Introdução:
J. Jacques
Rousseau no seu clássico O Contrato
Social afirma: “O homem é um ser livre, mas por toda a parte encontra-se a
ferros”. Esta é uma verdade também teológica, apesar do ceticismo de Rousseau: O ser
humano vive acorrentado. Por isto Jesus afirma neste texto: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (Jo 8.36).
O Evangelho de
João é um denso teologicamente. Ao contrário dos evangelhos sinóticos: Mateus,
Marcos e Lucas que procura falar da vida de Cristo, João dá uma ênfase maior
nos discursos.
Neste texto, Jesus
estava conversando com os juDeus, e o diálogo não foi nada fácil. Jesus tenta
mostrar que havia uma força que os prendia, aprisionava, mas eles não
conseguiam ver. Na medida em que lemos o texto, vamos percebendo alguns destes
elementos que aprisionam a vida das pessoas:
1.
Falsos conceitos – Os judeus que discutiam
com Jesus tinham determinados pressupostos que os mantinham cativos. Eles
pressupunham que suas tradições religiosas, que o legado dos patriarcas, que a
Lei de Moisés, os impediam magicamente de serem pessoas escravizadas. Mas Jesus
afirma que seus pressupostos, sua forma de enxergar a vida, os mantinha
cativos.
Nada escraviza
mais o ser humano que concepções equivocadas, ideologias.
Certa vez Jesus
afirmou: “Errais, não conhecendo as
Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.26). O que cremos determina emoções
e comportamentos. Ética é resultante de nossas convicções. Os homens parecem
com seus Deuses, as pessoas agem de acordo com seus valores e pensamentos.
Reagimos de acordo com convicções. Por exemplo, diante da morte, podemos agir
com fé e isto trazer esperança; ou com incredulidade, e isto trazer desespero.
O quadro é o mesmo, mas a leitura deles influencia radicalmente nossas atitudes
e emoções.
Somos o que
pressupomos. Falsos conceitos nos escravizam. Ideologias nos matam e nos fazem
matar. Em nome de Deus, quantas pessoas já foram massacradas? Em nome da
política, de um sistema de governo, convicções filosóficas...
Certo soldado
Japonês foi descoberto nas selvas da Coreia, depois de 36 anos. Ele vivia
solitário e se evadindo, escondendo, com medo de uma guerra que já havia
acabado muitos anos antes. O falso pressuposto manteve sua vida alijada da
família e sociedade. Ele queria se proteger da violência da guerra que já havia
acabado muitos anos antes.
Os genros de Ló
foram advertidos quanto ao juízo que Deus exerceria sobre Sodoma e Gomorra.
Sabem como reagiram? Eles achavam que Ló gracejava com eles (Gn 19.14), e zombaram
de Ló. Resultado? Morreram por causa de suas convicções.
Os homens do dia
de Noé, o viram anunciando o dilúvio e a catástrofe decorrente do juízo de Deus,
mas desprezaram-no e achavam que ele estava louco.
Ainda hoje,
milhões de pessoas são escravas, desprezando as advertências de Cristo: “Eis
que venho sem demora!”. A cegueira espiritual e filosófica mata. O profeta
Oséias afirma que o povo de Deus estava sendo destruído porque lhe faltava
conhecimento (Os 4.6).
2.
Culpa – somos uma sociedade culpada, desesperadamente negando
o conceito de valores. Ela afirma que não existe certo e errado, e que cada um
faz como deseja fazer, e que não há juízo moral ou teológico, é tudo uma
questão de perspectiva (relativismo, subjetivismo). No entanto, paradoxalmente,
é uma sociedade doente. Ela sabe que algo está errado, mas não sabe
objetivamente o que. Sente-se culpada, mas como não existe “pecado”, e cada um
faz o que quer, inconscientemente percebe o incômodo papel da consciência.
Hospitais
psiquiátricos estão cheio de pessoas que não resolveram a questão básica da
culpa. Por isto, depois do Microvlar (anticoncepcional), o Rivotril (tarja
preta), é o remédio mais consumido no Brasil. Algo não está bem no coração
humano, e precisa ser solucionado. Não existe pecado real, portanto não pode
existir culpa real – e isto traz a grave implicação de que não existe também
perdão real. Somos prisioneiros da culpa.
Os homens são mais
“liberados”, tem uma ética mais frouxa, mas isto não os torna livres nem resolve
seus dilemas da consciência. Jay Adams afirma que 50% dos pacientes
psiquiátricos sairiam dos hospitais se pelo menos pudessem receber o perdão dos
pecados, se soubessem que foram perdoados.
A Bíblia diz que
“o salário do pecado é a morte, mas o dom
gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus” (Rm 6.23). Jesus rasgou o
escrito de dívidas que era contra nós e nos absolveu da culpa real e do pecado
real. Por esta razão, muitas pessoas, depois de receberem a Jesus em seus corações,
falam de uma maravilhosa sensação de alivio e graça. A alma reconciliada com Deus,
experimenta grande alegria. “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres”.
