sábado, 13 de janeiro de 2018

At 2.1 O Pentecoste desfaz as barreiras humanas

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Introdução:

Uma das coisas mais fascinantes que percebemos no Pentecostes é a forma como Deus conduziu todos os detalhes deste grande evento salvífico de sua igreja.  Uma das áreas que ele mais atingiu foi a questão da religiosidade e de como se deve adorar a Deus.

  1. O Pentecostes Desfaz o conceito de uma forma sagrada de adorar  Todas as religiões criam rituais que demonstrem a forma sagrada de adorar. Os hindus, com a yoga, afirmam que a respiração deve ser suspensa, os pés e as mãos e o corpo inteiro, colocados em determinada postura. Os muçulmanos também têm uma postura e um ritual próprio de adoração que deve ser feita rigorosamente, se curvando sobre seu tapete e repetindo mantras. O Budismo mostra a posição característica de Buda, sentado sobre as pernas cruzadas e as mãos sobre as coxas, impassível.

O Pentecostes mostra que quando o espírito foi derramado sobre a igreja os discípulos “estavam assentados” (At 2.2), desmistificando assim, uma postura específica especial para salvação, e demonstre que todas as posturas podem ser sagradas quando o coração é alcançado. Já orei muitas vezes em restaurantes apinhados de gente, em lanchonetes com pessoas cujo coração fora tocado e precisava de Deus, Já orei de olhos abertos enquanto dirigia meu carro, com tráfico imenso ao redor. Durante a faculdade orávamos de olhos abertos no meio do campus, de braços dados aos irmãos de fé, pedindo direção de Deus para testemunharmos o amor de Cristo aos demais colegas.
“No Pentecostes, Deus naturalizou-se na vida humana. Tudo o que é natural tornou-se religioso e tudo o que é religioso, natural... Aqui estava a religião desprendendo-se de todo o ritual e cerimônias sagradas” (S. Jones, pg 139).
O evangelho usa ritos e cerimônias, mas estes não são essenciais. Todas as vezes que a liturgia se torna mais importante no culto, perdemos a capacidade de nos alegrarmos na caminhada com Deus e nos tornamos inflexíveis na nossa forma de adorar. O ritualismo, as cerimônias e a liturgia podem tornar-se um fim em si mesmos, e assim perdemos o poder maravilhoso que emana não de rituais, mas do Espírito Santo, Deus que foi derramado sobre nós para nos dar vida. Cristianismo não é uma religião de formas, mas de relacionamento. O que conta não é o como fazemos, mas se o Espírito de Deus tem liberdade para agir sobre seu povo. O rito pode ser um entrave à vida verdadeira no Espírito. Nada é essencial para Deus, a não ser ele mesmo. Não carecemos de ritos nem cerimônias.

  1. O Pentecostes nos liberta da idéia de uma idade sagrada - "Jovens e velhos" (At 2.20). Acaba-se o conflito de gerações, agora  existe  encontro  de gerações. Moços e velhos seriam transformados tornando-se canais da graça divina.

Igrejas sempre têm conflitos nesta área. Conservadores estão sempre criticando os jovens pela abertura litúrgica e sua forma de adorar. Os jovens estão sempre achando que os velhos estão fora do seu tempo e que são um entrave na obra do Senhor por causa do conservadorismo. O Espírito Santo, porém, não vê nas gerações qualquer conflito, pelo contrário, revela-se a ambos.
Os idosos aferram-se às tradições, achando que o que é velho é que e bom, confundem acidente com essência, histórico com revelado, temporal com eterno, esquecendo-se que o velho também foi novo quando surgiu. A igreja teve problemas com o piano quando foi introduzido por Lutero na adoração polifônica da Alemanha. Aquilo era moderno demais. Violões foram objeto de longo discussão entre antiga e nova geração, quando foram introduzidos como instrumentos litúrgicos na igreja, bateria nem se fala, até hoje existem igrejas que enfrentam enormes dificuldades quanto a este assunto.
Os jovens, por sua vez, precisam entender que as coisas novas não são necessariamente certas, que a verdade conquistada no meio de muitas lutas precisa ser conservada. O texto fala de jovens tendo visões e velhos sonhando. “Os velhos precisam da visão dos moços e estes carecem dos sonhos dos velhos”, e estas bençãos são ministradas pelo Espírito Santo que não é atingido por questões temporais que carregamos e valorizamos tanto. O evangelho tem um senso de novidade, de descoberta, de estar com uma visão adiante, porque tanto sonhos como visões apontam para uma singularidade que precisa surgir. O Pentecostes não é conservador nem liberal. Moços e velhos seriam renovados pelo mover do Espírito.

