Introdução:
Muitos
estudiosos tem discutido a questão de quando teria surgido a igreja de Cristo.
Para alguns, o advento do menino,
instaura um novo tempo. Seu nascimento revela o kairos de Deus, de acordo com Gl 4.4; para outros seria a morte de Cristo, quando ele pagou nossa
dívida derramando seu sangue precioso para remissão de nossos pecados, a obra
da cruz marca o inicio de um povo redimido. Jesus pisou a cabeça da serpente,
despojando principados e potestades (Col 2.14-15). Para outros é o Pentecostes, quando o Espírito foi
derramado sobre a igreja os discípulos foram capacitados para o martírio.
Estritamente
falando, porém, a igreja de Cristo começou nos tempos eternos, quando a
Trindade fez o pacto da redenção, quando em conselho decidiu que o filho de
Deus morreria na cruz pelos pecados dos homens. Ap 13.8 fala que o Cordeiro foi
morte antes da fundação do mundo. É
Exatamente ai que começa a igreja de Cristo.
E.
Stanley Jones, no seu livro, “O Cristo de
todos os caminhos”, um clássico sobre o Pentecostes, afirma que apesar de
toda convivência e aprendizado com os três anos de caminhada com Jesus, os
discípulos se “recolheram ao cenáculo e ali ficaram de portas fechadas, com
medo dos judeus” (Jo 20.19). Tinham a mensagem que o mundo precisava, a única
mensagem capaz de curar as feridas do mundo atingido pelo pecado e, contudo,
aquela mensagem estava presa...o único poder que seria capaz de arrancá-los
daquela situação e que, de fato, o fez... era o Pentecostes... só o Pentecostes
realizou o milagre”[1].
Jones
ainda afirma que “a igreja tem-se esquivado do Pentecostes. Está com medo dele.
O ensino a respeito do Espírito é vago e a coisa mais incerta na vida da
igreja. É o pais desconhecido do cristianismo, o Continente Negro da vida
cristã... o território onde se encontra as fontes da nossa vida espiritual, mas
fontes que jazem inexploradas”[2].
Ele
afirma que isto se dá, frequentemente, porque as pessoas pensam no pentecostes
como emocionalismo e cenas de calafrio... “A indumentária do dom que foi
derramado no Pentecostes tem dificultado sua aceitação... não sei de outra
coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes dos seus fenômenos
e apegar-nos ao fato, ao seu valor e sentido real. Qual é este fato?”[3]
Pergunta Jones.
Ao
lermos este texto, alguns aspectos se tornam evidentes:
- Pentecoste
é um evento cuidadosamente anunciado e preparado por Deus (At 2.16). Além de Jesus, outros profetas
falaram deste acontecimento:
Þ “Até que se
derrame sobre nós o Espírito lá do alto. Então o deserto se tornará um pomar, e
o pomar será tido por bosque” (Is
32.15)
Þ “Derramarei meu
espírito sobre vós, vossos jovens sonharão e vocês velhos terão visões” (Jl
2.28-32)
Þ “Dar-vos-ei
coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de
pedra e darei coração de carne” (Ez. 36.26).
Jesus
sabia que eles precisavam de poder, por isto lhes advertiu a que não saíssem de
Jerusalém antes desta capacitação (Lc 24.49 e At 1.8). Ele sabia que o evento
Pentecostes seria imprescindível na vida de seu povo. Isto é o que precisamos
novamente.
Não
precisamos de mais estrutura eclesiástica, nem de mais publicidade, propaganda
ou marketing, de mais organização e nem mesmo de mais dinheiro, precisamos de
mais poder.
Conta-se
que um pastor insistia com seu vizinho para que ele viesse a igreja, por anos a
fio, porém, este vizinho jamais atendeu o convite. Um dia, a pequena comunidade
teve um incêndio e todos se puseram a ajudar a apagar o fogo, inclusive o
vizinho. O pastor surpreso olhou para ele e lhe disse: “Até você por aqui? Você
nunca pisou na igreja antes e vem nos ajudar agora?”. E o vizinho respondeu: “É
pastor, mas também sua igreja nunca pegou fogo antes”.
Rev.
