sábado, 19 de agosto de 2017

At 9.1-9 Quem és tu, Senhor?





Introdução:

Muitos homens tem experimentado o "encontro com Deus", de forma impactante, dramático e chocante, ou tranquila e profunda. Deus fala de forma diferente. A alguns de forma intensa, como falou ao destemido jovem Saulo, outras vezes de forma branda como ao deprimido Elias, num cicio tranquilo e uma leve brisa. Encontrar-se com Deus é uma experiência sempre muito carregada de sentido, com dramáticas implicações para a existência humana.

Situação:
Este texto nos descreve um dos mais impactantes encontros de Deus com um homem. É o encontro de Jesus com Paulo no caminho de Damasco. Milhares de pessoas já foram impactadas com este relato, e muitas já conheceram a Deus através desta narrativa. É esta porção das Escrituras que desejamos hoje relatar.
Paulo não se via como um perseguidor, mas um aliado de deus. O seu zelo o levou a tomar atitudes fortes como um religioso que pretende defender Deus, como um paladino da teologia. Ainda jovem conhecia profundamente a lei, e se tornou promotor dos hereges. Sua primeira acusação foi contra Estevão, diácono da igreja, que se tornaria o primeiro mártir cristão. Veja como era seu zelo:

At 8.3: “E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão”.
At 9.13: “E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém”;
At 26.10,11: “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos; O que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido autorização dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui”.

Isto revela que podemos fazer as coisas pensando agradar a Deus, quando estamos na verdade nos opondo a Deus. Paulo acreditava ser um aliado de Deus no combate pela sã doutrina, quando na verdade era um opositor. Os exemplos de equívocos como estes são imensos na Bíblia:

A.     Caim ofereceu seu sacrifício a Deus, mas seu coração estava dominado por amargura. Seu culto não teve qualquer valor para deus. “Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou (Gn 4.4-5).

B.     Nos dias do profeta Amós, Deus declara que não queria os cultos e ofertas que o povo lhe trazia. "Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras” (Am5.21-23). Culto associado com iniquidade, ao invés de ser benção é maldição.

C.     Deus desprezou os cultos realizados pelos sacerdotes profanos nos dias do profeta Malaquias. “E agora esta advertência é para vocês, ó sacerdotes. Se vocês não derem ouvidos e não se dispuserem a honrar o meu nome", diz o Senhor dos Exércitos, "lançarei maldição sobre vocês, e até amaldiçoarei as suas bênçãos. Aliás já as amaldiçoei, porque vocês não me honram de coração. "Por causa de vocês eu vou destruir a sua descendência; esfregarei na cara de vocês os excrementos dos animais oferecidos em sacrifício em suas festas e lançarei vocês fora, juntamente com os excrementos (Ml 2.1.3).

D.    O apóstolo Paulo afirma que a Igreja de Corinto estava se reunindo para pior. Em geral pensamos que quando a igreja se reúne é para melhor, mas a forma como adoravam estava trazendo julgamento para a igreja. Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem (1 Co 11.17). “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação” (1 Co 11.29).

É importante aprender que para Deus, não interessa apenas O que fazemos, mas como e porque fazemos. Não basta o ato, é necessário o coração. Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade.
Aqui vemos Saulo, assolando as igrejas, perseguindo os cristãos, tudo em nome de Deus. Devemos considerar historicamente quanto do que as igrejas tem feito que realmente trazem glória ao nome de Deus.

A ideia central deste texto, porém, é descrever o encontro de Saulo com Jesus. O que aconteceu a Saulo? Quais as implicações? Ao considerar isto, certamente, podemos aplicar determinadas verdades à nossa própria vida. O que acontece quando alguém realmente se encontra com Jesus. Qual o impacto disto em nossa história pessoal? Pelo menos quatro observações podem ser feitas: Encontrar-se com Jesus Desestrutura, Desorienta, Impacta e Reorienta.

1.       Desestrutura  e desorienta – O encontro com Cristo traz profundos questionamentos quanto ao nosso modo de ser e agir.  

