Este
texto nos fala da rica experiência da anunciação. Quando o anjo Gabriel veio
até Maria e anunciou-lhe o nascimento de Cristo. Maria era uma jovem piedosa e
simples no meio do povo. Como toda mulher judia piedosa, havia sempre a
expectativa de que pudesse ser mãe do Messias. Mas quando o anjo se apresenta,
a reação dela é imediata. Sua primeira pergunta foi: “Como será isto?”
Esta
é a pergunta natural do ser humano diante de situações desafiadoras. O desejo
de explicar o mecanismo.
Zacarias
age da mesma forma: “Como saberei isto?” (Lc
1.18). Esta foi a reação de Maria diante do surpreendente anúncio: “Como será isto?” (Lc 1.34), Esta é a pergunta que os lideres
judeus fizeram ao cego de nascença: “Como
te foram abertos os olhos?” (Jo 9.10), e é a mesma feita pelas pessoas
diante da manifestação do Espirito Santo no dia do Pentecoste: “Como os ouvimos falar que nossas próprias
línguas as grandezas de Deus?” (At 2.12).
O
“como” está presente em todas estas questões.
Queremos
saber os mecanismos, métodos, estratégias, equações, formulas, funcionalidade,
sistemas.
Apesar
do anjo responder a Maria como seria – Ele fala do método de Deus - a ênfase
dele recai noutro aspecto mais importante. “Quem”. “Porque
para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37). E a
partir deste momento, Maria fica absolutamente tranquila de sua missão. Ela não
se preocupa mais em “como” as coisas serão, mas Quem está fazendo.
Qual
o perigo de ficarmos focados no método?
Em
geral, nos tornamos mecanicistas, abstratos. A verdade é que boa parte dos
eventos de Deus não se submetem a logicidade. O evento sobrenatural não se
submete à lógica experimental e científica. Deus não é como um elemento químico
manipulado em tubos de laboratório, que a partir do momento em que você
manipula os mesmos produtos, na mesma velocidade, produz sempre os mesmos
resultados. Deus é imprevisível. Naum afirma que “Deus habita no meio da
tempestade e da tormenta”. Ele é livre.
Deus
também não é como um cálculo aritmético ou a física, que você utiliza os
movimentos de causa e efeito, e assim pode prever os mesmos resultados. Quando
pensamos em milagres, na intervenção de Deus, não ha matemática que explique o
fenômeno. O “como” é incapaz de satisfazer.
Qual
a benção de olharmos “Quem”?
Maria
pergunta ao anjo Gabriel. “Como será
isto?”. Sua pergunta é comum aos seres humanos, como ja vimos. Mas o anjo
coloca os olhos de Maria no ponto em que ele deveria focalizar. “Porque para Deus não haverá impossíveis em toas
as suas promessas” (Lc 1.37).
O
essencial não é “como”, mas “Quem”.
Maria
ouve o como, mas a forma continua sendo um mistério. Não explica. “Descerá sobre ti o Espirito Santo e o poder
do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lc 1.35). Explicou alguma
coisa? Nada! O que o anjo disse ainda deixa uma enorme quantidade de questões.
Se Maria se detivesse no “como” ela continuaria perguntando: “como é que o
Espirito desce sobre mim?”; o que significa o poder do Altíssimo me envolverá?”
Ela
continuaria como uma criança de quatro anos que pergunta o tempo todo: “Por que
os pássaros voam e os homens andam?”; “como eu nasci?”; Por que não saímos
agora?”. Certo pai, ouvindo sempre os “porquês” de seu filho disse-lhe
irritado: “Filho, você pergunta demais, o tempo todo”. E o filho fica pensativa
e volta a perguntar ao pai: “Por que faço isto papai?”
Quando
entendemos “Quem”, temos ideia do autor e agente da história, reconhecemos
aquele que é o propulsor da vida e dos fatos, e isto transforma nossa
perspectiva. Quando Maria entendeu que Deus estava por detrás dos
acontecimentos, apesar de não conseguir equacionar o como, ela se rendeu
obediente e submissamente: “Aqui está a
serva do Senhor. Que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38).
Se é
Deus, eu não preciso tentar entender os processos, mas me rendo e submeto aos
seus propósitos. Assim fez Maria. Por que ficar ainda querendo saber os meios,
a estratégia e a mecânica da mensagem, se era Deus quem estava por detrás de
tudo isto?
