Introdução:
Poucos homens são tão habilitados
a falarem sobre a frustração e o vazio da riqueza quanto Salomão, isto porque,
ele sempre teve todas as coisas no superlativo: “Empreendi grandes obras, edifiquei para mim casas; plantei para mim
vinhas. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei arvores frutíferas de
toda espécie. Fiz para mim açudes para regar com eles o bosque em que
reverdeciam as arvores. Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa;
também possui bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim
viveram em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis
e de províncias, provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos
homens: mulheres e mulheres” (Ec
2.4-8).
No meio de todos sua
prosperidade, ele faz um relato pessimista e triste sobre a a futilidade da riqueza (5.9; 6.12). Todo
este texto analisa o vazio da riqueza. Atkins dá a este parágrafo o titulo de
"a multiplicação da ansiedade com a possessão".
Dinheiro é um ídolo, age como
água do mar. A regra número um para um náufrago no mar é não beber sua água,
porque ela traz alucinação se a bebermos e provoca ainda mais sede.
I. Os riscos da riqueza:
1. Insaciabilidade: Ter os bens sem ser satisfeito por eles – “Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e
quem ama a abundancia nunca se farta da renda; também isto é vaidade” (Ec
5.10). A pessoa pode ter muito mas não
se fartar. Aqui temos a descrição de alguém que não se realiza, que
sente sede mesmo tendo bebido água fartamente. O amor ao dinheiro nunca nos
permite dizer: “É bastante!”. Há um suposto relato sobre a vida do bilionário
Rockefeller, que ao se tornar o homem mais rico do mundo alguém lhe perguntou
quanto dinheiro a mais ele queria, e ele teria respondido: “Só um pouquinho a
mais!”.
2. Quem aumenta riqueza aumenta responsabilidade – “Onde os bens se multiplicam, também se
multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, tem os seus donos do
que os verem com seus olhos?” (Ec 5.11). Os cuidados se ampliam, e pode acontecer algo terrível: o
único prazer de quem possui torna-se o de ver os bens, sem poder desfrutá-los.
Se o homem que possui bens
consegue olhar para esta situação e se perceber como alguém que pode ser bencao
para outros, isto se torna positivo, mas se entender que se trata de exploração
e canseira, afinal, ele trabalha e outros desfrutam, isto pode ser tornar uma
fonte de irritação.
3. Riqueza pode se tornar fonte de angústia, ao invés de gerar alegria
– “Doce é o sono do trabalhado, quer
coma pouco, quer muito, mas a fartura do rico não o deixa dormir” (Ec 5.12).
Este pode ser o tragico resultado dos bens: ao invés de gerar tranquilidade,
gera insônia. O trabalhador pode dormir sem ansiedade, mas o rico perde o sono
com facilidade, porque o seu coração está com seu tesouro. Neste
caso, a riqueza rouba a vida, já que “a
fartura do rico não o deixa dormir”. Salomao afirma ainda que as riquezas
dos seus donos podem ser guardadas para seu próprio dano.
4. O perigo constante do fracasso “E, se tais riquezas se perdem por qualquer má ventura, ao filho que
gerou nada lhe fica na mão" (Ec 5.14). Quem pode garantir a posse
perpétua de um bem? As calamidades, a má aventura, a variação cambial, a queda
no preço das ações, a desvalorização do dinheiro, roubo, cataclismas e tragédias, tudo isto pode mudar a situação financeira
de uma pessoa de uma hora para outra.
5) A transitoriedade dos bens – “Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e
do seu trabalho nada poderá levar consigo” (Ec 5.15). Esta é a verdade.
Nada pode ser levado na morte, nada do que adquirir em vida será utilizado
depois de nossa partida. Perguntaram a um advogado de um rico homem quanto de
dinheiro ele havia deixado, e ele respondeu a todos com uma simples resposta:
tudo!
