sexta-feira, 5 de junho de 2015

Ec 2.10,11 e 2 Tm 4.7 Considerando o sentido da vida




Introdução:

Alguns anos atrás tive acesso a um tape (era tape mesmo) de mensagens de um dos homens mais influentes no mundo evangélico americano, John C. Maxwell. Para vocês terem uma idéia de quanta influência ele exerce, naqueles dias ele produzia mensalmente uma palestra que era distribuída para os assinantes, com 70 mil tiragens, já vendidas antecipadamente, e ele fazia questão de informar que seu material poderia ser duplicado, desde que não fosse para fins comerciais. Pois bem, o titulo daquela mensagem era I´m fifty, reflecting (Numa tradução literal seria, estou fazendo 50, refletindo...)
Nesta semana, fiz 50. Os diáconos da igreja, carinhosamente fizeram uma homenagem em minha casa, com todos oficiais da igreja. Muito obrigado pelo gesto tão espontâneo e abençoador, ele me fez muito bem.
Junto comigo, neste ano, estão alguns amigos como Paulo Couto, Fábio Maurício, Oswando, etc., como podem ver, não estou sozinho nesta jornada, afinal, a miséria detesta solidão...
No livro Quando Nietzsche chorou, Irvin Yalom afirma: “Chegar aos 40 abalou a idéia de que tudo era possível. Subitamente entendi o fato mais óbvio da vida: que o tempo é irreversível, que minha vida estava se consumindo”. É bom lembrar que não estou fazendo 40, nem tenho esta visão tão negativa, afinal, fiz 50, mas ainda estou com corpinho de 49.
Prefiro brincar com esta situação. Meu amigo Batista me disse dias atrás o seguinte:
De 0-10 anos: brinque o que puder
10-20 anos: estude o que puder
20-30 anos: especialize no que puder
30-40 anos: ganhe o dinheiro que puder
40-50 anos: lidere o que puder
50-... saia de fininho do jeito que puder
Dois textos distintos, escritos por pessoas com visões antagônicas expressam meu sentimento neste dia. Quero convidá-los a ler comigo:
Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec 2.10,11).
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7)

O primeiro texto descreve o homem avaliando sua vida e vendo-o de forma absolutamente desencontrada, sua percepção não é nada positiva, basta ver os textos anteriores. “Que grande inutilidade! Diz o mestre. Que grande inutilidade! Nada faz sentido!” (Ec 1.2,3).  Na sua visão pessimista e cínica, define a vida como “bolha de sabão”, por isto a palavra vaidade ou inutilidade, e a frase “correr atrás do vento”, surgem tantas vezes neste livro.
O Livro de Eclesiastes parece com o conhecido conto “De quanta terra precisa um homem”, do célebre escritor russo, Leon N. Tolstoi, que narra a história de um homem que foi para uma região onde as pessoas podiam adquirir, por uma quantia comum, quanta terra pudessem percorrer entre o nascer e o por do sol no mesmo dia, desde que voltassem ao ponto de partida antes de escurecer. O problema é que as pessoas, ambiciosas, iam muito longe e sempre queriam incluir mais um lago, mais um bosque, mais uma campina, mais um pedaço de terra e nunca conseguiam voltar a tempo, e morriam na sua fadiga e eram enterradas num pedaço de terra de 2 Mts de comprimento por 80 cm de largura, que era tudo quanto precisavam.
O autor de Eclesiastes observa que, na sua busca por sentido, significado e valor, a vida era como uma “bolha de sabão” (Ec 2.11). Tudo era fadiga e correr atrás do vento. Conquistas financeiras, aclamação pública, popularidade, conquistas emocionais. O resultado era o cansaço, vaidade, inutilidade e falta de sentido.
O autor de Eclesiastes percebe que o vazio existencial que temos é o anseio pelo eterno, já que “Deus pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11). Precisamos de um sentido de vida que transcenda a própria história, e nos livre de nossas falsas esperanças.

O outro texto que lemos, foi escrito pelo apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). Este homem parece pleno, fazendo um testamento de sua vida e dizendo que a batalha que combatera tinha valido a pena.
Existem muitas batalhas que são bolhas de sabão, se dissolvem no ar, nada valem, apesar de toda conquista que colocamos nela.