Paulo era um homem altamente religioso. Ele pensava que sendo religioso já bastaria, e se dispõe a perseguir duramente os cristãos. Pega carta do "sumo sacerdote", a maior autoridade religiosa de seu país, e começa a prender e desbaratar os cristãos. Ele estava absolutamente convencido de que sua atitude era a melhor que poderia existir. Valores, sistemas de crenças arraigados, sua cosmovisão, a forma de ver o mundo, valores, família mudam. Paulo, autoritário e cheio de si, ouve agora algo estranho: "Te dirão o que fazer" At. 9:6  Antes fazia o que pensava ser certo, agora tem que parar para ouvir.

Quando ouço alguém falando: "Não vou mudar de religião",  fico pensando em dois personagens da Bíblia que mudaram de valores nos quais foram criados. O primeiro foi Paulo, o segundo foi Jesus! 

A conversão a Jesus precisa inicialmente desorientar. Surgem profundos questionamentos pessoais. Aquele Paulo, cheio de si, agora estava impotente e cego. Que fazia as coisas tendo o controle da situação agora ouve de Jesus: “Te dirão o que fazer”. A conversão a Jesus desorienta, destrói a falsa segurança, deixamos de confiar em nós mesmos para confiar na obra de Cristo. A justiça própria é destronada, entendemos que se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de Deus. Nicodemos era um cioso e aplicado religioso, e agora está diante de uma embaraçosa questão teológica. “como fazer para nascer de novo?”
O Evangelho desestrutura porque insere uma nova compreensão acerca de nós mesmos e acerca de Deus. Nos desafia a um novo fazer, exige arrependimento – justamente para nós que nos julgávamos tão justos – leva-nos a sintonizar em um novo canal.

3.       Impacta – Não é possível você ter um encontro com Jesus e não ser impactado por ele. A presença de Jesus na vida do pecador, transforma seus motivos e interesses, gera mudanças significativas no forma de viver.

Nem sempre o encontro com cristo é radical como vemos na vida de Paulo, cinematográfico. Pode ser processual, ou abrupto, mas a característica marcante é que este encontro gera mudanças.

Alguns ficam esperando “algo sobrenatural” acontecer, quando na verdade, o sobrenatural já aconteceu. O que pode ser mais sobrenatural na vida de um ser humano que a mudança de propósitos e objetivos? Não precisamos de sinais pentecostais para entendermos que algo profundo está acontecendo na vida de uma pessoa. A transformação de seu caráter é o sinal mais visível.

C. S. Lewis é conhecido por ser um dos cristãos mais brilhantes do Sec. XX. Ele era ateu e se converteu ao cristianismo. Ele disse que quando se rendeu a Cristo, não viu nenhum sinal exterior, nem um clarão, raio, um vento diferente, mas algo profundo começou a acontecer em seu coração a partir de então. Ele teve um encontro real com cristo. Uma das suas frases desafiadoras é a seguinte: "Se a conversão ao cristianismo não melhora em nada as ações exteriores de um homem - se ele continua sendo tão esnobe, tão rancoroso, tão invejoso ou tão ambicioso quanto era antes - devemos, na minha opinião, suspeitar que sua 'conversão' foi, em grande medida, imaginária..."

4.       Reorienta – Uma das coisas maravilhosas que vemos na vida de Saulo, é que logo após sua conversão seus objetivos foram radicalmente mudados.

Ele se dirigia a Damasco, para prender os cristãos que estavam aderindo a heresia de seguir um tal Jesus, declarando-o Messias. Esta era sua obsessão, seus motivos estavam voltados inteiramente nesta direção. Sua agenda era combater os cristãos, e logo após a impactante conversão se vê agora num quarto escuro, absorvendo as questões da alma, digerindo seu silêncio e equivoco, se reorganizando. Já pararam para considerar quantas questões surgiram em seu coração? O que Deus quer de minha vida? O que faço agora? Senhor, o que queres de mim. Logo após sua conversão, porém, a primeira coisa que Paulo faz é se aquietar, no silêncio e na escuridão que a cegueira lhe impôs, com jejum, para entender o que Deus estava querendo de sua vida. Isto é reorientação. É comum vermos placas em comércios: “Sob nova direção”. Isto sinaliza para uma mudança de conceitos e paradigmas, novas abordagens. É isto que Jesus faz, ele nos coloca debaixo de uma nova orientação.

