terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Is 36.10; 37.4,10 Questões que abalam a fé


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Introdução:

De todas as lutas que podemos enfrentar me parece que a pior é a questão da fé. Uma confiança legítima em Deus muitas vezes se torna o único ponto de referência no qual podemos nos manter em pé, e quando isto desmorona, a estrutura psicológica entra em colapso.
Bill Hybels conta que acompanhou a morte prematura do melhor amigo de seu filho que morreu de acidente de carro aos 22 anos. Seus pais não tinham uma fé clara em Deus, e no funeral, como ele estava ali não na qualidade de pastor mas de amigo da família, era um amigo trazendo conforto e solidariedade à família. Num dado momento, porém, o pai daquele rapaz levantou-se completamente fragmentado por uma profunda dor e se dirigiu a Hybels dizendo: “Pastor, diga-nos alguma coisa. Fale que a vida é mais do que isto. Nossa existência não pode acabar desta forma tão trágica e banal”. Diante disto, ele trouxe uma palavra de encorajamento, fé em Deus e da vida futura.

Philipe Yancey, afirma que o tema central do livro de Jó, não é, como muitos pensam, a questão do sofrimento, mas a questão da fé. Como continuar confiando em Deus quando todas as demais realidades se desestruturam?

O fato é que, o ponto central da vida não é o que nos acontece, mas como interpretamos aquilo que nos acontece. Todos passamos por angústias, perdas, lutos e falências eventuais na vida, a questão não é se acontecerá, mas quando acontecerá, e como vamos responder e reagir a tais situações.

No longo relato de Isaias 36 e 37 vamos estudar algumas questões que permeiam o coração humano de forma profunda.

Jerusalém estava cercada por um dos maiores impérios antigos. A Assíria finalmente havia chegado à cidade. Aqueles guerreiros desconheciam fronteiras e não tinham noção de misericórdia, e estavam ávidos em ampliar seus territórios e o controle sobre as demais nações e por isto avançavam num verdadeiro arrastão militar. Pequenas nações como Israel eram absolutamente impotentes diante de tais ameaças e eram devastadas pela brutalidade dos conquistadores.

Ao chegar na cidade de Jerusalém, uma fortaleza completamente lacrada, o porta-voz da Assíria ameaçou e desafiou o exército e o Deus de Israel gritando em hebraico, a língua dos judeus,: “Mas, se me dizes: confiamos no Senhor, nosso Deus, não é esse aquele cujos altos e altares Ezequias removeu e disse a Judá e Jerusalém: perante este altar adorareis?” (Is 36.7). Rabsaqué sabia que aquela nação não poderia desafiar o poderio bélico da Assíria, então, em quem poderiam estar confiando senão em seu Deus?
Rabsaqué atinge a questão central do povo: Será que podemos realmente confiar em Deus? De forma sistemática ele levanta questionamentos que quando chegam ao coração do homem de fé, abalam profundamente a confiança dos que crêem, tanto daqueles dias como hoje.

Esta é a estratégia de Satanás. Colocar dúvidas em pontos centrais e nas convicções mais profundas. Tais armas são poderosas e avassaladoras.

Quais são estes questionamentos?

Primeiro: Faz sentido confiar em Deus? O porta-voz da Assíria começa seu discurso, relativizando e comparando o Deus de Israel aos outros deuses, que não conseguiram proteger as nações já conquistadas e deixando claro que aquela confiança que tinham em Deus era ridícula. Ninguém poderia barrar a Assíria.

Ele relativiza o poder de Deus.
Não vos engane Ezequias dizendo: O Senhor nos livrará. Acaso, os deuses das nações livraram cada a sua terra das mãos do rei da Assíria?” (Is 36.18).
O que Deus pode fazer diante desta situação?
Podemos confiar de fato em Deus quando os fatos todos são contrários, as predições e os diagnósticos apontam em outra direção?
Esta é a questão que enfrentamos no coração diante das circunstâncias desfavoráveis. Deus pode fazer alguma coisa? Posso colocar minha confiança em Deus?

