sábado, 13 de janeiro de 2018

At 2.1ss A Natureza do Pentecoste


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Introdução:

Muitos estudiosos tem discutido a questão de quando teria surgido a igreja de Cristo. Para alguns, o advento do menino, instaura um novo tempo. Seu nascimento revela o kairos de Deus, de acordo com Gl 4.4; para outros seria a morte de Cristo, quando ele pagou nossa dívida derramando seu sangue precioso para remissão de nossos pecados, a obra da cruz marca o inicio de um povo redimido. Jesus pisou a cabeça da serpente, despojando principados e potestades (Col 2.14-15). Para outros é o Pentecostes, quando o Espírito foi derramado sobre a igreja os discípulos foram capacitados para o martírio.
Estritamente falando, porém, a igreja de Cristo começou nos tempos eternos, quando a Trindade fez o pacto da redenção, quando em conselho decidiu que o filho de Deus morreria na cruz pelos pecados dos homens. Ap 13.8 fala que o Cordeiro foi morte antes da fundação do mundo. É Exatamente ai que começa a igreja de Cristo.
E. Stanley Jones, no seu livro, “O Cristo de todos os caminhos”, um clássico sobre o Pentecostes, afirma que apesar de toda convivência e aprendizado com os três anos de caminhada com Jesus, os discípulos se “recolheram ao cenáculo e ali ficaram de portas fechadas, com medo dos judeus” (Jo 20.19). Tinham a mensagem que o mundo precisava, a única mensagem capaz de curar as feridas do mundo atingido pelo pecado e, contudo, aquela mensagem estava presa...o único poder que seria capaz de arrancá-los daquela situação e que, de fato, o fez... era o Pentecostes... só o Pentecostes realizou o milagre”[1].
Jones ainda afirma que “a igreja tem-se esquivado do Pentecostes. Está com medo dele. O ensino a respeito do Espírito é vago e a coisa mais incerta na vida da igreja. É o pais desconhecido do cristianismo, o Continente Negro da vida cristã... o território onde se encontra as fontes da nossa vida espiritual, mas fontes que jazem inexploradas”[2].
Ele afirma que isto se dá, frequentemente, porque as pessoas pensam no pentecostes como emocionalismo e cenas de calafrio... “A indumentária do dom que foi derramado no Pentecostes tem dificultado sua aceitação... não sei de outra coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes dos seus fenômenos e apegar-nos ao fato, ao seu valor e sentido real. Qual é este fato?”[3] Pergunta Jones.
Ao lermos este texto, alguns aspectos se tornam evidentes:

  1. Pentecoste  é um evento cuidadosamente anunciado e preparado por Deus (At 2.16). Além de Jesus, outros profetas falaram deste acontecimento:
Þ    “Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto. Então o deserto se tornará um pomar, e o pomar será tido por bosque” (Is 32.15)
Þ    Derramarei meu espírito sobre vós, vossos jovens sonharão e vocês velhos terão visões” (Jl 2.28-32)
Þ    “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e darei coração de carne”  (Ez. 36.26).
Jesus sabia que eles precisavam de poder, por isto lhes advertiu a que não saíssem de Jerusalém antes desta capacitação (Lc 24.49 e At 1.8). Ele sabia que o evento Pentecostes seria imprescindível na vida de seu povo. Isto é o que precisamos novamente.
Não precisamos de mais estrutura eclesiástica, nem de mais publicidade, propaganda ou marketing, de mais organização e nem mesmo de mais dinheiro, precisamos de mais poder.
Conta-se que um pastor insistia com seu vizinho para que ele viesse a igreja, por anos a fio, porém, este vizinho jamais atendeu o convite. Um dia, a pequena comunidade teve um incêndio e todos se puseram a ajudar a apagar o fogo, inclusive o vizinho. O pastor surpreso olhou para ele e lhe disse: “Até você por aqui? Você nunca pisou na igreja antes e vem nos ajudar agora?”. E o vizinho respondeu: “É pastor, mas também sua igreja nunca pegou fogo antes”.
Rev. Manoel de Oliveira me relatou um fato vivido por um colega seu, que também era aluno do Gordon Conwell Seminary nos Estados Unidos. Um dia, 4 jovens resolveram se consagrar em oração numa pequena cidade da Irlanda. Numa destas noites em que oravam, houve um derramamento de temor na cidade, era mês de Julho, fazia muito calor, e as pessoas incomodadas começaram a sair de casa, com medo de morrer. Naquele mover de Deus, uma pessoa disse: “Existe um grupo de jovens orando aqui perto”, e aqueles jovens foram chamados a orar com aquela cidade região, e até hoje eles tem um evento anual chamado “o dia em que o Senhor nos visitou”, no qual as igrejas se reúnem para juntas, louvarem a Deus e invocarem seu nome.