Certa
vez perguntaram ao Dr. Russel Shedd se ele cria na narrativa bíblica de que
Jonas havia sido engolido por um grande peixe, ficando três dias até ser
vomitado na praia. Ele respondeu que sim, e se Deus dissesse que foi Jonas quem
engoliu o peixe, ele ainda assim creria.
Grandes
homens de Deus tiveram problemas quando esbarraram nos processos de Deus.
Moisés se embaraça nos métodos
Deus
diz a Moisés que daria carne para dois milhões de pessoas que estavam no
deserto, não apenas um dia, nem uma semana, mas por um mês inteiro. Moisés, com
sua logica empresarial e matemática, fez os cálculos, considerou o “como” e
retornou cético a Deus quando considerou todos os obstáculos possíveis em tal
afirmação.
“Seiscentos mil homens de pé é este povo no
meio do qual eu estou e tu disseste: Dar-lhes-ei carne, e a comerão um mês
inteiro. Matar-se-ão para eles rebanhos de ovelhas e gado que lhes bastem? Ou
se ajuntarão para eles todos os peixes do mar que lhe bastem?” (Nm 11.21,22).
As
questões de Moisés estão todas voltadas para o operacional. Suas questões são
lógicas. O que Deus disse não fazia sentido. Não havia equação capaz de
resolver este dilema. Vocês acham que Deus se preocupa em explicar o “modus
operandis” para Moisés? Que ele tenta
arrazoar com ele e explicar seus métodos? Absolutamente não! Sua resposta foi a
seguinte:
“Ter-se-ia encurtado a mão do Senhor?
Agora
mesmo verás se se cumprirá ou não a minha palavra”
(Nm 11.23).
Deus
coloca os olhos de Moisés nele mesmo. Na sua autoridade e poder, na sua
soberania. Ele afirma que não existem dificuldades ou problemas que ele não
possa resolver. Sua palavra vai se cumprir.
No
Novo Testamento temos um exemplo parecido.
Produzindo experiência
A
multidão estava seguindo a Jesus, e os discípulos logo ficam preocupados porque
aquele povo não tinha comida, e Jesus, de forma curiosa, argumenta a partir da
lógica dos discípulos para “lhes experimentar”, isto é, para produzir
experiência neles. “Onde compraremos pães
para lhes dar a comer?” (Jo 6.5)
A
pergunta de Jesus é matemática. Ele pensa com a logica de um empresário que tem
de fechar o balanço financeiro do mês, numa época de crise; o como um
funcionário que tem que pagar as contas do mês e as despesas são bem maiores
que o salario recebido. Como? Onde? Perguntas e equações naturalmente humanas.
A
resposta de Filipe mostra a dificuldade na equação: “Não lhes bastariam duzentos denários de pão para receber cada um o seu
pedaço” (Jo 6.7). em outras palavras: a grana é curta, e o tesoureiro seu
não é de muita confiança... A resposta dele é de um economista. Não apenas não
existe lugar para comprar comida, mas mesmo que houvesse não teríamos grana pra
comprar. Duzentos denários é quase o salário integral de um ano inteiro de
trabalhador braçal naqueles dias. A conta não fecha, os cálculos e equações não
resolvem. É como o déficit do governo brasileiro. Fazer um orçamento com 60
bilhões de dólares de débito... (Ano 2015-16). Não tem orçamento que funcione
com déficit.
O
texto nos diz, entretanto, que Jesus fez esta pergunta a Filipe “para o
experimentar”.
Muitas
vezes Deus nos coloca diante de equações sem resposta. São complexos teoremas
da alma que não se resolvem com cálculos e resposta mágicas.
De
onde vem a resposta?
Jesus
coloca a multidão assentada na relva, e em seguida, toma o pouco que tinha,
cinco pães de cevada e dois peixinhos, e ora: “Então, Jesus tomou os pães, e tendo dado graças, distribuiu entre eles”(
Jo 6.11). ele leva o problema a Deus. Só o Deus de milagres resolve questões
insolúveis.
Conclusão:
Maria
quer saber o como, mas em seguida descobre que o importante é quem.
Quando
descobrimos isto em nossa vida, nossa adoração se potencializa. “Que se cumpra em mim, conforme a tua
palavra” (LC 1.38). submissão, doação, entrega. No seu cântico ela dirá: “Porque o Poderoso me fez grades coisas.
Santo é o seu nome” (Lc 1.49). Maria passa do questionamento para o
encantamento, da pergunta para a adoração, da duvida para a obediência, porque
aprendeu que mais importante não é como as coisas acontecem, mas Quem faz as
coisas acontecerem, não “como será isto”, mas quem está fazendo isto?
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