Segundo questionamento: Por que o que Deus NÃO disse faz sentido?
Rabsaqué afirma: “Acaso, subi eu agora sem o Senhor contra esta terra, para a destruir? Pois o Senhor mesmo me disse: Sobe contra a terra e destrói-a” (Is 36.10).

O que ele está dizendo não é verdade, mas fazia sentido. Rabsaqué espiritualiza suas ações e as sacraliza dizendo que Deus havia dito, mas tal afirmação era mentirosa. Deus não havia dito. Rabsaqué quer passar a impressão de que Deus falou quando Deus não falou. Apesar de ser falsa, aquela sentença fazia sentido: Se Deus não os protegia era porque ele mesmo queria que aquilo acontecesse.

Apesar de fazer sentido, não vinha de Deus. Parecia palavra de Deus, e soava como verdade de Deus, mas era falsa.

Quando Asafe atravessou seu crise mais profunda, sérios questionamentos brotaram em seu coração abalando poderosamente sua fé. O Sl 73 é um desafio de um homem de Deus que não consegue conciliar a justiça de Deus no mundo repleto de contradições e paradoxos. Por que Deus permite o mal? Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? Como explicar o problema do mal? Por que prosperam os ímpios? Quando ele ouvia as pessoas ironicamente dizendo: “Como sabe Deus, acaso há conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11), isto fazia sentido em seu coração.

Quantas vezes homens sem Deus fazem asseverações que parecem ser tão reais... São sofismas, argumentos filosóficos, conceitos, que superficialmente parecem tão lógicos. Lutero que além de teólogo era músico, chegou a dizer: “por que o diabo possui todos os bons tons?”

O que o porta-voz da  Assíria afirmava parecia verdade. Será que não era Deus mesmo quem estava por detrás daquela dramática situação?

Terceiro, Deus sabe o que está acontecendo? 
Muitas pessoas não tem dificuldade em afirmar sua crença na força sobrenatural ou em um Deus, mas não sabem ao certo se Deus participa e sabe o que está acontecendo no plano absurdo, histórico e diário dos embates humanos.

Quando Ezequias ouviu o relato da afronta que o Deus de Israel estava sofrendo da parte da Assíria, ele rasgou suas vestes e entrou na Casa do Senhor, e enviou mensageiros ao profeta Isaias para perguntar: “Porventura, o Senhor, teu Deus, terá ouvido as palavras de Rabsaqué, a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo, e repreenderá as palavras que o Senhor ouviu” (Is 37.4).

Qual é a questão que permeia a mente de Ezequias?
Será que Deus está ouvindo? Será que ele está vendo?

Ezequias era um rei piedoso, mas foi tomado pelo terrível sentimento de duvidar que Deus estivesse atento aos eventos da história. Deus de fato ouve?
Este questionamento é muito comum na vida do homem de fé.
Deus participa de minha história? Deus está presente? Posso confiar na sua direção e conselho?

Quarto questionamento: Deus se relaciona pessoalmente comigo? 
É muito fácil sermos tomados por um sentimento da impessoalidade de Deus ou terceirizar o relacionamento com Ele.

Não raramente duvidamos de nossas orações e buscamos homens e mulheres de fé para orarem por nós. Claro que precisamos de intercessores e é uma benção termos outras pessoas orando a nosso favor, afinal, não foi exatamente isto que Jesus afirmou: “Se dois ou três concordarem a respeito de alguma coisa, isto lhe será concedido?”  O problema é quando, por alguma razão, passamos inconscientemente a acreditar que só a fé do outro funciona e terceirizamos nosso relacionamento com o Sagrado.

Foi exatamente isto que Ezequias fez: “Porventura, o Senhor, teu Deus, terá ouvido?”. (vs 4).

