Introdução:
Estas palavras
foram proferidas no portão da Terra prometida. Moisés estava na Transjordânia,
no deserto de Arabá (Dt 1.1), e estava
tentando fixar a Lei no coração do povo de Israel. O nome “Deuteronômio”, o
quinto livro da Torah (livros da lei), na verdade significa “repetição da Lei”.
Como sabemos, Moisés não entrou na terra prometida, mas a contemplou do monte
Pisga (Dt 3.27). Seu discurso é apaixonado, de um líder que fala com o coração
de quem gostaria de entrar (Dt 4.1).
Este livro,
especialmente este texto, reflete a preocupação de Moisés de que o povo de
Israel, que ele liderou por 40 anos, uma vez dentro da terra prometida, já sem
a tensão das guerras e sem uma liderança forte, perdesse sua identidade, e se
afastasse do caminho do seu Deus, tornando-se como o povo da terra de Canaã. Por
isto ele enfatiza a Lei. Todos estes mandamentos são repetidos para serem fixados
no coração do povo e assim observados.
O perigo que o
povo de Israel enfrentou, tem sido sempre o perigo da Igreja de Deus no
decorrer da história. A perda da identidade. Moisés percebia que o contato com
outra cultura, as facilidades e riquezas que adviriam de um prospero país,
pudesse impactar o povo de Israel, Se isto foi verdade naquela época imagine
hoje quando os valores encontram-se tão fragilizados.
Jacques Ellul
afirma: “A Igreja hoje, já não interpreta o certo e o errado para a sociedade.
A Igreja não é convidada a desaparecer, mas somente a ocupar um espaço no
anfiteatro da sociedade”. (The new demons). Ricardo Gondim afirmou: “Quando uma
sociedade julga a Igreja psicologicamente útil mas não verdadeiramente real,
ficamos restritos a ser, apenas o confeito do bolo da vida. Damos beleza,
adoçamos, mas não somos essenciais na receita” e Rubem Amorese completa esta
visão afirmando: “O mundo mudou mais nos últimos 40 anos que em 40.000 anos
anteriores”.
Todas estas
advertências acima mostram que estamos vivendo dias de perigo. Estamos lidando
com realidades novas, novos conceitos, tempo novo, mundo novo. Ecoa na nossa
mente a afirmação de Tolkien em “A Sociedade dos anéis” afirmando: “O tempo
está mudando”.
O que fazer
diante de tantos desafios?
Analisando o
texto, encontramos algumas semelhanças entre aquela terra e o mundo atual:
·
Era a terra pela qual anelaram os ancestrais - vs. 10.
Nossos pais e avós também sonharam com um mundo com as características do
nosso:
à
Comunicação mais acessível
à
Medicina mais avançada;
à
Maiores possibilidades para os oprimidos,
desprivilegiados, discriminados: negros, mulheres, etc.
à
Transporte mais veloz, rápido e eficaz
Isto nos traz
uma profunda similaridade conosco. Moisés afirma que isto era resultado da
graça de Deus - vs.11
Quais são os
perigos do conforto, bem estar e segurança?
1. Nos encantarmos com as novidades da terra e nos
esquecermos de Deus - 10-12
-As bençãos da
nova terra eram imensas, todavia elas poderiam servir-lhes de tentação e
fazê-los esquecerem-se de Deus.
*
As facilidades da nova vida podem levar-nos a relaxar
a disciplina;
*
A liberdade da nova terra nada parecia com o Egito,
tempos de opressão, escravidão e angústia
Em dias de
bonança e de conforto, de riquezas e bens em abundância, corremos o risco de:
a)
Desprezo da vida devocional - Bíblia e oração;
b)
Perda das referências e absolutos - Cada um tem a
verdade para si (subjetivismo, relativismo, pluralismo e sincretismo)
c)
Afirmação social - Não lutamos mais pelas
necessidades, mas desejos. Criamos necessidades e aspiramos por elas.
d)
Relacionamentos superficiais - Falta de amizades
profundas. Amor líquido.
e)
Imediatismo - Geração micro ondas e fast-food.
f)
Quebra de valores familiares – Muitos pais e mães provendo,
buscando um estilo de vida mais sofisticado, mas poucos tempo tempo para nutrir
e cuidar. No desejo de uma vida mais confortável saímos desesperadamente para o
mercado de trabalho e nos esquecemos dos afetos.
g)
Substituição da presença pelos presentes. Nossos
filhos estão cheios de coisas, entulhados de roupas e brinquedos caros, mas não
tem a presença do pai e da mãe.
h)
Crentes, sem vínculos comunitários. Como uma celebre
frase em inglês afirma “Believers, but not belongers”. Crentes, sim; mas sem
engajamento com uma igreja local, desenvolvendo uma fé virtual, mística e
supersticiosa.
