Introdução:
Alguns anos atrás tive acesso a
um tape (era tape mesmo) de mensagens de um dos homens mais influentes no mundo
evangélico americano, John C. Maxwell. Para vocês terem uma idéia de quanta influência
ele exerce, naqueles dias ele produzia mensalmente uma palestra que era
distribuída para os assinantes, com 70 mil tiragens, já vendidas
antecipadamente, e ele fazia questão de informar que seu material poderia ser
duplicado, desde que não fosse para fins comerciais. Pois bem, o titulo daquela
mensagem era I´m fifty, reflecting (Numa
tradução literal seria, estou fazendo 50, refletindo...)
Nesta semana, fiz 50. Os diáconos
da igreja, carinhosamente fizeram uma homenagem em minha casa, com todos oficiais
da igreja. Muito obrigado pelo gesto tão espontâneo e abençoador, ele me fez
muito bem.
Junto comigo, neste ano, estão
alguns amigos como Paulo Couto, Fábio Maurício, Oswando, etc., como podem ver,
não estou sozinho nesta jornada, afinal, a miséria detesta solidão...
No livro Quando Nietzsche chorou,
Irvin Yalom afirma: “Chegar aos 40 abalou a idéia de que tudo era possível.
Subitamente entendi o fato mais óbvio da vida: que o tempo é irreversível, que
minha vida estava se consumindo”. É bom lembrar que não estou fazendo 40, nem
tenho esta visão tão negativa, afinal, fiz 50, mas ainda estou com corpinho de
49.
Prefiro brincar com esta
situação. Meu amigo Batista me disse dias atrás o seguinte:
De 0-10 anos: brinque
o que puder
10-20 anos: estude o
que puder
20-30 anos:
especialize no que puder
30-40 anos: ganhe o
dinheiro que puder
40-50 anos: lidere o
que puder
50-... saia de
fininho do jeito que puder
Dois textos distintos, escritos
por pessoas com visões antagônicas expressam meu sentimento neste dia. Quero
convidá-los a ler comigo:
“Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o
coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e
isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as
minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas havia feito; e eis que
tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do
sol” (Ec 2.10,11).
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm
4.7)
O primeiro texto descreve o homem
avaliando sua vida e vendo-o de forma absolutamente desencontrada, sua
percepção não é nada positiva, basta ver os textos anteriores. “Que grande inutilidade! Diz o mestre. Que
grande inutilidade! Nada faz sentido!” (Ec 1.2,3). Na sua visão pessimista e cínica, define a
vida como “bolha de sabão”, por isto a palavra vaidade ou inutilidade, e a
frase “correr atrás do vento”, surgem tantas vezes neste livro.
O Livro de Eclesiastes parece com
o conhecido conto “De quanta terra precisa um homem”, do célebre escritor
russo, Leon N. Tolstoi, que narra a história de um homem que foi para uma
região onde as pessoas podiam adquirir, por uma quantia comum, quanta terra
pudessem percorrer entre o nascer e o por do sol no mesmo dia, desde que
voltassem ao ponto de partida antes de escurecer. O problema é que as pessoas,
ambiciosas, iam muito longe e sempre queriam incluir mais um lago, mais um
bosque, mais uma campina, mais um pedaço de terra e nunca conseguiam voltar a
tempo, e morriam na sua fadiga e eram enterradas num pedaço de terra de 2 Mts
de comprimento por 80 cm
de largura, que era tudo quanto precisavam.
O autor de Eclesiastes observa
que, na sua busca por sentido, significado e valor, a vida era como uma “bolha
de sabão” (Ec 2.11). Tudo era fadiga e correr atrás do vento. Conquistas
financeiras, aclamação pública, popularidade, conquistas emocionais. O
resultado era o cansaço, vaidade, inutilidade e falta de sentido.
O autor de Eclesiastes percebe
que o vazio existencial que temos é o anseio pelo eterno, já que “Deus pôs a
eternidade no coração do homem” (Ec 3.11). Precisamos de um sentido de vida que
transcenda a própria história, e nos livre de nossas falsas esperanças.
O outro texto que lemos, foi
escrito pelo apóstolo Paulo: “Combati o
bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). Este homem
parece pleno, fazendo um testamento de sua vida e dizendo que a batalha que
combatera tinha valido a pena.
Existem muitas batalhas que são
bolhas de sabão, se dissolvem no ar, nada valem, apesar de toda conquista que
colocamos nela.