Veja o pronome pessoal que ele usa ao enviar mensageiros ao profeta Isaias. Por que ele não coloca “o Senhor, nosso Deus?”. Não seria mais lógico? Ou será que apenas Isaias tinha comunhão com Deus?

É muito comum terceirizarmos a fé.

As virgens néscias,  pedem às prudentes: “Dai-nos do vosso azeite” (Mt 25.8). Suas lâmpadas estão secas porque falta óleo e elas querem o óleo das lâmpadas das virgens sábias. Óleo é sinônimo de unção mas a unção e o azeite do outro não é nossa. Não se pode transferir a unção nem a responsabilidade da fé para outras pessoas. Ninguém vai ao céu por procuração, ou porque a mulher é crente, ou porque os pais tem compromisso com Deus. Todos teremos que, individualmente, responder sobre nós mesmos diante de Deus. A vida espiritual de sua mãe não te representa diante de Deus. "O pai não leva a responsabilidade do filho nem o filho a responsabilidade do pai; a alma que pecar, esta morrerá". 

Saul tentou desenvolver sua espiritualidade em torno de Samuel e foi um fracasso. Apenas em 1 Sm 15 o vemos se referindo a Deus como o Deus de Samuel, por três vezes. Em nenhum momento ele afirma a pessoalidade de sua relação com Deus. (1 Sm 15.21,30). Quando a fé não é assumida e dependemos dos outros para nossa caminhada com Deus, corremos sério risco na alma. A lamparina fica seca. O noivo chega e estamos despreparados.

Quinto, será que Deus não está trapaceando? 
Esta foi a insinuação do porta-voz da Assíria. “Não te engane o teu Deus em quem confias...crês tu que te livrarias? (Is 37.10,11). Ele afirma que não se pode confiar assim em Deus. Deus pode enganar. Prometer e não cumprir... Será que dá realmente para colocar toda sua segurança nele? Não seria isto uma aposta de alto risco?

Esta insinuação é luciférica. 
Assim agiu Satanás quando levou Eva à queda. 

Ele questionou a intencionalidade de Deus. Ele fez Eva pensar que Deus não tinha boas intenções e que estava mentindo, já que governava por decreto fundamentando seu governo em cima de mentiras, fazendo afirmações falsas. “É certo que não morrereis. Deus sabe que no dia que comeres sereis conhecedores do bem e do mal”. Deus faz afirmações não confiáveis. Desconfie do que ele diz...

Desconfiar de Deus não é algo muito raro na espiritualidade. Homens de Deus já enfrentaram esta questão de forma cruel. Jeremias, chegou a dizer a Deus: “Serias tu para mim como um ilusório ribeiro de águas? Como águas que enganam?” (Jr 15.18). Jó enfrentou sua crise de suspeita de Deus de forma veemente. No cerne da suas crises ele está sempre questionando: “Por que Deus brinca com minha dor?”

Quando entramos em dúvida sobre o caráter de Deus e sua natureza, ficamos grandemente fragilizados. Confiar na estabilidade, fidelidade e santidade de Deus é algo fundamental para a saúde espiritual da alma.

Conclusão
Como Ezequias resolve estes questionamentos que lhe sobrevém?

Como respondemos às angustiosas perguntas da alma? Quando o mar se torna revolto? Quando as circunstâncias nos pressionam e não sabemos o que fazer?

Ezequias, apesar de ter suas crises, era um homem de Deus.
O que ele poderia fazer? Para onde ele poderia ir? Para onde ir quando não se saber para onde ir? O que fazer quando não se sabe o que fazer?

Tendo o rei ouvido isto, rasgou as suas vestes, cobriu-se de pano de saco e entrou na casa do Senhor” (Is 37.1).  Ezequias vai para a presença de Deus.

Na espiritualidade judaica, Deus habitava em tendas, e posteriormente, no seu santo templo. Ali era o lugar da manifestação de Deus. Era para lá que ele deveria correr. Deus estava lá.

Precisamos ir para o lugar onde Deus pode ser encontrado.

