Introdução:
Você já esteve numa situação na qual hoje a realidade está muito ruim, o quadro desanimador e de repente acontece algo que ainda complica mais a situação? Acompanhei com tristeza um membro da igreja que foi a Brasília participar de um funeral da sua tia, e na volta, um grave acidente mata dois filhos daquela mulher, sua irmã e o marido...
Certo amigo, falou um dia desconsolado... “Depois da chuva...”, e eu, animadamente completei: “vem a bonança!”, e então ele disse: “Não... vem a enxurrada e leva tudo!...”
No episódio vemos a realidade de Eliseu.
Este era um profeta vivendo sempre no limite dos recursos...
A narrativa anterior relata a situação dos pobres discípulos de profetas, que saem para o campo para encontrar alguma planta que pudessem comer, porque não tinham nada para aquele dia, e, alegres, voltaram com um tubérculos que na verdade eram venenosos. Como se colhêssemos mandioca ou cogumelos bravos. Quando comestíveis são deliciosos, mas venenosos podem ser fatais.
Eliseu vivia na pobreza quase como se quisesse demonstrar um desprezo pela segurança e conforto, porque quando Naamã é curado, insistiu que o profeta recebesse uma doação como forma de gratidão, mas Eliseu foi radicalmente contra e recusou a oferta. Não teria ele resolvido os problemas financeiros caso aceitasse a abundante oferta oferecida? No entanto, disse não. Insistiu que dependia de Deus e não dos homens.
E agora, as coisas ficam pior...
A comida é pouca, a casa onde moram é pequena, e os discípulos tomam um machado, instrumento domestico básico, para cortarem algumas árvores e aumentarem a choupana minúscula em que estavam vivendo. Queriam um pouco de bem estar. O machado era assim tão caro que não fosse acessível? Duas respostas possíveis: primeira, eles realmente viviam no limite da falta de recursos; segundo, podia se tratar de uma estratégia de guerra, uma questão politica. Certa vez os fariseus levaram cativos todos os ferreiros de Israel, para que não tivessem como fabricar ou amolar as armas.
Quando seguem para o trabalho, perdem o machado – que não era deles.
Não tinham um, agora tem menos um.
Não puderam comprar um, agora precisam pagar um.
Quando li este texto me recordei da minha experiência de lua de mel.
Nós não tínhamos uma máquina fotográfica, mas um amigo querido, resolveu generosamente nos emprestar a máquina dele. Foi uma oferta pra lá de bondosa. Queríamos tanto documentar estes preciosos momentos, e assim o fizemos, mas na volta fomos roubados. Ficamos sem as fotos, sem a máquina – e ainda tínhamos que pagar a máquina que naqueles dias era um mimo especial, para o amigo. Não tínhamos uma máquina e ainda tínhamos que pagar uma...
O salmista afirma: “Um abismo chama outro abismo ao ruído das suas catadupas, todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim”(Sl 42.7). Ele está se referindo à sua situação difícil, e o fato que Deus não retira dele o peso da oposição e tristeza. Há quem caia no abismo e quando nada para sair da correnteza, despenca em outra queda d’água. Alguém que faz um empréstimo para saldar uma dívida, e acaba fazendo uma dívida maior que a anterior, ou se separa por causa de uma crise no casamento, e mal percebem que estão chamando outro abismo para sua própria ruína.
No texto lido, a pobreza e escassez já imensas, agora se ampliam com a urgente situação de ter que devolver o machado que caiu nas águas enlameadas de um rio. As coisas estavam ruins, agora se tornaram piores. É assim que muitas pessoas parecem viver, no limite.
O que podemos aprender de situações limites:
1. Situações limites nos ajudam a clamar desesperadamente por Deus – vejam a exclamação do rapaz: “Ai meu Senhor!” (2 Rs 6.5).
Perdas e impotência nos levam a dependência de Deus. O conforto e o bem estar podem gerar em nós falsa segurança, mas crises podem nos tornam humanos e sensíveis ao Espirito de Deus e nos levar a sentir real necessidade de Deus.
O salmista diz: “Na minha angústia invoquei o Senhor, sim, clamei ao meu Deus; do seu templo ouviu ele a minha voz; o clamor que eu lhe fiz chegou aos seus ouvidos” (Sl 18.6). A situação de desespero e dor o leva a dependência de Deus.
