono da Palavra do Senhor é sempre o princípio da queda do povo de Deus.
Quando se está em uma rodovia, a garantia de uma viagem segura, passa pela obediência as placas de sinalização. Os mandamentos dados por Deus são assim também: “Guardo no meu coração as tuas palavras para não pecar contra ti” (Sl 119.11).

Quais os resultados de conservarmos nossa identidade?

  1. Impacto na próxima geração – “Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão” (Dt 6.20-21). A próxima geração precisa saber da nossa identidade em Deus, a que povo pertencemos.
Lamentavelmente isto não aconteceu. Logo após a morte de Josue, a Bíblia diz: “Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obra que fizera a Israel” (Jz 2.10). De uma geração para outra, a identidade do povo de Deus se perdeu. E estes filhos se esqueceram do Senhor e serviram a Baal e Astarote (Jz 2.13).
Nossa identidade precisa estar clara em nós, para que sejamos capazes de comunicar aos nossos filhos.

  1. Continuidade das bençãos – “Será por nós, justiça, quando tivemos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor, nosso Deus, como nos tem ordenado” (Dt 6.25)
Deus não tem compromisso com infidelidade.
A infidelidade traz correção, disciplina, impede as bençãos sobre nossas vidas.
Existe um cântico que diz: “Eu não correrei atrás de bençãos, sei que elas vão me alcançar”. Muitas vezes estamos preocupados com as bençãos de Deus, quando deveríamos nos preocupar com nossa fidelidade. Deus sempre abençoou seu povo. Ficamos obcecados com as bençãos de Deus e facilmente nos esquecemos do Deus da benção. Nunca nos deveríamos nos preocupar com provisões ou qualquer outro cuidado, porque Deus sabe do que necessitamos antes que lho peçamos. Deveríamos, sim, estar preocupados com nossa fidelidade.

Conclusão
O Dr. D.M.Lloyd Jones certa vez afirmou:
“Aquilo que a Igreja mais necessita, não é organizar mais campanhas de evangelização a fim de atrair pessoas que estão do lado de fora, mas começar ela mesma a viver a vida cristã”.
Este princípio aplica bem à nossa vida.

Deus é fiel!

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