Logo em seguida, vemos novamente: “Tendo Ezequias recebido a carta das mãos dos mensageiros, leu-a; então, subiu à Casa do Senhor, estendeu-a perante o Senhor”(Ez 37.14). Nas duas vezes em que as coisas se tornaram sobremaneira pesada, ele correu para Deus. Infelizmente muitos correm de Deus.
É desta forma que Davi lida com suas crises: indo para a presença de Deus. Logo depois de ter recebido o não de Deus quanto à construção do templo, ele poderia ter ficado ofendido ou magoado, ou entrar em depressão, mas o que ele fez? “Então, entrou o rei Davi na casa do Senhor e ficou perante ele” (2 Sm 7.18).  Semelhante atitude teve Asafe no meio dos questionamentos da alma. “Até que entrei no santuário de Deus, e atinei com o fim deles” (Sl 73.17). Preste atenção. Asafe ficou perturbado até que entrou na presença de Deus.

Precisamos organizar a alma!

Quando as questões são suscitadas e nossa natureza se revolve em infindáveis perguntas, para as quais as respostas não são tão fáceis, submeter-se a Deus, cair de joelhos diante do mistério de coisas insondáveis como o luto, o sofrimento, a angústia, a perturbação é o caminho da restauração. Diante de Deus os pensamentos precisam se organizar, a alma inquieta precisa sossegar. É necessário voltar a Deus, ouvir o Senhor, apresentar nossa causa a Deus.

Para onde você tem ido nos dias maus?
Como você tem resolvido suas grandes questões? 

Grandes questões da alma não se resolvem com leituras filosóficas, com elocubrações mentais ou com viagens e entretenimento, mas no silêncio da alma que se aproxima do Pai celeste, ansioso para ouvir dele, a resposta que só o coração temente pode ouvir.
Ali, na presença de Deus, Ezequias torna capaz de fazer algumas afirmações cruciais:

1.     Ele reafirma a grandeza e soberania de Deus: “Tu estás entronizado acima dos querubins” (Is 37.16). Deus é majestoso! Acima dos poderes humanos e das potestades espirituais. Todas as hostes celestiais se submetem à sua autoridade. Seu trono está acima de todos.

2.     Ele fundamenta sua fé no Deus que ouve. “Inclina, ó Senhor, os ouvidos e ouve; abre, Senhor, os olhos e vê” (Is 37.17). Só é possível descansar quando Deus deixa de ser um conceito abstrato e se torna realidade. Se Deus ouve, podemos descansar, se não, estamos em terreno movediço.

3.     Ele diferencia o Deus que ele serve, dos demais recursos – “Só tu és Senhor!” (Is 37.19,20). Pode parecer coisa pequena, mas quando admitimos que só existe um Deus, que tem todo poder, está em todos os lugares e governa sobre tudo, isto nos dá enorme sossego. Em meio às angústias precisamos nos lembrar da singularidade de Deus. “Acaso há coisa demasiadamente difícil para ele?”

A cruz é o lugar de maiores contradições e ambiguidades. Jesus, o justo, está sendo condenado injustamente. "como ovelha muda foi levado perante seus tosquiadores; ele não abriu a sua boca". Naquele lugar de vergonha e opróbrio, o Filho de Deus estava sendo esbofeteado, humilhado e recebendo afrontas e zombarias. Naquele lugar, mais estranho e escuro, a graça de Deus se manifestou poderosamente, trazendo vida através do seu sangue e da sua morte. Jesus assumiu o nosso lugar. 
A cruz e o sofrimento podem abalar nossa fé. Questões não respondidas podem afligir a alma, mas quando entendemos a capacidade de Deus em transformar os eventos, e fazer surgir um novo paradigma e abrir novas portas, descansamos no Deus em quem podemos confiar...plenamente... sem reservas... porque Ele é fiel, não pode negar a si mesmos...


Que Deus nos abençoe!!!

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