Uma das parábolas mais marcantes da Bíblia é a do Filho pródigo.

Ele quebrou todas as convenções sociais, desrespeitou seu pai, exigiu sua herança antecipada, a que, legalmente não tinha direito. Adota um estilo de vista digno de um relativista moral que não quer dar satisfação a ninguém e quer viver do seu jeito. Sua vida foi um desastre, como projeto pessoal, como investidor e ele caiu na miséria. Sua mudança ocorre, quando algumas coisas profundas lhe acontecem. Isto é o que mais próximo podemos chamar de conversão:

Primeiro, ele tem uma auto compreensão: “Então, caindo em si, disse”. Ele percebe seu estado de desorientação mental. Não culpa os outros, nem o sistema, nem a deus. Ele não é vitima. Seu coração se reencontra com sua condição.

Segundo, ele entende o quanto perdeu vivendo como estava vivendo. “Quantos trabalhadores de meu pai tem pão com fartura e eu aqui estou morrendo de fome”. Ele percebeu como seus afetos foram danificados. Sua miséria estava relacionada ‘ás suas ações equivocadas. Decidiu recomeçar.

Terceiro, ele tomou atitude: “E, levantando-se foi”. Não fica apenas remoendo-se na sua dor e fracasso, nem preso a um estado de sordidez da alma. Ele age. Levanta-se e vai. Entre a compreensão da realidade e fracasso e a ação, há uma distância quilométrica. Muitos param na introspecção, retroalimentando-se do que perderam, comendo da sua própria carniça e respirando o cheiro acido da sua própria tragédia, sem partir para um novo momento da historia.

A vida com Cristo reorienta o pecador, dá novos horizontes, dá nova perspectiva, transforma.

Conclusão:

Uma das maiores tragédias recentes da humanidade se deu num Voo da Força Aérea Uruguaia 571, mais conhecido como Tragédia dos Andes. Um voo fretado que transportava uma equipe de rugby com 45 pessoas, de de Montevidéu para Santiago, no Chile, incluindo amigos, familiares e associados e  caiu na Cordilheira dos Andes em 13 de Outubro de 1972. Mais de um quarto dos passageiros morreram no acidente e vários sucumbiram rapidamente devido ao frio e aos ferimentos. Dos 29 que estavam vivos alguns dias após o acidente, oito foram mortos por uma avalanche que varreu o seu abrigo. O último dos 16 sobreviventes foi resgatado em 23 de Dezembro de 1972, mais de dois meses após o acidente.
Os sobreviventes tinham pouca comida e nenhuma fonte de calor em condições extremas, a mais de 3.600 metros (11.800 pés) de altitude. Para sobreviver passaram a  se alimentaram da carne dos passageiros mortos, que havia sido preservada no frio. As equipes de resgate não tiveram conhecimento da existência de sobreviventes até 72 dias depois do acidente quando os passageiros Fernando Parrado e Roberto Canessa, depois de uma caminhada de 10 dias através dos Andes, encontraram um vaqueiro Sergio Catalán, que lhes deu abrigo e, em seguida, alertou as autoridades sobre a existência dos outros sobreviventes.
Um detalhe pouco conhecido veio à tona algum tempo depois. Eles estavam a apenas 8 km de distância de um famoso balneário da região do Andes. A vida deles poderia ter mudado radicalmente e o sofrimento minimizado, se um encontro destes dois grupos acontecesse.
Assim é com o reino de Deus. Sua história pode mudar radicalmente. O encontro com Jesus pode ser desestruturante, causar grandes impactos na vida, mas ele sempre reorienta o perdido para a agenda de Deus.



Nenhum comentário:

Postar um comentário