3.
Do pecado – Jesus estava falando aos judeus exatamente
sobre este assunto. Quando lhes disse que eram escravos afirmaram: “Somos filhos de Abraão e jamais fomos
escravos de alguém”, mas Jesus afirmou: “Aquele que prática pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).
A Bíblia nos
fala de uma força que domina o ser humano e o leva a agir contra as verdades de
Deus. Lutero afirmava que “nossa vontade é escrava”, e por esta razão, sempre
nos distancia de Deus. Paulo afirma que antes de sermos alcançados pela graça de
Deus andávamos “segundo o curso deste
mundo, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, e éramos, por natureza,
filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3)
Na carta aos
Romanos, Paulo afirma que esta vontade escraviza o ser humano, é este impulso
para pecar. Não se trata de atitudes
morais, mas de um princípio moral.
“Vejo nos meus membros outra lei que,
guerreando contra a lei da minha mente me faz prisioneiro da lei do pecado que
está em meus membros. Desventurado homem que sou. Quem me livrará o corpo desta
morte? (Rm 7.23m24), para depois considerar a obra de Cristo em sua vida e
declarar:
“Graças a Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que, de mim mesmo, sou escravo da
lei de Deus, mas segundo a carne, da lei do pecado” (Rm 7.25).
“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (Jo 8.36).
4.
Do Diabo – Jesus é bem direto sobre este assunto. Os judeus
afirmavam sua pretensa liberdade, eram herdeiros da promessa, filhos de Abraão,
mas Jesus diz que eles estava debaixo do domínio de outra realidade espiritual:
“Vós sois do Diabo, que é o vosso pai, e
quereis satisfazer-lhe os desejos” (Jo 8.44).
Na carta aos
Colossenses, ao falar da maravilhosa obra de Cristo, Paulo afirma: “Ele nos libertou do império das trevas e nos
transportou para o reino do filho do Seu amor” (Col 1.13). Existe aqui uma terminologia
interessante. No mundo espiritual há uma operação militar em andamento. Império
aponta para uma sociedade dominada por usurpação e força. Nos dias de Paulo, os
judeus estavam debaixo do império romano, que invadiu a Judéia e a subjugou. “Reino”,
ao contrário, aponta para algo legitimo, que existe por direito.
Estávamos sob o domínio
das trevas e de Satanás, Jesus nos arrancou deste ambiente e desta geografia, e
nos trouxe para um reino de amor.
Do império para
o Reino
Das trevas para
a luz
Do diabo para Deus
DA opressão para
o amor
Para que isto
acontecesse, Jesus “despojou principados
e potestades” (Col 2.14-15). Outro termo militar. Ele tirou as armas do
inimigo, subjugou e tirou suas riquezas e bens, esvaziou sua autoridade. Fomos libertos
do diabo.
5.
Do Inferno – Inferno é um conceito muito impopular. As pessoas
possuem uma visão romântica de que Deus, por ser amor, não pode condenar ninguém
e que vai salvar a todos, mas a Bíblia afirma que ele também é juiz. Um juiz
que visse o mal e o crime, e o não o condenasse não seria bom, mas seria
iniquo.
Deus tem o poder
de julgar e condenar. Isto é prerrogativa da sua soberania e divindade.
A Bíblia afirma que
o inferno foi criado para “o diabo e seus anjos”. Nos últimos dias, a tríade maligna, a besta, o falso profeta
e o anti-Cristo serão atirados para o logo de fogo ardente (Ao 20.1). Jesus é enfático
ao afirmar que no dia dos julgamento, os ímpios irão para o castigo eterno e os
justos para a vida eterna (Mt 24.51; 25.30,46). O conceito de inferno não foi
criado pela igreja, mas foi ensinado por Jesus. O mundo será julgado com justiça
e os povos, mediante a sua equidade.
A obra de Cristo
nos resgata da condenação do inferno. “Então
dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu pai! Entrai
na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt
25.34). Só tem um caminho para a vida eterna, Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao pai, senão por mim”
(Jo 14.6).
Conclusão:
“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (Jo 8.36).
É necessário reconhecer
que estamos perdidos, acorrentados, escravizados, dominados, sem que o Filho
nos liberte. Os judeus não viam seu estado de perdição, estavam equivocados. E
nós?
Será que já
chegamos à situação em que sentimos a urgente necessidade de sermos libertados
do nosso obscurantismo, do poder das trevas, da força do pecado?
É imprescindível
que haja uma ação do Filho de Deus a nosso favor. Abrir sua vida para receber
aquele que tem todo poder e que disponibiliza este poder a nosso favor. Só ele
pode trazer plena e completa liberdade.
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