  1. O Pentecostes Desfaz a diferença entre homem e mulher – vossos filhos e vossas filhas, profetizarão” (At 2.17). Pela primeira vez na história, a religião permite que a mulher adentre a dimensão do sagrado, sem nenhuma restrição.

Na religião Judaica, os homens entravam no lugar dos santos, que era um local proibido para as mulheres. Elas podiam, no máximo, ficar no pátio dos gentios. Os judeus ortodoxos oravam sinceramente, dizendo: “graças te dou por não ter nascido nem gentio, nem cachorro, nem mulher”. Aqui o Espírito se derrama profusamente sobre ambos os sexos, desfaz a barreira. As mulheres passam a ser batizadas. Este é o pensamento do Evangelho. “Dessarte, não pode haver judeu nem grego (distinção cultural); nem escravo nem liberto (distinção social); nem homem nem mulher (distinção de sexo); porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28).
Quando Buda consentiu que uma mulher entrasse no Sangha, fê-lo com grande tristeza afirmando que este lugar sagrada não seria mais eterno porque as mulheres haviam colocado seus pés naquele lugar.
Ainda hoje a religião islâmica mantém a mulher sobre um clima de profunda humilhação e subordinação. Quando Jesus conversou com a samaritana, os discípulos ficaram boquiabertos por verem-no dialogando com ela. No Pentecostes a mulher recebe sua carta de alforria, é libertada de um militar esquema de opressão. O Espírito Santo afirma sua dignidade e se manifesta sobre piedosas mulheres que participavam de uma reunião de oração. Aqui a religião liberta-se da idéia da superioridade do sexo.
         
  1. O Pentecostes rompe a barreira da classe social – “Até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão" (At 2.18). O Pentecostes é um evento de aproximação e mudança das relações - "O Espírito é uma força histórica  que  muda  as  relações  entre  as pessoas"[1]. O Pentecostes põe fim a um conceito de classe social mais elevada ou de um grupo religioso superior. Não existe casta, nem místicos, nem grupo mais elevado que recebe enquanto outras pessoas não. Aqui o Espírito se manifesta a todos.

O evento mais celebrado nos meios pentecostais é o fenômeno da Rua Azuza, em Los Angeles, quando se deu início ao conhecido e contemporâneo movimento pentecostal. O que poucas pessoas sabem é que a primeira pessoa a ter as experiências que abalariam o mundo foi um negro de nome Seymour. Ele teve algumas experiências e compartilhou com outro pastor branco, em 1906, quando a segregação racial era ainda muito forte nos Estados Unidos. O pastor que o ouviu, ficou interessado e sendo professor de um instituto formador de liderança o convidou para participar de uma reunião, o problema é que, enquanto ele explicava o que estava acontecendo Seymour teve que ficar numa cadeira do lado de fora do auditório, porque sendo negro, não lhe era permitido adentrar aquele recinto. O Espírito Santo já havia sido derramado sobre aquele homem, mas as estruturas históricas ainda mantinham esta toda e perversa divisão de classes.
No Pentecostes, servos e servas, escravos e livres, adentram o sobrenatural. A religião se desprende de uma classe privilegiada e se centraliza em Deus. O cristianismo focaliza no ser humano, independentemente de quem ele é e qual sua condição social. Stanley Jones viu na frente de um templo hinduísta a seguinte placa: “párias e cães não podem entrar”. Párias são grupos religiosos inferiores do sistema hindu dividido por casta, que coloca determinadas pessoas com impossibilidade de adentrarem o sagrado.
Soube recentemente de um grupo muito grande de uma casta hindu que se converteu ao cristianismo na Índia. Isto gerou perseguição religiosa e protesto. Qual era o problema? Enquanto o hinduísmo declara que aquele grupo estava distanciado de Deus, o cristianismo fala do fato de que Cristo morreu por todos os homens, independentemente de sua classe social.
No Pentecostes o Espírito Santo se manifesta a todos. Sustenta a grande verdade de que o homem é homem, e tem valor em si mesmo. Nenhum grupo religioso ou social pode determinar qualquer coisa diferente disto, porque o Pentecostes acentua a dignidade humana.