Numa revisão de vida precisamos considerar os seguintes aspectos:

  1. Considere o transitório na dimensão do eterno – No filme “O gladiador”, existe uma frase capilar: “Tudo que fazemos hoje, ecoa na eternidade”. Paulo diz que completou a carreira com fé no coração. Tim Elliot certa vez fez uma pergunta intrigante: “Onde está a vida que perdi, tentando encontrá-la?”
Estamos sempre tentando analisar a vida na perspectiva do aqui/agora, contudo, o grande desafio é colocarmos nossa vida na dimensão do eterno. Brennan Manning afirma que todo cristão deveria viver sua vida com a consciência clara de sua transitoriedade.
Quantos anos você tem? Esta é uma pergunta que é feita costumeiramente. Ruben Alves afirma que a pergunta certa deveria ser: “Quantos anos já gastei?”. Você não tem mais o que gastou.
Muitas vezes ouço os hinos e sermões de outrora e percebo que houve uma mudança significativa no conteúdo da mensagem cristã que era pregada em nossos púlpitos. Insistimos em tratar de como viver bem a vida (e acho que isto não é herético), mas temos negado, ou minimizado, a percepção que precisamos ter do eterno.

  1. Tenha uma missão maior que sua carreira – Um dos grandes problemas da vida é reduzir nossa existência à carreira profissional. O mundo corporativo e a competitividade do mercado fazem com que nossa existência seja focada apenas nas realizações.
Muitos de nós ignoramos que Paulo tinha uma carreira secular. Ele era fazedor de tendas, cuidava de uma pequena empresa de confecção, tinha que negociar com fornecedores, fazer orçamentos para os clientes e efetuar pagamentos. Ele tinha seu business e vivia dele, mas sua profissão não era um fim em si mesma, mas um meio para realizar seu chamado. Sua agenda transcendia sua profissão. Enquanto trabalhava, considerava os resultados eternos que sua profissão poderia gerar.
José Borges dos Santos Jr., costumava fazer uma diferença que julgo essencial entre profissão e vocação. Para ele, todo cristão deve ter uma profissão, mas o mais importante era considerar sua vocação, já que esta tem o sentido de missão.
Você pode ser professor, médico, advogado, pintor, político, administrador, mas tem que entender que seu grande chamado diante de Deus não é para fazer, mas para ser. Deus quer que você se reporte ao sentido maior de sua vida, que é glorificar seu nome. Você existe para “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”.
Considere como fazer todas as coisas para a glória de Deus pode mudar nossa forma de interpretar a existência.. Na carta aos Efésios lemos “Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens” (Ef 5.5-7). Em outras palavras, tudo o que você faz agora, ecoa na eternidade!
Quando estamos atentos a isto, nos tornamos sensíveis para discernir o mover de Deus na história. Três fatores são decisivos para que adquirimos esta percepção:

  1. A prática da oração – que nos torna sensíveis à voz de Deus. Pela oração aprendemos a discernir o seu mover. Muitos pensam que oração é para mudar o coração de Deus, quando ele não quer nos dar o que queremos, mas na verdade, oração é uma forma de Deus mudar nossa forma de perceber a vida. Na oração, Deus não é mudado, mas nós somos mudados!
  2. Leitura e reflexão das Escrituras – que nos apontam para o fato de que nosso Deus está se movendo na história. Ele não é distante, mas sempre agiu de forma poderosa na vida de seu povo e na humanidade. A Bíblia nos ajuda a ter sensibilidade para com Deus, e a fugir do pecado.
  3. Vivência comunitária – Quando juntos com outros irmãos, somos mutuamente aconselhados e encorajados a buscar a Deus, a perseverar em direção ao seu chamado.

  1. Guarde a fé antes de querer guardar qualquer outra coisa– “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). O termo fé, pode ser usado para expressar que Cristo é o único caminho para a salvação e que não podemos nos salvar a nós mesmos. Fé, na Bíblia, também traz a idéia de um conjunto de verdades cristãs, mas neste texto creio que Paulo a usa no sentido de se viver um estilo de vida cristão, no qual os valores e princípios de Deus se revelam coerentes e presentes nas decisões e atitudes diárias.

