Introdução:
Como está o seu trabalho:
Monótono? Cansativo? Exploratório? Repetitivo? Alguns dias atrás conversava com
um rapaz que está começando a sua vida profissional, que me disse em tom de
desabafo: “Estou pronto para aposentar!”
Não faz muitos dias que conversei
com minha esposa sobre este negócio de “parar as atividades”. Justificava
minhas idéias dizendo que desde os 17 anos estou envolvido com ministério, e
agora, aos 53 anos, depois 36 anos de trabalho, sinto que o fôlego vai diminuindo
consideravelmente. Só de ordenação ao pastorado já são 32 anos... E ela ficou insistindo
comigo de que estou muito jovem, e que é cedo para pensar em aposentadoria. Infelizmente
não chegamos a um acordo sobre o assunto...
Meu amigo e diácono da igreja,
Batista Lacerda, me provocou contando a seguinte estória:
Dos 0-10 anos:
Brinque o máximo que puder
Dos 10-20: Estude o
máximo que puder
Dos 20-30: Aperfeiçoe
o máximo que puder
Dos 30-40 anos: Ganhe
o máximo de dinheiro que puder
Dos 40-50: Lidere o
máximo que puder
Dos 50 em diante: Vá
saindo de mansinho, o máximo que puder.
Afinal, “trabalhar nunca matou ninguém, mas porque se arriscar?”
Por que o trabalho facilmente
perde o sentido?
O pregador afirma neste texto: “Aborreci todo o meu trabalho?”
Por que isto nos acontece?
- O trabalho
perde o sentido, quando não encontramos sentido maior, ou significado,
naquilo que fazemos – Serviços meramente repetitivos e monótonos levam
as pessoas a se aposentarem na hora em que podem: Isto inclui bombeiros,
encanadores, pedreiros, metalúrgicos, etc. Isto tem acontecido também com
serviços desgastantes como professor e funções que exigem muita adrenalina
como juízes e afins.
É muito comum também quando o seu
trabalho é apenas um meio de sobrevivência, e não há uma concepção de vocação e
chamado embutido nele. Por isto, "a questão não é "quanto esta pessoa
trabalha? a questão é: quanto esta pessoa realiza?" (Pear James).
Quando se perde o significado do
que se faz, os motivos tornam-se superficiais, até mesmo ganhar dinheiro deixa
de ser importante. Por isto, o fator motivacional do trabalho é o entusiasmo.
Embora dinheiro seja importante, ele não é definitivo para a vida.
Paul Steves é professor no
Regente College, em Vancouver, e antes de ser convidado para assumir sua
cadeira de teologia e espiritualidade, foi pastor, e posteriormente, construtor
de casas. Ele afirma que sua crise inicial quando saiu do pastorado para se
tornar empresário, estava ligado ao chamado: “Isto é um trabalho sagrado?
Glorifica a Deus?”
O trabalho deixa de ter
significado quando é feito apenas com a intenção de lucro. Eis como Salomão
descreve suas crises existenciais:
- Ele vê que vai trabalhar para produzir
riqueza para os outros – “Porque
há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo
deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou: também
isto é vaidade e grande mal” (Ec 2.21). No vs 18 afirma ainda que “o seu ganho eu o havia de deixar a quem
viesse depois de mim”. Em outras palavras, vai trabalhar para outros.
Um episódio me chamou a atenção
sobre este assunto: uma amiga nossa dizia que descobriu que seu marido, que
estava ganhando um bom dinheiro, não gostava nem dela, nem dos filhos, mas da
nora e genro que viriam, porque estava ganhando para acumular. Esta é a
sensação pesada que Salomão expõe neste texto: Vai trabalhar para enriquecer
outros.
- Ele vê o trabalho como fadiga, não como
realização – Por isto afirma que seu trabalho era “o ganho de minhas fadigas” (Ec
2.19).
É certo que trabalho tem esta
dimensão do labor, do suor, da perseverança e vontade, mas trabalho também
precisa encontrar a dimensão da realização enquanto pessoa. A Sociologia do
trabalho ensina que o homem só pode exprimir-se e expandir-se na coletividade
em que exerce sua atividade profissional.
Estava conversando com alguém da
família, cuja idade está rondando os 70 anos. Ele possui uma micro empresa com
cerca de 30 funcionários, prestando serviço ao governo. Lidar como prestador de
serviços não é algo fácil, e administrar gente exige também outra dose muito
grande de habilidade e tenacidade. Sua empresa poderia facilmente ser vendida
por algo em torno de 1.5 milhão de dólares, que aplicados no mercado
financeiro, poderia lhe render fácil algo em torno de R$ 30 mil reais. Não é
algo para se jogar fora. Quando lhe perguntei se isto não passava pela sua
cabeça ele disse que sim, mas que ficava preocupado com seus funcionários,
afinal de contas, seriam 30 familias que seriam afetadas.
Creio que este empresário cristão
estava vislumbrando no que fazia, algo além de ganhar dinheiro: Estava
considerando o beneficio social daquilo que fazia.
O autor de Eclesiastes não
conseguia perceber esta dimensão, por isto afirmou que o desespero nesta linha
de raciocínio sobre o trabalho, era a ponta final (Ec 2.20). desespero é o
contrario de significado e esperança. Sem esta visão do trabalho, ele se torna algo monótono e vazio.