6. Amontoar bens sem ser capaz
de desfrutá-lo – “Também isto é grave
mal; precisamente como veio, assim ele vai; e que proveito lhe vem de haver
trabalhado para o vento? Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito
enfado, com enfermidades e indignação” (Ec 5.16,17). “Há um mal que vi debaixo do sol e que pesa sobre os homens: o homem a
quem Deus conferiu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto sua
alma deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma; antes, o estranho o come;
também isto é vaidade e grave aflição” (Ec 6.2).
II. Quando a riqueza adquire sentido?
- Quando não estabelecemos uma relação
afetiva com o dinheiro – Quando ele me serve, e não me torno
escravizado aos bens que possuo. Quando não "amamos" o dinheiro (Ec 5.10). O amor ao dinheiro nos
torna servos dele. “O amor ao
dinheiro é a raiz de todos os males (1Tm 6.10) e pode se transformar
em um ídolo para nossa vida. Quem ama o dinheiro não se farta porque não
pode dispor do mesmo. A Bíblia diz que “O espírito de ganância tira a vida de quem o possui” (Pv 1.19).
Quando não temos obsessão em ter apenas para ver (Ec 5.11), e o nosso
prazer não está em amontoar e ajuntar, mas em desfrutá-lo (Pv 30.8,9).
- Quando não ficamos obcecados pelo trabalho, com prejuízo físico,
canseiras e irritações só para adquirir bens transitórios (Ec 5.16, 17).
A expressão "nas trevas comeu"
revela a miséria que acompanha a pessoa que vive obcecado pela riqueza, perdendo
os seus dias, a razão de viver (vive enfadado), a saúde (vive cheio de
enfermidades) e sua paz. A septuaginta afirma que ele vive sempre “irritadiço”.
- Quando desfrutamos consciente e
agradavelmente dos bens resultantes do trabalho: “Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um
do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante
os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção” (Ec
5.18).
- Quando o dinheiro vem acompanhado com
a benção de Deus – “Quanto ao
homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles
comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de
Deus” (Ec 5.19). O v.8 fala de riquezas obtidas pela opressão e
injustiça em detrimento do pobre. A riqueza pode ser uma benção de Deus quando
podemos comer, receber a porção e gozar do trabalho. Não adianta ter
comida e não ter saúde para comer, ter ricas camas, mas não ter sono; ter
bens, mas não desfrutá-los. Ele é benção quando Deus enche o nosso coração
de alegria com o que Ele nos dá (Ec 5.20). O importante não e o quanto
você tem, mas o sentido que o que você encontra naquilo que tem. Desfrutar
o que se tem com moderação e contentamento é dom de Deus.
- Quando Deus é glorificado através dos
bens – Dinheiro na bíblia não é um poder neutro. Ele é capaz de gerar
vida ou morte. Quantas obras missionárias já foram edificadas no mundo,
por causa da sensibilidade das pessoas em lidar com o dinheiro. Quantos
hospitais, escolas, agencias de misericórdia, creches e orfanatos foram
construídos com recursos de pessoas abastadas que resolveram abençoar
outras vidas. Quantos templos e obras missionárias foram e tem sido
sustentados por pessoas que viram na sua capacidade de ganhar dinheiro, a
possibilidade de abençoar vidas? Dinheiro a serviço do reino, dinheiro a
serviço do rei. Deus tem sido glorificado nos seus recursos?
Conclusão: Uma agenda positiva
Em todos estes casos, nossos
recursos se tornam uma agenda positiva do reino. Isto é dom de Deus. Trabalho e
bens precisam desembocar em alegria (Ec 4.20). Se você apenas se mata, se afadiga,
adoece e se irrita com seus bens, você está numa armadilha idolátrica.
Deus lhe deu bens para “encher
seu coração de alegria”, para poder desfrutar de sua bencao (Ec 4.19), para
abençoar outras vidas e para servir (Ef 4.28,29). Ter e não desfrutar é uma maldição 9Ec
6.1-2).
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