sábado, 12 de dezembro de 2015

Lc 1.34 Como será isto?


Este texto nos fala da rica experiência da anunciação. Quando o anjo Gabriel veio até Maria e anunciou-lhe o nascimento de Cristo. Maria era uma jovem piedosa e simples no meio do povo. Como toda mulher judia piedosa, havia sempre a expectativa de que pudesse ser mãe do Messias. Mas quando o anjo se apresenta, a reação dela é imediata. Sua primeira pergunta foi: “Como será isto?”

Esta é a pergunta natural do ser humano diante de situações desafiadoras. O desejo de explicar o mecanismo.

Zacarias age da mesma forma: “Como saberei isto?” (Lc 1.18). Esta foi a reação de Maria diante do surpreendente anúncio: “Como será isto?”  (Lc 1.34), Esta é a pergunta que os lideres judeus fizeram ao cego de nascença: “Como te foram abertos os olhos?” (Jo 9.10), e é a mesma feita pelas pessoas diante da manifestação do Espirito Santo no dia do Pentecoste: “Como os ouvimos falar que nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2.12).

O “como” está presente em todas estas questões.

Queremos saber os mecanismos, métodos, estratégias, equações, formulas, funcionalidade, sistemas.
Apesar do anjo responder a Maria como seria – Ele fala do método de Deus - a ênfase dele recai noutro aspecto mais importante. “Quem”.  Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37). E a partir deste momento, Maria fica absolutamente tranquila de sua missão. Ela não se preocupa mais em “como” as coisas serão, mas Quem está fazendo.

Qual o perigo de ficarmos focados no método?
Em geral, nos tornamos mecanicistas, abstratos. A verdade é que boa parte dos eventos de Deus não se submetem a logicidade. O evento sobrenatural não se submete à lógica experimental e científica. Deus não é como um elemento químico manipulado em tubos de laboratório, que a partir do momento em que você manipula os mesmos produtos, na mesma velocidade, produz sempre os mesmos resultados. Deus é imprevisível. Naum afirma que “Deus habita no meio da tempestade e da tormenta”. Ele é livre.

Deus também não é como um cálculo aritmético ou a física, que você utiliza os movimentos de causa e efeito, e assim pode prever os mesmos resultados. Quando pensamos em milagres, na intervenção de Deus, não ha matemática que explique o fenômeno. O “como” é incapaz de satisfazer.

Qual a benção de olharmos “Quem”?
Maria pergunta ao anjo Gabriel. “Como será isto?”. Sua pergunta é comum aos seres humanos, como ja vimos. Mas o anjo coloca os olhos de Maria no ponto em que ele deveria focalizar. “Porque para Deus não haverá impossíveis em toas as suas promessas” (Lc 1.37).

O essencial não é “como”, mas “Quem”.

Maria ouve o como, mas a forma continua sendo um mistério. Não explica. “Descerá sobre ti o Espirito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lc 1.35). Explicou alguma coisa? Nada! O que o anjo disse ainda deixa uma enorme quantidade de questões. Se Maria se detivesse no “como” ela continuaria perguntando: “como é que o Espirito desce sobre mim?”; o que significa o poder do Altíssimo me envolverá?”

Ela continuaria como uma criança de quatro anos que pergunta o tempo todo: “Por que os pássaros voam e os homens andam?”; “como eu nasci?”; Por que não saímos agora?”. Certo pai, ouvindo sempre os “porquês” de seu filho disse-lhe irritado: “Filho, você pergunta demais, o tempo todo”. E o filho fica pensativa e volta a perguntar ao pai: “Por que faço isto papai?”

Quando entendemos “Quem”, temos ideia do autor e agente da história, reconhecemos aquele que é o propulsor da vida e dos fatos, e isto transforma nossa perspectiva. Quando Maria entendeu que Deus estava por detrás dos acontecimentos, apesar de não conseguir equacionar o como, ela se rendeu obediente e submissamente: “Aqui está a serva do Senhor. Que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38).

Se é Deus, eu não preciso tentar entender os processos, mas me rendo e submeto aos seus propósitos. Assim fez Maria. Por que ficar ainda querendo saber os meios, a estratégia e a mecânica da mensagem, se era Deus quem estava por detrás de tudo isto?