2. Adotarmos um estilo de vida que aborrece a Deus – (Dt 6.13-19). Este é o segundo risco que Moisés percebe. Ele tinha preocupação que o
povo de Deus adotasse um estilo de vida dos habitantes de Canaã e que aquilo
trouxesse a ira de Deus sobre eles. Como?
a)
Praticando uma adoração politeísta - Adultério
espiritual - 13-14
b)
Andando nos mesmos erros de seus pais – Murmurando e
reclamando contra Deus - vs. 16
c)
Não guardando os mandamentos do Senhor - vs.17
d)
Abrindo mão da preocupação em agradar a Deus - vs.18
Todas estas
preocupações são extremamente atuais em nossos dias.
¨ Talvez não adoremos ídolos da madeira e barro, mas adoramos a profissão,
entronizamos o lazer, endeusamos as posses e entretenimentos;
¨ Vivemos uma vida de murmuração e ingratidão - salário, família, Igreja.
¨ Pouquíssimas diferenças são notadas entre o crente e o incrédulo:
desistimos de influenciar e aceitamos a influência do mundo: na moda, negócios,
soberba, relacionamentos, moral, etc.
Como nos imunizarmos?
Percebendo todos
estes riscos, Moisés estabelece uma liturgia de vida para o povo de Israel, que
consistia em se proteger contra a tentação do conforto e bem estar neste novo
mundo.
- Vigilância pessoal –Moisés
apela ao povo: “Guarda-te, para que não
esqueças o Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”
(Dt 6.12). Precisamos estar atentos porque o risco é real, não podemos nos
descuidar. C.H. Spurgeon afirmou: “A espada do julgamento deve dirigir-se
primeiramente a nós”. D.L. Moody faz alerta semelhante: “Gosto das pessoas
que pedem orações por si mesmas, é onde em geral, são mais necessárias”. (Em
resposta a alguém que em uma reunião, após tantos pedidos dos presentes
por outros, pediu para que orassem por si mesmos).
A exortação Paulina
se torna extremamente relevante aos nossos dias: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque,
fazendo assim, salvarás a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16).
- Comprometimento com a Palavra do Senhor – “Diligentemente, guardarás os
mandamentos do Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os estatutos que
te ordenou” (Dt 6.17). Não apenas guardar de forma displicente e
descuidada, mas ser diligente na obediência. Eventualmente somos relaxados
e desatentos, e precisamos nos lembrar que o abandono da Palavra do Senhor
é sempre o princípio da queda do povo de Deus.
Quando se está
em uma rodovia, a garantia de uma viagem segura, passa pela obediência as
placas de sinalização. Os mandamentos dados por Deus são assim também: “Guardo no meu coração as tuas palavras para não
pecar contra ti” (Sl 119.11).
Quais os resultados de conservarmos nossa identidade?
- Impacto na próxima geração – “Quando teu filho, no futuro, te
perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos
que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos
servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão”
(Dt 6.20-21). A próxima geração precisa saber da nossa identidade em
Deus, a que povo pertencemos.
Lamentavelmente
isto não aconteceu. Logo após a morte de Josue, a Bíblia diz: “Foi também congregada a seus pais toda
aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o
Senhor, nem tampouco as obra que fizera a Israel” (Jz 2.10). De uma geração
para outra, a identidade do povo de Deus se perdeu. E estes filhos se
esqueceram do Senhor e serviram a Baal e Astarote (Jz 2.13).
Nossa identidade
precisa estar clara em nós, para que sejamos capazes de comunicar aos nossos
filhos.
- Continuidade
das bençãos – “Será por nós, justiça, quando tivemos cuidado
de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor, nosso Deus, como nos
tem ordenado” (Dt 6.25)
Deus não tem compromisso
com infidelidade.
A infidelidade
traz correção, disciplina, impede as bençãos sobre nossas vidas.
Existe um cântico
que diz: “Eu não correrei atrás de bençãos, sei que elas vão me alcançar”. Muitas
vezes estamos preocupados com as bençãos de Deus, quando deveríamos nos
preocupar com nossa fidelidade. Deus sempre abençoou seu povo. Ficamos
obcecados com as bençãos de Deus e facilmente nos esquecemos do Deus da benção.
Nunca nos deveríamos nos preocupar com provisões ou qualquer outro cuidado,
porque Deus sabe do que necessitamos antes que lho peçamos. Deveríamos, sim,
estar preocupados com nossa fidelidade.
Conclusão
O Dr. D.M.Lloyd Jones certa vez afirmou:
“Aquilo que a
Igreja mais necessita, não é organizar mais campanhas de evangelização a fim de
atrair pessoas que estão do lado de fora, mas começar ela mesma a viver a vida
cristã”.
Este princípio
aplica bem à nossa vida.
Deus é fiel!
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