Introdução
A grande benção do
Pentecostes se reflete na forma com as pessoas passam a viver. O texto lido
demonstra o que acontece com a Igreja, depois da ação do Espírito sobre ela. As
marcas distintivas desta igreja se tornam evidentes:
- Perseverança na
doutrina dos apóstolos “E perseveravam na doutrina dos
apóstolos” (At 2.42) (didake ton
apostolon).
A Igreja primitiva
se apegou às doutrinas. Isto contraria o pensamento moderno de que cada um tem
o direito de pensar e fazer como pensa.
Conheço muitas
pessoas mesmo dentro da igreja avessas à doutrinas. A geração atual é avessa a
dogmas, a afirmações estabelecidas, mas a primeira marca que é destacada na
vida da igreja é a doutrina apostólica. O que os apóstolos ensinavam era
recebido com autoridade porque haviam
recebido tal autoridade através de Cristo.
Não há doutrina bíblica
se não procede dos apóstolo. Paulo chega a afirmar: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho
que vá além da que vos tenho pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Os crentes
primitivos não eram "livres" para pregar e crer no que quisessem. Eles
deveriam aprender e ensinar Debruçavam o
que os apóstolos ensinavam só assim a mensagem seria preservada sem desvios. A
BJ diz na sua nota de rodapé, que se tratava das "instruções para os
neoconvertidos, à luz dos fatos acontecido entre eles".
A Igreja
de Jerusalém era uma igreja centrada no ensino daqueles homens que
haviam aprendido diretamente de Cristo. Isto seria algo fundamental na fé
cristã alguns anos depois, quando diversos escritos apócrifos giravam na
comunidade primitiva. Os líderes decidiram estabelecer o canon bíblico, que são
os 39 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento, e todos estes, tinham como
critério de validade, o fato de terem sido escritos por alguém que recebera o
ensinamento de Cristo em primeira mão.
Em tempos de
tantos conceitos alternativos, plurais, subjetivos e relativos, a doutrina
precisa ocupar lugar central na pregação e no ensino. Só a doutrina apostólica,
pode livrar a igreja de erros e enganos.
- Vida em comunhão - “...e na comunhão, no partir do pão e
nas orações” (At 2.42). (koinonia).
A Igreja primitiva
valoriza a comunhão. Isto contraria o nosso individualismo e isolamento.
A sociedade
moderna busca privacidade, enquanto a igreja primitiva busca comunidade. “Da multidão dos que creram era um o coração
e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que
possuía; tudo, porém, lhes era comum” (At 4.32).
Comunhão é muito
mais que intercâmbio social, ideologia ou solidariedade. Trata-se da unidade
que é gerada pela ação do Espírito, levando seu povo a um só propósito e
intenção. Trata-se de objetivos comuns. Por isto viviam
juntos, compartilhavam a mesma
visão, e faziam isto "diariamente" (At 2.46).
Esta comunhão se
revela de forma direta na disponibilidade dos bens e generosidade. Eles
decidiram “ter tudo em comum” (At 2.44). Sentiam-se responsáveis com o outro e
partiam o pão “à medida que alguém tinha necessidade" (At 2.44). O que se
propõe não é um modelo econômico, mas um estilo de vida, libertando-se da posse
idolátrica e obsessiva, e colocando seus
bens para servir outros, como resultado da expressão de fé.
- Vida de oração
comunitária – “E perseveram...nas orações” (At 2.42)
A Igreja primitiva
valorizava a vida de oração comunitária. Isto contraria a nossa espiritualidade
auto centrada.
Oração não era apenas
algo vivenciada individualmente, mas era uma forma de buscar a Deus andando com
os outros. Oração era hábito da Igreja, o oxigênio da alma, ali o povo de Deus
encontrava força para o dia a dia.
4.Profundo temor de Deus “Em cada alma havia temor” (At 2.43). (phobos).
A Igreja primitiva
era impactada pelo temor a Deus. Isto contraria o nosso secularismo.
A palavra temor é
traduzida de outras formas. A versão RC traduz por “espanto”, a NIV, em inglês
traduz este termo por awe, que é uma
interjeição para se referir a algo inesperado e que nos obriga a, surpreso,
colocarmos a mão na boca. Aqueles irmãos entendiam que Deus é Deus, havia um
senso de fascínio e sobrenaturalidade com o Sagrado.
O povo de Israel
tinha uma visão muito profunda de um Deus tremendo. Parece que perdemos esta
percepção da majestade de Deus. Esquecemos a exortação bíblica que afirma que “Deus é fogo consumidor” (Hb 12.29) e
que, “de Deus não se zomba, aquilo que o
homem semear, isto também ceifará” (Gl 6.7).
Temos perdido o
temor do Deus tremendo, glorioso e
santo. O livro de Hebreus afirma que “horrível coisa, cair nas
mãos do Deus vivo”. É bom estar
nas suas mãos, mas cair nas suas mãos e ser julgado por ele não é nada fácil.
O texto fala que
“em cada alma havia temor”. Temor é uma sensação de medo, mas não de repulsa, é
algo que atrai, seduz. É a experiência
de Jacó, extasiado, impressionado com a
escada, cheio de alegria que se mistura com a simples ideia de que esteve diante de Deus.
A compreensão da
Santidade de Deus gera uma igreja reverente, Aliás, esta é a tradução
da palavra "phobos",
que melhor se adequa a nossa realidade: "temor reverencial". O imperfeito do tempo
verbal presente neste texto denota que não era um pânico momentâneo, mas algo continuo e presente na
vida daquela igreja.