Ricardo Agreste no seu livro, Revisão de vida, afirma que ele percebia que Paulo tinha três coisas em mente ao falar deste assunto:
  1. Cultive a prática da boa consciência – (1 Tm 1.18-20) Ao longo da vida somos confrontados com desafios que demandam uma decisão, e somos pressionados a assumir posições contrárias àquilo que cremos. Quando decidimos de acordo com nossa consciência, o resultado é paz, mas quando fazemos o contrário, ferimos nossa própria consciência.
Lutero diante do imperador Carlos V, na Dieta de Worms em abril de 1521 foi convidado a se retratar de suas posições, após pedir um tempo para considerar o assunto disse: “Minha consciência é cativa da Palavra de Deus, não posso e não me retratarei de nada, pois ir contra a consciência não é certo nem seguro. Deus me ajude. Amém”.

  1. Desenvolva uma mentalidade bíblica sadia -  (1 Tm 4.1,2, 2 Tm 3.8). Vivemos dia de grandes ofertas neste sincretismo religioso, textos bíblicos são usados para justificar pontos de vista. Vivemos numa fé do tipo de supermercado que oferece nas prateleiras produtos atraentes, com muitas propostas mirabolantes, e assim criamos uma fé de acordo com nossas preferências e opções. Paulo diz que alguns homens haviam “resistido à verdade”, e outros estavam seguindo “espíritos enganadores e ensinos de demônios”. O mais surpreendente é que ele estava falando de gente da igreja. Alguns ainda hoje confundem fé cristã com pensamento positivo, e buscam a Deus apenas para obter cura. Reduzem Deus a isto. Outros falam de caminhos da graça, confundindo graça com libertinagem.

  1. Tenha uma relação apropriada com o dinheiro – (2 Tm 6.8-10) Muitas pessoas se perdem neste desatino de ganhar o máximo de dinheiro no mais curto espaço de tempo. Quando Rockefeller, que foi considerado o homem mais rico de todos os tempos, até mesmo os Faraós, foi indagado sobre quanto dinheiro a mais ele gostaria de ter, ele disse: “Só um pouquinho a mais!”.

Conclusão:
No filme Hook: A volta do Capitão Gancho, Robin Williams interpreta o lendário personagem infantil Peter Pan. Agora ele tem mais de 40 anos, deixou a terra do nunca há muito tempo, tornou-se um estressado e ambicioso executivo, casou-se com a filha de Wendy e tem um casal de filhos.  
Surge porém um problema: Seus filhos foram seqüestrados pelo Capitão Gancho e ele precisa resgatá-los. Um dos primeiros problemas é que Peter Pan não consegue mais voar. Segundo a fada Sininho, ele só conseguiria se tivesse bons pensamentos, no entanto sua mente adulta havia perdido completamente a capacidade de pensar em qualquer coisa além de problemas a serem resolvidos e futuros negócios.
Quando Peter Pan e sua esposa vão visitar a Vó Wendy, a avó deixa claro que enquanto estivessem na sua casa os netos estavam proibidos de crescer, e ela se volta para Peter Pan e diz: “Isto também inclui você”. Meio sem graça ele responde: “Bem, no meu caso, acho que é tarde demais”. Seu filho, então, conta com entusiasmo para a avó como seu pai lida com agressividade nos negócios destruindo toda concorrência. A Vó Wendy, volta-se para Peter Pan e, olhando em seus olhos, diz com tom de decepção: “Peter, você se tornou um pirata”.
Certo garoto ensaiou duramente para o recital de violino, até que chegou o grande dia da apresentação. A sala de concerto estava lotada. E ele, nervoso, mas bem seguro, pegou seu violino e fez uma belíssima apresentação. No final, todos o aplaudiram de pé. De repente, de forma inexplicável, ele deixou o recinto chorando e correu para os bastidores. O mestre de cerimônia foi atrás dele e disse: “Ei, porque você está chorando, todos estão aplaudindo você!”. E ele respondeu: “Você viu aquele senhor na segunda fila? Ele não me aplaudiu”. O homem replicou: “Não venha me dizer que por causa de uma pessoa, você vai ficar ai triste!”. E ele respondeu: “Você sabe quem é aquele homem? Ele é meu professor de violino!”
Não dá para considerar o sentido de nossa vida se não considerarmos de quem desejamos receber aplausos. Sem o aplauso dos céus, o estilo de vida que temos não faz nenhum sentido.

Samuel Vieira
Anápolis 14 maio de 2009

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