Manoel de Oliveira me relatou um fato vivido por um colega seu, que também era
aluno do Gordon Conwell Seminary nos Estados Unidos. Um dia, 4 jovens
resolveram se consagrar em oração numa pequena cidade da Irlanda. Numa destas
noites em que oravam, houve um derramamento de temor na cidade, era mês de
Julho, fazia muito calor, e as pessoas incomodadas começaram a sair de casa,
com medo de morrer. Naquele mover de Deus, uma pessoa disse: “Existe um grupo
de jovens orando aqui perto”, e aqueles jovens foram chamados a orar com aquela
cidade região, e até hoje eles tem um evento anual chamado “o dia em que o Senhor nos visitou”, no
qual as igrejas se reúnem para juntas, louvarem a Deus e invocarem seu nome.
2. Pentecostes
é algo que devemos conhecer – Mesmo porque, ao considerarmos a vida da
Igreja, sabemos que ela era uma antes da visitação e outra, depois do
derramamento. O testemunho que passaram a dar era resultado do que haviam
recebido, fruto da experiência pessoal e imediata da presença de Deus em suas
vidas.
Jones
relata a experiência que teve com um motorista de carro dos Himalaias que era
Hindu. Antes de viajarem na excursão ele postou-se em frente do motor do carro
de mãos postas e repetindo orações dirigidas à máquina. Depois de alguns
quilômetros, o motor falhou, porque ele havia esquecido de colocar gasolina no
tanque. Stanley Jones afirma que é isto que acontece com a igreja. Todo o
paramento, a liturgia, os ritos, a liturgia estão no seu devido lugar, mas
falta o combustível capaz de manter a máquina andando.
Pentecostes
é mover do Espírito. Tentamos levar a vida cristã na base do esforço pessoal,
esquecendo-nos do maravilhoso motor que Deus nos deu para impulsionar nossa
vida: O Espírito Santo, o Deus que habita em nós.
Fico
impressionado com a forma artificial com que pregadores tentam parecer
espirituais e impressionar platéias. Gestos caricaturais e frases de efeito são
ditas, determinados tons de voz são usados, para criar clima de
espiritualidade. Na verdade, não precisamos nada disto. Quando Deus faz, o que
Ele faz é permanente e gera todo impacto que artificialismo algum é capaz de realizar.
Como
pastores, tentamos controlar comportamentos das pessoas com sermões inflamados,
posturas legalistas e disciplinas rígidas, mas isto não gera efeito no coração
do pecador, no máximo o transforma em um legalista. Apenas o sopro do Espírito
pode mudar nossa natureza. Somente o fogo santo pode gerar os efeitos de uma
vida transformada.
Por
isto precisamos ser visitados com o verdadeiro Pentecostes, porque por ele, a
vida de Deus jorra. Nele os desertos são transformados em fontes... não estaria
ai o entusiasmo? O vigor? Para existirmos e sermos uma igreja ousada e
intrépida?
3. Pentecoste
não é um encontro delirante de um grupo esquizofrenizado - (At 2.15). "Não estão bêbados..."
Toda
vez que falamos de Pentecostes, temos a tendência de pensar na reprodução da experiência
de Atos 2. No entanto, aquele evento não precisa ser repetido, mas a
manifestação do Poder que dali emana sim, esta precisa ser constantemente
atualizada. O problema é que queremos as mesmas roupagens que existiram no
Pentecostes como os sinais das línguas e o vento impetuoso. Jones faz outra
afirmação importante sobre aquele evento e nossos dias:
“Não
sei de outra coisa mais urgente do que a necessidade de despirmos o Pentecostes
dos seus fenômenos e apegar-nos ao fato, no seu valor e sentido real”[4] os
tradicionais, por não saberem lidar com as emoções evitam o pentecostes. Os
pentecostais, por serem atraídos ao emocionalismo e serem fascinados por sinais
se perdem na busca destes sinais que foram dados para marcar um momento
especifico da sua história e plano”. Os sinais do Pentecostes são descritivos,
não normativos. Apontam para algo, não são a essência do fato em si.
4. Pentecoste
é obra de Deus, derramamento do Espírito - Fogo e vento são símbolos da
purificação e poder de Deus e indicam a sua irresistível força que não é produto
da história antes os símbolos da
revelação de Deus no Sinai. O Espírito é força do alto que opera na história
dos homens. Por isto não pode ser imitado, nem reproduzido.