Certa vez perguntaram ao Dr. Russel Shedd se ele cria na narrativa bíblica de que Jonas havia sido engolido por um grande peixe, ficando três dias até ser vomitado na praia. Ele respondeu que sim, e se Deus dissesse que foi Jonas quem engoliu o peixe, ele ainda assim creria.

Grandes homens de Deus tiveram problemas quando esbarraram nos processos de Deus.

Moisés se embaraça nos métodos
Deus diz a Moisés que daria carne para dois milhões de pessoas que estavam no deserto, não apenas um dia, nem uma semana, mas por um mês inteiro. Moisés, com sua logica empresarial e matemática, fez os cálculos, considerou o “como” e retornou cético a Deus quando considerou todos os obstáculos possíveis em tal afirmação.

Seiscentos mil homens de pé é este povo no meio do qual eu estou e tu disseste: Dar-lhes-ei carne, e a comerão um mês inteiro. Matar-se-ão para eles rebanhos de ovelhas e gado que lhes bastem? Ou se ajuntarão para eles todos os peixes do mar que lhe bastem?”  (Nm 11.21,22).

As questões de Moisés estão todas voltadas para o operacional. Suas questões são lógicas. O que Deus disse não fazia sentido. Não havia equação capaz de resolver este dilema. Vocês acham que Deus se preocupa em explicar o “modus operandis” para Moisés?  Que ele tenta arrazoar com ele e explicar seus métodos? Absolutamente não! Sua resposta foi a seguinte:

Ter-se-ia encurtado a mão do Senhor? 
Agora mesmo verás se se cumprirá ou não a minha palavra”   
(Nm 11.23).

Deus coloca os olhos de Moisés nele mesmo. Na sua autoridade e poder, na sua soberania. Ele afirma que não existem dificuldades ou problemas que ele não possa resolver. Sua palavra vai se cumprir.
No Novo Testamento temos um exemplo parecido.

Produzindo experiência
A multidão estava seguindo a Jesus, e os discípulos logo ficam preocupados porque aquele povo não tinha comida, e Jesus, de forma curiosa, argumenta a partir da lógica dos discípulos para “lhes experimentar”, isto é, para produzir experiência neles. “Onde compraremos pães para lhes dar a comer?” (Jo 6.5)

A pergunta de Jesus é matemática. Ele pensa com a logica de um empresário que tem de fechar o balanço financeiro do mês, numa época de crise; o como um funcionário que tem que pagar as contas do mês e as despesas são bem maiores que o salario recebido. Como? Onde? Perguntas e equações naturalmente humanas.

A resposta de Filipe mostra a dificuldade na equação: “Não lhes bastariam duzentos denários de pão para receber cada um o seu pedaço” (Jo 6.7). em outras palavras: a grana é curta, e o tesoureiro seu não é de muita confiança... A resposta dele é de um economista. Não apenas não existe lugar para comprar comida, mas mesmo que houvesse não teríamos grana pra comprar. Duzentos denários é quase o salário integral de um ano inteiro de trabalhador braçal naqueles dias. A conta não fecha, os cálculos e equações não resolvem. É como o déficit do governo brasileiro. Fazer um orçamento com 60 bilhões de dólares de débito... (Ano 2015-16). Não tem orçamento que funcione com déficit.

O texto nos diz, entretanto, que Jesus fez esta pergunta a Filipe “para o experimentar”.

Muitas vezes Deus nos coloca diante de equações sem resposta. São complexos teoremas da alma que não se resolvem com cálculos e resposta mágicas.
De onde vem a resposta?
Jesus coloca a multidão assentada na relva, e em seguida, toma o pouco que tinha, cinco pães de cevada e dois peixinhos, e ora: “Então, Jesus tomou os pães, e tendo dado graças, distribuiu entre eles”( Jo 6.11). ele leva o problema a Deus. Só o Deus de milagres resolve questões insolúveis.

Conclusão:
Maria quer saber o como, mas em seguida descobre que o importante é quem.

Quando descobrimos isto em nossa vida, nossa adoração se potencializa. “Que se cumpra em mim, conforme a tua palavra” (LC 1.38). submissão, doação, entrega. No seu cântico ela dirá: “Porque o Poderoso me fez grades coisas. Santo é o seu nome” (Lc 1.49). Maria passa do questionamento para o encantamento, da pergunta para a adoração, da duvida para a obediência, porque aprendeu que mais importante não é como as coisas acontecem, mas Quem faz as coisas acontecerem, não “como será isto”, mas quem está fazendo isto?


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