Numa revisão de vida precisamos
considerar os seguintes aspectos:
- Considere o
transitório na dimensão do eterno – No filme “O gladiador”, existe uma
frase capilar: “Tudo que fazemos hoje, ecoa na eternidade”. Paulo diz que
completou a carreira com fé no coração. Tim Elliot certa vez fez uma
pergunta intrigante: “Onde está a vida que perdi, tentando encontrá-la?”
Estamos sempre tentando analisar
a vida na perspectiva do aqui/agora, contudo, o grande desafio é colocarmos
nossa vida na dimensão do eterno. Brennan Manning afirma que todo cristão
deveria viver sua vida com a consciência clara de sua transitoriedade.
Quantos anos você tem? Esta é uma
pergunta que é feita costumeiramente. Ruben Alves afirma que a pergunta certa
deveria ser: “Quantos anos já gastei?”. Você não tem mais o que gastou.
Muitas vezes ouço os hinos e
sermões de outrora e percebo que houve uma mudança significativa no conteúdo da
mensagem cristã que era pregada em nossos púlpitos. Insistimos em tratar de
como viver bem a vida (e acho que isto não é herético), mas temos negado, ou
minimizado, a percepção que precisamos ter do eterno.
- Tenha uma
missão maior que sua carreira – Um dos grandes problemas da vida é
reduzir nossa existência à carreira profissional. O mundo corporativo e a
competitividade do mercado fazem com que nossa existência seja focada
apenas nas realizações.
Muitos de nós ignoramos que Paulo
tinha uma carreira secular. Ele era
fazedor de tendas, cuidava de uma pequena empresa de confecção, tinha que
negociar com fornecedores, fazer orçamentos para os clientes e efetuar
pagamentos. Ele tinha seu business e
vivia dele, mas sua profissão não era um fim em si mesma, mas um meio para
realizar seu chamado. Sua agenda transcendia sua profissão. Enquanto
trabalhava, considerava os resultados eternos que sua profissão poderia gerar.
José Borges dos Santos Jr.,
costumava fazer uma diferença que julgo essencial entre profissão e vocação. Para
ele, todo cristão deve ter uma profissão, mas o mais importante era considerar
sua vocação, já que esta tem o sentido de missão.
Você pode ser professor, médico,
advogado, pintor, político, administrador, mas tem que entender que seu grande
chamado diante de Deus não é para fazer, mas para ser. Deus quer que você se
reporte ao sentido maior de sua vida, que é glorificar seu nome. Você existe
para “glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”.
Considere como fazer todas as
coisas para a glória de Deus pode mudar nossa forma de interpretar a existência..
Na carta aos Efésios lemos “Quanto a vós
outros, servos, obedecei a vosso senhor
segundo a carne
com temor
e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, servindo
de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens” (Ef 5.5-7). Em outras
palavras, tudo o que você faz agora, ecoa na eternidade!
Quando estamos atentos a isto,
nos tornamos sensíveis para discernir o mover de Deus na história. Três fatores
são decisivos para que adquirimos esta percepção:
- A prática da
oração – que nos torna sensíveis à voz de Deus. Pela oração aprendemos
a discernir o seu mover. Muitos pensam que oração é para mudar o coração
de Deus, quando ele não quer nos dar o que queremos, mas na verdade,
oração é uma forma de Deus mudar nossa forma de perceber a vida. Na
oração, Deus não é mudado, mas nós somos mudados!
- Leitura e
reflexão das Escrituras – que nos apontam para o fato de que nosso
Deus está se movendo na história. Ele não é distante, mas sempre agiu de
forma poderosa na vida de seu povo e na humanidade. A Bíblia nos ajuda a
ter sensibilidade para com Deus, e a fugir do pecado.
- Vivência
comunitária – Quando juntos com outros irmãos, somos mutuamente
aconselhados e encorajados a buscar a Deus, a perseverar em direção ao seu
chamado.
- Guarde a fé
antes de querer guardar qualquer outra coisa– “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2
Tm 4.7). O termo fé, pode ser usado para expressar que Cristo é o único
caminho para a salvação e que não podemos nos salvar a nós mesmos. Fé, na
Bíblia, também traz a idéia de um conjunto de verdades cristãs, mas neste
texto creio que Paulo a usa no sentido de se viver um estilo de vida
cristão, no qual os valores e princípios de Deus se revelam coerentes e
presentes nas decisões e atitudes diárias.