- Marcada por
evidências sobrenaturais “...e muitos sinais e prodígios eram feitos por intermédio dos
apóstolos” (At 2.43).
A Igreja primitiva
era impactada pela sobrenaturalidade. Isto contraria a realidade ordinária.
Milagres, sinais e
prodígios são o lado reverso do ordinário. A Igreja de Cristo experimentava
sinais claros e sobrenaturais da presença de Deus. Muitas
coisas tremendas, verdadeiros milagres e prodígios inquestionáveis se
davam entre eles. Tais prodígios eram decorrentes de um andar piedoso com Cristo.
Não deveríamos
esperar o mesmo como comunidade de Cristo ainda hoje?
Desprezo e abomino
toda exploração midiática em torno de milagres e curas, mas igualmente desprezo
nossa incapacidade de crer e esperar que algo de sobrenatural possa se dar no
meio da igreja. Nosso secularismo conspira contra tudo que cremos e pregamos.
Deveríamos ser mais crentes e aguardar mais de Deus. Nossa falta de fé é
incapacitante e denuncia a superficialidade da espiritualidade que vivenciamos.
5.Opcão pela solidariedade e simplicidade “Vendiam
as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que
alguém tinha necessidade”(At 2.46)
A Igreja primitiva
era impactada pela generosidade. Isto contraria o nosso egoísmo e acúmulo de
bens.
A única coisa que
pode garantir tal nível de
relacionamento é a simplicidade. Se a hospitalidade é algo complexo, se
receber alguém em sua casa é tão pesado e complexo, isto se dá pela dificuldade
em optar pela simplicidade e estilo de vida simples. Para que haja vida comum,
é necessário determinadas "práticas comuns". Todo projeto da igreja
deve ser mobilizado para gerar acessibilidade, não existe uma
casta seleta, nem um clube fechado que impeça a aproximação dos outros.
- Louvor contínuo a
Deus- “Louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo povo” (At 2.47).
A Igreja primitiva
tinha disposição para a adoração e louvor. Isto contraria a ingratidão e murmuração.
Havia na
comunidade um senso de adoração continuo. Deus precisava ser louvado. Cânticos
expressando o coração agradecido era algo comum. O Espírito de Deus se move
sobre aquela igreja impulsionando-os à adoração. Louvor é a declaração de
vitória de Jesus. Louvor é anúncio da autoridade de Jesus, e os demônios ficam apavorados
quando isto acontece.
Muita coisa
surpreendente acontece quando a igreja canta louvores. "Tendo eles começado a cantar e a dar
louvores, pôs o Senhor emboscada contra os filhos de Amom e Moabe e foram desbaratados" (2 Cr
20.22).
Satanás é
derrotado quando a igreja entoa louvores de coração a Deus.
- Era um igreja amável - “Louvando a
Deus e contando com a simpatia de todo povo” (At 2.47).
A Igreja primitiva
era amável e acolhedora. Isto contraria a indiferença e antipatia para da
igreja contemporânea.
A atitude fraterna
e solidária da igreja impactava a comunidade ao redor. Era uma acolhedora e
amigável e por isto querida. O grego possui duas palavras para "bom".
O termo "agatos" descreve
um objeto como bom e outra é "kalos" que significa que algo não é apenas bom, mas
que também tem aspecto de bom. Há muita gente boa que
é dura, do
tipo Edward mão de tesoura, que mesmo quando tenta fazer o
bem, acaba ferindo.
A Igreja primitiva era formada de gente atraente. O Reino de Deus não
inclui o ministério da chatice.
- A igreja crescia
naturalmente em números - “Enquanto
isso, acrescentava-se-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”
(At 2.47).
A Igreja primitiva
se expandia não apenas em simpatia, mas também em número. Isto contrasta com
igrejas estagnadas e sem crescimento.
A simpatia da
igreja é colocada aqui como um elemento chave para atrair as pessoas. Por
alguma razão, parece que é natural hoje em dia igrejas distanciadas e mau
humoradas. Santidade não pode ser sinónimo de antipatia. A igreja primitiva era
simpática, e assim atraia as pessoas à mensagem do evangelho. O resultado?
Crescimento espontâneo e natural.
Uma das
características de um organismo vivo é sua capacidade de adaptabilidade e
adequação. Será que temos conseguido equilibrar o evangelho com doutrina e
simpatia? Algumas igrejas querem ser simpáticas sendo politicamente corretas,
sem falar de santidade, sem temor a Deus. Outras acham que, para serem santas
precisam hostilizar os pecadores. Como equilibrar estes aspectos que facilmente
se polarizam?
Neste texto vemos a
implícita estratégia de evangelização da Igreja primitiva: "Enquanto
isso", isto, é, na medida em que conta com a simpatia da
atraiam as pessoas ao evangelho. Sua atitude de cortesia se tornaram seu
“business card”.
Conclusão:
A obra do Espírito
teve como resultado o empoderamento comunitário. Um povo marcado pela acao de
Deus. O seu resultado? O estabelecimento de uma "Nova sociedade de Deus".
Toda igreja
marcada pela ação do Espírito Santo pode esperar semelhantes resultados. As
marcas aqui percebidas não são exclusividade do povo de Deus num momento
especifico da história, e que não podem ser percebidos ainda hoje. Na verdade, deveríamos
suspeitar de qualquer igreja que se considera legitimamente bíblica e
neo-testamentária que não experimente os mesmos efeitos aqui descritos.
Que Deus nos ajude
e tenha misericórdia de nós!
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