        2. Pentecostes é algo que devemos conhecer – Mesmo porque, ao considerarmos a vida da Igreja, sabemos que ela era uma antes da visitação e outra, depois do derramamento. O testemunho que passaram a dar era resultado do que haviam recebido, fruto da experiência pessoal e imediata da presença de Deus em suas vidas.
Jones relata a experiência que teve com um motorista de carro dos Himalaias que era Hindu. Antes de viajarem na excursão ele postou-se em frente do motor do carro de mãos postas e repetindo orações dirigidas à máquina. Depois de alguns quilômetros, o motor falhou, porque ele havia esquecido de colocar gasolina no tanque. Stanley Jones afirma que é isto que acontece com a igreja. Todo o paramento, a liturgia, os ritos, a liturgia estão no seu devido lugar, mas falta o combustível capaz de manter a máquina andando.
Pentecostes é mover do Espírito. Tentamos levar a vida cristã na base do esforço pessoal, esquecendo-nos do maravilhoso motor que Deus nos deu para impulsionar nossa vida: O Espírito Santo, o Deus que habita em nós.
Fico impressionado com a forma artificial com que pregadores tentam parecer espirituais e impressionar platéias. Gestos caricaturais e frases de efeito são ditas, determinados tons de voz são usados, para criar clima de espiritualidade. Na verdade, não precisamos nada disto. Quando Deus faz, o que Ele faz é permanente e gera todo impacto que artificialismo algum é capaz de realizar.
Como pastores, tentamos controlar comportamentos das pessoas com sermões inflamados, posturas legalistas e disciplinas rígidas, mas isto não gera efeito no coração do pecador, no máximo o transforma em um legalista. Apenas o sopro do Espírito pode mudar nossa natureza. Somente o fogo santo pode gerar os efeitos de uma vida transformada.
Por isto precisamos ser visitados com o verdadeiro Pentecostes, porque por ele, a vida de Deus jorra. Nele os desertos são transformados em fontes... não estaria ai o entusiasmo? O vigor? Para existirmos e sermos uma igreja ousada e intrépida?

        3. Pentecoste não é um encontro delirante de um grupo esquizofrenizado -  (At 2.15). "Não estão bêbados..."
Toda vez que falamos de Pentecostes, temos a tendência de pensar na reprodução da experiência de Atos 2. No entanto, aquele evento não precisa ser repetido, mas a manifestação do Poder que dali emana sim, esta precisa ser constantemente atualizada. O problema é que queremos as mesmas roupagens que existiram no Pentecostes como os sinais das línguas e o vento impetuoso. Jones faz outra afirmação importante sobre aquele evento e nossos dias:
“Não sei de outra coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes dos seus fenômenos e apegar-nos ao fato, no seu valor e sentido real”[4] os tradicionais, por não saberem lidar com as emoções evitam o pentecostes. Os pentecostais, por serem atraídos ao emocionalismo e serem fascinados por sinais se perdem na busca destes sinais que foram dados para marcar um momento especifico da sua história e plano”. Os sinais do Pentecostes são descritivos, não normativos. Apontam para algo, não são a essência do fato em si.

       4. Pentecoste é obra de Deus, derramamento do Espírito - Fogo e vento são símbolos da purificação e poder de  Deus  e indicam a sua irresistível força que não é produto da história  antes os símbolos da revelação de Deus no Sinai. O Espírito é força do alto que opera na história dos homens. Por isto não pode ser imitado, nem reproduzido.