Ricardo Agreste no seu livro,
Revisão de vida, afirma que ele percebia que Paulo tinha três coisas em mente
ao falar deste assunto:
- Cultive a prática da boa consciência – (1 Tm
1.18-20) Ao longo da vida somos confrontados com desafios que demandam uma
decisão, e somos pressionados a assumir posições contrárias àquilo que
cremos. Quando decidimos de acordo com nossa consciência, o resultado é
paz, mas quando fazemos o contrário, ferimos nossa própria consciência.
Lutero diante do imperador Carlos
V, na Dieta de Worms em abril de 1521 foi convidado a se retratar de suas
posições, após pedir um tempo para considerar o assunto disse: “Minha consciência é cativa da Palavra de
Deus, não posso e não me retratarei de nada, pois ir contra a consciência não é
certo nem seguro. Deus me ajude. Amém”.
- Desenvolva uma mentalidade bíblica sadia - (1 Tm 4.1,2, 2 Tm 3.8). Vivemos dia de
grandes ofertas neste sincretismo religioso, textos bíblicos são usados para
justificar pontos de vista. Vivemos numa fé do tipo de supermercado que
oferece nas prateleiras produtos atraentes, com muitas propostas
mirabolantes, e assim criamos uma fé de acordo com nossas preferências e
opções. Paulo diz que alguns homens haviam “resistido à verdade”, e outros estavam seguindo “espíritos enganadores e ensinos de
demônios”. O mais surpreendente é que ele estava falando de gente da
igreja. Alguns ainda hoje confundem fé cristã com pensamento positivo, e
buscam a Deus apenas para obter cura. Reduzem Deus a isto. Outros falam de
caminhos da graça, confundindo graça com libertinagem.
- Tenha uma relação apropriada com o dinheiro –
(2 Tm 6.8-10) Muitas pessoas se perdem neste desatino de ganhar o máximo
de dinheiro no mais curto espaço de tempo. Quando Rockefeller, que foi
considerado o homem mais rico de todos os tempos, até mesmo os Faraós, foi
indagado sobre quanto dinheiro a mais ele gostaria de ter, ele disse: “Só
um pouquinho a mais!”.
Conclusão:
No filme Hook: A volta do Capitão Gancho, Robin Williams interpreta o
lendário personagem infantil Peter Pan. Agora ele tem mais de 40 anos, deixou a
terra do nunca há muito tempo, tornou-se um estressado e ambicioso executivo,
casou-se com a filha de Wendy e tem um casal de filhos.
Surge porém um problema: Seus
filhos foram seqüestrados pelo Capitão Gancho e ele precisa resgatá-los. Um dos
primeiros problemas é que Peter Pan não consegue mais voar. Segundo a fada
Sininho, ele só conseguiria se tivesse bons pensamentos, no entanto sua mente
adulta havia perdido completamente a capacidade de pensar em qualquer coisa além
de problemas a serem resolvidos e futuros negócios.
Quando Peter Pan e sua esposa vão
visitar a Vó Wendy, a avó deixa claro que enquanto estivessem na sua casa os
netos estavam proibidos de crescer, e ela se volta para Peter Pan e diz: “Isto
também inclui você”. Meio sem graça ele responde: “Bem, no meu caso, acho que é
tarde demais”. Seu filho, então, conta com entusiasmo para a avó como seu pai
lida com agressividade nos negócios destruindo toda concorrência. A Vó Wendy,
volta-se para Peter Pan e, olhando em seus olhos, diz com tom de decepção:
“Peter, você se tornou um pirata”.
Certo garoto ensaiou duramente
para o recital de violino, até que chegou o grande dia da apresentação. A sala
de concerto estava lotada. E ele, nervoso, mas bem seguro, pegou seu violino e
fez uma belíssima apresentação. No final, todos o aplaudiram de pé. De repente,
de forma inexplicável, ele deixou o recinto chorando e correu para os
bastidores. O mestre de cerimônia foi atrás dele e disse: “Ei, porque você está
chorando, todos estão aplaudindo você!”. E ele respondeu: “Você viu aquele
senhor na segunda fila? Ele não me aplaudiu”. O homem replicou: “Não venha me
dizer que por causa de uma pessoa, você vai ficar ai triste!”. E ele respondeu:
“Você sabe quem é aquele homem? Ele é meu professor de violino!”
Não dá para considerar o sentido
de nossa vida se não considerarmos de quem desejamos receber aplausos. Sem o
aplauso dos céus, o estilo de vida que temos não faz nenhum sentido.
Samuel Vieira
Anápolis 14 maio de 2009
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