  1. O Pentecostes elimina a concepção de um grupo místico superior a outras pessoas – O Espírito Santo foi derramado a todos, e não apenas aos apóstolos. O texto diz: “E todos foram cheios do Espírito Santo”. Não houve distinção, ou um grupo espiritual que fosse superior a outro e tivesse acesso exclusivo ao sagrado.

Isto é muito importante em nossos dias, quando determinados místicos deixam a impressão de que são superiores e possuem o conhecimento e acesso privilegiado a Deus. Pastores e profetas também passam esta impressão de que são um grupo privilegiado que tem acesso às coisas sagradas enquanto outros não. O texto afirma que no Pentecostes todos ficaram cheios do Espírito, independentemente de sua competência espiritual. Havia 120 pessoas no lugar, e não foram apenas os “espirituais” que tiveram acesso ao dom do Espírito Santo, mas todos foram tocados pela manifestação maravilhosa de Deus.
S. Jones afirma: “Seria um terrível desapontamento para a minha fé se eu tivesse que admitir que há pessoas que, pela estrutura de seu ser, são incapazes de receber e compreender o Espírito em todas a sua plenitude” [2]
O texto demonstra que, diferentemente de tendências modernas centradas no homem, o poder aqui vem de fora, não de dentro das pessoas. Não se tratava de desenvolver determinadas energias interiores para alcançar experiências. “Veio do céu um som como o de um vento impetuoso”.  
Existe um pensamento moderno que tenta despertar “O Cristo que há em nós”. O Pentecostes denuncia esta vã tentativa de encontrar a divindade em nós. Deus está fora de nós, não vem de dentro, por isto temos que “nascer do Alto”, o Espírito vem do Alto. “Ficai em Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). enquanto todas as religiões falam da necessidade de encontramos o self interior, o cristianismo está ensinando sobre a necessidade de morrermos para o nosso eu. “Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder por minha causa, salvá-la-á”. O cristianismo não fala de uma busca interior para força, mas da necessidade de encontrarmos, fora de nós mesmos, aquele que pode nos salvar.
Cultos modernos se baseiam no culto do eu, na auto divinização. A filosofia do zen budismo afirma “Tu és aquele”, ou “eu sou brama”, referindo-se a uma divindade. É a tentativa de encontrar Deus dentro de si mesmo. O Evangelho mostra um lado absoluta distinto: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc. 9.23-24). Paulo fala da necessidade de crucificarmos o nosso eu na cruz. “sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem” (Rm 6.6). Ninguém pode amar a Deus sem primeiro entregar-se a Ele.

  1. O Pentecostes desfaz a barreira da comunicação entre as pessoas – “Como os ouvimos falar, na nossa língua materna" (At 12.8).

Aqui ocorre o reverso de Babel. Lá os homens tentam erguer uma torre que alcance os céus. É a tentativa da religiosidade fundada sob o controle e o resultado foi a confusão: ninguém conseguia mais se entender. No Pentecostes temos a antibabel.  Quando Deus está presente, aqueles que estão distanciados por causa da linguagem começam a entender uns aos outros. A língua torna-se meio de comunicação não de conflito e divisão. Na Babel (Gn 11), todos falavam a mesma língua e se desentenderam, no pentecostes, todos tinham dialetos diferentes e se comunicaram.
As barreiras culturais são desfeitas.
É possível falar a linguagem do céu e assim ser entendido. O problema da raça humana não é a distância que existe na suas línguas e culturas, mas a distância que existe nos corações. Existem muitos, vivendo dentro da mesma casa, que não conseguem se entender porque lhes falta um espírito de unidade, enquanto muitos, ainda que distanciados linguisticamente, tem encontrado a capacidade de comunicação, porque estão identificados pelo mesmo Espírito.

Samuel Vieira
Anápolis - Agosto 2009




[1] Fabris, Rinaldo - Atos dos Apóstolos são Paulo, Ed. Paulinas, 1984 .

[2] Op. Cit. Pg. 158

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