O Profeta Isaias sente esta necessidade de um impacto dos céus sobre suas vidas e clama ao Senhor: “Oh! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua presença. Quando fizeste cousas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram à tua presença” (Is 64.1-3).
Muitos tentam produzir Pentecostes com emocionalismo, com músicas especiais, com artifícios humanos. Precisamos entender de uma vez por todas que se é obra de Deus, o que devemos fazer é clamar e esperar, nunca imitar. Portanto, se Deus não fizer, porque ele tem um propósito histórico nestas coisas, ele faz, mas se Ele não fizer, não devemos ser tentados a reproduzir, nem imitar. Se algo acontecer, tem que ser do Alto. Nenhuma interferência ou manipulação humana. Isto será inconfundível mas nunca devemos tentar reproduzir coisas de Deus, porque corremos o risco de trazer fogo estranho para o altar.

        5. Pentecoste é evento marcado por prodígios e sinais – (At 2.19). Todo pentecoste possui sinais que apontam para a ação do Espírito. O problema é que nos perdemos e ficamos apenas nos sinais, criando uma tola obsessão por manifestações.

Certa vez Jesus perguntou: “Quando o filho do homem vier, porventura haverá fé na terra?”. Parece que hoje, temos um povo crédulo, gente com fé por todos os lados. Cerca de 96% das pessoas crêem em Deus. O que Jesus queria dizer com tal afirmação?
Jesus não estava falando de um tipo de fé, desejoso e ansioso por sinais, porque, na verdade, busca de sinais, em si mesmo, é evidência de falta de fé. Não andamos pelo que vemos, mas pela Palavra de Deus. A fé vê o invisível. A obsessão para visibilização e manifestações divinas é um evidente sinal de incredulidade.
Um dos sinais mais evidentes do derramamento do Espírito no meio de um povo é quebrantamento. Quando o Espírito Santo age, surge temor e medo de pecar contra Deus, desejo e busca de santidade. As pessoas se abrem para que Deus as transforme. Comunidades começam a se movimentar por um desejo ardente de Deus. Famílias são tocadas e transformadas pela obra purificadora do Espírito Santo. Estes são os grandes sinais de Deus para nossas vidas. Pecadores se convertem, surge uma comunhão profunda na comunidade cristã, passamos a amar e desejar as coisas de Deus.
Por isto precisamos do Pentecostes. Só ele pode nos dar a fonte do poder que precisamos, que emana do Espírito. Este poder capacitador que vem de Deus, nos capacita a vencer o desânimo, a incredulidade, a confusão, perplexidade, medo, falta de fé, precisamos do poder de Deus.

        6. Pentecoste abre caminhos de salvação (At 2.20) Por isto gera perguntas no coração das pessoas que as leva a se interessarem pela sua salvação. Onde o Espírito de Deus estiver sendo derramado, as pessoas estarão se perguntando. “Que faremos irmãos?” (At 2.38).

O anúncio cristão não é uma mera informação sobre Jesus seu ministério, mas nos orienta e desafia para uma tomada de posição. Este anúncio implica  numa decisão. O Espírito Santo leva a pessoa a considerar a urgência das coisas de Deus, e ele sabe que precisa dizer sim ou não. Pentecostes é sempre um apelo à fé e à conversão.
Hoje, se alguém sentiu o seu coração ardendo, ou um constrangimento interior diante da Palavra de Deus, precisa abrir o seu coração e convidar Jesus para entrar dentro dele. Hoje é tempo de salvação, quando Deus se revela, algo acontece dentro da gente. Quando Jesus fala por meio do seu Espírito, sentimos aquilo que os discípulos no caminho de Emaús declararam: “Porventura não nos ardia o coração enquanto ele nos falava?”.
Hoje é tempo de salvação, porque o Espírito de Deus já nos foi dado, e Jesus prometeu que estaria conosco, por meio do seu Espírito, até a consumação dos séculos.
Se hoje você se render a Jesus e aceitá-lo como seu salvador, o Pentecostes começa em sua vida. Pentecostes implica numa atitude de despojamento, desistência de si mesmo, numa expectativa de uma nova vida que procede de Deus, já que é gerada e produzida inteiramente pelo Espírito Santo de Deus.

Samuel Vieira
Anápolis Agosto 2009




[1] Jones, E. Stanley – O Cristo de todos os caminhos, São Paulo, Imprensa Metodista, 2ª. Edição, 1968, pg. 27.
[2] Op. cit, pg 45
[3] Op cit. Pg 51
[4] Idem, pg 50.

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