O
Profeta Isaias sente esta necessidade de um impacto dos céus sobre suas vidas e
clama ao Senhor: “Oh! Se fendesses os
céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo
inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o
teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua
presença. Quando fizeste cousas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os
montes tremeram à tua presença” (Is 64.1-3).
Muitos
tentam produzir Pentecostes com emocionalismo, com músicas especiais, com
artifícios humanos. Precisamos entender de uma vez por todas que se é obra de
Deus, o que devemos fazer é clamar e esperar, nunca imitar. Portanto, se Deus
não fizer, porque ele tem um propósito histórico nestas coisas, ele faz, mas se
Ele não fizer, não devemos ser tentados a reproduzir, nem imitar. Se algo
acontecer, tem que ser do Alto. Nenhuma
interferência ou manipulação humana. Isto será inconfundível mas nunca devemos
tentar reproduzir coisas de Deus, porque corremos o risco de trazer fogo
estranho para o altar.
5. Pentecoste
é evento marcado por prodígios e sinais – (At 2.19). Todo pentecoste possui
sinais que apontam para a ação do Espírito. O problema é que nos perdemos e ficamos
apenas nos sinais, criando uma tola obsessão por manifestações.
Certa
vez Jesus perguntou: “Quando o filho do
homem vier, porventura haverá fé na terra?”. Parece que hoje, temos um povo
crédulo, gente com fé por todos os lados. Cerca de 96% das pessoas crêem em
Deus. O que Jesus queria dizer com tal afirmação?
Jesus
não estava falando de um tipo de fé, desejoso e ansioso por sinais, porque, na
verdade, busca de sinais, em si mesmo, é evidência de falta de fé. Não andamos
pelo que vemos, mas pela Palavra de Deus. A fé vê o invisível. A obsessão para
visibilização e manifestações divinas é um evidente sinal de incredulidade.
Um
dos sinais mais evidentes do derramamento do Espírito no meio de um povo é
quebrantamento. Quando o Espírito Santo age, surge temor e medo de pecar contra
Deus, desejo e busca de santidade. As pessoas se abrem para que Deus as
transforme. Comunidades começam a se movimentar por um desejo ardente de Deus.
Famílias são tocadas e transformadas pela obra purificadora do Espírito Santo.
Estes são os grandes sinais de Deus para nossas vidas. Pecadores se convertem,
surge uma comunhão profunda na comunidade cristã, passamos a amar e desejar as
coisas de Deus.
Por
isto precisamos do Pentecostes. Só ele pode nos dar a fonte do poder que
precisamos, que emana do Espírito. Este poder capacitador que vem de Deus, nos
capacita a vencer o desânimo, a incredulidade, a confusão, perplexidade, medo,
falta de fé, precisamos do poder de Deus.
6. Pentecoste
abre caminhos de salvação (At 2.20) Por isto gera perguntas no coração das
pessoas que as leva a se interessarem pela sua salvação. Onde o Espírito de
Deus estiver sendo derramado, as pessoas estarão se perguntando. “Que faremos irmãos?” (At 2.38).
O
anúncio cristão não é uma mera informação sobre Jesus seu ministério, mas nos orienta
e desafia para uma tomada de posição. Este anúncio implica numa decisão. O Espírito Santo leva a pessoa
a considerar a urgência das coisas de Deus, e ele sabe que precisa dizer sim ou
não. Pentecostes é sempre um apelo à fé e à conversão.
Hoje,
se alguém sentiu o seu coração ardendo, ou um constrangimento interior diante
da Palavra de Deus, precisa abrir o seu coração e convidar Jesus para entrar
dentro dele. Hoje é tempo de salvação, quando Deus se revela, algo acontece
dentro da gente. Quando Jesus fala por meio do seu Espírito, sentimos aquilo
que os discípulos no caminho de Emaús declararam: “Porventura não nos ardia o
coração enquanto ele nos falava?”.
Hoje
é tempo de salvação, porque o Espírito de Deus já nos foi dado, e Jesus
prometeu que estaria conosco, por meio do seu Espírito, até a consumação dos
séculos.
Se
hoje você se render a Jesus e aceitá-lo como seu salvador, o Pentecostes começa
em sua vida. Pentecostes implica numa atitude de despojamento, desistência de
si mesmo, numa expectativa de uma nova vida que procede de Deus, já que é
gerada e produzida inteiramente pelo Espírito Santo de Deus.
Samuel Vieira
Anápolis Agosto 2009
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