Manassés, filho de Ezequias e de Hefzibá, foi o 14º rei de Judá, governando de 686 a 642 a.C. Sua história está registrada 2 Rs 21.1-18 e 2 Cr 33.1-20. Ele promoveu a idolatria a Baal, práticou magia e adivinhação e chegou ao extremo de realizar sacrifícios humanos oferecendo seus próprios filhos. “Fez ele também passar os seus filhos pelo fogo no vale do Filho de Hinom, e usou de adivinhações, e de agouros, e de feitiçarias, e consultou adivinhos e encantadores, e fez muitíssimo mal aos olhos do SENHOR, para o provocar à ira.” (2 Cr 33.6). Rejeitou os profetas, e a tradição judaica menciona que ele ordenou a morte de Isaías, serrando-o em pedaços. Após ser preso pelos assírios, ainda no cativeiro, Manassés arrependeu-se amargamente de seu proceder, fez uma sincera oração a Deus e resolveu mudar de atitude. “E ele angustiado, orou deveras ao SENHOR, seu Deus, e humilhou-se muito perante o Deus de seus pais, e lhe fez oração e Deus se aplacou para com ele e ouviu a sua súplica, e o tornou a trazer a Jerusalém, ao seu reino; então reconheceu Manassés que o SENHOR é Deus” (2 Cr 33.12-13). Foi então liberto, voltou a Jerusalém e removeu os altares que havia construído, passando a incentivar a adoração a Javé e a oferecer os devidos sacrifícios, retirando do templo os objetos de profanação.
Sua dor quebrou sua arrogância. A necessidade o fez clamar. Existem coisas que só podemos ver quando estamos quebrados, com o coração pesado. Gosto muito do texto que diz: “Manassés... deveras orou ao Senhor”... Sua crise o fez orar de verdade. Antes ele apenas fazia preces superficiais, mas agora, ele, “de verdade”, orava a Deus.
2. Situações limites serão melhores consideradas quando levamos em conta a situação do outro e não a partir do nosso ponto de vista – Isto significa, calçar os sapatos dos outros.
O que eles perderam? Um machado???
Isto faria alguma diferença para a vida de homem pós moderno, que mora na cidade? O que você faria se isto lhe acontecesse e você precisasse de outro machado? Iria numa loja e compraria. Ponto. Resolvido.
O problema é que “ninguém sabe a dor que eu sinto... ninguém, somente Jesus”. O que é grave para você não é para outra pessoa. A necessidade de um pode não significar nada para o outro. Por isto precisamos aprender a olhar a vida na perspectiva do outro – isto é empatia.
O machado para nós é um pobre, simples e barato instrumento agrícola. Num contexto de guerra ou numa selva, pode significar a diferença entre a vida e a morte.
Em casa minha esposa e eu experimentamos ansiedade por motivos diferentes. Uma situação real, é capaz de me gerar transtornos fisiológicos, angústia e medo. Eu lido muito mal com problemas reais. Mesmo problemas pequenos me angustiam, pequenas tarefas, somadas, possuem o poder de me desestruturar e gerar stress. Minha esposa é fantástica nestas horas. Ela não teme nada. Ela é um gigante, lida com desafios, corajosamente, com serenidade me encoraja e diz: “vamos em frente! O Senhor vai cuidar de cada detalhe. Não fica assim!”
Por outro lado, problemas imaginários e hipotéticos são verdadeiros fantasmas para ela. Ela não teme a realidade, mas o pensamento. Ela não se angustia com situações concretas, mas com hipóteses e sentimentos imaginários. Lamentavelmente não sei se posso dizer que consigo ajudá-la tanto quanto ela me ajuda.
Percebem a diferença?
Um machado, pode não ser apenas um machado que se adquire numa loja agrícola ou num hipermercado. Este instrumento era essencial e imprescindível para o lavrador da Judeia naqueles dias. Eles perderam o que era essencial. O essencial para nós pode ser o carro, o emprego, o telefone, a escola. É uma grande vitória e demonstração de maturidade quando somos capazes de ver a dor do outro com suas lentes.
3. Deus está sempre presente, de forma inusitada, em nossas perdas . Quem diria que o profeta daria uma resposta tão incomum a esta situação embaraçosa?
O que você faria?
Certamente perguntaria onde, mais ou menos, caiu o machado, tentaria descobrir bons mergulhadores que pudessem dar esperança de reencontrar o machado. Faria um gráfico do rio, organizaria grupos, criaria uma logística para resolver o problema. Não é assim que fazemos diante de situações difíceis? Quem pode ajudar? Como resolver este problema? Há alguma solução possível? O google pode dar alguma resposta?
O que chama a atenção não é a solução do problema, mas a forma como foi resolvido.
Momentos de desespero e perdas nos dão oportunidade de ver intervenções inusitadas de Deus. Nossas impossibilidades e limites nos levam a depender apenas de Deus.