- O trabalho se torna vazio, quando o
coração e a vida também encontram-se vazios. O autor de
Eclesiastes está vivendo neste paradigma da falta de sentido. Tudo lhe
parecia vaidade e correr atrás do vento, afinal “todos os dias são dores” (Ec 2.23). Por esta razão, todas as demais coisas se tornam assim
vazias, afinal, para o amargo, todos os dias são maus.
Em última instância, o problema
não é o que você faz, mas como você tem vivido e interpretado sua vida.
Bill Gaither conta que seu pai
foi funcionário de uma mesma empresa por 37 anos. Era um metalúrgico. Acordava
cedo, pegava seu cartão, colocava na roupa, e fazia a mesma rotina, sem
reclamar, nem murmurar. Com o seu trabalho, criou toda família, servindo sua
igreja local, sustentando seus filhos, ajudando os outros. Apesar de ser um
trabalho tão simples, ele havia encontrado sentido maior na vocação que tinha
como filho de Deus.
Tenho discutido isto com minha
esposa. Quando as coisas se tornam pesadas, cansativas, ou as exigências se
acumulam, pergunto a mim mesmo: “Mudar de cidade?”, “ganhar mais?”,
“providenciar uma nova função?”. E a resposta que encontro é que pepino de
horta nova, não muda o gosto por ser produzido em terra diferente. Continua
sendo pepino. Muitas vezes, o desejo de mudança tem a ver com o coração
insatisfeito que acredita que encontrará sentido fazendo algo que seja
diferente. Nestes casos, podemos mudar de ar e de geografia, mas se nosso
coração continuar vazio, todas as coisas que fizermos serão canseira e enfado.
- O trabalho
tem que encontrar sua expressão lúdica – “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua
alma goze o bem do seu trabalho. No entanto vi também que isto vem da mão
de Deus” (Ec 2.24). Existe na vida este elemento hedonista que precisa
ser recuperado. Precisamos encontrar prazer nas coisas que fazemos.
Poucas pessoas encontram espaço
nas suas vidas para um hedonismo santo. Fazer as coisas com prazer.
Certo rapaz estava enfrentando
dias de muita tensão na sua casa quando me procurou para falar que seu
casamento estava ruindo, o que de fato se consumou algum tempo depois. Ele
reclamava dizendo: “Não sei porque minha esposa quer se separar de mim. Minha
vida é da casa para o trabalho, do trabalho para a casa”. Naquela hora entendi
porque a sua esposa o estava deixando. Pode existir uma vida mais monótona que
esta?
Na parábola do Filho prodigo,
observamos que o filho obediente, reclama também de sua vida sem sentido e
prazer. “Nunca me deste um cabrito para alegrar-me”. E o pai lhe disse. Você
nunca fez isto porque nunca quis. Tudo que é meu é seu. Esta atitude do justo
amargurado é muito comum. Do homem honesto, mas de vida sem alegria e prazer.
Uma das coisas boas que o trabalho pode nos dar é conforto, bem estar, alegria,
celebração. Precisamos resgatar esta dimensão do trabalho.
Uma das boas sínteses sobre o uso
de dinheiro que encontrei são sugeridas por Charles Stanley:
Ganhe honestamente
Aplique sabiamente
Doe generosamente
Desfrute
abundantemente.
Veja que Salomão afirma que o
lúdico, o prazer, está associado àquilo que Deus é. “Isto vem das mãos de Deus...” (Ec 2.24).
- Não associe
trabalho ao pecado – O autor de Eclesiastes comete este grave
equivoco. “Porque Deus dá sabedoria,
conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada: mas ao pecador dá trabalho,
para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus.
Também isto é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 2.26).
Pessoas que associam trabalho a
algo ruim, ou castigo de Deus, vão enfrentar a questão de forma muito
angustiante.
Antes do pecado, Adão e Eva
tinham funções no Éden, foram ali colocados para cuidar da natureza criada por
Deus, e nomear os animais. Quando associamos trabalho a pecado, o fazemos
sempre com o sentimento de peso e condenação.
Conclusão:
Paul Steves[1] dá
algumas diretrizes para a questão do trabalho:
i.
Trabalho é um chamado para construir uma comunidade na
terra - Vivenciá-la, construí-la. Faz parte do “mandato cultural” que Deus deu
ao homem. Trabalho é uma co-criação, a vocação de expandir o potencial da
criação que foi dado por Deus.
ii.
Trabalho é um chamado para gerar riqueza global –
Potencializar as pessoas. Prosperidade, bem estar. Os negócios são agenda do
reino. Considere o caos num país com alta taxa de desemprego nestes dias (2012.
Espanha chegou a ter 25% de desempregados e entre os jovens recém formados, a
taxa chegou a 50%).
Benedito
(480-547) é considerado o criador da vida monástica. Por onde iam seus
discípulos, tinham a tarefa de implementar a lavoura da região, fazendo-a
torna-se não apenas cultura de subsistência, mas de auto suficiência
financeira. Max Weber afirma que este era o espírito do capitalismo e do
protestantismo: Gerar riquezas! Portanto, uma das tarefas do trabalho é
diminuir a pobreza e melhor a existência humana. Trazer shalom às pessoas do mundo.
iii.
Trabalho é um chamado para investir no paraíso – esta
foi a ordem dada a Adão e Eva. E este é o mandato cultural do povo de Deus.
Investir e florescer onde foi colocado por Deus. Aproximar a criação de Deus do
seu projeto original. Chamado para
abençoar.
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