O que fazer quando não sabemos o que fazer?
Que estratégia usar quando não temos saída plausível?
Como agir quando a vida nos empareda?
Quando o machado afunda?
Deus poderia ter resolvido a situação de forma, digamos, mais natural, mas resolve fazer sobrenaturalmente.
Muitas vezes ele faz de forma natural, mas outras vezes... resolve fazer coisas diferentes...
Meu sogro, Rev.Samuel José de Paulo, veio de uma família muito pobre e era um seminarista com pouco dinheiro. Foi estudar na Escola Presbiteriana de Caratinga, e até então não havia calçado um sapato, fazendo-o apenas com tinha 18 anos. Depois foi para o seminário, e limpava a escola para poder custear suas despesas. Então conheceu minha sogra,e decidiram casar. Com grande sacrifício comprou sua aliança de noivado, e foi visitar sua família na cidade de Ferruginha, MG. Ali, brincando no rio do sítio, perdeu a aliança, e voltou desolado para casa, depois de muito e inutilmente procurarem.
Ainda de madrugadinha, seu irmão, Otoniel de Paula, que foi presbítero muitos anos em Guriri-ES, inconformado com a situação e a dor do seu irmão, foi com uma peneira, sozinho para o rio, dizendo: “Oh, Senhor! O Senhor sabe que ele não tem dinheiro para comprar outra aliança, e poderia me ajudar a encontrar esta aliança”. A primeira vez que usou a peneira, a aliança se encaixou no seu dedo. Preste atenção: No seu dedo, não na peneira – o que seria muito mais fácil, e ele veio alegre mostrar ao irmão, o que acabara de achar. Esta experiência não nos parece uma “travessura” de Deus?
Assim foi com Eliseu. Ele jogou um pau no rio e o machado flutuou. Deus decidiu fazer de forma sobrenatural. Ou vocês já viram um machado flutuar porque alguém joga um pau no rio? Já ouviram a expressão: “Nado como um machado sem cabo!?” Machado sem cabo vai direto para o fundo do rio, mas neste caso, o machado resolveu passear na superfície da água. Isto revela a intervenção de Deus, porque se fosse com método natural não seria milagre. É uma forma dele revelar sua glória e poder.
Dr. Joe Wilding gostava de nos recordar, todas as vezes que tínhamos uma situação difícil: “Só quero ver como Deus vai sair desta!”
Momentos de tensão e angústia podem ser resolvidas com o Filho de Deus andando sobre as águas acalmando a tempestade, com machado flutuando, com milhões de aves caindo, sem que saibamos de onde vieram, no meio do arraial do seu povo. A questão não é se Deus tem poder para fazer, a questão é se Deus quer fazer. Porque, sendo ele Deus, haverá alguma coisa demasiadamente difícil para sua soberania e glória?
Não foi ele mesmo quem fez uma mulher de 90 anos engravidar? Quem anunciou a uma adolescente de Nazaré que ela ficaria grávida do seu Espírito, sem que ela conhecesse um homem?
Conclusão:
Como estas coisas apontam para a cruz.
O Evangelho revela a incapacidade do homem em resolver a questão mais séria de sua vida: sua salvação.
A Bíblia afirma que todos nós, sem Cristo, estamos mortos em nossos delitos e pecados. Nossos problemas espirituais não podem ser resolvidos sem Cristo. No livro de Jó lemos: “Seria, porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem puro diante do seu criador? Eis que Deus não confia nos seus servos, e aos seus anjos atribui imperfeições”(Jó 4.17-18).
O salmista afirma: “Ao homem, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus, o seu resgate. Pois a redenção da alma é caríssima, e cessará a tentativa para sempre”(Sl 49.7-8).
Em matéria de salvação, somos como machado sem cabo, afundado no lodo. Só uma intervenção sobrenatural de Deus para nos resgatar. Foi isto que Jesus fez.
Ele assumiu nosso lugar, e nos substituiu na cruz. Ele nos justificou diante do Pai, assumiu nossa condição de miséria e nos resgatou, “tirou-nos de um poço de lama e perdição e colocou nossos pés sobre uma rocha”, esta pedra de esquina, Jesus. E quem nele crer, nunca será envergonhado e jamais será confundido. Ele nos tirou do império das trevas, e nos trouxe para o reino do filho do seu amor. Tirou-nos da corrupção e condenação e nos justificou diante do Pai. Achávamos perdidos e ele nos encontrou, estávamos nas trevas e ele nos colocou na luz, estávamos afundados na lama, e ele nos fez flutuar no rio de sua graça.
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